Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Espanha

Vettel 1 a 4 Ricciardo
Hamilton 4 a 1 Rosberg
Alonso 3 a 2 Raikkonen
Grosjean 5 a 0 Maldonado
Button 3 a 2 Magnussen
Hulkenberg 4 a 1 Perez
Sutil 2 a 3 Gutierrez
Vergne 4 a 1 Kvyat
Massa 3 a 2 Bottas
Kobayashi 4 a 1 Ericsson
Bianchi 3 a 2 Chilton

Diferenças de hoje:

Ricciardo x Vettel: sem tempo

Hamilton x Rosberg: 0s168

Raikonnen x Alonso: 0s036

Grosjean x Maldonado: sem tempo

Button x Magnussen: sem tempo

Hulkenberg x Perez: 0s317

Gutierrez x Sutil: 0s658

Vergne x Kvyat: sem tempo

Bottas x Massa: 0s770

Ericsson x Kobayashi: 0s018

Chilton x Bianchi: 0s295

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Vettel aposta no semi-novo

Motor Racing - Formula One World Championship - Spanish Grand Prix - Practice Day - Barcelona, Spain

A notícia de que a Red Bull trocaria o chassi de Sebastian Vettel para o GP da Espanha animou seus torcedores, como se a mudança traria o domínio que o alemão teve nos últimos anos pelo menos em relação ao companheiro de equipe. Porém, ao chegar em Barcelona, o próprio alemão fez questão de baixar as expectativas – e com toda a razão.

Como explicou o ex-diretor técnico da Williams, Mark Gillan, ao blog de James Allen, a troca de chassi ao longo da temporada é corriqueira e serve mais para “remover incertezas”, sobretudo do próprio piloto. Afinal, tão prejudicial quanto um carro ruim é um piloto sem confiança em seu equipamento.

Outra possibilidade é adotar um chassi desenvolvido já com menos peso, como é o caso da Sauber neste final de semana, ou que tenha a possibilidade de usar novidades que o outro não tem. Como o “novo” carro de Vettel na verdade é antigo, tendo sido o primeiro pilotado (não por muitas voltas, é verdade) pelo alemão, ainda na pré-temporada, é bem provável que não seja esse o caso.

O próprio Vettel admitiu que a confiança é o ingrediente principal de sua decisão de trocar de chassi. “Você tenta mudar o máximo de coisas que pode para resetar e tentar novamente. Não é que eu acredite que havia algo errado, é só que eu queria que as coisas começassem do zero novamente para ver o que podemos melhorar. Não estava contente com minha performance”, disse ao TotalRace em Barcelona.

Um piloto dificilmente termina o ano com o chassi com que começou. É comum fazer uma ou duas trocas por ano, que podem acontecer também por acidentes ou outros danos – como aliás, foi o caso de Kimi Raikkonen entre Bahrein e China. “Acho que se você tem corridas em que sente que está abaixo da performance ideal, tenta encontrar algumas respostas. Normalmente nós trocamos de chassi durante o ano e é por isso que ele está mudando para esta corrida”, explicou Ricciardo. “Eu também devo mudar eventualmente, mas as últimas corridas foram boas para mim, então não tenho motivo para fazer isso ainda. Provavelmente é um pouco antes do que ele gostaria, mas usamos pelo menos dois chassis por ano.”

O grande problema de Vettel, segundo o próprio, é que o carro está com a traseira solta demais, algo que não estaria acontecendo com Ricciardo porque o australiano adota um acerto diferente.  “Daí você se vê mais tentando corrigir do que buscando tirar mais performance”, queixou-se.

Com ou sem novo/velho chassi, é esperada uma melhor performance da Red Bull em Barcelona, simplesmente pela falta de retas e excesso de curvas de alta velocidade. Com promessas de updates no software da Renault e no combustível, essa expectativa aumenta. Por outro lado, será um bom palco para Vettel testar sua nova máquina no quesito em que está perdendo mais terreno para Ricciardo, o consumo de pneus, pois o Circuito da Catalunha é marcado pelo alto desgaste. Não é a promessa de que os problemas do alemão acabaram, como vimos nesta sexta-feira, é apenas uma tentativa.

Williams curta, Mercedes longa: as diferentes relações de marchas

Antes do início da temporada, um dos temas que mais chamou a atenção foi a relação de marchas fixa. Expliquei por aqui que os engenheiros não consideravam isso um grande desafio, mas ainda assim o que vimos nestas quatro primeiras corridas foram variações na forma como cada time abordou a questão.

marchas

Trago para vocês estes gráficos compilados por um dos leitores do site F1Technical, chamado hollus. Ele foi inserindo os dados das quatro primeiras etapas para chegar a estes resultados e separou Sauber, Caterham e Marussia por falta de resultados consistentes até aqui. Além disso, apesar de não aparecer no gráfico, a Mercedes chegou à oitava marcha no GP da China.

É curioso vermos as diferenças entre as equipes com motores Mercedes, com o time de fábrica e a Force India optando por marchas mais longas do que Williams e McLaren. Como expliquei aqui, ter marchas curtas ajuda na reaceleração e prejudica a velocidade final, portanto, como temos visto Massa e Bottas voarem nas retas, isso mostra como falta downforce ao carro.

É possível mudar essa relação de marchas uma vez no ano mas, com esse cenário, podemos esperar, pensando nos circuitos mais extremos do campeonato, uma Williams e McLaren melhores em Mônaco e uma Force India e Toro Rosso mais fortes em Monza, por exemplo.

Não deve ser coincidência o fato das equipes com motores Ferrari – o time de fábrica, Sauber e Marussia – terem uma seleção bem semelhante. E a Red Bull, como de costume, optou por marchas mais curtas.

Além das velocidades em si, essas opções também implicam nas rotações utilizadas. O regulamento prevê um máximo de 15000rpm. Porém, a restrição de fluxo de combustível em 100kg/h tem feito com que os motores trabalhem bem abaixo disso. A Force India é a única que está batendo em 13000 a 14000 porque suas 4ª e 5ª marchas são muito espaçadas, mas isso só ocorre por instantes. Além de gastar mais combustível, isso também exporia a unidade de potência a quebras. Aliás, com essa configuração, será interessante ver se alguma equipe vai conseguir “bater no limitador” até o final do ano!

Chega de brigar com as nanicas

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, China

Se eu tivesse de apostar qual equipe dará o maior salto no GP da Espanha, que certamente será um desfile de novidades em todos os carros, meu palpite seria a Lotus. Não só porque, por ser o time que mais caiu em relação ao ano passado, são eles que têm mais a evoluir, mas principalmente porque o E22 vem comprovando ter uma boa base.

O GP da Malásia já havia sido animador. Não tanto pelos resultados – Grosjean foi 15º no grid e 11º na corrida – mas pela velocidade demonstrada nas curvas, maior        que carros que brigam dentro do top 10, como Williams e McLaren. Isso quer dizer que a aerodinâmica está funcionando bem, como também ocorre com a Red Bull, outro carro que deve aparecer forte em Barcelona.

O diretor técnico Alan Permane explicou que o time “perde nas freadas” e “tem culpa por ter mais problemas que as outras equipes que usam motor Renault”, dando a entender que ao menos parte das dificuldades é relacionada ao MGU-H, sistema de recuperação de energia calorífica cuja principal missão é reduzir o turbo lag, impulsionando o carro quando os pilotos tiram o pé do acelerador no final das retas.

Essa culpa pelos problemas com a Renault tem a ver com o fato do time não ter participado da primeira bateria de testes na pré-temporada, em Jerez. Mesmo que os outros carros equipados com os motores franceses tenham andado pouco na ocasião, entenderam algumas mudanças necessárias para trabalharem bem com a unidade de potência.

Por isso, o salto que a Red Bull deu entre o último teste e o GP da Austrália, ainda está por vir no caso da Lotus.

E ele vem se desenhando. O sistema de transmissão foi alterado para o GP do Bahrein, mas os ganhos só ficaram mais claros na China, quando a equipe recebeu o último update da Renault – antes, apenas Toro Rosso e Red Bull tinham a unidade de potência mais avançada. O resultado foi o primeiro top 10 do ano no grid – um top 10 real, que tinha tudo para gerar os primeiros pontos da Lotus no ano, não fosse um raro problema de câmbio.

Para Barcelona, o E22 ganhará novos mapeamentos de motor, melhorias no sistema de arrefecimento e várias mudanças na carenagem, que visam aprimorar a aerodinâmica e tornar o carro “mais previsível para os pilotos”, além de fazer com que ele trabalhe melhor os pneus.

Eles provavelmente não estarão no pódio, muito menos disputarão vitórias. Mas que o E22 tem tudo para entrar na briga já apertada pelos pontos, junto de Red Bull, Ferrari, McLaren, Williams e Force India, isso tem. E alguém vai acabar sobrando.

Ele era da casa

1994 Brazilian Grand Prix

John Lennon e Ayrton Senna. Que precisa a comparação feita pelo jornalista inglês Will Buxton, que reproduzimos em nosso especial sobre os 20 anos da morte do brasileiro. Apesar da obra dos dois falar por si só, ambas as vidas foram interrompidas antes – e ainda por cima de forma abrupta, violenta, inesperada – que tivessem tempo de se mostrarem mortais.

Porque eles nunca se mostraram mortais em vida. Nasci depois do assassinato de Lennon, mas lembro precisamente do sentimento de “é o Senna, não vai acontecer nada” ao ver o acidente de 20 anos atrás.

Mas Senna se mostrou humano e se foi. E deixou uma expectativa indigesta para cada um nós em cada manhã de domingo. Vai ver é essa frustração inevitável que faz tanta gente que continuou acordando cedo e curtindo as novas batalhas que iam aparecendo, de certa forma provando que seu amor pelo esporte era mais forte que a lenda, se sentir desconfortável com tamanha adoração, que transcende esse nosso mundinho. É como conhecer a fundo a discografia de Lennon e se irritar quando alguém se contenta com “Imagine”.

Deveriam sentir-se honrados.

Não adianta vir com números, com papo de “só foi campeão com melhor carro” ou relembrar momentos em que Ayrton teve atitudes que desafiam a aura criada ao redor dele. Nada disso tem a ver com o mito.

Para entender onde Senna está no imaginário brasileiro temos de voltar à realidade do país no final dos anos 80 e começo dos 90, cheia de incertezas, inflação absurda, decepções nos primeiros anos pós-redemocratização. Domingo de manhã era a hora da nossa redenção. Senna era um exemplo de determinação, incutia em nosso imaginário que não éramos tão inferiores assim, que, se perseverássemos, atingiríamos nossos objetivos. Se tudo isso era verdade ou pura ilusão, não importa. Senna adotou esse papel de messias a cada frase de auto-ajuda e toda vez que empunhava a bandeira.

Aquele ar ora sobrenatural, ora gente com a gente, exatamente quando estávamos tão carentes como nação, que explica por que a memória dele ainda é tão viva nas pessoas, por que há essa adoração muitas vezes cega.

Talvez por isso eu tenha sentido, do alto de meus nove anos, naquele 1º de maio, que eu tinha perdido alguém da família. E acabei descobrindo, nas até hoje impressionantes cenas do cortejo, que não estava sozinha.

E fiquei honrada pelo esporte que sempre acompanhou minha vida ter tocado tanta gente.

A premonição de Vettel

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Qualifying Day - Shanghai, China

Quando Sebastian Vettel ganhava suas corridas ano passado, dizia para o time, tão logo cruzava a linha de chegada, que eles deveriam aproveitar aquele momento porque o domínio não duraria para sempre. Após quatro corridas disputadas em 2014, aquelas mensagens soam como uma premonição. Depois de bater recordes ao vencer as nove últimas provas da temporada de 2013, o tetracampeão do mundo está enfrentando seu pior momento na Fórmula 1.

Na Austrália, andou o final de semana inteiro atrás do novo companheiro, Daniel Ricciardo, mas todos creditaram isso a problemas técnicos que, de fato, estavam atormentando o alemão. Na Malásia, as coisas pareciam ter voltado ao normal. Porém, no Bahrein e na China, ficou claro que o australiano não apenas tem um ritmo melhor, como também consegue conservar mais os pneus. E as duas ordens de equipe que Vettel teve de ouvir para sair do caminho do companheiro só escancararam isso.

O que exatamente está atrapalhado a adaptação de Vettel com o novo carro não está claro. A equipe admite que ele não está confortável com o acerto e corre para encontrar soluções que adaptem melhor o equipamento ao estilo do piloto, a exemplo do que aconteceu em 2012, quando o alemão também não começou bem – a acabou sendo campeão após mudanças serem feitas no carro. Na teoria, os problemas de Vettel seriam com a instabilidade do carro na entrada das curvas. Fazendo mais correções do que gostaria, o piloto desgasta mais os pneus e entra em uma espiral negativa.

Outra suposição é de que o tetracampeão esteja “mal acostumado” com os grandes carros da Red Bull. Por isso, agora que o regulamento retirou grande parte do downforce e deixou os carros mais nervosos, é Ricciardo, que vem de dois anos na média Toro Rosso, que está se sobressaindo. E seria uma questão de tempo para que o cenário se inverta.

Conhecido por ser trabalhador, Vettel não demonstra frustração nas entrevistas e parece apenas focado em melhorar seu desempenho. Porém, do lado de fora, “o piloto que só ganha com carro bom” é questionado. De fato, quando o tetracampeão está confortável com seu equipamento, é de um perfeccionismo que o faz ser difícil de bater. Não erra em classificação, nem dá sopa para o azar em corridas.

Por outro lado, é a segunda vez que seu desempenho cai bastante quando não está feliz com o carro – e é justamente o que um piloto consegue quando a situação lhe é desfavorável que separa os bons dos grandes. Está aí, portanto, a chance de Vettel mostrar de que lado está.

Coluna publicada no jornal Correio Popular.

GP da China por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Que diferença um ano faz…”

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, China

“Olha o Massa!” Foi o que brasileiros, britânicos e espanhóis berraram assim que as luzes vermelhas se apagaram no GP da China. “Ele já passou Rosberg e está indo atrás de Vettel. Ele tocou com Alonso! Vettel está perdendo posições”, narra David Croft na Sky Sports. “Massa novamente larga muito bem e há um toque com Fernando. No momento, ele continua, mas por fora vai ser complicado. Perdi Rosberg de vista”, admite Antonio Lobato, na Antena 3. Saber se o forte toque entre os ex-companheiros de Ferrari prejudicou a corrida de Massa também é a preocupação de Luis Roberto, na Globo.

Os brasileiros de início ficam divididos, mas Luciano Burti logo exime Alonso de culpa. “Na minha opinião, Alonso não viu o Felipe porque ele largou muito bem.” É a mesma opinião de seus colegas. “Acho que ele entrou em um sanduíche. Não dá para culpar a Ferrari. Foi uma manobra maluca de se fazer em um grid de F-1, uma mudança de direção tão brusca. Há 50% de chance que vai bater em alguém. E Alonso parecia que tinha tocado uma mosca, continuou como se nada tivesse acontecido”, opinou Martin Brundle. A mesma reação também chamou a atenção de Pedro de la Rosa. “É impressionante que nem Alonso, nem Massa pareceram ter tirado o pé após o toque. Ele reclamou no rádio que Fernando bateu nele, mas olha o buraco em que ele se meteu, ele bateu no Fernando também.”

Sem ter de disputar com ninguém, sequer na largada, o líder Hamilton seguia “como um diabo”, como definiu Lobato. “Esse problema do Rosberg é bom para o Hamilton porque seu único rival vai ter problemas para se recuperar”, analisa Burti. “Com oito voltas, ele tem um pitstop de vantagem para o 10º colocado. Não que ele precise, porque é o único que está feliz com os pneus”, lembra Brundle.

Em terceiro, Alonso acompanha Vettel um pouco de longe, o que agrada De la Rosa. “Se Fernando puder usar o DRS para atacar Vettel, ótimo. Mas é importante manter certa distância por causa do graining nos pneus – e de quem eu tenho medo é Ricciardo, que vem de trás.”

De fato, os pneus não aguentam mais do que 10-12 voltas. Menos para Hamilton, em outra dimensão. E um dos primeiros a parar é Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, ChinaFelipe Massa, que perde 1min18 nos boxes. “Massa deve estar imaginando que diabos está acontecendo”, diz Croft. Lobato se impressiona com a demora da Williams e teme que o mesmo possa acontecer com Alonso. “Por Deus, o que aconteceu? Que desastre. Não tem pneu, a pistola não funciona… mas também teve o toque com Fernando. E eu vi algo dobrado na roda de Fernando. Ai, ai, ai.”

Isso porque todos acreditam que a dificuldade em trocar os pneus de Massa tenha a ver com o toque da largada. “Ele voou naquela batida da largada, pode ser que isso tenha afetado algo. As temperaturas de tudo devem ter aumentado muito durante essa parada”, lembra Brundle. Após a prova, a Williams esclareceu que não foi este o problema.

Quem não troca pneus é Ricciardo, estratégia considerada errada por De la Rosa, e boa por Burti. “Não é o ideal ficar na pista agora, porque quem tem pneus novos está com vantagem, mas pode ser bom lá na frente e Ricciardo pode até fazer uma parada a menos”, diz o brasileiro.

Mais à frente, Alonso para antes e supera Vettel. “O interessante desta jogada não é apenas ter passado Vettel, mas ter pista limpa com o pneu duro, que vai precisar aguentar mais. Ele não pode ter muito graining neste pneu”, alerta De la Rosa, enquanto Burti vê “Vettel voando com pneus médio e indo para cima de Alonso.”

Vettel acaba desistindo de atacar o espanhol e a prova cai no marasmo. “Não é exatamente o GP do Bahrein, mas vamos ver como as coisas caminham”, reconhece Brundle. Isso, até que Rosberg, finalmente, começa a progredir e vai para cima de Vettel, na luta pela terceira posição. “Interessa-nos que Vettel freie Rosberg o máximo que puder”, torce Lobato. Mas não adianta. “Deve ser fácil para Rosberg passar Vettel na reta. Nos anos anteriores, essa falta de velocidade de reta não atrapalhava tanto porque ele liderava saindo da ponta e ninguém chegava perto. Agora é diferente”, analisa Brundle. “A diferença de velocidade da Mercedes com a Red Bull é até covardia na reta”, emenda Burti.

Depois de Rosberg passar, é a vez de Ricciardo chegar no piloto da Red Bull. “Tenho a sensação de que as voltas que Vettel ficou atacando Fernando quando eles saíram do box acabaram com seus pneus. Ricciardo está bem mais rápido”, vê De la Rosa.

A equipe também observa isso e pede para que o alemão deixe o australiano passar. Em um primeiro momento, Vettel não obedece. “Ele não deixou não. Não quis saber dessa questão de ordem de equipe”, Burti gosta momentaneamente do que vê. “Ele não está se prejudicando? Ele vai se meter em uma briga que vai acabar ainda mais com os pneus e fazer algo que a equipe não quer”, critica Croft. “Ele demonstrou que acha que pode dar as ordens, é o campeão do mundo”, acredita Brundle. “Isso é ótimo para Fernando. A resposta dele ao engenheiro foi ‘azar’ e eu entendo isso como: ‘ele parou depois porque quis, o problema é dele”, interpreta De la Rosa.

Após ouvir que o companheiro está em uma estratégia diferente, Vettel cede. “Tenho certeza de que ele abriu, mas não sei se vai admitir”, diz Croft. “Isso não quer dizer que a equipe quer que o Ricciardo chegue na frente, mas que é o melhor nesse momento”, explica Reginaldo Leme, ainda que Burti veja o australiano “com vantagem, porque está com a tática de duas paradas.” Lobato, contudo, estranha a informação dada ao alemão. “Mas quem não está na estratégia de 2 paradas?” Enquanto isso, Brundle reflete sobre a situação de Vettel: “Que diferença um ano faz…” E o repórter Ted Kravitz levanta sua teoria. “Será que Ricciardo está mais acostumado a carros com menos downforce e, por isso, está se adaptando melhor que Vettel?” Os espanhóis, contudo, insistem até o final da prova que o tetracampeão deve estar com algum problema no carro.

Com o passar das voltas fica claro que Vettel também fará duas trocas. “Se eles disseram que Ricciardo está numa estratégia de duas paradas e Vettel numa diferente, por que estão demorando tanto para parar?”, questiona Croft.

Falando em boxes, Luis Roberto, retomando os problemas de Massa no primeiro pit stop, acredita que “a Claire Williams vai dar uma chamada geral e eles vão passar o final de semana treinando paradas.”

Depois de passar Vettel, Rosberg vai à caça de Alonso e os espanhóis até acham que o compatriota pode aguentar a pressão, mas ele sequer se defende. “Alonso não lutou muito, né? Acho que ele percebeu que não tinha muito o que fazer”, vê Brundle. “É impossível segurar. Mas que estejamos vendo Fernando em terceiro já é um sonho”, diz Lobato. “Antes de começar a corrida, eu sequer imaginaria isso”, admite De la Rosa.

A briga do bicampeão seria com Ricciardo, que parece que aproximar, mas logo vê a resposta da Ferrari. “Acho difícil o Ricciardo conseguir passar o Alonso porque, chega nessa hora, ele consegue tirar um coelho da cartola”, aposta Burti. “Ele tem combustível e pneu para segurar Ricciardo. É bem do estilo dele deixar uma reserva. É macaco velho”, concorda Brundle. Os espanhóis sofrem um pouco mais. “Que agonia. Fernando mais uma vez fazendo mágica”, exclama Lobato.

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, ChinaMágico ou experiente, Alonso consegue um pódio surpreendente pela Ferrari, mas a festa é de Lewis Hamilton. “até chato, mas mostra o grande trabalho dele”, reconhece Burti. “Ele tinha o carro, foi tranquilo. Não chega à liderança, mas agora está a apenas quatro pontos do companheiro”, lembra Croft, enquanto Brundle demonstra não acreditar que os rivais conseguirão chegar nas Mercedes. “O título vai ficar entre Hamilton e Rosberg, está claro. Eles vão continuar melhorando e, mesmo se perderem 1s, ainda estariam na frente.”

Mesmo também descontando as Mercedes, os espanhóis destacam o crescimento da Ferrari. “Foi como no futebol: treinador novo, resultado positivo”, diz Lobato, em referência à troca no comando do time. “É incrível que Fernando tenha ganhado em iguais condições das duas Red Bull. Mas também temos de dizer que os Mercedes estão muito na frente”, destaca De la Rosa.

Na Globo, Luis Roberto empresta o adjetivo com que os espanhóis costumam se referir a Alonso. “Vitória de Hamilton, que está guiando muito, e mágica de Alonso, que colocou carro no pódio. Em comparação, Raikkonen foi oitavo.” A mesma relação é feita na Antena 3. “O carro melhorou, mas conseguir um pódio hoje foi muito por mérito de Fernando”, diz De la Rosa, para a emenda de Jacobo Vega. “E vejam que Raikkonen foi oitavo.”

Para finalizar com chave de ouro, Lobato pede um favor a De la Rosa. “Pedro, você que se dá bem com o Hamilton, fala para ele dar um jeito nesse cabelo. Esses cachos… e agora está deixando um moicano!”, o carequinha não se conforma. Mas Vega entra na discussão: “É que está dando tanta sorte que agora não dá pra tirar.”

A birra de Vettel e o (quase) pódio da Red Bull

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, China

Daniel Ricciardo cruzou a linha de chegada no GP da China a 1s2 de Fernando Alonso e do que seria um pódio – desta vez, de “verdade”. No meio da prova, os números mostram que o australiano perdeu cerca de 3s atrás do companheiro Sebastian Vettel, cuja primeira reação ao ouvir o pedido da Red Bull para abrir, pois Ricciardo estava mais rápido, respondeu “azar dele”. Teria isso custado o terceiro posto para a equipe?

