Por mais que Hamilton faça um campeonato impecável e Webber finalmente se encontre com a sorte, para a Globo só existe Fernando Alonso, 5º no campeonato. Torcer é o que fazemos em casa, portanto minha sugestão para Reginaldo Leme e Galvão Bueno – Burti escapa, foi quase triturado pelo narrador quando disse que o chamado ‘unsafe release’ no box não era culpa do piloto – é essa: da próxima vez, fiquem em casa.
Até porque, o que eles poderiam ver desde a cabine, não viram – ou fingiram que não viram. Massa posicionou seu carro bem à frente de sua “vaga” na largada e, na La Sexta e na BBC, esperavam uma punição que não veio. Mas ninguém disse que o brasileiro era mau caráter por isso.
Preferiram discutir o clima. Os ingleses se divertiam, lembrando que só faltou neve no final de semana, enquanto os espanhóis faziam a dança da chuva, com Alonso apostando num acerto de molhado, Alguersuari pedindo água e De La Rosa largando em último. “Se preparem para sofrer”, narrador Antonio Lobato adivinhou o que viria a seguir.
Galvão Bueno leva um chega pra lá de Luciano Burti mesmo antes da largada. “Rubinho pode se dar bem largando de pneu duro, não?”, pergunta, para ouvir um seco: “Se chover não vai fazer diferença”.
Burti não sabia que não choveria pra valer no começo, e os pneus duros ajudariam, tivesse Rubinho sobrevivido à 1ª volta. “Alonso era um dos únicos que estava fazendo a curva direito, mas Rubens perdeu o controle. É extraordinário que a Ferrari tenha aguentado. Ficaria surpreso se Barrichello fosse punido”, afirma o comentarista da BBC, Martin Brundle.
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Mesmo para a surpresa de Brundle, o incidente é investigado. “Vão acabar punindo a Ferrari por ter um carro forte demais”, brincam os espanhóis, um tanto mordidos com os comissários nesta temporada.
Se a inimiga da pátria alonsista é a FIA, os brasileiros têm o seu algoz. “Dos 5 candidatos ao título, Alonso é o que menos merece por causa daquela jogada anti-desportiva”, diz Reginaldo Leme. “Só ali foram 14 pontos”, Galvão completa com sua matemática particular, comparando ao futebol quando há jogo entre líder e vice-líder no campeonato, por exemplo. O problema é que, nesse caso, entre Alonso e Massa simplesmente não há confronto direto…
O foco dos ataques rapidamente muda quando Vettel acerta Button. “É uma batida que complica o campeonato dos dois numa manobra que chega a ser grotesca”, define Galvão. Lobato também não perdoa. “Mais uma Vettelada”. Os comentaristas pegam bem mais leve. “Foi estranho. Parece que ele perdeu carga aerodinâmica de uma hora pra outra. Pode ser que esteja molhado”, aponta Marc Gené. “Não merece punição”, Lobato volta atrás.
Nas voltas anteriores, Gené e Brundle tocaram num ponto ignorado pela transmissão brasileira. Nas retas, Vettel chegava no limitador, ou seja, sua última marcha era mais curta que a de Button e, se não arriscasse na última freada, não o passaria nunca. “O vácuo não serve para nada assim”, definiu o inglês, que ficou em cima do muro sobre uma punição. “Button vai ficar bravo porque não fez nada de errado e Vettel parece que achou estar mais longe da área de frenagem do que realmente estava e perdeu aderência.” Um erro, nada de “grotesco”.
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O ex-piloto inglês entra num ponto que gerou muita discussão depois da prova. “Red Bull e McLaren agora vão ter que escolher que pilotos apoiam pelo campeonato.”
Enquanto isso, Vettel continua sua sina. Segundo o repórter da BBC, Ted Kravitz, os mecânicos da McLaren saíram da garagem fazendo gestos pouco elogiosos ao alemão quando este pagava sua punição. “Está mostrando cada vez mais que a cabeça não acompanha o talento”, define Galvão. “O comissário convidado hoje é Mansell, aquele mesmo da punição insolente a Alonso em Silverstone. E ele é britânico…”, Lobato suspeita que o drive through tenha mais a ver com quem saiu da prova.