Vamos às circunstâncias. Primeiro, a ordem da Red Bull, acertada para maximizar o resultado da equipe. De fato, Ricciardo, com pneus três voltas mais novos e uma conservação melhor por todo o final de semana, estava vindo 0s9 mais rápido que Vettel nas voltas anteriores à ordem e viu o ritmo despencar em 1s/volta nos três giros em que ficou preso. Tão logo passou o companheiro, voltou à casa dos 1min43, enquanto os tempos de Vettel despencaram para 1min45. A briga, portanto, foi ruim para ambos.

No stint final, quando Ricciardo se aproximou de Alonso, o espanhol tinha pneus quatro voltas mais velhos e um ataque seria plausível caso o australiano estivesse mais próximo. Mas também temos de levar em conta o fator Alonso: em determinado momento, parecia que Ricciardo vinha mais inteiro, mas o espanhol começou a reagir, sinalizando que havia economizado equipamento prevendo um ataque. Tirando uma volta em que Ricciardo tirou 0s8, quando Alonso fritou os pneus atrás de um retardatário, o bicampeão sempre parecia ter uma resposta para as tentativas de aproximação. Apenas na última volta, a Ferrari diminuiu o ritmo e eles cruzaram a linha de chegada mais próximos.

Dois fatores nos fazem acreditar que, mesmo que Vettel não tivesse atrasado Ricciardo, o australiano poderia chegar mais perto, mas não na frente de Alonso: a diferença de velocidade de reta entre os carros e o fato da prova ter, efetivamente, terminado na volta 54, quando a diferença entre os dois era de 3s5. Aliás, imagine as teorias da conspiração caso Ricciardo tivesse passado Alonso na última volta e o resultado fosse alterado por um erro na bandeirada?

O undercut e o offset

Se o GP do Bahrein foi marcado pela força do undercut, a tática inversa funcionou bem na China. O chamado offset, ou a aposta de esticar ao máximo um stint para estar com pneus mais novos no final foi eficiente para ajudar Nico Rosberg no tráfego – mas tem suas contra-indicaçõs.

No primeiro stint, Rosberg usou o undercut para superar Ricciardo. Passou Vettel no meio da prova e depois foi à caça de Alonso. Como o espanhol fez sua última parada cedo, a opção da Mercedes foi não responder imediatamente, deixá-lo ganhar a vantagem do undercut, e parar Nico só quatro voltas depois. Não demorou 5 giros para o alemão recortar a diferença e passar. Inteligentemente, Alonso não brigou pois sabia que não teria chances – e que sua luta era com Ricciardo. Apesar do offset ser uma opção, ele depende da velocidade de reta porque é preciso passar na pista. A Red Bull usou o mesmo expediente com Ricciardo mas, como vimos, ele não chegou perto o suficiente de Alonso para comprovar se a tática funcionaria em seu caso.

O undercut ainda esteve presente e foi importante, por exemplo, para Hulkenberg chegar na frente de Bottas. O alemão era pressionado pelo finlandês antes da primeira parada, mas antecipou seu pit stop e ganhou 2/3s de vantagem que permaneceriam estáveis até o final. Alonso também usou do mesmo expediente para passar Vettel após o primeiro stint.

Tem braço fazendo a diferença

Motor Racing - Formula One World Championship - Chinese Grand Prix - Race Day - Shanghai, China

O GP da China foi um claro exemplo do quanto a adaptação de um piloto ao comportamento do carro tem feito diferença nesta temporada. Com menos pressão aerodinâmica, dificultando as freadas, e mais torque nas saídas de curva, tem piloto tendo mais mão de obra do que o normal para domar os carros.

De um lado, pilotos como Lewis Hamilton e Fernando Alonso. Do outro, ninguém menos que os também campeões do mundo Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen. Enquanto os dois primeiros dizem conseguir colocar seus carros onde querem, os dois últimos não conseguem explicar por que têm sofrido tanto para impor seu estilo.

“Eu pessoalmente tive um final de semana muito bom, provavelmente no ritmo de 2012 em termos de pilotagem e de me sentir confortável com o carro”, disse Alonso, referindo-se à temporada em que esteve em estado de graça. De fato, a performance da China lembrou muito aquele piloto que levou uma Ferrari deficiente à luta pelo título até o final: arriscou na largada para se recuperar de uma classificação não tão positiva e brigou com quem podia, sem perder tempo tentando segurar Rosberg e cuidando dos pneus para acelerar na hora certa na briga com Ricciardo.

Mas quem está mesmo em estado de graça é Hamilton. Mesmo em um final de semana em que perdeu tempo por uma suspensão quebrada na sexta-feira, o inglês previu bem a evolução da pista, assim como já havia acontecido em outra prova que teve classificação com chuva, na Malásia, e venceu com muita facilidade. “Não lembro de ter tido um carro tão bom, que eu conseguisse colocar onde eu quisesse. Além disso, nunca pilotei tão bem”, acredita aquele que atualmente é vice-líder do campeonato – mas, pelo andar da carruagem, não por muito tempo.

Quem vive o outro lado da moeda não esconde a frustração. Vettel teve de admitir que não está conseguindo seguir o ritmo de Ricciardo – após mais uma vez ouvir a instrução para que deixasse o companheiro passar. “Não tive problemas, só não fui rápido o suficiente. Não estou me sentindo bem e precisamos ver o porquê”, afirmou. “Acho bom que Daniel esteja conseguindo tirar o melhor do carro, é uma boa referência para mim. Mas, no momento, a diferença entre nós é muito grande e preciso trabalhar nisso. O carro não está do jeito que eu gosto, mas claramente Daniel está mostrando que dá para tirar mais do carro do que eu estou conseguindo tirar.”

As dificuldades de Vettel levam a um cenário surpreendente na Red Bull, o mesmo que ocorre na Ferrari, com Raikkonen sofrendo para acompanhar Alonso. “O resultado do Fernando é muito encorajador e demonstra que estamos indo na direção certa, mas eu sofri. Não tinha aderência, nem nos pneus da frente, nem nos de trás. Acho que as dificuldades que encontrei aqui resultam de uma combinação de vários fatores: o meu estilo de condução, as baixas temperaturas e as características da pista”, definiu.

Isso mostra que não é apenas em relação às novas tecnologias que as equipes têm muito a descobrir acerca destes novos carros. Tem piloto bom sofrendo também. E, da mesma forma que a Mercedes aproveita para somar pontos enquanto os demais não reagem, quem se adaptou mais rapidamente vai deitando e rolando.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da China

Vettel 1 a 3 Ricciardo
Hamilton 3 a 1 Rosberg
Alonso 3 a 1 Raikkonen
Grosjean 4 a 0 Maldonado
Button 2 a 2 Magnussen
Hulkenberg 3 a 1 Perez
Sutil 2 a 2 Gutierrez
Vergne 3 a 1 Kvyat
Massa 3 a 1 Bottas
Kobayashi 4 a 0 Ericsson
Bianchi 3 a 1 Chilton

Diferenças de hoje:

Ricciardo x Vettel: 0s505

Hamilton x Rosberg: 1s283

Alonso x Raikonnen: 1s095

Grosjean x Maldonado: sem tempo

Button x Magnussen: 0s672

Perez x Hulkenberg: 0s369

Sutil x Gutierrez: 0s860

Vergne x Kvyat: 0s705

Massa x Bottas: 0s135

Kobayashi x Ericsson: 1s386

Bianchi x Chilton: 1s539

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

A ideia é simples; a cópia, nem tanto

Motor Racing - Formula One World Championship - Bahrain Grand Prix - Race Day - Sakhir, Bahrain

Com três das quatro equipes que usam o motor Mercedes na dianteira do campeonato de construtores, fica óbvio que os alemães fizeram um trabalho melhor na construção da unidade de potência que estreou em 2014, mas qual é o segredo e por que sua equipe de fábrica consegue aproveitar isso tão bem que coloca 1s5 em qualquer concorrente são dúvidas que estão sendo esclarecidas.

O que está claro até agora é que a forma como a Mercedes organizou os elementos de sua unidade de potência trouxe uma série de benefícios, inclusive, aerodinâmicos. E, com os motores de 2014 homologados, é difícil que ainda seja possível que os rivais corram atrás do prejuízo.

Como divulgado pelo inglês Mark Hughes, a Mercedes separou as turbinas de entrada e saída do turbo, colocando uma em cada extremidade do motor de compressão. Elas são ligadas por um eixo que passa pelo V entre os cilindros. O MGU-H (unidade de recuperação da energia calorífica do turbo) opera neste eixo. Acredita-se que a Ferrari tenha obtido solução parecida, mas a separação obtida pela Mercedes seria mais longa e, por isso, mais efetiva.

São várias as vantagens: em relação ao funcionamento do motor em si, a confiabilidade aumenta porque o risco das temperaturas subirem demais, especialmente na problemática relação entre o MGU-H e o MGU-K, diminui. Com menor necessidade de arrefecimento na turbina de entrada, que fica longe das pressões exercidas pelo escapamento, o intercooler pode ser menor. Além disso, como mostra a animação da Sky Sports, são necessários menos tubos de admissão, o que significa uma resposta mais rápida no motor.

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Essa redução nos tubos também diminui o turbo lag, um atraso natural deste tipo de motor, que é compensado nessa nova unidade de potência de 2014 pela energia despejada pelo ERS-H. Assim, a energia calorífica é canalizada para outros usos, tornando o motor mais eficiente.

Essas são as vantagens no funcionamento do motor em si, algo de que todas as equipes com Mercedes tiram proveito e que, acredita-se, dá 50 a 70hp a mais que os rivais.

Já o segundo conjunto de benefícios é mais bem aproveitado pela equipe de fábrica porque seu carro foi concebido com esta configuração da unidade de potência em mente – na verdade, o fluxo de informações entre Stuttgart e Brackley, nos três anos de desenvolvimento deste carro, pode ter sido decisivo para que esta solução fosse adotada. Os clientes teriam recebido as informações definitivas sobre o motor ano passado.

Um intercooler menor significa mais espaço para soluções aerodinâmicas agressivas – e explica por que a traseira do W05 é tão enxuta, assim como suas entradas de ar. A separação entre entrada e saída da turbina também permite que a transmissão fique mais à frente, o auxilia no centro de gravidade, algo que ajuda no equilíbrio do carro.

É lógico que este não é o único trunfo da unidade de potência da Mercedes, que parece ter uma integração mais afiada entre os sistemas de recuperação de energia e o motor em si. E é aí que entra a briga do fluxômetro. Como salientei há algumas semanas, além da questão da segurança – ao impedir uma variação muito grande de velocidade entre quem está economizando combustível e quem não está – a restrição do fluxo de combustível visa ampliar o valor das unidades de recuperação de energia. Como esta é a grande deficiência do motor Renault, a briga da Red Bull é para ganhar vantagem com o motor de combustão ao travar uma guerra contra uma das regras que o limita.

Acredita-se que o problema central da Renault tenha a ver com o fato de vários elementos do turbocompressor e do MGU-H estarem posicionados um na sequência do outro, causando superaquecimento, principalmente quando o MGU-H fornece muita energia para o MGU-K, o que acaba desligando o sistema. No final das contas, a Red Bull precisa mesmo é de um motor Mercedes.

Um tapa na cara dos grandes

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Com menos da metade do orçamento de equipes como Red Bull, Ferrari e McLaren, a Force India vem conseguindo se manter em segundo lugar no mundial de construtores. Tudo bem que estamos apenas na terceira etapa do campeonato e o carro de Nico Hulkenberg e Sergio Perez não é o segundo mais rápido, de fato, mas ainda assim trata-se de um feito e tanto.

São várias as nuances que vêm fazendo da Force India a equipe mais consistente do meio do pelotão nos últimos anos. O time pode não ter tido os pódios da Sauber ou uma vitória, como a Williams, mas vem ficando entre a sexta e sétima colocações nos últimos quatro anos. Talvez seja esse sucesso relativo e constante que mantenha a equipe viva mesmo que empresas ligadas a seu dono, Vijay Mallya tenha sofrido fortes abalos desde 2011, incluindo problemas com a justiça indiana por débitos na casa de 1 bilhão de dólares.

Finanças obscuras à parte, é interessante como a equipe apostou em duplas de pilotos com boa relação custo/patrocínio/benefício, e viu o lucro disso.

Outro trunfo do time é o motor Mercedes, claro, e a eficiência de uma fábrica que aprendeu a se virar com orçamentos sempre abaixo dos 100 milhões de euros – este é o primeiro ano em que a quantia chegou aos nove dígitos, graças ao dinheiro trazido por Perez – 340 funcionários e uma fábrica bem menos paramentada que dos times grandes. O resultado são projetos conservadores, cuja função primordial é garantir confiabilidade, e toda e qualquer novidade é muito estudada antes de ser colocada em prática – simplesmente porque não se pode jogar dinheiro fora.

Isso, é claro, tem seu lado negativo e limita o nível de desenvolvimento ao longo da temporada. Por isso, é irreal neste momento pensar na Force India sequer no top 4 ao final do ano, mas todo e qualquer ganho de visibilidade, se possível com pódios, é bem-vindo.

Depois de conseguir reduzir em 10kg o peso do carro desde o início da temporada, o foco agora é ganhar em performance aerodinâmica e, no papel, as novidades que o time trará para as próximas duas etapas devem gerar 15 pontos em downforce. Talvez isso não fique tão claro na China, pois o carro se comporta melhor no calor, mas o certo é que, enquanto os grandes continuarem falhando, eles estarão por perto para aproveitar.

Grid anoréxico

jenson

A combinação entre uma regra mal pensada e uma tola resistência a mudá-la está criando um padrão que desafia a lógica na Fórmula 1: os “pilotos de passarela”. Motivados por um peso mínimo para os carros que não lhes dá muita margem, os mais altos estão colocando sua saúde em risco em troca de alguns décimos por volta. E uma solução ficou acertada apenas para 2015.

A raiz do problema é uma estimativa errônea do peso da nova unidade de potência, que compreende o motor V6, os geradores de energia híbrida e suas baterias. Prevendo que os carros ficariam mais pesados com a novidade, o limite mínimo do conjunto carro-piloto foi aumentado em 43kg em relação ao ano passado. O problema é que as contas estavam erradas.

Com toda a tecnologia empregada para que os carros sejam os mais leves possíveis, de onde tirar o peso excedente? Dos pilotos. Mesmo que eles tenham composições corporais distintas. Mesmo que um piloto magro demais corra riscos de desenvolver problemas de saúde e de não ter energia suficiente para lidar com o esforço de cerca de 1h30 de uma atividade intensa.

O peso ideal do piloto varia de acordo com a equipe e esse é um dos fatores que freia uma mudança durante o campeonato: há times que conseguiram fazer carros mais leves e, com isso, permitem que seus pilotos sejam mais pesados. A Mercedes, por exemplo, não se importa que Lewis Hamilton se mantenha por volta dos 74kg, segundo o piloto. Por outro lado, Jenson Button – pouco menos de 10cm mais alto que o inglês – tem de se manter abaixo dos 10kg que o conjunto carro-piloto da McLaren fique o mais próximo possível do peso mínimo.

No geral, é bem-vindo que o piloto não passe dos 70kg. Isso é relativamente fácil para os baixinhos, mas e para a turma que passa dos 1,80m? A turma conta com Ricciardo, Chilton, Grosjean, Hulkenberg, Gutierrez, Button, Vergne e Sutil, oito dos 22 pilotos do grid, e vem encontrando resistência justamente dos demais, que querem manter sua vantagem.

Vantagem essa que é diretamente medida em tempo de volta. Quando mais pesado for o conjunto carro-piloto, mais lento ele é. O caso mais grave é o de Adrian Sutil, correndo com o carro 20kg a mais que o peso mínimo, o que lhe daria uma desvantagem de seis décimos. Para se ter uma ideia, é uma diferença que garantiria cinco posições a mais no grid da última prova.

Tanto, que o alemão adotou uma solução drástica e “ganhou” 1,5kg ao retirar o reservatório de água de seu cockpit. Imagine correr sob temperaturas que chegam a 60ºC no cockpit sem água para beber e já lutando para emagrecer.

A desidratação, comum em lutadores que têm de chegar ao peso máximo antes de uma luta, se tornou uma solução popular entre os pilotos. Afinal, como já estão magros demais e perderiam massa muscular caso adotassem uma dieta ainda mais restritiva, usam formas de perder água para abaixar o ponteiro da balança. Porém, diferentemente de quem sobe ao ringue podendo recuperar até 12kg do que “bateu” na pesagem, os pilotos são pesados após os treinos e provas. Ou seja, têm de correr desidratados.

A perda de rendimento é óbvia e Vergne, inclusive, chegou a ser hospitalizado com quadro de desnutrição entre uma etapa e outra. Especialistas indicam que a performance começa a ficar prejudicada com a perda de 2% do peso corporal em líquido. Para um homem de 70kg, por exemplo, isso significaria 1,4kg, algo que já acontece normalmente em provas mais quentes. Imagine quem precisa perder mais do que isso.

Para o ano que vem, ficou acertado que o peso mínimo subirá em 10kg. Até lá, seguiremos com o grid, literalmente, seco.

GP do Bahrein por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Que isso não termine!”

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“Quem tem a melhor chance de chegar em terceiro? Ficaria entre Bottas e Perez.” É com esse ‘ânimo’ que o comentarista da Sky Sports Martin Brundle inicia a transmissão daquele que viria a ser um dos melhores GPs dos últimos anos.

Antes da largada, o britânico prevê ainda que Fernando Alonso se recupere depois de se classificar atrás de Kimi Raikkonen – e logo. “Também vamos ficar de olho na primeira volta, porque Kimi costuma ser cuidadoso, por isso sempre termina as corridas, e Alonso é sempre ousado – e está atrás do companheiro.” A preocupação do narrador da espanhola Antena 3, contudo, é outra. “Nunca vi tanto chefe na Ferrari. Estão aqui para colocar pressão.”

Na largada, o narrador britânico David Croft vê Rosberg “saindo melhor, mas Lewis tem a linha de dentro na primeira curva”. A atenção é tão grande na briga da ponta que a demora é de três curvas para ver Massa em terceiro. Na Globo, ocorre justamente o contrário. “Ele já vem para pular na frente e pra assumir a terceira posição. Grande largada do Felipe. Pulando de sétimo para terceiro”, se empolga Galvão Bueno, enquanto Lobato lamenta que “Fernando ficou muito preso no meio do tráfego.” Mas Raikkonen, como previa Brundle, ficou para trás.

Logo depois do comentarista Pedro de la Rosa comemorar que Alonso “ganhou de volta o terreno perdido na classificação”, fica claro que a Ferrari não tem ritmo. “Que difícil vai ser para Fernando se segurar com a velocidade de ritmo de Hulkenberg”, diz Lobato. Seria impossível, então o foco vai para a ponta. “O bom é que o Hamilton passou Rosberg e que eles deixem os dois lutarem. Isso aumenta a possibilidade de terem problemas”, torce o piloto de testes ferrarista.

Na Sky Sports, começam a falar de estratégia. “A Mercedes parece estar imaginando que fazer duas paradas é melhor do que três”, acerta Croft, enquanto Brundle observa, na volta 10, Rosberg “em uma situação melhor” na luta pela vitória com Hamilton e a “Force India mais forte que a Williams.”

Depois da empolgação do início, quando Reginaldo Leme chegou a ver Massa “no ritmo das Mercedes”, a falta de aderência da Williams começa a preocupar os brasileiros. “Balançou a traseira, não dá para colocar o pé. Mas ele está vindo com uma vontade…”, destaca Galvão.

O brasileiro vinha liderando um trem com o companheiro Bottas e as duas Force India até que o finlandês fez sua parada. “O problema é que eles estão lutando ainda e o Bottas está andando mais rápido”, observa Rubens Barrichello. Brundle também estranha que os demais pilotos do quarteto sigam na pista. “Eles têm de responder à parada do Bottas”, diz. “A não ser que estejam se comprometendo a fazer duas paradas”, observa Croft.

Tentando imaginar quem vai a três e quem fará duas paradas, De la Rosa estranha o pit stop de Vettel, único no top 10 com pneus médios. “A tática dele, que parece ser ruim nesse momento, pode ser melhor ao longo da prova. Mas é muito interessante. Se Vettel não tem pneus na volta 17 – e a Red Bull conserva bastante seus pneus – quem fará duas paradas e terá de ficar umas 23 voltas com os duros vai ter dificuldade”, prevê.

Antes do alemão parar, a corrida tem um lance inesperado: com Ricciardo de pneus macios, a Red Bull pede que o tetracampeão ceda passagem com o famoso “Daniel is quicker than you” – e é prontamente atendida. “Nunca achei que Vettel ia ouvir isso, mas ele só respondeu: ‘Entendido, vou abrir na curva 11’”, informa o repórter britânico Ted Kravitz. “É proibido dizer que é para deixar passar, por isso usa-se os códigos”, crê Galvão.

Mais à frente, a disputa entre as duas Mercedes é bem diferente, com Rosberg liberado para ir para cima de Hamilton. “Salvaram a asa dianteira, e isso já é o bastante. Temos de agradecer a Mercedes por deixá-los lutar. A vantagem deles é muito grande e seria chato que houvesse ordens logo na terceira prova. A questão aqui é quem será o primeiro a parar porque será uma grande vantagem”, observa De la Rosa. “A briga está sempre liberada aí, até o final do campeonato”, diz Reginaldo. “Espetacular essa briga da Mercedes. Isso é corrida de automóvel!”, se empolga Galvão.

Para Brundle, o fato do alemão ter atacado o inglês logo antes da primeira parada dos dois “confirma que Rosberg está com o conjunto mais forte”. Para Croft, a confirmação é de que “esses dois estão livres para disputar”.

Hamilton vai para o box e as estratégias são invertidas: o inglês volta com macios e o alemão, duas voltas depois, coloca os médios. “Curioso que Rosberg vai dar mais duas voltas. Isso lhe dará uma vantagem no final”, observa Brundle. “A melhor estratégia é a de Hamilton porque Rosberg tem de ultrapassar. Mas também é certo que Rosberg só tem chance de vencer se fizer algo diferente.”

Na Globo, Galvão recorda os tempos de Rubinho e Schumacher na Ferrari, e diz que Rosberg “tem que voar nas próximas duas voltas.” Mas Barrichello lembra que as coisas mudaram. “Hoje não tem jeito. A gente tem visto que quem vem com pneu novo tem vantagem. O Hamilton vai voltar na frente.”

Motor Racing - Formula One World Championship - Bahrain Grand Prix - Race Day - Sakhir, BahrainMassa recupera o terreno perdido no undercut de Bottas e chega de novo no companheiro, avisando a equipe via rádio que os pneus do finlandês estão muito usados. “Geralmente você fala dos próprios pneus”, diverte-se Brundle. “Mas ele tem razão porque as Force India estão chegando.” Force India, inclusive, que ganharam o apelido de “gazelas” de Lobato, inconformado com a facilidade com que Alonso era superado por Perez e Hulkenberg. “Ele deve estar imaginando: quantas Force India já me passaram hoje?”, se diverte Brundle.

Massa está claramente freado por Bottas. “Vamos ter posição inversa ao que aconteceu na Malásia. Massa vai chegar mais rápido no Bottas”, diz Galvão, salientando que não espera uma ordem, o que desagrada Brundle. “A resistência de dar ordens de equipe está atrapalhando muito as Williams.”

Como Hulkenberg não consegue passar Massa, é Perez quem vai para cima do companheiro. Brundle e Barrichello lembram das reclamações de seu ex-companheiro, Button, com as manobras do mexicano no próprio GP do Bahrein do ano passado. “Ele é complicado”, diz o brasileiro.

Todos se assustam quando Bottas por pouco não enche a traseira de Raikkonen. “Será que ele freou antes ou está economizando combustível? De qualquer jeito, foi um grande reflexo de Bottas”, se impressiona Croft. “Desviou bem porque era para ter enchido a traseira do Kimi. Ele bateu na Austrália e agora foi por pouco”, vê Reginaldo.

A ação na pista impressionava a todos. “Falaram que a F1 em 2014 não tinha ultrapassagens. Acho que guardaram tudo para o Bahrein”, diz De la Rosa. Outro fator que impressionava eram as lutas entre companheiros. “Os pilotos deveriam ser mais felizes na época que não tinha rádio. Tem coisa que você não gosta de ouvir”, diz Barrichello.

A terceira parada antecipada de Massa – “se eu conheço as equipes, é para fazer ele ficar na frente do Bottas”, como observa Rubinho – faz o pódio cair no colo das Force India. “Se eles forem parar duas vezes, isso é muito bom”, destaca Brundle.

E isso antes de Maldonado encher a lateral de Gutierrez, que capota e traz o Safety Car. “O carro está com as pernas abertas como o bambi”, diz Brundle sobre a Sauber. “São dois incidentes, com Kobayashi e Massa, e agora, que vemos o bico contribuindo para o acidente ser pior”, observa Croft, mas o comentarista não lhe dá muita atenção. De la Rosa tem outra explicação: “A carga aerodinâmica não funciona quando os carros estão em curvas lentas, é por isso que eles voam. Se esse toque é em curva rápida, isso não aconteceria.”

A maior preocupação de todos é com a corrida de Hamilton. “Tudo o que ele usou com seus pneus mais macios foi destruído”, lamenta Brundle. “Rosberg deve estar esfregando as mãos”, crê De la Rosa. “A casa caiu para ele”, diz Rubinho. Isso porque o inglês teria de se defender, com os pneus médios, do companheiro, que tinha os macios, nas 10 voltas finais.

O Safety Car também acabou ajudando aqueles que fariam duas paradas a economizar pneus. “É terrível para quem se comprometeu a três paradas. E se tinha alguém com dúvida, agora vai fazer duas”, vê De la Rosa. Rubinho, contudo, defende que “quem faria duas paradas já estaria à frente das Williams de qualquer jeito.”

Outra questão era a forma como a Mercedes lidaria com a briga de seus pilotos. “Fico imaginando o que a Mercedes vai fazer Motor Racing - Formula One World Championship - Bahrain Grand Prix - Race Day - Sakhir, Bahrainporque não é culpa do Lewis que tivemos um SC”, acredita Kravitz, que entende a recomendação da Mercedes para que os pilotos tenham cuidado como “uma ordem de equipe, muito clara”. Mas Brundle não concorda. “Para mim, foi ‘vocês podem disputar, só não batam’.”

E foi mesmo. Rosberg foi para cima, mas Hamilton não aliviou e conseguiu manter-se à frente, para a surpresa de todos. “Excepcional a tocada do Hamilton. Está pilotando uma barbaridade. Ele fez a diferença, pois achava realmente que ele não conseguiria segurar”, admite Rubinho. “Lewis está tendo de ser muito inteligente para posicionar seu carro, pois seus pneus têm de ser meio segundo mais lentos”, se impressiona Brundle. “Que longa está sendo a corrida para alguns, que curta para outros. Que isso não termine, por favor!”, se empolga Lobato. “Rosberg consegue. Sim? Não? Já não sei mais”, diz o narrador em uma das vezes em que o alemão parece ficar com a ponta, mas Hamilton se recupera.

No finalzinho, ainda deu tempo de Vettel jogar Massa para fora da pista ao evitar a ultrapassagem. “Ele não deveria jogar Massa tão para fora, já tivemos esse problema aqui com o Rosberg”, lembra Brundle, referindo-se a um incidente que mudou as regras em 2012. “Vettel colocou Massa para fora. Duvido que punam. Rubinho lembra bem como é, mas no caso dele tinha muro”, crê Galvão.

No final, “a casa não caiu, ficou pendurada”, como brincou o narrador brasileiro, mas Hamilton venceu. “É a 24ª vitória e imagino onde ela está em relação às demais. Aquela manobra em Rosberg logo antes da primeira parada lhe deu a prioridade nas paradas e lhe deu a vitória. Claro que teve de lutar pesado, mas aquilo foi fundamental”, observa Croft. “Isso vai calar a boca de muita gente que está reclamando das corridas”, emenda Brundle.

Massa poderia ter ido ao pódio no Bahrein?

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Nico Rosberg levou uma lavada de Lewis Hamilton na Malásia, estudou os dados com sua abordagem toda técnica, e foi fracionalmente mais rápido que o inglês no Bahrein. E perdeu de novo. Agora, resta estudar as táticas de ataque e defesa de posição. Foram elas, e não o ritmo, que garantiram a Lewis uma das vitórias mais espetaculares da carreira.

Foram dois os momentos capitais que deram a vitória a Hamilton. A largada lhe deu ar limpo para cuidar dos pneus na fase mais crítica da corrida, quando o carro está mais pesado, e a retomada da ponta na volta 19 lhe garantiu prioridade nos boxes. Em uma tarde em que o undercut chegou a render 6s, essa seria a única forma de manter um Rosberg ligeiramente mais veloz atrás.

O primeiro sinal da velocidade de Nico foi no stint inicial, quando não deixou que o inglês abrisse mais de 1s5 e o atacou nas voltas finais, como se estivesse cozinhando o galo o tempo todo. Para se ter uma ideia, quando foi liberado pelo pit stop Hamilton, Rosberg foi 1s mais rápido do que nas voltas anteriores, o que deve ter motivado a demora de duas voltas para o alemão entrar nos boxes. Talvez o plano fosse aproveitar que tinha ritmo para estender o stint e chegar com pneus mais inteiros no final.

A segunda prova é o stint seguinte. Teoricamente, a diferença entre os dois compostos era de meio segundo. De fato, ela provou ser menor que isso durante a corrida, mas não tão pequena quanto os 0s18/volta que Rosberg perdeu, em média, após voltar de sua primeira parada.

No final, o Safety Car eliminou a vantagem que Hamilton construiu e inverteu as posições: agora era Rosberg quem tinha os pneus mais rápidos. Uma chance que ele não conseguiu aproveitar, parando na muralha Hamilton, que se defendia fazendo a freada ideal na curva 1 e pegando a linha de dentro na 3. Com menos ritmo, pneus mais lentos e sem DRS, mas com uma determinação que nenhum número explica.

O desastre das 3 paradas

O Safety Car na volta 41 beneficiou quem tinha usado pneus médios durante a prova e quem tinha alongado os dois primeiros stints visando fazer só duas paradas: além de terem os pneus mais rápidos no final, não sofreriam com desgaste. Era possível que estes pilotos sofressem o ataque especialmente das duas Williams – as Ferrari não demonstraram em momento algum ter ritmo para tanto – nas voltas finais. Felipe Massa, logo após a prova, chegou a falar em pódio.

A situação do brasileiro era a seguinte: foram 13 voltas no primeiro stint, 15 no segundo, 10 no terceiro – diminuído para garantir o undercut em cima de Bottas – e 19 no quarto. Quando voltou à pista após o terceiro pit stop, estava em décimo, com três pilotos (Bottas e as Ferrari) que parariam novamente a sua frente, a 1s de Ricciardo e a 3s de Vettel.

Considerando a diferença de velocidade de reta e o menor número de voltas no pneu, é bem provável que o brasileiro conseguisse passar ambos sem o Safety Car ajudar Vettel e Ricciardo a economizar seus compostos. Hulkenberg, então com 18s de vantagem, seria um alvo bem mais difícil. Então faz sentido dizer que Massa perdeu um quinto lugar com a barbeiragem de Maldonado.

O uso do médio durante a prova foi bom para as Red Bull, que lutaram com vantagem contra as Force India, que estavam com os médios. Importante notar, inclusive, que a maior estabilidade faz do RB10 um carro que gasta menos pneu – e Ricciardo, durante toda a prova, pareceu se aproveitar melhor disso que Vettel.

Um domínio dos mais avassaladores

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Que seja público o agradecimento à postura da Mercedes durante o GP do Bahrein. Porque, ao ver as estatísticas, o cenário deste início de temporada tinha tudo para ser uma monotonia só.

A prova de Sakhir foi a terceira em sequência em que todas as voltas foram lideradas por um piloto da Mercedes. Nesse sentido, é o maior domínio desde a Williams de 1992, que liderou todas as cinco primeiras provas e as 70 iniciais do GP de Mônaco, até Nigel Mansell ter um furo em seu pneu.

Se somarmos o fato de Rosberg e Hamilton também terem feito a melhor volta e as poles, é a primeira vez que isso acontece na história. Em relação à porcentagem de pontos, a quebra de Hamilton na Austrália faz com que o time tenha obtido “apenas” 86% dos pontos possíveis mas, mesmo assim, é o melhor desde os 94% da Ferrari em 2004.

Tal domínio é a chance dos dois pilotos melhorarem suas marcas pessoais. No Bahrein, Hamilton igualou Fangio ao chegar à 24ª vitória, enquanto Rosberg, em seu GP de número 150, empatou com o pai, Keke, em número de poles, com cinco.

E as ultrapassagens? Foram 67 manobras, contra 88 do ano passado, quando a categoria estava envolta em críticas a respeito da durabilidade dos pneus. Em relação às duas primeiras etapas, contudo, o número é quase o dobro: foram 31 na Malásia e 29 na Austrália.

Foi uma prova de marcas interessantes para as equipes. Perez conquistou o primeiro pódio para a Force India desde o GP da Bélgica de 2009. Este é o melhor início da história do time, agora em segundo no campeonato. E olha que a história é longa: esta foi a 400ª largada de uma equipe que já foi a Jordan, Midland e Spyker.

A Williams também está tendo um grande início em relação aos anos anteriores: desde os GPs do Brasil e do Japão de 2004, o time não pontuava com ambos os pilotos em duas provas consecutivas.

Para se ter uma ideia da draga do time de Grove, mesmo uma Ferrari capenga conseguiu salvar uma marca que dura desde 2010: de lá para cá, o time italiano sempre teve pelo menos um piloto nos pontos, em um recorde que chegou aos 70 GPs no Bahrein. A McLaren, por sua vez, teve seu primeiro abandono desde o GP do Brasil de 2012. Se contarmos os abandonos duplos por causas mecânicas, temos de retornar ao GP da Europa de 2004. Tudo isso, no 900º GP da história da Fórmula 1 (confira como foram os demais GPs centenários).

Entre os pilotos, foi o pior resultado – descontando abandonos – de Vettel desde o GP do Brasil de 2012, aquele que lhe deu o tri. E Maldonado conseguiu duas façanhas: foi o primeiro piloto com o número 13 a ver a bandeirada e provocou a primeira capotagem desde o GP da Europa de 2010 (Webber/Kovalainen). Nos últimos 10 anos, isso só aconteceu com Klien na Hungria 2005, Albers em Imola 2006, Heidfeld em Indianápolis 2006 e Kubica no Canadá em 2007. Seriam os bicos novos, foi roda com roda ou o problema é o desenho estranho da Lotus? Que ninguém se machuque antes de termos as respostas.

Thriller

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Ninguém teve tempo para reclamar da falta de barulho desta vez. Em uma corrida em que os pneus duraram na medida certa para provocar excelentes brigas estratégicas e os companheiros de equipe não quiseram saber de “levar os carros para casa”, o GP do Bahrein foi épico – e deu uma bem-vinda sensação de que, pelo menos enquanto ninguém conseguir competir com as Mercedes, seus pilotos não têm a intenção de tirar o pé.

Lewis Hamilton errou na classificação, mas se recuperou com juros e correção para se defender de Nico Rosberg mesmo com os pneus mais lentos. A diferença ocorreu por uma inteligente tática da equipe de colocá-los em estratégias diferentes para separar os dois quando a briga estava pesada demais, logo antes do primeiro pit stop. Ali, Rosberg fizera o que se espera dele, demonstrando ter poupado mais seus pneus, e Hamilton respondia com suas armas: uma tocada agressiva e com muita raça. No final, a sobrevivência do inglês foi importante para o campeonato, com mais sete pontos da vantagem do alemão descontados.

Um duelo que traz ecos da batalha de Senna e Prost no campeonato de 1988. Com um carro muito superior, um piloto agressivo contra outro mais racional. No final das contas, um segundo separando-os. Pelo menos agora sabemos que, enquanto as Mercedes forem superiores, ainda assim temos um belo campeonato nas mãos.

Falando em superioridade, assustou a vantagem que Hamilton e Rosberg abriram em 10 voltas – e ainda por cima brigando por posição! Foram 23s na provavelmente única vez até agora em que os carros prateados mostraram todo o seu potencial.

Mais atrás, as brigas foram garantidas pelo undercut (estratégia de antecipar a parada para andar rápido e voltar na frente), que ganha outro ingrediente importante neste ano: o ERS-K. Segundo as regras, o carro pode usar 4 megajaules de potência por volta, mas só pode armazenar 2. O que temos observado é que o carro que antecipou a parada e está com pneus mais novos, acaba ganhando ainda mais tempo do que ano passado em relação ao rival que permanece com os pneus velhos devido à gestão desta energia adicional.

Por isso vimos Bottas ganhar de Massa no meio da corrida e o inverso (uma ordem de equipe inteligente por parte da Williams, após o fiasco de execução da Malásia) ocorrendo no final da prova, vimos Vettel ganhando de Ricciardo no decorrer do GP e outras situações do tipo. Tudo isso movimentou a prova e fomentou a intensa troca de posições.

Para a Williams, fica cada vez mais clara a deficiência aerodinâmica. Se foi a chuva que escancarou os problemas de um carro que voa na reta nas primeiras duas etapas, agora foi o alto consumo de pneus, principalmente em uma pista tão “traseira” como do Bahrein. Outra coisa que ficou comprovada é como a aerodinâmica é o ponto forte da Red Bull, que não teve um ritmo tão bom em um circuito mais de motores. E mesmo assim Ricciardo foi o terceiro no grid.

Agora sim, podemos dizer que a temporada que todos esperavam começou de verdade.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Bahrein

 

Vettel 1 a 2 Ricciardo
Hamilton 2 a 1 Rosberg
Alonso 2 a 1 Raikkonen
Grosjean 3 a 0 Maldonado
Button 1 a 2 Magnussen
Hulkenberg 2 a 1 Perez
Sutil 1 a 2 Gutierrez
Vergne 2 a 1 Kvyat
Massa 2 a 1 Bottas
Kobayashi 3 a 0 Ericsson
Bianchi 2 a 1 Chilton

Diferenças de hoje:

Ricciardo x Vettel: 0s393

Rosberg x Hamilton: 0s279

Raikkonen x Alonso: 0s624

Grosjean x Maldonado: 0s009

Button x Magnussen: 0s325

Perez x Hulkenberg: 0s369

Gutierrez x Sutil: 0s273

Kvyat x Vergne: 0s141

Bottas x Massa: 0s264

Kobayashi x Ericsson: 0s790

Bianchi x Chilton: 0s603

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

 

Os volantes “de nave espacial”

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test One - Day 1 - Sakhir, Bahrain

A primeira das três corridas noturnas do campeonato vai evidenciar uma novidade neste campeonato: o volante. Principalmente devido às novas formas de recuperação de energia, várias equipes adotaram o PCU-8D, desenvolvido pela McLaren, uma grande tela central para que os pilotos tenham mais facilidade em fazer as alterações devidas durante a corrida.

Vale lembrar que, há 10 anos, a telemetria na Fórmula 1 não é bidirecional. Isso significa que modificações no carro só podem ser feitas pelo piloto, e não pela equipe, que apenas enxerga os dados que vêm do carro.

A nova tela, que mede 4,3 polegadas e pesa 230g, é feita de OLED (LED orgânico, mais fino e de melhor qualidade), o que deixa o volante mais leve do que até ano passado, além de possuir um sistema que permite que o piloto escolha o que aparece no visor. Podem ser as tradicionais marchas ou o equilíbrio de freio, por exemplo. São 100 possibilidades diferentes de páginas. Como definiu Nico Rosberg, “é como o painel de uma nave espacial.”

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=HsOQWbJZ9mY]

Você pode estar pensando: como um piloto vai usar tudo isso a 300km/h? Não, ele não vai usar. E esse seria o principal motivo para nem todas as equipes terem aderido ao novo volante, já que a maioria prefere só ver seu tempo e rotação do motor para controlar as marchas. É o caso de Williams, Red Bull e Lotus. Por outro lado, os pilotos têm feito duas vezes mais alterações no volante por volta que ano passado e, com o PCU-8D fica mais fácil com o novo display resolver problemas na unidade de potência, por exemplo, uma vez que isso tem de ser feito pelo piloto de qualquer maneira. E ele também dá a possiblidade do piloto ter mais dados para estudar quando chega aos boxes.

“Tenho 38 controles diferentes em meu volante. É realmente incrível. Foi difícil durante os testes me acostumar com tudo, mas é por isso que o simulador ajuda tanto, porque você pode fazer várias voltas para ir entendendo a tecnologia. Agora é subconsciente e seu onde tudo está e o que tenho de fazer”, assegurou o piloto alemão.

Além da possibilidade de visualização de um número maior de dados e da maior gama de configurações possíveis do novo visor, ele também diminui a quantidade de botões do volante. Na Mercedes, por exemplo, há 12 botões e 9 botões giratórios. São eles:

– BB + e -: controla o brake-by-wire/equilíbrio de freio traseiro

– OT: dá um gás extra nas ultrapassagens

– N: ponto morto

– +10/+1: botões multifunção

– Rádio

– PL: Limitador de velocidade para os boxes

– DRS

– Marker: usado para salientar algum ponto na informação mostrada no display

– PC: Confirma informações recebidas sem a necessidade de responder via rádio.

Botões Giratórios: do lado direito, altera o diferencial, alterando o torque nas diferentes fases das curvas; do esquerdo, ajusta os freios e o mapeamento do pedal. Embaixo, estão os controles gerais de configuração, como alterações quando se muda o tipo de composto utilizado ou começa a chover, controles da unidade de potência e do quanto de energia será recuperado e gasto.

As luzes da parte de cima são configuráveis, mas geralmente usadas para ajudar nas trocas de marcha, enquanto as laterais indicam as sinalizações da FIA (bandeira azul, amarela ou vermelha).

As funções vão variando de acordo com a equipe, como é possível ver nessa explicação da Ferrari

A Williams e a Red Bull, por sua vez, continuam usando o volante do ano passado:

 

GP da Malásia por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Eu não deixo passar, me ultrapassam”

Motor Racing - Formula One World Championship - Malaysian Grand Prix - Race Day - Sepang, Malaysia

Será que Vettel conseguirá se colocar no meio da briga das Mercedes? Os pneus vão aguentar o calor malaio? E a chuva, será que vem? Quando as luzes se apagam e é dada a largada em Sepang, as peças começam a se encaixar. “Larga bem o Hamilton, veja que o Vettel pressiona. Vettel tenta por fora, pode ser um bom bote para a segunda curva, que é para o outro lado. Massa já ganhou três posições”, destaca Luis Roberto, na Globo. “É uma grande largada de Rosberg e Hamilton, e Vettel tentam cobri-lo. Ricciardo consegue uma ótima linha por dentro. Ele consegue superar a Ferrari? Consegue!”, vibra David Croft, na Sky Sports britânica. “Pilotagem bem agressiva de Ricciardo. E Massa está abrindo caminho”, observa o comentarista Martin Brundle.

Na Antena 3, da Espanha, o narrador Antonio Lobato vê “Alonso perseguindo Vettel e Raikkonen forte. Problemas para Fernando, que está no meio de Kimi e Ricciardo. Ricciardo passou até Vettel, multi 21 não existe no momento! Onde está Bottas? 12º? Não pode ser, ele largou em 18º!”

Multi 21 é uma analogia usada pelo espanhol para ordens de equipe, uma aposta da transmissão para o GP da Malásia, com direito a pesquisa de opinião com os telespectadores. A expectativa é que Mercedes ou Red Bull façam uso desta estratégia, principalmente agora que seus pilotos estão próximos – Hamilton e Rosberg em primeiro e segundo. Ricciardo e Vettel em terceiro e quarto. “É ruim que Rosberg tenha largado tão bem porque, no tráfego, o motor pode se superaquecer”, o comentarista Pedro de la Rosa não quer saber de dobradinha.

Na Globo, Luis Roberto comemora que “a Williams muito rápida, a velocidade final é muito forte. No seco é outra história.” Mas quem chama a atenção é Magnussen, em lance que é (parcialmente) pego ao vivo por Croft. “Magnussen quase toca em Raikkonen, mas consegue passar”, diz o narrador, enquanto Brundle vê uma “excelente pilotagem do jovem”. De fato, a asa dianteira da McLaren do dinamarquês furou o pneu da Ferrari do finlandês.

O incidente merece investigação dos comissários. “Pode ser interpretado como toque de corrida ou como o Magnussen tentando colocar o carro onde não devia e atrapalhando o Kimi”, avalia Luciano Burti, enquanto Reginaldo Leme se atrapalha e confunde o novato com Bottas. “Não parece que vale punição, mas vai saber. Vale lembrar que é um piloto que já foi punido, está em observação, já levou dois pontos. Numa eventual suspensão por uma corrida, seria o reserva Felipe Nasr que correria.”

É que, como diz Burti, “a situação está ficando quente na Williams porque a equipe está pedindo para o Bottas não atacar o Felipe para não prejudicar a corrida dos dois.” Primeiro, aparece um raivoso rádio de Massa, perguntando “vocês viram o que ele fez?”, o que, explicam os britânicos, refere-se a Magnussen. Depois, Bottas faz o pedido para ser liberado. “Foi curioso ouvir o tom das duas mensagens. Um empolgado e o outro com a tranquilidade escandinava”, diverte-se Brundle.

Luis Roberto dá razão à Williams. “Se Massa tiver de se defender, o ataque ao Magnussen fica prejudicado. A equipe está certa”, justifica. Jacobo Vega, da TV espanhola, tem outra visão. “Está certo o Bottas. Massa não está nem perto do Magnussen.”

É quando chega a primeira rodada de pit stops e De la Rosa e Brundle percebem o tamanho da vantagem de antecipar a parada. “Se você for o primeiro a entrar, pode andar até 3s mais rápido do que quem ficar. O primeiro a entrar vai obrigar os outros a fazer o mesmo”, diz o espanhol. “Como o piloto que está na pista tem muito mais energia armazenada do que quem está no box, o undercut se torna ainda mais efetivo”, completa o inglês.

Quem demora para parar é Bottas, criticado pelos brasileiros por lutar por posição com os ponteiros mesmo com pneus bem mais velhos. “Essa briga do Bottas, se defendendo com pneus desgastados, é boa para o Felipe. Ele está perdendo muito tempo”, vê Burti. Enquanto isso, Lobato vibra com manobra “incrível” de Alonso para passar Bottas com pneus usados.

Motor Racing - Formula One World Championship - Malaysian Grand Prix - Race Day - Sepang, MalaysiaO gráfico que mostra o consumo de combustível faz sua estreia e os comentaristas aproveitam para malhar a Red Bull, que anda peitando a FIA após a punição a Ricciardo na Austrália. “Gostamos muito deste novo gráfico, vai ser muito útil”, diz Croft. “Mas provavelmente a Red Bull vai dizer que não é preciso”, retruca Brundle.

Na Antena 3, Lobato informa que “Christian Horner acaba de dizer que o sensor do carro de Ricciardo parou de funcionar. Como isso é bom para eles, não?” E De la Rosa emenda. “Na porcentagem que vimos há pouco, estava funcionando, e era dos que mais gastavam… Essa questão dos sensores é bastante complicada.”