Quando Alonso passa Liuzzi jogando-o para fora da pista, na volta 16, Brundle dá uma breve aula de limites na F1. “Alguns podem perguntar qual a diferença para a manobra de Schumacher na Hungria. Quem está trajetória tem o direito de mantê-la. Nesse caso, é o outro piloto que decide se sai da pista ou freia.”
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Vettel tenta repetir o espanhol, mas bate em Liuzzi. “Foi culpa dele de novo ou estou sendo duro?”, pergunta o narrador da BBC, Jonathan Legard. “Essa impetuosidade já lhe tirou o campeonato do ano passado. Ele tem que controlar isso”, Brundle analisa, sem ofender.
A chuva finalmente chega no final, premiando a estratégia de Ross Brawn de manter o pilotos na pista – com pneus duros, como Rubinho havia previsto. Os líderes decidem dar uma volta a mais na pista molhada e a vitória certa de Hamilton quase para na brita. “Eles estão de pneus duros, que perdem a temperatura rápido. Guiar assim é pior que no gelo”, compara Gené. “Eles respeitaram as decisões dos engenheiros e arriscaram demais”, salienta Reginaldo.
Uma hora eles aprendem
Quem arriscou pra valer, e se deu mal, foi Alonso. “Chuva é assim. Pode lhe dar e tirar coisas. Que balde de água fria para as aspirações ao título”, reage Lobato. “O Safety Car vai ajudar quem está de intermediários, porque está chovendo mais agora”, Brundle assiste ao replay do acidente. “Foi a mesma coisa que eu fiz na McLaren anos atrás. Essa grama artificial escorrega muito.”
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Enquanto espanhóis e ingleses clamam pela relargada, Galvão reclama dos retardatários à frente de Massa, sendo que isso aconteceu com outros pilotos várias vezes na temporada e ele, é claro, não notou. De nada adiantaria, o brasileiro demorou mais de uma volta para se livrar do tráfego, estava mais preocupado em não ser atacado que em atacar. Se estivéssemos assistindo a La Sexta, curiosamente, saberíamos por que. “Vamos ver como Felipe anda com o acerto de seco que tem e a famosa inabilidade na chuva”, diz Lobato.
Inútil esperar esse tipo de informação, mesmo que seja a respeito dos brasileiros, na transmissão da Globo, chegada a um ataque, a uma deturpação – aquela de que o Alonso disse ter 50% de chance de ser campeão em comparação aos outros foi forte! – e a impagáveis trocas. Nesse GP, Hamilton virou Alonso, Buemi virou Webber, Alguersuari virou Alguersueri (essa já é clássica) e Petrov virou Petkovic…
Voltando à pista, nada mais acontece, além de Rosberg se livrar de 2 carros no 1º setor depois do reinício da corrida – um deles, Schumacher.
Hora dos destaques. Para Reginaldo Leme, Hamilton (que depois de ser malhado por cada marcha que trocava nos tempos de rivalidade com Massa virou o queridinho da emissora), Kubica, Sutil e… Massa. Para a La Sexta, o piloto da Force India mostra que é bom de água (mas ele não ficou em 5º a corrida toda, no seco?), e Kubica ganha destaque – “na verdade, a Renault melhorou muito, Petrov largou em 23º e chegou em 9º”, lembra Lobato. Para Brundle, na BBC, “Hamilton está guiando melhor que no ano em que foi campeão e, quando a situação do clima aperta, a McLaren sempre toma as decisões certas. Eles tinham a dobradinha até a batida de Button.”
O comentarista também duvida que a Red Bull tenha mantido as asas da Hungria. “Eles não ganharam tanto quanto se imaginava no 2º setor. Quem apostaria que eles seriam o 3º carro mais rápido em Spa?”. E quem diria que a Ferrari seria o 4º?