No miolo da prova, de nada adianta o pensamento positivo de Dela Rosa para que “Vettel chegue em Rosberg para vermos o que ele pode fazer e colocar essa Mercedes nas cordas em termos de confiabilidade.”

O top 4 só se altera quando Ricciardo é liberado de seu pit stop sem uma das rodas devidamente afixada. “Coitado”, exclama Burti. “Com isso, Massa ganhou uma posição. Quem diria a RedBull cometendo um erro desse”, surpreende-se Luis Roberto. “Acho que seu famoso sorriso vai desaparecer um pouco”, aposta Brundle.

Os problemas do australiano não param por aí. Sua asa dianteira se quebra aparentemente sem explicação. “Talvez alguém tenha batido no pit stop, mas a asa é muito resistente, não é fácil de quebrá-la. Acho que tinha outro problema. Tem mais de 1.000kg de pressão aerodinâmica em cima desse carro. A asa tem de ser resistente, não quebra à toa”, estranha Burti, enquanto De la Rosa primeiro se preocupa porque o piloto estava próximo de Alonso na pista e depois vê uma algum problema nos pilares de sustentação, o que “pode acontecer por um milhão de coisas”.

A parte final da prova se aproxima e duas lutas se desenham: Alonso vai à caça de Hulkenberg, que fez uma parada a menos e tem pneus desgastados, e Massa parte para o ataque em Button, trazendo seu companheiro Bottas logo atrás. “Está com o carro inteiraço e dá para ver que ele vai muito mais inteiro em cima do Button”, vê Reginaldo, que também destaca o pouco consumo de combustível da Williams em relação aos rivais. “A vantagem de ter um carro econômico é que eles podem forçar ao máximo nestas voltas finais. Obviamente, economizar muito às vezes não é bom porque esse combustível a mais também significa mais peso”, considera Burti.

Massa tenta a ultrapassagem em cima de Button, mas o inglês fecha a porta. “Button colocou muito bem seu carro ali, não deu chances para Massa. Se você quiser passar um carro, tem de fazer logo, senão corre o risco de superaquecer o carro ou degradar os pneus”, avisa Brundle.

Dito e feito. Massa já não consegue pressionar Button e a Williams decide Motor Racing - Formula One World Championship - Malaysian Grand Prix - Race Day - Sepang, Malaysiadar a chance a Bottas de fazê-lo. E o brasileiro ouve o “Bottas is faster than you”. Neste momento, a transmissão foca na ultrapassagem de Alonso sobre Hulkenberg. Luis Roberto não interrompe a narração empolgada da disputa, mas muda completamente o tom assim que o espanhol consegue a manobra e joga a bola para Burti. “A equipe está falando para o Felipe que o Bottas está mais rápido e que não é para segurá-lo. Eles não querem confusão entre eles. E muito bacana a briga do Alonso e do Hulkenberg. Jogando duro, mas com respeito”, diz o comentarista. “É uma conversa e a equipe pensa nos pontos dela”, emenda o narrador. “A equipe está pensando que o Bottas teria tempo de chegar no Button. Da mesma forma que a equipe falou no início da corrida que não era para o Bottas atacar porque não precisava, agora está pensando nos pontos dela”, concorda Burti.

Mesmo entendendo o pensamento, Luis Roberto defende que “Bottas que passe. Se for uma briga como a do Alonso e o Hulkenberg, não tem perigo.”

Com o passar das voltas, Massa não abre para o companheiro. “Vamos lembrar que, quando aconteceu aquele episódio da Ferrari, ele saiu da frente. Agora, está continuando no ritmo dele. Se o Bottas botar de lado, acredito eu que ele não vai forçar porque a equipe pediu. Mas tirar o pé, acho que ele não vai”, crê Burti.

Os outros ex-pilotos de F-1 apoiam a atitude do brasileiro. “Esse cara passou metade da carreira dele ouvindo que tinha de sair do caminho. A Williams está pensando que Bottas pode passar Button. Mas Massa não quer lhe dar essa vantagem psicológica. Vai ser um debrief tenso, mas eu faria o mesmo que ele”, diz Brundle. “Lembro de uma vez, em uma corrida de kart, em que me perguntaram por que não deixei meu companheiro passar e eu disse ‘eu na deixo passar, me ultrapassam. Se não me ultrapassarem, vão ficar atrás’”, conta De la Rosa.

No momento da ordem, Lobato, claro, está focado em Alonso, mas não deixa de comentar em tom sarcástico. “Há outra briga, da Williams, e Massa acaba de ouvir uma frase que conhece bem”. Como o brasileiro não cumpre a ordem, Vega acha que ele vai alegar que “o rádio não estava funcionando” e ganha o elogio de Dela Rosa. “Jacobo seria um dos melhores pilotos. Já sabe fazer tudo direitinho.”

O trenzinho de Button, Massa e Bottas continua junto até o final e Luis Roberto se irrita por a TV mostrar a disputa pelo 11º lugar. “E o cara fez a arte de tirar a chegada do Felipe. Fala sério!”

Na frente, “uma corrida impecável, largada perfeita, grande ritmo mesmo poupando equipamento, e principalmente merecida depois do que aconteceu na Austrália” para Hamilton, como frisa Burti. “É meu favorito para o campeonato, mas está atrás do Rosberg”, lembra Reginaldo.

Brundle também elogia a performance de um “feliz” Hamilton. “Foi perfeito. Ele cobriu todos desde a primeira curva.” Já De la Rosa valoriza a performance de Vettel. “Ele não tinha carro para estar aí. Percebemos isso porque estava sem fôlego ao falar.” Preocupado com a Red Bull, Lobato observa que “a tranquilidade da Mercedes não foi tão grande quanto na Austrália, talvez porque a aerodinâmica tenha jogado um pouco a favor da Red Bull.” Porém, o comentarista não deixa o narrador desconsiderar os alemães: “A diferença ainda é abismal.”

Hamilton triunfa enquanto as forças se misturam

Garantindo a poupança
Garantindo a poupança

Não era ele quem ia detonar os pneus com mais torque no motor? Que não saberia lidar com um regulamento que privilegia a eficiência porque só sabe acelerar? Lewis Hamilton deixou todos imaginando o que poderia ter sido na Austrália ao bater o companheiro Nico Rosberg sem precisar fazer muita força no GP da Malásia, recuperando-se da decepção do abandono prematuro da prova anterior. E deve ter deixado uma pulga atrás da orelha do alemão.

Rosberg mais uma vez não foi bem na classificação sob chuva – condição, façamos justiça, na qual Hamilton é especialista – e sofreu com a degradação dos pneus traseiros. Isso dificilmente é só uma questão de pilotagem e mostra o bom trabalho que Lewis e seu engenheiro fizeram ainda na sexta-feira no acerto do carro prevendo acertadamente a evolução da pista. Com o carro mais equilibrado, o inglês pôde controlar melhor o consumo de combustível e seu ritmo.

Aliás, o novo gráfico da porcentagem gasta – mesmo que não tenhamos o valor de referência, que deve variar ligeiramente de carro para carro – ilustra bem o objetivo desta nova Fórmula 1: não é uma questão de gastar menos combustível, mas sim de gastá-lo da forma mais eficiente. Unindo desgaste menor e mais velocidade, a Mercedes está sobrando.

O quanto? Basta comparar as voltas mais rápidas de Hamilton e Sebastian Vettel: 1s2 de diferença sendo que a marca do inglês foi estabelecida só duas voltas depois. Por outro lado, o rendimento da Red Bull no setor das curvas de alta – Vettel perdia 0s4 no trecho inicial com mais retas e 0s2 no segundo –, mostra como o carro do tetracampeão é forte e pode alcançar os prateados ao longo do ano.

Porém, o estresse menor ao qual Hamilton e Rosberg têm submetido seu equipamento nesta parte inicial – lembrando que cada piloto só pode usar cinco unidades de potência no ano – será importante lá na frente. Vettel usou na Malásia sua terceira CE PSU (unidade que controla a alimentação de energia) e só tem direito a mais duas no ano.

McLaren e Williams

Quando Jenson Button diz que as melhorias que a McLaren levou para a Malásia foram mascaradas pelas características do circuito, isso quer dizer que há trabalho pela frente em Woking. Especialmente o segundo setor destes três carros em Sepang evidenciou sua falta de pressão aerodinâmica em relação a Mercedes, claro, mas também Red Bull e Ferrari.

No caso do time de Massa, chamou a atenção a dificuldade de ultrapassar a McLaren. A questão, assim como na chuva, é a instabilidade da traseira, que faz com que seus pilotos demorem mais para conseguir despejar a potência. De reta, o carro é rápido, mas isso de nada adianta quando a saída de curva é ruim. O mesmo fator explica o baixo consumo de combustível, como explicou Bottas após a corrida malaia. “Demoramos mais para colocar o pé no acelerador, por isso economizamos. Mas preferiria um carro com mais downforce e que gastasse mais.”

No Bahrein, eles devem andar melhor, assim como a própria McLaren e a Williams, pois há menos curvas de alta e o motor Mercedes deve falar alto em um circuito basicamente de retas e curvas travadas. Mas melhorias – e Massa admitiu que talvez elas só cheguem na China – são mais que bem-vindas.

O dia do fico

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Quem é que ganhou a corrida mesmo? Sim, Lewis Hamilton teve um final de semana dos sonhos e sequer pareceu forçar muito para colocar mais de 17s no próprio companheiro de equipe, que em momento algum da corrida teve ritmo para assustá-lo. Mas o clima azedo na Williams ao final da prova (não estou na Malásia, mas conto com o testemunho do Ico para dizer isso) roubou a cena de um GP que parece predestinado a rebeldias.

Analisando racionalmente, a Williams esteve correta em avisar Felipe Massa de que Valtteri Bottas vinha mais rápido. Primeiro, porque era verdade, e segundo, porque havia a possibilidade real de superar Button. Mais correta ainda seria a postura indicada por Rod Nelson de que a intenção era dar a Bottas um prazo para ele fazer a ultrapassagem. Se não o fizesse, devolveria o sétimo lugar a Massa.

É sempre difícil gerir uma corrida quando seus dois pilotos estão correndo juntos, como aconteceu com a Williams no início da prova. Sentindo-se mais rápido, mas não o suficiente para passar – com dois carros iguais, as armas para defender e atacar são as mesmas – Bottas fez uma prova bastante inteligente, alargando seu primeiro stint ao máximo para fazer a terceira parada o mais tarde possível e voar no final. Foi assim que o finlandês saiu do box no 44º giro 5s6 atrás de Massa, que parara duas voltas antes, e chegou no brasileiro três voltas depois.

Quando veio a ordem, menos de três segundos separavam Button, Massa e Bottas. A prioridade da equipe, claro, é maximizar seu resultado e, naquele momento, era o finlandês que demonstrava ter mais chances de obter isso.

Mas havia um ser humano dentro daquele carro da Williams. No final de uma corrida extenuante e com uma marca inquestionável na memória das diversas vezes em que se sentiu deixado de lado na Ferrari, Massa não quis saber de lógica nenhuma. Teve de ouvir por quatro anos que se tornou capacho quando levou aquela ultrapassagem oportunista de Alonso na entrada do box na China e não deixaria que a história se repetisse.

A Williams sabia de tudo isso quando o contratou. E Massa sempre destacou o quanto o respeito com que foi tratado desde o primeiro momento no time lhe era importante. Portanto, como parece que o brasileiro e Bottas ainda se encontrarão bastante pelas pistas por aí, seria inteligente a equipe levar isso em consideração daqui em diante.

No mais, em mais uma corrida morna, a novidade do gráfico com o consumo de combustível foi um alento. Mas ainda é pouco para compreender o que realmente está acontecendo na pista.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Malásia

Vettel 1 a 1 Ricciardo
Hamilton 2 a 0 Rosberg
Alonso 2 a 0 Raikkonen
Grosjean 2 a 0 Maldonado
Button 0 a 2 Magnussen
Hulkenberg 2 a 0 Perez
Sutil 1 a 1 Gutierrez
Vergne 2 a 0 Kvyat
Massa 2 a 0 Bottas
Kobayashi 2 a 0 Ericsson
Bianchi 1 a 1 Chilton

Diferenças de hoje:

Vettel x Ricciado: 1s055

Hamilton x Rosberg: 0s619

Alonso x Raikkonen: 1s043

Grosjean x Maldonado: 1s872

Magnussen x Button: 1s840

Hulkenberg x Perez: 1s672

Gutierrez x Sutil: 0s997

Vergne x Kvyat: 0s255

Massa x Bottas: 0s296

Kobayashi x Ericsson: 0s812

Bianchi x Chilton: 1s686

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Levem as crianças para casa

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Ah, os companheiros de equipe…

Há quem diga que a Mercedes corre contra si mesma neste final de semana, na Malásia, tamanha sua vantagem em relação aos rivais demonstrada na etapa de abertura do campeonato, na Austrália. Mas isso está longe de resolver a fatura em Sepang – e ecos do que aconteceu há um ano podem atormentar Toto Wolff e companhia no pitwall da equipe.

No GP da Malásia de 2013, que acabou ficando famoso justamente por um jogo de equipe mal gerido pela Red Bull, Lewis Hamilton e Nico Rosberg correram próximos durante boa parte da prova, sem ritmo para chegar em Mark Webber e Sebastian Vettel e monitorando o desgaste de pneus e o consumo de combustível de modo que não eram alcançados por quem vinha atrás.

Estava tudo controlado pelo então chefe Ross Brawn quando, nas voltas finais, ficou claro que Rosberg, quarto, tinha mais ritmo que Hamilton, terceiro. Os dois, inclusive, chegaram a trocar posições enquanto o alemão argumentava via rádio que poderia ser mais rápido. Isso porque havia poupado mais combustível durante a prova. Por outro lado, Brawn dizia que Hamilton estava sendo instruído a economizar naquele momento e que Rosberg não deveria atacá-lo. Era a segunda corrida do inglês na equipe em que o alemão está desde 2010 e, para muitos, aquela decisão deixou claro quem era considerado o número 1.

Rosberg acabou acatando a decisão, mas avisou: “Não vou esquecer disso, Ross”. E tudo indica que, neste ano, ele terá a chance de comprovar suas palavras. Na Austrália, o então pole Hamilton teve uma falha no motor e nos privou da única briga possível pela vitória, mas como será o desfecho na Malásia?

Uma parte importante da vitória de Rosberg em Melbourne foi a possibilidade do alemão dosar seu carro. O alemão só acelerou pra valer nas primeiras voltas após a largada e a relargada – tanto, que fez a melhor volta no 19º giro, com o carro ainda pesado. Com tantas novidades no carro, a equipe preferiu somente fazer o necessário para vencer.

No caso de ambos os pilotos estarem na prova, o princípio deveria ser o mesmo. Provavelmente haverá uma definição prévia do tipo “quem sair na frente após a primeira parada vence” para evitar que os pilotos briguem entre si e acabem ficando pelo caminho – lembrando que o temor por quebras é ainda maior no calor malaio.

Difícil é imaginar Hamilton, piloto que não cansa de repetir que corre com o coração e que não costuma pensar duas vezes antes de ir para cima, desistir de uma vitória sem lutar. Ainda mais quando já tem um déficit de 25 pontos no campeonato por algo que fugiu ao seu controle. Rosberg tem personalidade diferente, mas não pode deixar o companheiro sugar seu espaço, ainda mais com um canhão nas mãos e grandes chances de conquistar um título. E não é mais Brawn que está no pitwall, e sim Wolff, que demonstrou competência em diversas áreas até aqui, mas nunca enfrentou uma situação dessas. Com estes ingredientes à mesa, quem sabe o GP da Malásia de 2013 não pareça mais uma lembrança distante.

Quem vai derreter no calor da Malásia?

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Prefere primeiro a boa ou a má notícia para a competitividade do campeonato? Costumo começar pela má, então vamos lá. O ritmo demonstrado pela Mercedes no GP da Austrália dá indícios de ser mais forte do que Sebastian Vettel tinha na segunda parte do ano passado em relação aos rivais. É algo entre 1s2 e 1s3, mas foi encoberto por uma abordagem bastante cuidadosa da equipe no primeiro GP do ano – Nico só forçou nas primeiras voltas e após o Safety Car, assim como o outro alemão cansou de fazer nos últimos anos. Por outro lado, em um ano em que se começa do zero, há mais possibilidade de reação dos rivais. Principalmente, quando Ferrari e Renault explorarem suas unidades de potência ao máximo.

Na luta para se estabelecer como segunda força, o ritmo de Williams e McLaren foi comparável na Austrália, com vantagem para o time de Grove enquanto usava-se pneus macios e para Woking com os médios. Além disso, são dois dos carros que se mostraram mais confiáveis nos testes.

Porém, ambos têm seus problemas: a instabilidade da traseira, evidenciada na classificação com chuva para o lado da Williams, e o excesso de arrasto aerodinâmico, que freia o McLaren nas retas – e, quanto mais tempo um carro permanece na reta, acelerando, mais combustível é gasto, portanto esta é uma questão que ganha importância.

E a Red Bull? A recuperação do Bahrein para a Austrália foi impressionante, mas a Malásia vai apresentar uma prova ainda mais representativa porque, devido ao calor e à umidade, o arrefecimento dos carros será testado. E, para ‘sobreviver’, todas as brechas possíveis na carenagem são abertas, o que atrapalha a aerodinâmica, principal qualidade de um RB10 que ainda é lento nas retas porque a Renault não consegue despejar todos seus sistemas como a Mercedes faz, mas voa nas curvas.

Também será curioso observar o ritmo da Ferrari. O carro se mostrou lento em Melbourne, mas a equipe acusou falha no MGU-H, referente à recuperação de energia calorífica e que funciona o tempo todo (diferentemente do ERS-K). Portanto, afeta bastante o rendimento. Além disso, o freio eletrônico ainda não está bem acertado, especialmente para o gosto de Raikkonen. Na Austrália, dá para dizer que eles eram 2s mais lentos que a Mercedes. Algo parecido em um circuito completo, com curvas de todos os tipos, freadas fortes e grandes retas como na Malásia e o clima em Maranello vai esquentar.

As Mercedes serão fortes, mas vão aguentar o calor? E será que vai ter chuva para atrapalhar o final de semana da Williams? Façam suas apostas!

GP da Austrália por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Madre mia, que forte está a Mercedes!”

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Uma viagem pelo desconhecido. Foi tateando nas expectativas que narradores e comentaristas enfrentaram a primeira corrida não apenas da temporada, mas de um regulamento completamente novo. As duas largadas abortadas só aumentaram a tensão – que até deixou o narrador britânico David Croft um pouco confuso quando 2014 começou para valer: “Hamilton sai bem, excelente largada de Magnussen. A largada é um caos para alguns e vemos uma Williams, acho que de Massa, na brita. E todos vão passando Vettel, que não tem potência.”

Na verdade, era Rosberg que pulava para a ponta. “Ricciardo largou mal, Hamilton também e Rosberg pula na frente. Hamilton começou muito lento, deve ter algum problema”, observa Antonio Lobato, na Antena 3 espanhola. “Vem a disputa ali atrás e o Felipe Massa já foi tocado e fica fora”, Galvão Bueno se decepciona na Globo.

Uma primeira volta movimentada assusta o comentarista Martin Brundle, da Sky Sports. “Eles têm esse novo sistema de freio que iria dificultar as primeiras curvas, mas não há motivo para permitir que vire uma loucura como estamos vendo”, diz o britânico, que logo chama a atenção para Hamilton, que perde posições. “Seria um problema ou ele está economizando combustível?”

Para Reginaldo Leme, as mensagens de rádio de Sebastian Vettel, que acusa falta de potência, podem ser uma dica. “Alguma coisa desse tipo deve estar acontecendo também com o Hamilton porque ele está perdendo muito.”

Lobato está preocupado com Alonso, ultrapassado por Hulkenberg e pressionado por Vergne. “O que está acontecendo com Fernando? Ele não tem velocidade.” Mas o comentarista Pedro de la Rosa não sabe. “Pode ser qualquer coisa, é possível ter deficiências momentâneas do sistema de energia.”

Brundle avisa que “Isso vai acontecer muito: se uma parte do sistema não está funcionando bem, o resto é afetado. Não é como antes, quando dava para simplesmente continuar sem o Kers, por exemplo.”

Motor Racing - Formula One World Championship - Australian Grand Prix - Race Day - Melbourne, AustraliaNa Globo, o replay da largada é o estopim para uma malhação pública – e que dura por toda a prova – em cima de Kobayashi, que aparece perdendo completamente a freada e acertando Massa em cheio. “Olha a barbeiragem do Kobayashi para cima do Felipe Massa. Ele veio atropelando tudo. O Massa estava na dele, certinho, e tomou a pancada”, Galvão não se conforma. “Foi um absurdo, é a primeira prova e a Caterham nem sabe se vai terminar a temporada. Agora existe uma regra de pontos e o Kobayashi deve levar um monte por essa pancada”, opina o comentarista Rubens Barrichello. “A causa da batida foi o cérebro do Kobayashi”, define o narrador.

Britânicos e espanhóis, contudo, inocentam o japonês logo de cara. “Parece um problema do brake by wire”, diz o comentarista da Antena 3 Jacobo Vega. De la Rosa gargalha. “Lógico que vão falar que é culpa do freio. O que mais dá para dizer?” Mais um replay e Vega novamente busca uma confirmação com o piloto de testes da Ferrari. “Foi o brake by wire, com certeza, Pedro” – e ele confirma: “Com certeza”.

Na Sky, o único comentário é de Croft. “Pode ser que não tenha sido culpa do Kobayashi, pode ter sido uma falha no sistema de freio eletrônico.”

O destaque da primeira parte da prova é Valtteri Bottas. “Uma ultrapassagem por fora e outra por dentro, grande pilotagem de Bottas. Esses caras novos, como ele e Magnussen, têm muita confiança”, salienta Brundle, mas Croft desconfia que o finlandês “está gastando muito combustível.” Para Vega, contudo, “se não tiver problemas de confiabilidade, certamente chega ao pódio.”

Isso, se não fosse um muro no meio do caminho, com o qual “vimos seu companheiro flertando por todo o final de semana”, como lembra Brundle. Um toque rasga seu pneu e traz o Safety Car à pista. “Foi azar dele porque vi muitos batendo mais forte ali e nada acontecia”, defendeu o britânico.

“É uma pena para a Williams porque são nessas corridas que se ganha pontos importantes”, lamenta Lobato, com o mesmo tom de Galvão, que declara prematuramente fim de prova para Bottas. “Ele se empolgou com a velocidade. E o Rosberg com isso é mais líder do que nunca porque, se alguém podia o incomodar, seria ele.” O finlandês, entretanto, troca os pneus e segue na prova.

Quem se deu bem com o Safety Car foi Jenson Button, que entrou nos boxes uma volta antes dos rivais. “Fiquemos de olho em Button, que vai se aproveitar por ter entrado antes”, alerta Lobato. Na Globo, o crescimento do inglês na prova só tem a ver com sua tocada.  “É um regulamento feito sob medida para ele”, defende Galvão.

O repórter britânico Ted Kravitz foca em Raikkonen, “que perdeu muito tempo porque teve de ir bem devagar já que a Ferrari o parou junto de Alonso. É a vida de segundo piloto da Ferrari”, diz em tom de brincadeira.

Com a relargada e a supremacia de Rosberg, Galvão começa a alertar para a possibilidade de quebras. “Ninguém sabe o que vai acontecer. O companheiro dele já teve de abandonar”. Enquanto isso, Brundle comenta sobre o novo motor. “Pelo menos dá para ouvir a narração no sistema de som do circuito. Antes muita gente ia descobrir o que aconteceu na corrida só quando chegava em casa.”

Espanhóis buscam, sem sucesso, maneiras de Alonso passar Hulkenberg. Resta apenas elogiar o rival. “Que difícil para Perez dividir a equipe com um piloto como Hulkenberg, que faz grande corrida”, diz Lobato, apoiado por Brundle. “Qualquer carro que você dê para ele, ele anda bem.”

O narrador espanhol também não esquece Vettel. “A vida não está como de costume para ele, mas lembramos que não vai demorar muito tempo para que isso mude. Quando a Renault resolver os problemas, o carro vai muito bem”, alerta.

Na Globo, o destaque é para Bottas que, “mesmo com toda a confusão que arrumou na corrida, já está na zona de pontuação. Parece ser o segundo carro mais rápido na pista”, Galvão aproveita para animar a torcida futura para Massa.

Já tínhamos até esquecido que os pneus se degradam quando Button antecipou sua segunda parada para superar Alonso e Hulkenberg em uma só tacada. Mas os britânicos não confiam que seria possível. “Será que o undercut ainda é a melhor estratégia?”, questiona Croft, enquanto De la Rosa não duvida que o inglês “é um perigo” para a corrida de Alonso. Barrichello destaca a quebra da ponta do bico do McLaren do ex-companheiro. “Caiu a ponta do nariz. Ele vai ficar com frio ali, Galvão. Mas é estranho quebrar aquilo, porque tudo o que você quer num acidente é que aguente. É claro que vai quebrar, mas é de se esperar que aguente mais do que uma pancada de macaco.”

De fato, a estratégia de Button dá certo. “Precisamos de uns cavalinhos, hein?”, reclama Lobato, descontente com o rendimento de Alonso. “Dá para conseguir, mesmo com a homologação, mas também precisamos melhorar a aerodinâmica porque tudo vai junto. Vemos a Red Bull, com uma deficiência no motor, andando na frente”, lembra De la Rosa.

Mas havia um outro motivo para o rendimento mediano da Ferrari, como explica Kravitz. “A Ferrari está com um problema elétrico em ambos os carros e não estão com toda a potência que poderiam. Isso é uma boa notícia pensando nas próximas corridas.” Problemas à parte, Galvão aposta que “Kimi jamais imaginou que, em seu retorno à Ferrari, seria ultrapassado duas vezes pelo Bottas e levaria pressão de um menino de 19 anos”, referindo-se a Kvyat. Já a explicação de Reginaldo para a performance de Alonso, que consegue lutar com pilotos com motor Mercedes, é de que “a Ferrari está muito atrás e o Alonso está muito à frente de outros pilotos e por isso consegue colocar o carro nessa posição.”

Na Sky, o destaque é para a Red Bull – e a nova geração. “Parabéns à Renault, em conjunto com a Red Bull. Eles nem acreditavam que poderiam fazer 46 voltas seguidas há 10 dias, muito menos com esse ritmo”, lembra Kravitz. “Ricciardo é muito calmo ao volante e é algo que vai o ajudar neste ano. E a performance de Magnussen mostra que também há espaço para o talento, não apenas meninos endinheirados”, emenda Brundle, enquanto Croft pergunta: “O que teria acontecido se Lewis Hamilton pudesse ter competido hoje?”

Provavelmente isso seria o único complicador da prova de Rosberg, cujo rendimento assustou Lobato. “Madre mía, que forte está Motor Racing - Formula One World Championship - Australian Grand Prix - Race Day - Melbourne, Australiaa Mercedes!”. Galvão destaca vitória “30 anos” após Keke Rosberg na Austrália. “Claro que tem o melhor carro, mas foi perfeito por toda a corrida”, opina. “Muito foi falado dele quando o Hamilton chegou para ser seu companheiro, mas ele está crescendo muito e está pilotando muito”, endossa Barrichello.

A Mercedes na frente, porém, era esperado. As surpresas estavam a seu lado. “Os três que estão no pódio tiveram que ouvir muita gente só falando de seus companheiros antes da temporada começar”, lembra Croft. “E o que dizer de Magnussen, no pódio na primeira corrida de sua vida. Quem preveria um pódio deste?”, se impressiona Lobato, enquanto Brundle brinca com a precocidade do dinamarquês, que “parece tão novo que dá a impressão que a mãe dele o deixou brincar nesse carro hoje à tarde.”

Para Galvão, “de positivo, fica para o Felipe Massa a posição do Bottas depois de ter largado em 15º e batido e, mesmo assim, foi o sexto.” E Reginaldo lembra que “finalmente ele tem um carro e a liberdade de correr como ele pode, algo que não tinha na Ferrari.”

Para finalizar, Lobato lança um comentário despretensioso, mas que hoje soa como uma praga. “Bom, daqui a pouco, todos os carros vão ter que demonstrar que estão de acordo com as regras, que não gastaram mais de 100kg de combustível e respeitaram o fluxo de 100kg/h”, o que, para De la Rosa, “seria surpreendente em uma prova em que houve um Safety Car.”

A velha guarda come poeira na nova F-1

F1 Young Driver Tests - Silverstone: Day Three

Os jovens deixaram seu recado no GP da Austrália, com o pódio de Kevin Magnussen, a quebra de recorde de Daniil Kvyat e a combatividade de Valtteri Bottas.

O dinamarquês acabou tendo uma estreia melhor que a do último novato da McLaren, Lewis Hamilton, com a punição de Daniel Ricciardo, largando em quarto e fechando em segundo. Com isso, tornou-se o 23º piloto na história da F-1 a estrear com um pódio – sendo que oito deles fizeram isso na primeira temporada da história ou na Indy500. O troféu também foi o primeiro da Dinamarca, apenas o 28º país a ter um representante entre os três primeiros.

Junto de Kvyat, igualou um recorde de 1957, quando Masten Gregory e Stuart Lewis-Evans (primeiro piloto agenciado por Bernie Ecclestone) também pontuaram em sua estreia. O russo, inclusive, roubou o recorde de Sebastian Vettel como o piloto mais jovem a marcar um ponto. Mas o top 5 dos mais jovens continua com um piloto da década de 1960!

Daniil Kvyat Austrália 2014 19 anos e 329 dias
Sebastian Vettel EUA 2007 19 anos e 354 dias
Jaime Alguersuari Malásia 2010 20 anos e 17 dias
Jenson Button Brasil 2000 20 anos e 72 dias
Ricardo Rodriguez Bélgica 1962 20 anos e 128 dias

 

Ele não é estreante, mas Valtteri Bottas foi outro jovem que roubou a cena e conseguiu sua melhor posição na carreira, com o quinto posto. Assim, tem 10 pontos, equivalente à soma do total conquistado pela Williams nas temporadas de 2011 e 2013.

O finlandês seria um grande candidato ao pódio não fosse o toque no muro que furou seu pneu. Mas ameaçar Nico Rosberg esteve fora de questão. O alemão venceu sua quarta corrida e está a uma de igualar seu pai, Keke, campeão de 1982. E foi uma vitória pra lá de dominante: o piloto da Mercedes fez sua volta mais rápida na 19ª (e depois o engenheiro pediu que diminuísse o ritmo em pelo menos três décimos, e foi obedecido matematicamente). Desde que o reabastecimento foi proibido, em 2010, nunca alguém tinha feito a volta mais rápida tão cedo na corrida em provas no seco.

A conquista – 100ª do motor Mercedes – foi a décima seguida de um alemão. Só a Grã-Bretanha tem mais, com 18 vitórias consecutivas entre 1962 e 1964 divididas por Jim Clark, Graham Hill e John Surtees.

Aos demais, as migalhas: Button chegou ao 50º pódio, mas só pôde comemorar após a punição de Ricciardo. Já Alonso pontuou pela 12ª vez seguida em Melbourne, segunda maior sequência de um piloto em um mesmo GP, atrás dos 14 anos com pontos de Schumacher na Espanha. O alento da Lotus foi conseguir sua mais longa sequência de voltas neste ano, com Romain Grosjean: 45.

O time de Enstone não esteve sozinho: com 13 classificados, a prova teve, como esperado, o maior número de abandonos em seis anos.

A punição de Ricciardo e o sensor “insensível”

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O sensor “insensível”

Regulamento novo na Fórmula 1 é praticamente sinônimo de polêmicas técnicas, e a exclusão de Daniel Ricciardo do GP da Austrália promete ser apenas o primeiro capítulo de uma briga que pode abrir uma brecha importante.

A regra em questão, artigo 5.1.4 do regulamento técnico, diz simplesmente que “a massa de fluxo de combustível não pode exceder os 100kg/h”. Para policiar essa restrição, a FIA homologou um sensor para ser utilizado por todas as equipes, fabricado pela Gill Sensors. E é justamente a falta de precisão e confiabilidade deste equipamento que gerou toda a confusão.

Primeiro, vamos entender o regulamento, que restringe o uso de combustível de duas formas: de consumo total e de fluxo. Portanto, os carros não podem usar mais de 100kg de combustível para completar uma corrida, independentemente de sua duração, assim como não podem apresentar um fluxo acima de 100kg por hora em nenhum momento do GP. E é esta última regra que a Red Bull desobedeceu, segundo a FIA.

O leitor mais atento pode perguntar: a troco de que restringir o fluxo de combustível, uma vez que um piloto poderia administrar a potência extra em determinado ponto da corrida para partir para cima e economizar no outro para evitar gastar os 100kg totais? Os donos do esporte são contra as brigas na pista? É preciso entender que o novo regulamento cerceia bastante o que se pode ganhar com o motor a combustão (o turbo V6) para que o desenvolvimento foque nas duas unidades de recuperação de energia. Portanto, se quiser ir mais rápido, que seja mais eficiente ao usar o poder de suas baterias, e não do motor de combustão. A regra de restrição ao fluxo de combustível, portanto, ao limitar a potência do V6, vem garantir que esse “espírito” do novo regulamento seja respeitado.

Segunda questão: se foi comprovado que o carro de Ricciardo excedeu esse limite de fluxo de 100kg/h, por que a Red Bull vai apelar? O problema está na execução da regra: a equipe confia que estava dentro do limite, mas os sensores da FIA apontam o contrário. Essa discrepância já havia aparecido na sexta-feira, fazendo com o que o time decidisse trocar seu sistema de aferimento. Mesmo alertado pela FIA após a classificação que deveria retornar ao sensor antigo e diminuir seu fluxo de combustível por precaução, para evitar uma punição, o time não deu ouvidos por confiar que estava de acordo com as regras.

Certo de que o carro de Ricciardo não excedeu, em momento algum, o limite de 100kg/h, segundo seus próprios dados, Christian Horner criticou duramente o sistema da FIA. “Esses sensores de fluxo de combustível providos pela FIA têm trazido problemas para todas as equipes desde sua introdução, nos testes. Houve discrepâncias e eles não são confiáveis – inclusive alguns carros podem ter corrido sem eles ou eles podem ter quebrado durante a prova”, acusou. “Tínhamos um sensor que acreditávamos ter um erro. Baseados nos nossos cálculos de injeção de combustível, que é um equipamento calibrado e um padrão consistente, não houve variação [de fluxo].”

Horner confirmou o pedido da FIA para a equipe diminuir seu fluxo, mas decidiu não segui-lo porque acreditou que o sensor estava produzindo dados errados. “Eles nos informaram, mas nós dissemos que estávamos preocupados com seus sensores. Acreditamos em nossa leitura, caso contrário estaríamos em uma situação na qual reduziríamos muita potência mesmo acreditando que estávamos dentro do regulamento. Chegamos a uma situação em que a calibragem de seu sensor vai determinar quem é competitivo e quem não é.”

Ao que tudo indica, foi isso que seus rivais fizeram: diminuíram o fluxo e perderam potência durante a corrida para evitar uma punição, uma vez que o sensor ainda não está calibrado a contento. Os chefes de Ferrari e Mercedes, inclusive, vieram a público defender que equipes e entidade trabalhem juntas para melhorar o sistema e torná-lo mais confiável – ao invés de ignorá-lo. Agora, se a Red Bull conseguir provar em seu recurso que sua forma de medição deve ser levada em consideração e não a da FIA, é fácil entender o tamanho da briga que estarão comprando.

Mercedes, com um pé nas costas

Motor Racing - Formula One World Championship - Australian Grand Prix - Race Day - Melbourne, Australia

Os quase 25 segundos de vantagem de Nico Rosberg para seu rival mais próximo na prova de abertura da temporada 2014 da Fórmula 1, na Austrália, deram a medida da supremacia da Mercedes neste início de ano. Ainda que a diferença de rendimento não seja tão grande como alguns dos rivais temiam – o chefe da Red Bull, Christian Horner, chegou a prever que os carros prateados venceriam com duas voltas à frente – a corrida de Melbourne deixou claro que as demais equipes precisam correr atrás do prejuízo.

“O ritmo da Mercedes não me surpreendeu, sabíamos que eles eram fortes”, afirmou Felipe Massa, da Williams, que abandonou logo na largada após ser abalroado pelo japonês Kamui Kobayashi. “A gente acreditava que eles tinham segurado um pouco no [teste de pré-temporada no] Bahrein e, por isso, fizemos praticamente o mesmo tempo. Sabíamos que eles estariam na frente quando chegássemos aqui”, disse o brasileiro, que foi o mais rápido dos testes, dois décimos à frente de Hamilton. “A corrida também mostrou uma Red Bull forte. Talvez, quando eles solucionarem os problemas com o motor, vai ser um carro que estará brigando. A McLaren também mostrou que tem um carro bom. Mas a corrida mostrou ainda que nós temos carro para estar brigando com eles, tirando a Mercedes.”

O brasileiro se refere ao desempenho do companheiro, Valtteri Bottas, que mesmo com um erro que lhe fez ir para o fundo do pelotão, conseguiu se recuperar para ser o quinto. “Isso é positivo, independente da minha corrida ter sido muito negativa”, avaliou.

O único porém da prova da Mercedes, destacado pelo próprio Rosberg, é em relação à confiabilidade do carro. Largando da pole position, seu companheiro, Lewis Hamilton, perdeu duas posições logo de cara. O inglês já sabia antes mesmo de alinhar no grid que pilotaria com um cilindro a menos em seu motor e acabou sendo instruído a parar sua Mercedes para poupar o equipamento. Nesta temporada, os pilotos têm apenas cinco unidades de potência para usar durante o ano. “Certamente é um fato que não estamos 100% ainda. A equipe fez um grande trabalho para fazer meu carro funcionar muito bem na corrida, mas ainda há muito a ser feito. Houve várias mudanças no carro durante o final de semana e não quero mais fazer isso”, alertou o vencedor.

Dois fatores chamaram a atenção: Rosberg completou o GP em 1h32, dois minutos mais lento que Kimi Raikkonen ano passado – se por um lado a prova deste ano teve uma volta a menos, em 2013 não houve Safety Car. E, mesmo que praticamente todas as equipes tenham tido um desafio ou outro ao longo do final de semana, a confiabilidade também surpreendeu: foram apenas cinco abandonos por quebras, mostrando aos alarmistas que não se deve duvidar da capacidade dos engenheiros da Fórmula 1.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Austrália

Vettel 0 a 1 Ricciardo
Hamilton 1 a 0 Rosberg
Alonso 1 a 0 Raikkonen
Grosjean 1 a 0 Maldonado
Button 0 a 1 Magnussen
Hulkenberg 1 a 0 Perez
Sutil 1 a 0 Gutierrez
Vergne 1 a 0 Kvyat
Massa 1 a 0 Bottas
Kobayashi 1 a 0 Ericsson
Bianchi 0 a 1 Chilton

Diferenças de hoje:

Ricciado x Vettel: 2s373

Hamilton x Rosberg: 0s364

Alonso x Raikkonen: 1s689

Grosjean x Maldonado: sem tempo

Magnussen x Button: 1s190

Hulkenberg x Perez: 3s635

Sutil x Gutierrez: 1s444

Vergne x Kvyat: 1s504

Bottas x Massa: 0s068

Kobayashi x Ericsson: 0s883

Chilton X Bianchi: 0s501

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

De casa nova: quem ganhou e quem perdeu na dança das cadeiras

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test One - Day 3 - Sakhir, Bahrain

As surpresas desta temporada 2014 já começaram antes mesmo da luz vermelha se apagar no grid do GP da Austrália – e não me refiro a nada que tenha acontecido nos testes. Em um ano de muitas mudanças, as equipes não se preocuparam em trocar de pilotos: metade do grid ou trocou de time, ou faz sua estreia. Veja quem perdeu e quem ganhou com a dança das cadeiras.

Os veteranos: Raikkonen e Massa

Há um mês soava até injusto colocar os ex-companheiros de Ferrari no mesmo barco. Afinal, Massa parecia buscar a sobrevida em uma decadente Williams, enquanto Raikkonen voltava por cima a um time que o desprezou há quatro anos. Mas um carro bem nascido e uma boa adaptação logo de cara deram ao brasileiro o que faltava na Ferrari: confiança. E um Massa confiante muda de figura, como vimos em 2008. Resta saber se o brasileiro conseguirá adaptar seu estilo agressivo às demandas do novo regulamento e se a Williams vai acompanhar a corrida de desenvolvimento ao longo do ano.

O problema de Kimi, por sua vez, Massa conhece bem: o eficiente e político Fernando Alonso. Ainda que ele não pareça se importar muito com o segundo item, não há dúvidas de que, dentro da pista, o espanhol vai testá-lo ao máximo – e vice-versa. Ambos têm o ritmo de corrida como trunfo, o que será importante em 2014. Claro que pensar em título depende do tamanho do prejuízo em relação ao motor Mercedes e de como será a recuperação; a Ferrari começa atrás, mas se mostrou feliz com a correlação de dados do remodelado túnel de vento, grande bicho-papão dos últimos anos, e promete não ficar pelo caminho.

Quero ser grande: Ricciardo e Hulkenberg

No papel, Ricciardo deu um grande passo adiante trocando a Toro Rosso pela Red Bull, enquanto Nico Hulkenberg ficou na mesma ao voltar para a Force India, vindo da Sauber. Mas o alemão deve alinhar bem à frente do australiano no grid em Melbourne em um carro que se apresenta como a quinta força do campeonato. Com o regulamento caindo como uma luva para seu estilo e o motor certo nas mãos, é a hora de Hulk mostrar que não é apenas consistente, como também brilhante.

O desempenho de Ricciardo, por sua vez, vai depender muito da recuperação da Red Bull: se o carro conseguir andar, deve funcionar do ponto de vista aerodinâmico. A atuação em corridas e o feedback aos engenheiros foi o que chamou a atenção dos tetracampeões e o australiano terá de mostrar essas qualidades a rodo para ajudar seu time a sair da atual situação.

Numa fria: Maldonado e Kobayashi

A draga da Lotus era anunciada, com sérias dificuldades financeiras desde o ano passado e o êxodo de engenheiros, e só piorou com as carências do motor Renault. Com regras que desafiam seu estilo agressivo e um companheiro com o mesmo nível de experiência que o seu tendo de ajudar no desenvolvimento de um carro ousado e, à primeira vista, problemático, deve penar em 2014. Da mesma forma, Kobayashi sabia que não teria vida fácil na Caterham, mas não imaginava ter “ritmo de GP2”, como ele mesmo disse. Pelo menos será diversão garantida vê-lo lutar sem ter nada a perder – contando que haja com quem lutar.

Sou ou não sou? Perez e Sutil

De mansinho, Sutil vai conseguindo sua vaga no grid pela sétima temporada, mesmo com um orçamento “honesto”. Só não fez uma boa troca indo da Force India para a Sauber, que penou mais que a rival direta na pré-temporada. Tem a obrigação de superar Gutierrez, mas será que é suficiente para manter-se vivo na categoria?

Já Perez deve estar com a cabeça inchada: teve sua chance na McLaren logo no que parece ter isso um ano isolado de draga, sem um pódio sequer. Mas também é verdade que o mexicano não fez muito por sua permanência e acabou não saindo perdendo tanto assim, com uma Force India equipada com motor Mercedes. Veremos como a experiência em time grande vai pesar contra o mais completo Hulkenberg, em um dos duelos internos mais interessantes do ano.

Por que não perder a temporada 2014 da Fórmula 1

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test One - Day 3 - Sakhir, Bahrain

A maior revolução nas regras da Fórmula 1 promete mudar muita coisa a partir deste final de semana, na Austrália, quando será disputada a primeira etapa do ano. Confira os motivos para não perder a temporada 2014:

Chacoalhão na relação de forças: não estranhe se vir uma Force India confortavelmente na frente da Red Bull no GP da Austrália ou uma Williams, que ano passado suava para ficar no top 10, brigando por pódios. Assim como na última mudança de regras, quando vimos o surgimento da Brawn, o crescimento da própria Red Bull e até a hoje extinta Toyota na frente, os novos desafios pegaram gente que vinha vencendo corridas nos últimos anos de calças curtas.

Red Bull longe do topo: por essa ninguém esperava. Um misto de falta de preparo da Renault e falhas da própria equipe, atual tetracampeã da Fórmula 1, fizeram com que o time de Sebastian Vettel fosse um dos que menos andou na pré-temporada – e, quando andava ora estava na rabeira, ora no meio do pelotão. Apesar da equipe ter condições de dar a volta por cima, não dá para saber quanto tempo isso vai demorar. Bom para vermos como Vettel vai se portar dentro e fora das pistas.

Recomeço para Massa: apesar da troca da Ferrari para a Williams ter parecido uma boa solução logo de cara, provavelmente nem o brasileiro esperava um salto tão grande de uma equipe que viveu um de seus piores anos em 2013. O tamanho deste salto e por quanto tempo durará, não dá para saber, mas Massa tem tudo para conquistar, em 2014, seus melhores resultados desde 2008.

Alonso e Raikkonen sob o mesmo teto: são dois pilotos que andaram bem quando o regulamento privilegiava a agressividade e que também deram aula de como administrar os sensíveis Pirelli nos últimos anos; dois especialistas em corridas, que pilotam com a tabela de classificação em mente e de maneira inteligente; dois campeões do mundo com temperamentos diferentes, mas que não aceitam serem deixados de lado. O nível de tensão vai depender das possibilidades ferraristas no campeonato, mas é certo que a dupla vai fazer bonito – e dar trabalho.

Carros não serão mais à prova de balas: quando um Max Chilton consegue completar todas as corridas da temporada a bordo de uma nanica, temos a noção de como os carros eram confiáveis até o ano passado. As complicadas unidades de potência híbridas, com as quais as equipes têm pouquíssima experiência, vão jogar um tempero a mais de incerteza.

Ultrapassagens até o final: pelo menos a Pirelli garante que seus pneus estão soltando menos borracha ao longo das provas. Há diversos fatores que interferem no número de ultrapassagens, mas o que vimos nos últimos anos foi uma dificuldade de fazer manobras no final das provas devido à sujeira na pista, causada pelos chamados marbles (ou bolinhas de gude). Isso não deve ser um problema em 2014.

O que pode dar errado

Dificuldade de leitura das corridas: será que este carro está lento mesmo ou apenas poupando combustível? Esta será uma das dificuldades, bem exemplificadas pelo sistema de punições pela troca de elementos da unidade de potência: cinco unidades poderão ser usadas no ano. Elas são compostas por motor, os geradores de energia calorífica e cinética, o turbo, a bateria e o controle eletrônico. Se toda a unidade for trocada pela sexta vez, o piloto larga do pit lane. Caso isso ocorra com qualquer um destes itens isoladamente, serão 10 posições a menos. Se o mesmo acontecer com um segundo item, serão mais cinco posições.

Disputas em banho-maria: como este novo regulamento foca em eficiência, os carros terão de completar os GPs com cerca de 35% menos combustível. Isso significa uma necessidade de adaptação do estilo de pilotagem e em GPs mais estudados. É possível que ninguém queira arriscar no início com medo de acabar pagando o preço no final.

Diferença entre os motores grande demais: pelo que vimos na pré-temporada, a Mercedes é a mais bem preparada entre as fornecedoras, com grande diferença em relação à Renault, que poucas vezes conseguiu fazer toda a unidade de potência funcionar. Isso gerou diferenças de mais de 20km/h nas retas nos testes, o que dividiria a F-1 em sub-categorias. O grande número de mudanças também pode gerar protestos e dúvidas a respeito da legalidade dos carros.

Volta por cima da Red Bull parece ser uma questão de tempo

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test Two - Day 3 - Sakhir, Bahrain

Terceira equipe que menos andou na pré-temporada, atrás da nanica Marussia e da Lotus, que só participou dois terços dos testes. Dona da sétima volta mais rápida, a quase 2s5 da Williams. Oitava mais veloz em reta, a mais de 20km/h da líder Ferrari. Nem rápida, nem confiável, a Red Bull começa, quem diria, como a grande incógnita do ano. Mas será um caso de game over para os fãs de Vettel e companhia?

Há quem se apresse em lembrar de um famoso projeto errado de Adrian Newey: em 2003, com a McLaren – um erro tão grave que o MP418 foi para o museu sem uma corridinha sequer no currículo. Com aquele MP418, o RB10 tem a semelhança de apresentar entradas de ar pequenas demais e, consequentemente, ter problemas de arrefecimento. Porém, há indícios de que as coincidências param por aí.

É bem verdade que as dificuldades dos tetracampeões foram se proliferando à medida que o carro ganhou quilômetros – mesmo que a passos lentos – durante os testes. Primeiro, questões de software da unidade de potência, de responsabilidade da Renault; depois, falta de refrigeração suficiente – novamente, acredita-se, algo relacionado à imprecisão e à demora das informações passadas pelos franceses a respeito das dimensões das entradas dos radiadores – e, por fim, comportamentos inconsistentes do novo sistema de freio eletrônico. Ufa!

Certamente, a lista de problemas a resolver é extensa e o próprio consultor da equipe, Helmut Marko, reconheceu que “a temporada está começando dois meses do que deveria” para o time, mas é o potencial demonstrado pelo RB10 quando ele conseguiu ir à pista que dá a impressão de que a Red Bull pode, se não virar, ao menos igualar o jogo.

Os rivais não cansam de repetir isso. “Tenho certeza de que eles têm um carro muito rápido”, disse Hamilton. “É sempre legal dizer que a Red Bull está em dificuldades e que pode lutar com a Caterham, mas pode esquecer. Não será assim. Eles têm um problema para resolver, mas quando estiver resolvido, estarão lá”, endossou Massa. Contudo, o depoimento mais interessante veio de Jenson Button, que se impressionou com a maneira como foi ultrapassado por Daniel Ricciardo durante os testes:

“Estava pilotando com Ricciardo por algumas voltas e ele não conseguia me passar nas retas. Ele me passou por fora na curva 11, que é de alta. Nunca tinha visto algo assim. É um carro que parece funcionar bem do ponto de vista aerodinâmico e acho que, quando eles tiverem confiabilidade, serão muito, muito competitivos.”

A recuperação passa pela Renault, que precisa fazer sua lição de casa, e o espaço para melhora de todos os rivais também é grande. Mas o que está claro é que não se trata de um carro totalmente equivocado, como o MP418. Isso, junto de um poder de recuperação já demonstrado em campanhas como dos últimos anos, faz crer que é mais uma questão de “quando” e não de “se” eles vão se reerguer.

O ano de Massa?

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Felipe Massa foi, ainda que nos centésimos, o mais rápido da pré-temporada. Rivais como Alonso e Button veem a Williams na frente. Frank Williams fala em “aproveitar a oportunidade”. Então quer dizer que o piloto brasileiro vai arrasar a concorrência e partir para um título quando ninguém mais acreditava nele? A uma semana do início da temporada mais imprevisível da história da Fórmula 1, tudo é possível, mas vamos aos fatos.

Primeiro sobre o piloto Massa. Se ele nunca foi capaz de responder aos anseios da expectativa criada na temporada de 2008 – quando viveu uma combinação especial de um grande carro nas mãos, apoio da equipe e um rival errático – acabou sendo tratado como piloto de segunda linha após as decepções das últimas temporadas de Ferrari. Massa nunca foi um virtuoso e, de fato, sofreu problemas de adaptação e de confiança que foram colocando-o em uma espiral negativa no time italiano, mas está longe de ser um braço duro.

Nesta temporada, corre com a experiência a seu lado frente a Valtteri Bottas – mas o duelo interno está longe de ser uma barbada. O finlandês é um piloto mais cerebral, qualidade importante para lidar com o novo regulamento, e há quem diga dentro da Williams que se trata de um futuro campeão do mundo.

E há, claro, os rivais. Apostar em um campeão do mundo no momento é um chute do meio do campo. A Fórmula 1 passa por sua maior revolução técnica de todos os tempos, com a adoção de sistemas híbridos com os quais equipe alguma tem experiência. Isso quer dizer que não há quaisquer garantias de que o carro que vencer o GP da Austrália no próximo dia 16 será o melhor sequer daqui dois meses, tamanha a possibilidade de desenvolvimento ao longo do ano. E isso serve inclusive para a Red Bull, que deve sofrer no início, mas pode muito bem se recuperar e virar o jogo ao longo da temporada.

O que dá para falar com certa propriedade no momento é que a Williams andará no bolo da frente no início do ano, ao menos antes dos carros passarem por sua primeira grande “reforma” no GP da Espanha, em maio. As quatro primeiras etapas serão uma chance de ouro para os pilotos do time inglês e da Mercedes, as duas equipes que deram todos os indícios durante a pré-temporada de estarem mais bem preparados – tanto em termos de confiabilidade, quanto de velocidade.

Só uma grande revolução nas regras explica tamanho salto, se lembrarmos que a Williams foi a terceira pior equipe do ano passado. De lá para cá, além do motor, também mudaram as caras no comando técnico do time, lideradas por Pat Symonds. A estrutura já era boa e dinheiro não falta. Mas será o suficiente para a equipe se tornar uma nova Red Bull, que se estruturou para aproveitar uma mudança no regulamento e pular do meio do pelotão para a ponta? No momento, quem veste melhor essa carapuça é a Mercedes, uma vez que o projeto da Williams está muito mais verde do que o do time hoje tetracampeão mundial em 2009. Isso pesa contra, e teremos uma ideia melhor de como pode ser o ano do time de Grove em Barcelona.

Portanto, melhor não incorrer nas mesmas expectativas exageradas de alguns anos atrás em cima de Massa. O carro parece bom hoje, assim como o da Mercedes, mas isso pode mudar. Afinal, a lógica indica que, quando se fala em campeonato longo, desta vez não é só força de expressão.

Ferrari mais veloz, mas não por muito tempo

Motor Racing - Formula One World Championship - German Grand Prix - Race Day - Nurburgring, Germany

Até agora, fala-se que o motor Mercedes não é apenas melhor porque é confiável ou rápido, mas principalmente porque é mais eficiente, ou seja, usa melhor as tecnologias que o alimentam sem a combustão. Prova disso são os dados de velocidade máxima na pré-temporada, publicados no site alemão Auto Motor und Sport.

Olhando a tabela do link, à primeira vista parece que a Ferrari voa. Porém, o F14 T só passou dos 335km/h por três vezes, denotando que, ainda que os sistemas turbo + recuperação de energia funcionem, o time ainda não está confiante o suficiente para mantê-los em sua máxima carga o tempo todo. E Fórmula 1 não é sprint. Por outro lado, a Williams foi quem mais vezes ultrapassou 330km/h, seguida de perto pela Mercedes. Ambas atingiram a marca em todos os dias de teste.

Mas isso não significa que todos os carros com os motores alemães serão igualmente eficientes: quanto melhor a performance aerodinâmica do carro, menos resistência ao ar ele oferece e menos combustível é necessário para que ele vá mais rápido.

Além disso, o bom emprego do conjunto de configurações que se padronizou chamar de “mapeamento de motor”, a adoção de melhores estratégias e a adaptação da pilotagem a essa nova realidade vão ajudar a determinar quem chegará primeiro no GP da Austrália.

Basicamente, o mapeamento do motor regula a relação entre a posição de pedal definida pelo piloto e o torque que o motor vai gerar. É algo controlado eletronicamente pela ECU e é ajustado ao gosto de cada piloto. Os mapas também controlam o chamado overrun, ou seja o torque quando o acelerador estiver zerado – o que vai acontecer muito nesta temporada devido às técnicas de “coasting” que serão empregadas mais do que nunca pelos pilotos: tirar o pé antes do normal e deixar que o freio-motor ajude a parar o carro para economizar combustível. Fazer as curvas em marchas mais altas do que o normal também ajuda – e novamente um mapeamento de motor bem feito para ajustar o torque é bem-vindo.

Do lado dos estrategistas, Pat Symonds, da Williams, garante que haverá uma mudança considerável na escolha do número de paradas: a degradação dos pneus, variável mais importante dos últimos anos, perderá importância.

“O GP do Bahrein é uma corrida em que três paradas, no papel, teria sido o caminho mais rápido. Porém, agora temos de considerar que ser mais rápido também significa maior consumo de combustível. Cruzando estas duas informações, chegamos à conclusão de que parar duas vezes seria o melhor caminho para usar nossos 100kg de combustível.”

Isso também indica que, embora os carros não sejam necessariamente mais lentos, um regulamento voltado à eficiência deve tornar as corridas em si mais lentas. O melhor tempo dos testes do Bahrein foi de Felipe Massa, com 1min33s2, 0s9 mais lento que a pole de Nico Rosberg em 2013. Se por um lado é um projeto totalmente novo, com muito mais espaço para crescimento do que o carro do ano passado, o tempo foi obtido com pneus mais macios.

Mas o mais interessante é o ritmo de corrida da Mercedes do próprio Rosberg, com tempos flutuando entre 1min39 e 1min42. Ano passado, a corrida começou com Sebastian Vettel andando em 1min41 e fechando em 1min38. Basicamente, depois de todo um GP, os carros de 2014 chegariam um minuto depois no estágio atual de desenvolvimento. Como nos tempos de Fangio, o segredo será vencer sendo o mais lento possível.

Último dos moicanos

Felipe Nasr

Não é de hoje que Felipe Nasr é tido como uma espécie de salvador da pátria para o automobilismo brasileiro. Com uma rara combinação de escalada sólida nas categorias de base, patrocínios duradouros e carreira bem gerenciada, o brasiliense de 21 anos tomou ares de último dos moicanos, resultado de um total descaso com a formação de pilotos no País de 10 anos para cá.

Entretanto, mesmo tendo sido confirmado como piloto de testes da Williams nesta temporada, Nasr está longe de poder se sentir garantido na Fórmula 1. São dois os fatores que podem travar o futuro do brasileiro: os dois anos de certa forma decepcionantes na GP2 e a disputa com rivais que trazem maior aporte financeiro.

Por isso, 2014 será muito importante para Nasr: estará em uma equipe que promoveu recentemente Valtteri Bottas (2013) e Nico Hulkenberg (2010) a titulares, com a confirmação de que andará em cinco sessões de treinos livres às sextas-feiras e justamente no ano em que os testes durante a temporada voltam a ser permitidos. Isso sem contar no valioso trabalho no simulador e junto aos engenheiros. Ou seja, tem a possibilidade sólida de ganhar experiência para se colocar em uma posição melhor no mercado em 2015.

Outro ponto importante para a temporada de Nasr será na GP2, categoria que ele disputará pelo terceiro ano. Lá, o brasiliense tem a chance de se livrar da incômoda marca de nunca ter vencido uma corrida na categoria e de provar que é mais do que apenas um piloto cerebral. Isso porque, apesar de ter chances de título até a última etapa, o piloto deixou a impressão de que poupava em demasia o equipamento, sem saber a hora de atacar. Mais do que nunca, é o momento de mostrar as garras.

Pensar em uma promoção na própria Williams a curto prazo não parece estar nos planos nem de seus empresários, vide o acordo de apenas um ano com o time de Grove. Isso porque o contrato de Felipe Massa é de três anos e Bottas é considerado um futuro campeão do mundo por lá, e apenas sairia para um time maior. Mesmo nesse caso, por questões financeiras, é difícil imaginar um time 100% brasileiro no ano que vem.

Se não é o caso de promoção direta, a meta de Felipe Nasr é mostrar evolução para buscar uma vaga como titular em 2015. Nos planos iniciais de seu staff, o brasiliense teria conquistado o título da GP2 ano passado e sido promovido a titular da Fórmula 1 nesta temporada. Sem o campeonato e sem experiência com a categoria de cima, o plano teve de ser adiado e repensado. Que seja pela última vez.

Coluna publicada no jornal Correio Popular

O fantasma da homologação dos motores

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test One - Day 1 - Sakhir, Bahrain

A data-limite é hoje: 28 de fevereiro, prazo máximo de homologação das unidades de potência de 2014 até 2020. Pior para a Renault, que enfrenta sérios problemas nesta pré-temporada. Mas será tão ruim assim? Afinal, como funciona essa homologação e o que os franceses podem fazer a partir de agora para mudar o jogo?

A boa notícia para a Renault é que a homologação das unidades de potência não é total. Na verdade, devido à extensão das mudanças para esta temporada, apenas 8% – ou cinco itens – ficam congelados, todos eles relacionados ao motor turbo. Em um programa divulgado no regulamento técnico deste ano, haverá uma progressão na porcentagem de itens homologados – 23% em 2015, 35% em 2018 e 95% em 2019.

Lembrando que também existe a possibilidade de uma montadora solicitar à FIA a permissão para alterar algum item homologado, caso comprove uma disparidade. A própria Renault conseguiu isso em 2008. Para tal, é necessário que os demais fornecedores concordem, em um processo demorado.

Outro ponto que pode ser comemorado pelos franceses é que toda a parte de não-combustão da nova unidade de potência – os sistemas de recuperação de energia calorífica e cinética – apenas será homologada em 2019. E é justamente esta a área que vem dando dor de cabeça para os fornecedores de Red Bull, Lotus, Toro Rosso e Caterham.

As notícias vindas dos testes dão conta de que os problemas da Renault passam pela programação dos softwares que controlam a gestão da energia elétrica gerada pelos sistemas híbridos, interação entre estes sistemas e superaquecimento especialmente na Red Bull. Depois de algumas destas questões terem sido resolvidas com a força-tarefa após o desastre do teste de Jerez, os carros começaram a ganhar um pouco mais de quilometragem e novos desafios foram aparecendo, ligados à dirigibilidade. Basicamente, a retomada de potência é muito agressiva, dificultando o controle, e a velocidade final deixa a desejar (provavelmente, porque os sistemas de recuperação de energia não estão funcionando a contento). Uma falha no Kers, por exemplo, que representava cerca de 0s3/volta até ano passado, hoje representa por volta de 1s.

Os problemas são maiores ou menores dependendo da equipe. Na Red Bull, há quem diga que uma versão B do RB10 está sendo preparada, com uma parte traseira totalmente remodelada. Aerodinamicamente, o carro parece refinado e os pilotos se mostram contentes. O problema é a compressão que isso causou nos sistemas internos, o que, somada aos problemas da Renault, fazem com que a equipe sofra mais que as demais.

Uma explicação curiosa, inclusive, foi dada pelo chefe do time, Christian Horner. Quando o Kers foi introduzido pela primeira vez, em 2009, o então comandante da equipe Renault (hoje Lotus), Flavio Briatore, decidiu que seria a fábrica do time, em Enstone, e não a divisão esportiva da montadora, em Viry, que desenvolveria o sistema. Isso fez com que, nos últimos anos, a própria Red Bull cuidasse de seu Kers – que, por sinal, era praticamente o único calcanhar-de-Aquiles dos carros tetracampeões mundiais. Com mais know-how do sistema, a hoje Lotus não economizou em saídas de arrefecimento em seu E22 – e não vem tendo o mesmo tipo de problema com os mesmíssimos motores Renault que a rival usa.

A culpa é de Briatore, então? Menos. Os reflexos de uma decisão tomada em 2008 não podem surpreender uma equipe que se mostrou tão eficiente nos últimos anos. O jeito é trabalhar e aproveitar que a homologação de hoje está longe de representar o fim da linha para a Renault.

Saiba tudo sobre os bastidores das notícias na Fórmula 1

Há quem aposte que acompanhar o circo da Fórmula 1 pelos quatro cantos do mundo nas coberturas jornalísticas seja o trabalho dos sonhos, mas desafios não faltam para quem embarca nessa aventura – e tem muita história para contar.

O TotalRace abriu o espaço para que os leitores tirassem suas dúvidas sobre como é a cobertura e o resultado foi um bate-papo entre os jornalistas Felipe Motta, Luis Fernando Ramos e Julianne Cerasoli sobre os bastidores das notícias, viagens e, como não poderia deixar de ser, a lista dos pilotos mais “gente fina” – e o indiscutível grande mala do grid.

Confira alguns trechos desta edição especial do podcast “Credencial” abaixo e confira o programa inteiro aqui:

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Gustavo Querodia Tarelow: Gostaria de saber qual o piloto mais antipático e o que proporcionou melhores entrevistas a vocês nesses anos de cobertura da F-1.

Felipe Motta: Gosto muito do Vettel, do Button, o Kobayashi é uma figura. Felipe Massa também é um cara legal. O Alonso eu não incluiria porque, apesar de ser muito profissional, é uma pessoa difícil. Uma coisa eu respeito nele: é como o [ex-goleiro] Marcos, do Palmeiras. Quando o time ia bem, ele falava, e quando as coisas estavam péssimas, também não fugia. A maioria dos jogadores vai direto para o vestiário em uma situação dessa.

Já o mais mala felizmente não estará no grid neste ano: Paul Di Resta. O Rosberg tem seus bons e maus momentos, mas o Di Resta nunca teve. E muitos especulam que a o motivo para a saída dele – até porque os resultados de pista não foram tão ruins – é o relacionamento. Motivo da demissão: ‘malice’.

Julianne Cerasoli: Acredito que esse conceito de ser legal para nós tem muito a ver com os conteúdos das entrevistas, com dizer coisas interessantes e, de certa forma, dar manchetes para nós. Por isso eu citaria pilotos como Pastor Maldonado e Romain Grosjean, que prestam atenção no que você está perguntando e tentam fugir do lugar comum nas respostas.

Jopa: Com o passar do tempo, a experiência e o conhecimento mais a fundo dos personagens, pilotos, técnicos e engenheiros, dá para “ler” nas expressões, no semblante, na linguagem corporal e compor com as respostas verbalizadas uma impressão diferente do que foi dito?

Luis Fernando Ramos: É muito diferente estar lá. Por exemplo, o Massa nos dias de Ferrari: trata-se de uma equipe que limita muito o que os pilotos vão dizer. No caso do Felipe, apesar do discurso estar muito afinado com o time, a expressão dele dizia muito mais do que ele falava. Outro exemplo é o Vettel, um piloto que adora fazer gracinhas nas entrevistas. Já vi coisas que eles disse só para fazer algum repórter rir na hora ser publicado como se fosse alguma provocação. Por vezes, foi algum comentário infeliz.

Edu Bassan: Qual a rotina da equipe nos fins de semana de um Grande Prêmio? Minha curiosidade é saber como é normalmente o cronograma da equipe, desde acordar, chegar no autódromo, apurar notícias, preparar matérias, entrar ao vivo na rádio, horário de almoço etc., até a hora de dormir.

Luis Fernando Ramos: A rotina de um dia normal de GP é acordar, ir para a pista, trabalhar o dia inteiro, procurar um lugar para comer e ir dormir. Pegando como exemplo uma prova na Europa, chegamos ao circuito cerca de uma hora antes do início da primeira sessão de treinos do dia, às 10 ou 11h da manhã. Depois tem a sessão da tarde, colhemos as entrevistas e produzimos o material, saindo da pista por volta das 21h.

Felipe Motta: A gente aprende a trabalhar melhor o tempo porque algo que acontece muito é o acúmulo de cansaço, que faz com que, em algum momento da temporada, você fique doente. Temos de ter a sensibilidade de saber o dia em que o bicho vai pegar e quando guardar a energia. Os dias mais cansativos são a quinta-feira, dia reservado às entrevistas, e o domingo, que é um dia muito físico.

Cristiano Seixas: Qual corrida deu mais satisfação em cobrir in loco?

Luis Fernando Ramos: O GP do Brasil de 2008 foi muito marcante por tudo o que envolveu aquela prova, com a chance do Massa ser campeão em casa. E pela maneira como tudo aconteceu, desde a largada atrasada pela chuva que caiu quando os pilotos já estavam no grid, depois secou e choveu de novo e houve aquele final apoteótico.

Outra corrida que me marcou foi o GP de Cingapura de 2008. Ela se tornou histórica [quando Nelsinho Piquet denunciou que a vitória de Fernando Alonso havia sido arranjada] um ano depois, mas desde o primeiro momento achamos tudo o que acontecera muito estranho. A prova terminou umas 23h e eu e o Felipe saímos 10h da manhã e o cara que tinha a chave da sala de imprensa estava dormindo. Sobramos apenas nós dois.

Felipe Motta: Acho que toda decisão de título é especial, como Brasil 2008 ou Abu Dhabi 2010. Mas, citando duas provas avulsas, lembro de duas em Valência. Em 2012, confesso que meu olho lacrimejou com aquela vitória do Alonso largando em 11º e parando o carro para celebrar junto de sua torcida. Aquilo foi lindo. E em 2009, quando o Rubinho venceu logo na prova seguinte da demissão do Nelsinho e do acidente do Massa. Foi mágico. Rubinho estava tomando pau do Button, desacreditado, e guiou muito naquele final de semana.

Julianne Cerasoli: Uma prova que me marcou foi o GP da Espanha de 2012. Primeiro, pela vitória da Williams de Maldonado, que de uma hora para a outra andou muito naquele final de semana e justamente em um circuito no qual o melhor carro sempre ganha. Era difícil de explicar. E, na comemoração, o box da equipe pega fogo. Eu estava na entrevista do Stefano Domenicali e os telões do motorhome começaram a mostrar a fumaça. Ele, com toda a calma do mundo, disse: ‘e vocês ainda dizem que nós, italianos, é que somos fogosos’. Deu cinco segundos e todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo.

Patinho excêntrico

Motor Racing - Formula One Testing - Bahrain Test One - Day 2 - Sakhir, Bahrain

Na segunda bateria de testes de pré-temporada da Fórmula 1, já começamos a nos acostumar com as diversas soluções para a seção final dos bicos. Mas há um carro que teima em não passar despercebido, tamanha sua discrepância em relação a seus pares: o E22 e seu bico duplo.

O regulamento obriga os carros a terem um bico baixo, especifica que apenas é permitido um bico e determina sua posição – em relação a altura e distância, sem mencionar que a seção final do bico deve estar centralizada. Foi aí que entrou a solução engenhosa da Lotus.

Apenas uma das pontas corresponde exatamente ao que as regras dizem em termos de dimensões e posicionamento – a mais longa, da direita. E a da esquerda é no mínimo 51mm mais curta para respeitar a regra. Ou seja, é justamente por uma questão de legalidade que as duas pontas são diferentes, pois a ponta da esquerda seria considerada não um segundo bico, mas uma parte estrutural de seu “irmão”.

Aerodinamicamente, trata-se de um conceito já empregado pela Audi em seu protótipo no Mundial de Endurance há alguns anos. O motivo? Limpar o fluxo de ar. Isso também não é óbvio logo de cara, pois, entre os extremos de ambas as pontas, há uma distância bem maior do que dos bicos “únicos” dos concorrentes – acredita-se que 4cm mais. Porém, é a abertura entre as pontas que harmoniza o fluxo de ar ao diminuir sua obstrução. Como trata-se do primeiro contato do ar com o carro, esse fluxo ganha importância.

Tanto, que ao menos a Toro Rosso admitiu ter estudado solução semelhante. “Estudamos isso no início, quando o carro estava menos maduro, e em teoria funcionaria bem. Mas na realidade sentimos que havia muitas desvantagens. Eles têm um túnel de vento mais desenvolvido do que nós, então talvez tenham descoberto algo que não conseguimos.”

É claro que a Lotus foi nessa direção porque viu que há mais vantagens do que riscos, dentro de sua filosofia de concepção aerodinâmica – algo que faz com que nem todos os times consigam trabalhar bem com determinadas soluções que funcionam para seus rivais. Porém, ao que tudo indica, o estranhamento visual do novo bico deve ser mais significativo do que sua efetividade na pista – segundo o diretor técnico da Ferrari, James Allison, não se ganha mais do que um ou dois décimos nesse setor: “É na traseira que está a pressão aerodinâmica”, explica.

Não é a primeira vez nos últimos anos que o time de Enstone ousa em um conceito técnico. Em 2011, o time apostou em um escapamento frontal, cuja saída era localizada ao lado da entrada dos radiadores e visava aumentar o poderio aerodinâmico de seus gases. Naquele caso, a dificuldade em lidar com o sistema acabou sendo maior do que o ganho teórico. No caso do bico duplo, trata-se de um risco menor e, pelo que temos visto nesse trôpego início – o E22, equipado com a até aqui problemática unidade de potência da Renault, não participou dos primeiros testes e vem andando pouco desde que foi à pista pela primeira vez, em um dos chamados “testes promocionais” –, deve ser o menor dos problemas do time.

Fonte de discórdia na Ferrari

PRESENTAZIONE FERRARI F1/2014

Colocar dois galos como Fernando Alonso e Kimi Raikkonen no mesmo galinheiro é, ao mesmo tempo, garantia de pilotagem de alto nível e de disputas internas. Afinal, os dois são maduros – porém ainda muito perto do auge – o suficiente para saber como fazer uma equipe trabalhar para si e têm a confiança que acompanha qualquer campeão do mundo. E, ainda que seja cedo para arriscar uma avaliação de como essa relação vai se desenvolver, os primeiros sinais mostram uma dinâmica interessante.

Lembremos que Raikkonen teve o contrato rescindido pela Ferrari ao final de 2009 em meio a uma chuva de críticas relacionadas a sua falta de interesse – ao mesmo tempo em que o próprio Alonso chegava junto do patrocínio de um banco espanhol com forte participação no Brasil de seu então companheiro, Felipe Massa.

Cinco anos depois, Kimi volta com pressão semelhante. Mesmo sendo o único campeão pela Ferrari na era pós-Schumacher, o finlandês nunca chegou a ser unanimidade em Maranello, em parte porque seu estilo não combina com as juras de amor às quais o time está acostumado.

“Quando o trocamos pelo Alonso, ele não estava feliz. Agora o vejo com um grande desejo de fazer bem feito”. Foi com frases como esta, de Stefano Domenicali, que o piloto foi recebido. Mas a pressão ferrarista por um Raikkonen altamente comprometido com o time seria algo que tem a ver apenas com o jeitão do finlandês?

Quando perguntado sobre em que aspecto Massa faria mais falta à Ferrari, Alonso disse: “Certamente, Felipe é um trabalhador puro. Ele trabalha dia e noite pela equipe para melhorar a performance do carro. Não conheço Kimi, mas os rumores dizem que fala pouco e que fica um pouco mais isolado. Portanto, a Ferrari pode sentir falta disso.” O recado é claro.

Uma das queixas do espanhol na turbulenta época da McLaren era que ele se sentia sozinho no desenvolvimento e acerto do carro, enquanto o então novato Lewis Hamilton se aproveitava. Se era chororô ou não, o fato é que Alonso não demonstra ter confiança de dividir as tarefas com Raikkonen. E a desconfiança nesse sentido seria péssima para o clima interno.

Além disso, é sabido que o espanhol não consegue usar o simulador da equipe em Maranello – utilizando apenas outro modelo, que tem em casa – por sentir náuseas, e o trabalho acabava sendo conduzido por Massa e por Pedro de la Rosa, piloto de testes contratado justamente para preencher esta lacuna. Não é difícil juntar as peças e prever que é no desenvolvimento do carro que pode nascer a discórdia na Ferrari.

Coluna publicada no jornal Correio Popular

Campeonatos mais ricos não se livram de problemas

No post de ontem, vimos como a Fórmula 1 é um dos esportes mais lucrativos do mundo, mas tem equipes que penam para sobreviver. E não está sozinha. O maior campeonato de futebol do mundo é a Premier League. Seus contratos de direitos televisivos chegam perto de 2 bilhões de dólares, seus jogos são assistidos por 4.7 bilhões de pessoas ao longo de uma temporada (o que representa cerca de 12,3 milhões por jogo), seis de seus clubes estão entre os 20 mais ricos do mundo – mais do que qualquer outra liga – e os 20 times somam uma receita de 3.85 bilhões de dólares.

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O futebol em si está crescendo. A receita anual dos 20 clubes mais ricos é de 6 bilhões de dólares anuais. Nos últimos 20 anos, inclusive, o volume movimentado pelo esporte cresceu bastante: todos os 30 maiores clubes têm receita superior aos 100 milhões, enquanto, em 1997, apenas o Manchester United atingia essa soma.

Mas o mundo da bola também tem seus problemas. A margem operacional na Inglaterra é pequena, de 4%, e o grande bicho-papão são os salários, que consomem 83% do orçamento. É uma questão de difícil solução, pois os diferentes campeonatos teriam de adotar um teto salarial semelhante para que ninguém saia perdendo, mas há países em que existe um  protecionismo em relação aos clubes, considerados importantes para seu turismo e imagem. Por isso, mesmo que o dinheiro gire, os grandes clubes convivem com grandes dívidas, em um cenário parecido com o da F-1. Na Premier League, os 20 clubes acumulam perdas na casa de 330 milhões de dólares/ano.

O cenário é bem diferente do outro lado do Atlântico. A liga mais lucrativa do mundo é a NFL, com receita de NOVE bilhões ao ano e lucro perto de um bilhão. Direitos televisivos? Contando só as três emissoras dos EUA, o contrato atual – e que vale até 2022 – é de 3,81 bilhões de dólares/ano. Sim, o dobro do que a F-1 arrecada no total.

Lá também houve muitos problemas com a alta dos salários, mas acordos trabalhistas permitiram que, enquanto a receita total cresceu de 6.5 bi em 2006 para os 9.2 de hoje, a média salarial subisse de 1.7mi para 2mi no mesmo período. E planos de criar a própria rede de celulares, ampliar os serviços do Fantasy Game (incluindo permitir acompanhar os jogadores de seu time em tempo real) e vender os direitos de transmissão via internet de maneira customizada (os direitos já foram adquiridos pela liga, que agora estuda a melhor maneira de usá-los) fazem os comandantes do esporte mirarem uma receita de 25 bilhões em 2027.

A NFL, claro, não é a única liga norte-americana que movimenta muito dinheiro. A receita anual do Major League Baseball é de 7,5 bi e da NBA é na casa dos 5 bilhões.

É difícil uma comparação direta, pois esses esportes têm mais eventos, mais equipes, mais potencial de lucro. Porém, não é segredo que a forma como a Fórmula 1 vem sendo gerida trava seu crescimento.

A regra da pontuação dobrada para a última etapa é um exemplo de como quem manda no esporte está distante do que anseiam seus espectadores, com pesquisas na internet apontando mais de 90% de rejeição. As restrições ao uso das imagens na internet é outra questão complicada, assim como a própria dinâmica do esporte: mesmo que o regulamento deste ano seja uma evolução para a relevância da categoria no mercado automobilístico, ele provavelmente vai dificultar a compreensão das corridas.

Fazendo fortuna com a Fórmula 1

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Uma receita acima de 1.5 bilhões de dólares por ano – e subindo anualmente. Uma audiência total de 450 milhões de espectadores por temporada – o que significa mais de 23 milhões por prova. E equipes vencedoras sofrendo para pagar suas contas. Ficam duas perguntas no ar: será que a Fórmula 1 é tão grande quanto poderia ser? E por que o dinheiro não chega para quem faz o espetáculo?

Vamos por partes.

Há um velho ditado que apregoa que “se você quiser fazer uma pequena fortuna com o automobilismo, comece com uma grande fortuna”. Parece existir uma tradicional divisão no esporte entre aqueles que entram para lucrar e os que querem vencer – e os primeiros nunca sujaram a mão de graxa. E, curiosamente, mesmo com o fim da era do romantismo na Fórmula 1 há muito tempo, a velha máxima continua viva.

O Formula One Group é um conglomerado composto por 30 a 40 companhias, cuja matriz é a Delta Topco. A CVC Capital Partners (aquela da qual Bernie Ecclestone saiu do cargo de CEO recentemente enquanto responde ao processo por suborno na justiça alemã) tem 35.5%, a companhia norte-americana Waddell and Reed tem cerca de 20%, a Lehman Brothers tem 12%, a trust familiar de Ecclestone tem 10% e o inglês possui mais 5% das ações (alguém achou que o afastamento dele do posto na CVC era o fim da linha?). São eles que estão realmente fazendo dinheiro com a Fórmula 1.

A grana vem, de modo geral, dos 500 milhões de dólares pagos pelos direitos de transmissão, dos 500 milhões pagos pelos promotores das corridas, dos 250 milhões arrecadados com patrocínio e dos 250 milhões da venda de ingressos para empresas. Principalmente os dois primeiros itens são as minas de ouro cuidadosamente exploradas por Mr. E: em grande parte dos GPs, há no contrato o aumento anual da taxa em torno de 10%, garantindo o crescimento constante da receita mesmo que o calendário não cresça; além disso, a F-1 vem migrando fortemente para canais pagos, com contratos mais valiosos do que os antigos com as emissoras abertas. Aliás, dá para contar nos dedos os países em que ver a categoria como no Brasil é possível.
//e.infogr.am/negocio-lucrativo

Outra forma usada pelo Formula One Group para aumentar seus lucros é fechar grandes contratos de patrocínio para a categoria, prática que tem se intensificado nos últimos anos. Tais acordos garantem mais exposição do que apoiar uma equipe, pois independe do sucesso do time e de sua visibilidade nas transmissões. Na mesma proporção, vemos times grandes como a Lotus, a McLaren e a Williams sem um patrocinador master. Mais uma vez, os donos do esporte lucram, enquanto quem o faz tem dificuldades para fechar as contas.

É claro que 47,5% do dinheiro obtido com os lucros é divido com as equipes, o que está explicado aqui e respeita uma divisão que privilegia os grandes – as maiores ficam com cerca de 100 milhões, e as menores, com 30. O restante fica com os donos do esporte, os mesmos que chamam de “piada” as atuais mudanças de regulamento que oneraram ainda mais os times. Só a nova unidade de potência custa em torno de 20 milhões de euros, dependendo do fabricante. Não por acaso, o esporte gera lucro mesmo com a queda de audiência, mas seus atores seguem respirando por aparelhos.

Amanhã, veremos como a Fórmula 1 não é a única que vive esta situação.

Novo freio eletrônico é outra dor de cabeça de 2014

Motor Racing - Formula One Testing - Day 4 - Jerez, Spain

Algo que chamou a atenção durante a primeira semana de testes de pré-temporada foi a dificuldade de alguns pilotos adaptarem-se ao novo sistema de freios. É um tema que acabou passando batido em meio a tantas mudanças e confesso que, depois de muita pesquisa, há mais perguntas do que respostas.

A mudança nos freios está diretamente ligada ao aumento da potência do ERS-K para esta temporada. Isso também significa que muito mais energia (o dobro) será recuperada nas freadas.

É um problema que também ocorre nos carros de rua equipados com sistemas de recuperação de energia como o KERS: eles afetam o equilíbrio na freada, tornando os carros inconsistentes, uma vez que o comportamento muda quando as baterias estão carregadas.

Uma das soluções que a indústria automobilística vem estudando para contornar o problema é unir os sistemas hidráulicos e mecânicos do freio ao chamado brake by wire. A grosso modo, um freio eletrônico.

Como só se recupera energia para o ERS-K com os freios traseiros, eles são os únicos que carregam o novo sistema. A mudança não ocorreu antes devido à potência baixa que o antigo Kers podia recuperar, algo considerado contornável pelas equipes. Ainda assim, os pilotos relatavam diferenças no comportamento dos freios quando suas baterias do Kers estavam cheias ou havia alguma falha no sistema.

O brake by wire mede o quão dura é a freada por parte do piloto e “faz as contas” de quanta energia colocará no freio em si levando em consideração as necessidades de armazenamento do ERS-K. Isso previne, por exemplo, que os pneus traseiros travem e deixem de recuperar energia. É como se houvesse um mediador entre o piloto e o freio. Eis o que diz o regulamento:

BBW

Neste início de trabalho com o sistema, os pilotos relatam uma perda de sensibilidade. “Isso acontece porque parte da energia que para o carro não vem do piloto, e sim do sistema eletrônico”, explicou o diretor técnico da Mercedes, Paddy Lowe, em entrevista a Peter Windsor. “Assim, no pedal, ele só dá o sinal para a quantidade de energia que quer colocar nos freios traseiros. Nos dianteiros, tudo segue normal. O resultado disso é que o pedal será mais duro, pois ele não tem de suprir energia para os freios traseiros.”

A tendência é que as equipes ajustem esses novos freios às demandas de cada piloto de acordo com seu estilo ao longo do ano, pois a ideia é que eles não sintam qualquer diferença, mas é uma tecnologia com a qual nem a própria indústria automobilística tem conseguido lidar para usar em larga escala. Hoje, apenas um modelo da Mercedes e um da Toyota usam o sistema.

Por um lado, é mais um fator que alinha a Fórmula 1 às necessidades de pesquisa da indústria. Por outro, é mais uma ajuda eletrônica aos pilotos – ainda que os engenheiros garantam que a mudança é necessária pois seria pedir demais até aos melhores do mundo controlar essa nova variável.

A dúvida é fica é como os engenheiros poderão adaptar isso a seus pilotos, uma vez que o brake by wire está conectado à ECU (o artigo 8.2, referido no regulamento, é o que determina suas regras). Ela controla a eletrônica do carro e é padrão para todas as equipes, sendo selada pela FIA. Isso acontece justamente para impedir que as equipes desenvolvam sistemas eletrônicos semelhantes ao controle de tração e afins.

Outra questão é que o regulamento diz que o piloto deve pilotar “sozinho e sem ajudas”, o que impediria sistemas como controle de tração e ABS. Mas o que seria esse brake by wire senão uma espécie de ABS?

Participe da Sabatina TotalRace: vocês perguntam

Motor Racing - Formula One Testing - Day 4 - Jerez, Spain

Sempre que abro o blog para pedidos, uma curiosidade recorrente dos leitores é a respeito da vida dos jornalistas que cobrem a Fórmula 1. Pois, bem. Chegou a vez de vocês matarem a curiosidade.

Convido-os para enviarem suas perguntas por meio dos comentários deste post. Vou respondê-las junto de Felipe Motta e Luis Fernando Ramos, bem mais “rodados”, no melhor sentido do termo, do que eu pelos circuitos do mundo. Participe!

Fumaça na Red Bull

Motor Racing - Formula One Testing - Day 3 - Jerez, Spain

Depois de três dias de teste ano passado, a Red Bull havia feito 276 voltas. Em 2014, deu apenas 11. É o suficiente para que os rivais estourem os fogos? Não é para tanto. É pouco esperto duvidar de uma equipe já demonstrou em um passado recente que tem condições técnicas de superar desafios.

Por outro lado, se a extensa mudança de regulamento faz com que qualquer comparação com as pré-temporadas anteriores, com qualquer equipe, soe ingênua, é fato que nem tudo são rosas no mundo dos touros.

O que se imagina é que o problema é a maneira como a equipe instalou os controles eletrônicos fornecidos pela Renault. A unidade de potência deste ano é muito mais complexa, unindo o motor turbo com duas unidades de capitação e fornecimento de energia – uma calorífica, outra cinética. E cabe ao fornecedor e à equipe cuidar da integração entre o sistema e o restante no carro.

Levando-se em conta as declarações do diretor de operações de pista da Renault, Remi Taffin, isso explica por que outros times que usam o mesmo motor (Toro Rosso e Caterham) conseguiram mais tempo de pista, ainda que não muito mais – só a Marussia andou menos que o time Renault com mais quilometragem nesta quinta-feira:

“A unidade de potência é feita de vários sub-componentes e não é uma questão de dizer que nenhum está funcionando, é só um problema de integração de todos esses sistemas. Algumas equipes conseguem dar mais voltas que outras porque há diferentes integrações dependendo do carro.”

O mesmo Taffin afirmou na quarta-feira que “temos as peças, temos as pessoas aqui e os meios de resolver o problema, estamos preparados. Temos certeza de que tudo correrá bem amanhã.” Mas não foi o que se viu na quinta-feira, especialmente na Red Bull, que iniciou apenas três voltas. Portanto, se há algo de errado com a interação da parte eletrônica do sistema da Renault com os carros que ela equipa, isso é ainda mais grave na Red Bull.

Curiosamente, antes de ficar claro que os times da Renault sofreriam mais ao menos neste primeiro teste, Ricardo Penteado, que coordena os trabalhos dos franceses na Toro Rosso, reconheceu em entrevista ao Ico que “a confiabilidade vai ser muito importante, especialmente em relação a estes componentes eletrônicos com os quais não temos muita experiência ainda”.

Some-se a essa dificuldade pela falta de expertise a uma reconhecida tendência do projetista da Red Bull, Adrian Newey, de explorar ao máximo o poderio aerodinâmico do carro – o que significa “espremer” seus componentes internos – e o “quadro clínico” do RB10 fica menos nebuloso. É provável que os tetracampeões tenham uma maneira engenhosa de instalar a unidade de potência para favorecer a aerodinâmica e o sistema da Renault não funcione a contento como consequência.

Nada que não possa ser revisto, mas tudo indica que não será uma solução da noite para o dia, como Daniel Ricciardo reconheceu. Não são apenas pontos de pressão aerodinâmica que estão sendo procurados, e sim formas de fazer os sistemas funcionarem. Afinal, como o próprio Newey havia alertado no lançamento do RB10, “não é como nos anos anteriores, em que você podia continuar mesmo com um problema no Kers. Hoje, ele está tão integrado com o carro que, se tiver um problema, é o fim da linha.”

E a busca, claro, já começou, mesmo que com ares de gambiarra, como flagou o jornalista Tobias Grüner:

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De certa forma a sorte da Red Bull é que há tanto a ser aprendido sobre estes carros que a linha de desenvolvimento será muito íngreme. Inclusive, acredita-se que nenhum fabricante ainda usou todo o potencial do conjunto turbo + sistemas elétricos do carro simplesmente porque ele ainda não é confiável o suficiente. Nesse cenário que ainda aponta muito pouco, parece que a decisão da Lotus, outra equipada com o motor Renault, de não ir para Jerez, apesar de fortemente influenciada pela falta de grana em Enstone, agora já não parece tão desesperada assim…

Patinhos feios

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Com o lançamento dos primeiros carros da próxima temporada da Fórmula 1, faltaram adjetivos para descrever a, digamos, falta de estética dos novos bicos. Resultado de uma das diversas mudanças no regulamento, eles já foram chamados de dedo, antena, golfinho e até tamanduá. Nada muito elogioso. Há quem diga que os “rebentos” são daqueles que só as próprias mães acham bonitos. Maldades à parte, por que os carros ficaram assim?

Nos últimos dois anos, os bicos foram “abaixados” por questões de segurança, para evitar que os capacetes dos pilotos sejam atingidos em colisões frontais. As novas alterações, feitas em 2014, visam prevenir também outro tipo de acidente: quando um carro decola após tocar a roda traseira de quem vai à frente. Isso criou a necessidade de abaixar ainda mais os bicos.

Porém, as equipes chiaram quanto à extensão dessa mudança. Dependendo de como a nova regra fosse redigida, seria necessária uma revolução aerodinâmica que afetaria o carro inteiro. Afinal, o bico do carro é o primeiro contanto dele com o ar e influencia toda a aerodinâmica – especialmente o ar que passa por debaixo dele e alimenta o assoalho, além de afetar as suspensões. Portanto, “rebaixar” todo o bico geraria uma enorme despesa de tempo e dinheiro, ainda mais em um ano no qual os engenheiros já têm de lidar com muitas novidades com o novo motor turbo V6 e seus complicados sistemas híbridos. A solução para agradar os times e não esquecer a questão da segurança foi abaixar apenas a seção final do bico.

Mesmo assim, não há uma solução padrão para essa “ponta” rebaixada. Isso porque os engenheiros têm de trabalhar com comprometimentos nas áreas aerodinâmica e estrutural (cuja meta é passar pelos crash tests). Para quem cuida do fluxo de ar, o melhor é que o bico seja curto e arredondado. E quem cuida de estrutura quer um bico longo e fino. Por isso, temos visto algumas diferenças entre os modelos.

O resultado de tudo isso é que um bico perfeito para 2014 precisa ser o mais arqueado possível após a primeira seção, que é obrigatoriamente mais baixa devido às novas regras. Isso criou essa espécie de divisão que temos visto nos modelos, como se a primeira parte do bico simplesmente não combinasse com o resto.

Como os resultados têm sido horrendos, é possível que haja modificações nas regras, como ocorreu após a geração de carros com degraus nos bicos, de 2012. Mas isso só em 2015, pois, em meio a tantas alterações no regulamento técnico e a promessa de uma Fórmula 1 diferente do que vimos nos últimos anos, toda essa feiura promete ser o que vai chamar menos a atenção.

Coluna publicada no jornal Correio Popular.

O desafio do câmbio fixo de oito marchas

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Um dos pontos mais curiosos do novo regulamento da Fórmula 1 é o câmbio com oito marchas e manutenção de uma mesma relação de marchas por toda a temporada. Como será possível manter a configuração em um circuito travado como Mônaco e um de altíssima velocidade, como Monza?

Os engenheiros garantem que não será um grande problema, ainda que admitam certo receio em errar a mão. Tanto que, de lambuja, o regulamento prevê a possibilidade de uma única mudança de configuração após o início da temporada.

Primeiramente, vale explicar que o aumento para oito marchas visa facilitar o controle da nova unidade de potência em relação a seus sistemas de recuperação de energia x alto downforce.

Dito isso, vamos aos motivos que descomplicam a novidade: como todas as marchas estarão sempre montadas obrigatoriamente, os pilotos simplesmente não vão usar todas elas em todos os circuitos. Especialistas esperam, por exemplo, que não se chegue a utilizar sequer a sexta marcha em Mônaco. Seguindo o mesmo raciocínio, o problema de “bater no limitador” só ocorreria em Monza.

Outra questão é a limitação de combustível, de 100kg por hora, o que automaticamente acaba cortando também revoluções quando o motor passar de 10000rpm (um terço de sua capacidade),  fazendo com que o ganho de potência já seja naturalmente pior acima disso. Além disso, o torque é muito mais alto em revoluções mais baixas nos V6 turbo do que com os V8 aspirados – e a ajuda dada pelo Ers é duas vezes maior do que até 2013.

A questão da relação de marchas era tão importante até o ano passado porque ela era ajustada para trabalhar no limite: as equipes podiam mexer nisso até antes da terceira sessão de treinos livres e trabalhavam no limiar entre o ganho de velocidade nas saídas de curva e chegar à velocidade máxima apenas nos metros finais da reta, evitando “bater no limitador”. Expliquei mais sobre isso neste post.

Resumindo, pode ter certeza de que não é com Mônaco e Monza que os engenheiros se preocupam, e sim em ajustar as marchas para responder da melhor maneira possível na média dos circuitos. E o foco não deve ser em velocidade final, mas sim na reaceleração.

Mais ultrapassagens?

Por outro lado, mesmo se a questão da relação de marchas fixa não for uma dor de cabeça tão grande como era de se esperar inicialmente, ela ainda assim pode mudar um pouco a dinâmica das corridas. É possível que isso facilite, por exemplo, as ultrapassagens.

Explico: como as relações de marchas não serão mais as “perfeitas” para cada pista, é muito provável que a velocidade final seja comprometida (a marcha vai ficar “longa” demais e os carros dificilmente “baterão no limitador”). Assim, o vácuo ganha importância, pois víamos até 2013 exemplos de carros que grudavam no da frente, mas não conseguiam mais ganhar velocidade a partir do momento em que “batiam no limitador”.

Além disso, se o vácuo não for suficiente, ainda temos o DRS, que não tem sido totalmente explorado. Isso porque as equipes tinham que se preocupar, até 2013, a não configurar as marchas de maneira a “bater no limitador” com o DRS aberto, sendo necessário um comprometimento. Por isso vimos muitas vezes carros com o DRS aberto com a mesma velocidade final do outro com DRS fechado. Com o novo conjunto de regras, o efeito aerodinâmico do DRS provavelmente será aproveitado ao máximo. Agora, cabe à FIA delimitar corretamente o tamanho das zonas de ativação para as ultrapassagens não ficarem fáceis demais. Como sempre defendi por aqui, o DRS é válido se permitir que os pilotos cheguem dividindo a freada. Se permitir ultrapassagens no meio da reta, não. Veremos como tudo isso afeta as corridas na prática.

Era of error x era of terror

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No futebol, bastam alguns resultados ruins, certo mal estar dentro do grupo, e acaba sobrando para o treinador. Na Fórmula 1, costuma haver uma relutância maior em substituir os chefes de equipe, mas a corda sempre acaba estourando para o lado deles. Depois de cinco anos sequer lutando seriamente por título algum, as chances de Martin Whitmarsh na McLaren parecem ter chegado ao fim.

Oficialmente, o inglês ainda é chefe no time de Woking, mas o retorno de Ron Dennis ao cargo de CEO da empresa é uma mensagem clara: o homem que personificou o sucesso da equipe que fez Lauda, Prost, Senna, Hakkinen e Hamilton campeões nos últimos 30 anos está de volta ao comando.

É difícil apontar uma gota d’água para que o poder de Whitmarsh tenha sido minado pelo mesmo homem que lhe deu a chance de comandar o time. Foram anos de decisões equivocadas no desenvolvimento dos carros, especialmente ao final da temporada 2012, quando o time resolveu, mesmo sendo o único andando no ritmo das Red Bull naquele momento, começar do zero o projeto de 2013 ao invés de aproveitar uma base vencedora – e acabou vivendo a pior temporada de sua história desde 1980 (não coincidentemente, ano em que Dennis comprou parte das ações da equipe). Foram anos de perda de personagens importantes no campo técnico, como Pat Fry, que foi para a Ferrari, e Paddy Lowe, para a Mercedes, além da traumática debandada do “filho pródigo” Lewis Hamilton. Foram anos de oportunidades perdidas dentro da pista com estratégias equivocadas e problemas nos pit stops, notadamente em 2012. Isso sem falar na infantil contratação de Sergio Perez e na perda do patrocinador principal, cujo substituto ainda não foi anunciado a uma semana do lançamento do novo carro.

Era claro desde o início que a McLaren sob a batuta do jovial Whitmarsh seria diferente do sisudo e muitas vezes inflexível Dennis, porém foi mais do que os ares de exército de Darth Vader que a equipe perdeu com o novo chefe. A eficiência foi junto, as decisões erradas se acumularam e a impressão é de que a equipe corria um sério risco de “Williamização”, de virar ex-time grande, caso as coisas não mudassem.

O chefão voltou botando banca e prometeu mudanças antes do início da temporada – e sequer citou Whitmarsh em seus planos. Talvez seja cedo para esperar uma revolução, uma vez que esse é um ano de transição. Mas será importante uma boa preparação para 2015, quando o time inicia uma nova era, abandonando a parceria com a Mercedes e se tornando uma espécie de equipe de fábrica para os motores Honda, os mesmos da era de ouro de Prost, Senna… e Ron Dennis.

Coluna publicada no jornal Correio Popular

A nova Fórmula 1

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É comum ouvir profissionais ligados ao mundo da Fórmula 1 considerarem a atual mudança de regulamento como a maior da história. Sim, o esporte já passou por outras revoluções nos motores – na verdade, foi uma grande alteração por década de 1966 para cá – mas dois ingredientes tornam o momento atual especial: a grande influência de sistemas de ‘energia limpa’ e as modificações aerodinâmicas.

O primeiro efeito colateral de tanto rebuliço será na confiabilidade – a ponto de Christian Horner admitir a chance real de que metade do grid não veja a bandeirada na Austrália. Especialmente vindo de um ano em que um estreante como Max Chilton consegue, pela nanica Marussia, terminar todas as provas, o choque de realidade com o que veremos em 2014 será grande. Casar baterias de recuperação de energia com pacotes aerodinâmicos milimetricamente calculados certamente causará muita dor de cabeça em termos de refrigeração. Isso sem contar na complexidade do funcionamento do novo ERS, que agora recupera energia tanto cinética, quanto calorífica (e, por isso, “perde” o K, que vinha da palavra kinetic – cinética).

Espera-se, também, que haja diferentes formas de utilizar o combustível. É sabido que os carros nunca começam um GP com combustível suficiente para terminar a prova e, em algum momento, são adotadas misturas mais pobres para garantir que chegarão à bandeirada. Porém, com o novo regulamento e uma diminuição drástica de 35% no limite de consumo, a tendência é que isso ganhe outra dimensão. De certa forma, podemos comparar com a era do reabastecimento: um piloto podia optar por largar com menos combustível e atacar mais no início para abrir vantagem para, depois, se segurar com o carro mais pesado que os demais.

Sim, o piloto. É claro que os engenheiros estarão monitorando de perto o consumo junto de outras variáveis, mas os mesmos que se impressionam com o tamanho da atual revolução no regulamento são unânimes em afirmar que a sensibilidade daquele que está atrás do volante será ainda mais importante. E isso se deve a um conjunto de fatores.

Uma nova pilotagem

 

O primeiro deles é o motor turbo. Como o torque será muito maior, os pilotos terão de ter paciência antes de colocar o pé no acelerador. Buscar potência antes dos pneus estarem retos na saída de curva vai causar instabilidade e desgaste excessivo, mesmo se a Pirelli, como é esperado, fornecer pneus bem mais conservadores do que fez nos últimos anos. Isso vai favorecer pilotos com uma tocada mais limpa e que priorizam a entrada de curva em detrimento da saída.

O segundo é a própria aerodinâmica. Segundo o piloto de testes da McLaren Gary Paffett, apesar da potência total (motor + sistemas híbridos) continuar praticamente a mesma, os tempos de volta poderão aumentar em 2s apenas devido ao fim do escapamento soprado, marca da geração de carros de 2009-2013. Além de aerodinamicamente menos eficiente, isso também torna o carro mais instável, especialmente na traseira.

O ERS-K também vai alterar o comportamento do carro nas freadas. Isso já acontecia com o Kers que tínhamos até 2013, mas vai aumentar juntamente com a adoção de um sistema duas vezes mais potente.

O quarto fator, e não menos importante, é o consumo de combustível, que pode ser modulado com o acelerador. Não despejar totalmente a potência e usar as técnicas de “lift and coast” (tirar o pé do acelerador antes de afundar o pé no freio para utilizar o freio motor para desacelerar o carro) deverão ser práticas comuns.

Em meio a tantas mudanças, nada melhor do que uma geração tão talentosa para mostrar a que veio. É por isso que o campeonato de 2014 já começou há muito tempo, nos simuladores. E que o melhor se adapte mais rápido.

Confira os detalhes técnicos do novo regulamento em nosso especial sobre a temporada 2014.

Corrida no tabuleiro

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Engana-se quem pensa que os pilotos mais rápidos são necessariamente os melhores na Fórmula 1. Ainda mais na próxima temporada, em que uma extensa mudança de regulamento promete alterar a fórmula para se vencer corridas. Os pilotos, que no imaginário popular são vistos como destemidos em busca de velocidade, cada vez mais se assemelham a verdadeiros enxadristas.

Essa palavra, velocidade, vem sendo substituída por eficiência. Para vencer, é preciso superar as limitações, o que nem sempre significa desafiar os limites. E, como sempre na história do esporte, aquele que se adaptar mais rapidamente às novas regras do jogo, sai ganhando.

O sucesso na Fórmula 1 nunca foi apenas uma questão de velocidade pura, mas a ascensão dos pilotos mais táticos foi se tornando mais marcante à medida que as limitações aos carros foram aumentando. A tecnologia havia praticamente transformado o piloto em detalhe. Velocidades altas demais para manter a disputa em um nível seguro, a escalada dos custos e a escassez de ultrapassagem em meados dos anos 2000 devido à alta dependência aerodinâmica foram os outros fatores que provocaram essa nova forma de ver a competição.

De lá para cá, foram várias medidas: o fim do reabastecimento – exigindo que o piloto tenha feeling para começar a corrida com o tanque cheio e adaptar sua tocada ao longo da prova – a adoção de pneus com altíssimo desgaste e a presença de dispositivos, como Kers e DRS, que facilitam as ultrapassagens e também são usados de maneira estratégica. Tudo isso fez com que os pilotos tivessem que dosar suas jogadas para aplicar seus xeques-mate.

E tudo isso será ainda mais marcante a partir deste ano. A adoção do motor V6 significa que os pilotos terão de lidar com muito mais torque. E enfiar o pé no acelerador vai levar a um consumo exagerado de pneus, perda de tempo e excesso de consumo de combustível. Este, aliás, será um fator à parte, pois ele estará limitado a 100kg/h, bem menos que os 160kg/h que costumavam ser gastos até o ano passado. Isso significa que, em determinadas situações, será mais vantajoso tirar o pé do acelerador bem antes do que frear a 50m da curva. O Kers, por sua vez, terá função tática ainda maior, como dobro da potência de 2013 e podendo ser usado por 33s3 ao invés de 6s7 por volta.

Tudo isso torna aquela pecinha que fica entre o volante e o banco mais importante. E quem só gosta de acelerar pode ir se preparando para sofrer: a revolução de 2014 na Fórmula 1 marca o reinado de quem corre com a cabeça.

Nessa semana, vou analisar aqui no blog algumas das mudanças esperadas para este novo desafio que começa em duas semanas, no teste de Jerez.

Pilotos que foram e voltaram – parte 2

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Com a volta de Kimi Raikkonen à Ferrari, voltamos no tempo para relembrar os pilotos que retornaram aos seus times.

Gerhard Berger e Ferrari: de 1987 a 1989 e de 1993 a 1995

Berger talvez seja o mais italiano dos austríacos, tamanha sua identificação com a Ferrari. Porém, suas duas passagens por Maranello coincidiram com os anos de vacas magras do time e o título nunca foi uma realidade.

A primeira separação ocorreu após uma série de decepções e a possibilidade de ser companheiro de Ayrton Senna na então poderosa McLaren. O austríaco, no entanto, voltaria para casa após receber uma boa proposta do time italiano, que buscava um piloto experiente e com identificação com a equipe. Mas a Ferrari novamente não fez carros competitivos e Berger teve de se contentar com uma vitória aqui, outra ali, até trocar de lugares com Michael Schumacher e ir para a Benetton em 1996. Outra barca furada, por sinal.

Fernando Alonso e Renault: de 2003 a 2006 e de 2008 a 2009

Alonso tinha apenas 20 anos quando chegou à Renault, pelas mãos de seu empresário Flavio Briatore, para ser piloto de testes. Foi promovido, ganhou ares de primeiro piloto e correspondeu na pista, sendo o principal nome no crescimento do time de Enstone, que chegou ao fundo do poço nos últimos anos de Benetton e escalou até o bicampeonato menos de uma década depois.

Porém, a Renault nunca teve a estrutura de uma McLaren ou uma Ferrari e o espanhol seguiu para o time de Woking para continuar no caminho das vitórias. Mas havia duas pedras no caminho: Ron Dennis fora das pistas e Lewis Hamilton dentro dela e Alonso se convenceu que não lhe deixariam vencer na McLaren. Com a Ferrari feliz com o recém-coroado campeão do mundo Kimi Raikkonen, restou a opção de voltar à Renault.

Mas o time já não era o mesmo e Alonso parecia estar gastando seu tempo esperando uma vaga na Ferrari, que viria em 2010. Na segunda carreira com os franceses, o espanhol venceu apenas duas corridas.

Kimi Raikkonen e Ferrari: de 2007 a 2009 e de 2014-

O improvável casamento entre o finlandês e os italianos parte para seu segundo capítulo após três temporadas de muitas idas e vindas. Enquanto Raikkonen estava feliz com o carro e a Ferrari estava feliz com Raikkonen, estava tudo perfeito, com direito a título após uma recuperação meteórica em 2007.

Depois, modificações no carro não ajudaram o estilo de Kimi e a situação foi se degringolando até o ponto em que o time de Maranello preferiu pagar caro para ter um novo líder. E ele era Alonso. Ingredientes suficientes para ficarmos de olho nesse reencontro. Dizem as más línguas que voltar com um ex é o mesmo que comprar o próprio carro, com os mesmos problemas e mais quilometragem. Nem a Ferrari, nem Raikkonen, podem dizer que não sabiam onde estavam se metendo.

Pilotos que foram e voltaram – parte 1

williams1992O próprio presidente da Ferrari, Luca Di Montezemolo, reconhece que colocar Kimi Raikkonen ao lado de Fernando Alonso a partir desta temporada é “um risco”. O italiano se refere, claro, a uma potencial dupla explosiva, com cada lado demandando o máximo de atenção do time. Mas e a situação do finlandês, que volta ao time que pagou milhões para que ele não cumprisse seu contrato até o final em 2009?

Esta não será a primeira vez que o piloto que marcou época volta para uma equipe – e a história teve decepções e reencontros de sucesso.

Juan Manuel Fangio e Maserati: de 1953 a 1954 e de 1957 a 1958

O pentacampeão argentino é famoso por ter vencido corridas – e campeonatos – por quatro equipes diferentes. Alfa Romeo, Ferrari, Mercedes e, claro, Maserati. Mas o título com os italianos só viria em sua segunda passagem. Oficialmente, Fangio foi para a equipe em 1952 mas, com uma contusão no pescoço após acidente em Monza, só estreou de verdade na temporada seguinte, em que foi segundo colocado.

As coisas pareciam diferentes em 54, com duas vitórias logo de cara, mas o argentino logo trocou a Maserati pela Mercedes, que dominaria aquela temporada. O piloto seria bicampeão com os alemães e iria para a Ferrari após a fábrica germânica abandonar as corridas. Porém, apesar do título com o time de Maranello, a relação com Enzo Ferrari nunca foi das melhores e o argentino voltou para a antiga casa.

A segunda chance deu certo: Fangio venceu quarto das sete etapas e selou seu quinto e último campeonato.  O penta também marcaria a aposentadoria do argentino, que na época tinha 47 anos.

Graham Hill e Lotus: de 1958 a 1959 e de 1967 a 1970

Apesar da segunda passagem de Graham Hill pela Lotus ter gerado mais sucesso do que a primeira, a história do inglês praticamente se confunde com o time, no qual começou como mecânico na década de 1950. Mas aquela Lotus do final dos 50 estava longe da potência que se tornaria pouco menos de 10 anos depois, e Hill teve como melhor resultado um sexto lugar em seus dois primeiros anos pelo time.

O inglês foi, então, para a BRM, equipe com a qual conquistaria o título de 1962, mas o time foi perdendo rendimento – Hill ainda conquistaria três vice-campeonatos, mas foi apenas quinto em 1966 – e o piloto voltou “para casa” na temporada seguinte. Nessa época, a Lotus já era bicampeã, com Jim Clark. Com a morte do escocês, Hill se tornou o primeiro piloto da equipe e foi campeão em 68.

Nigel Mansell e Williams: de 1985 a 1988 e em 1991, 1992 e 1994

O casamento entre Nigel Mansell e a Williams teve ingredientes de novela. O Leão voltou duas vezes para o time em que foi campeão em 1992 – a primeira, depois de sofrer um sem-número de decepções em sua primeira jornada em Grove. Foram dois vice-campeonatos seguidos – o primeiro, especialmente doloroso após uma explosão de pneu – e uma temporada frustrante para qualquer um que não tinha uma McLaren, em 1988, até que o inglês resolveu ir para a Ferrari.

Infeliz no time vermelho, o agora il Leone chegou a anunciar sua aposentadoria, mas foi persuadido por Frank Williams a ficar. O fez na hora certa, pois o time de Grove teria o carro que dominaria a partir de 92. Campeão aos 39 anos, o inglês novamente se aposentaria momentaneamente, indo para a Indy. O segundo retorno aconteceria sem o mesmo brilho, por quatro provas, em 1994.

Um mito moderno

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O ano e a vitória mais marcantes da carreira de Schumacher para mim: GP da Espanha de 1996

A rapidez com que as notícias a respeito do acidente de Michael Schumacher mudaram de tom ao longo da última semana dão a exata dimensão da complexidade da imagem do maior vencedor da história da Fórmula 1.

As primeiras reações levavam à crença de que o alemão, “viciado por adrenalina”, tinha encontrado “sarna para se coçar” ao procurar um trecho mais perigoso na neve dos Alpes Franceses, certamente esquiava em alta velocidade e sofrera o resultado de não estar mais no ambiente ultra controlado da categoria em que fez fama.

Alguns dias depois, Schumacher tinha se tornado o herói que caíra após ajudar uma criança, em baixa velocidade. Não um erro, não um risco excessivo, mas uma fatalidade.

Ainda não se sabe o que de fato aconteceu naquele domingo, mas este triste episódio serviu para mostrar como Schumacher sempre terá de conviver com as consequências de ter sempre feito tudo no limite – e quem brinca com limite sempre corre o risco de perder a mão de vez em quando.

Foi assim naquela infeliz decisão de tentar tirar o título de Jacques Villeneuve na marra em 1997, como também no gesto cruelmente calculado de estacionar o carro no meio da Rascasse, em Mônaco, 2006, para evitar a pole de Fernando Alonso. Mas não foi sempre desta maneira. Schumacher foi um personagem muito mais complexo do que um vilão de filme hollywoodiano. Aliás, de vilão, só teve lapsos. De vencedor, teve uma longa carreira.

Seu grande legado é a busca incessante pela perfeição. Depois dele, qualquer piloto que queira ser grande precisa ser muito mais do que um piloto. Foi ele quem levantou a Ferrari de um buraco que parecia sem fundo, trabalhando junto de personagens igualmente determinados a fazer o que fosse necessário para vencer. Foi ele que tornou seu corpo uma máquina para vencer provas com base em um ritmo de classificação. Acima de tudo, Schumi é um trabalhador incansável e estudou cada detalhe para se certificar que tudo estava funcionando em seu limite.

Um exemplo que pode soar um tanto banal eram suas entradas nos pit stops. O alemão testava durante todo o final de semana o quão tarde poderia frear para não ultrapassar o limite de velocidade no pit lane. Que fossem centésimos, ele sempre quis ganhar. É por isso que, por mais difícil que seja sua atual situação clínica, com um coma prolongado, lesões graves no cérebro e a expectativa de uma longa recuperação adiante, é difícil imaginar que cada célula da máquina alemã não esteja trabalhando duro para sair dessa. Kämpfen Schumi!

Coluna publicada no jornal Correio Popular.

Drop 5 2013 – o pior do ano

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Teste secreto

Por onde começar? Uma empresa contratada – e aceitando tal condição – para fazer um produto limítrofe, mas com condições esdrúxulas de testá-lo. Uma entidade que fecha os olhos quando um diretor de provas encontra uma solução que rasga o regulamento. Equipes que só entram em consenso depois de colocar seus próprios pilotos em risco. Infelizmente, tudo o que cercou a polêmica dos pneus nesta temporada não foi o primeiro, e nem o último exemplo da Fórmula 1 atirando no próprio pé.

Retrocessos da McLaren

Não é a primeira vez em sua história recente que a McLaren tenta reinventar a roda e acaba se perdendo. Talvez isso tenha a ver com seu sistema descentralizado de comando, mas o time mostra ao mesmo tempo uma capacidade grande de reação e de se perder. Foi assim no decorrer da temporada de 2010, nos apagões de 2012 no meio do caminho e na péssima decisão de começar um projeto ousado no último ano de um conjunto de regras. Em tempos de Red Bull afinadíssima, é pouco.

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Ao longo do campeonato, foi ficando cada vez mais bizarra a sequência de mensagens do engenheiro de Vettel com seu tom ameaçador buscando diminuir o ritmo do alemão. Ele tentou de tudo: ‘quando os pneus acabarem, eles não avisarão antes’; ‘nós já temos problemas suficientes’. Isso sem contar no “vamos conversar sobre isso depois”, uma bronca para uma tentativa de volta mais rápida justamente quando Vettel cruzava a linha chegada para selar o título! Mas parece que o piloto gosta do estilo durão de seu engenheiro e até mandou “eu sei o que estou fazendo” em tom de brincadeira depois de – outra – vitória em Abu Dhabi.

Segunda metade do ano

Depois de um ano e meio de muitas alternativas e a expectativa de que nenhuma equipe conseguisse uma vantagem marcante devido ao foco em 2014, há uma mudança nos pneus e uma melhor adaptação de apenas um conjunto. E, como num passo de mágica, voltamos a 2011, com provas disputadas apenas do segundo lugar em diante. Isso nos deu algumas batalhas interessantes, como as alternativas estratégicas de Cingapura ou as primeiras voltas eletrizantes do Brasil, mas 2012 nos deixou mal acostumados. Ainda bem.

Perez em time grande

Essa não era muito difícil de prever, mas a maneira como a McLaren se livrou de Perez, mesmo em um ano em que a principal culpada pela campanha ruim foi ela mesma não deixou de surpreender e tornar toda a transferência do mexicano para um time grande uma grande decepção. O piloto teve seus brilharecos e não ficou devendo tanto em relação a Button, mas não demorou quatro corridas para que o clima dentro do time azedasse. Talvez um passo atrás e uma dose de humildade façam bem em 2014 ao jovem mexicano.

Top 5 de 2013

Motor Racing - Formula One World Championship - Australian Grand Prix - Race Day - Melbourne, Australia

Ultrapassagens de Raikkonen

Em mais um ano de punições polêmicas, ora pelo excesso, ora pela permissividade, houve quem ficou com a impressão de que é proibido ultrapassar. Ao escrever isso, lembro do pobre Grosjean me dizendo que considera a manobra para cima de Massa na Hungria sua melhor da temporada. Mas houve alguém que deu aula de atacar e defender: Kimi Raikkonen. Duro e milimétrico ao mesmo tempo, o finlandês conseguiu ultrapassar e impedir ultrapassagens de maneira brilhante durante todo o ano – e sem chamar a atenção dos comissários. Que o diga Vettel, tentando achar um espacinho na Hungria. Que o diga Button, que até hoje não sabe como Kimi conseguiu aquela manobra em Cingapura. Isso sem contar a briga ferrenha com Hulkenberg na Malásia ou o passão em Rosberg também em Budapeste… enfim, a lista é longa e #ficaadica: rapaziada, aprenda com Kimi.

Brigas da Malásia

O GP que não terminou com a bandeirada pode ter trazido de volta demônios de um passado recente da Fórmula 1, mas que foi muito divertido observar as dinâmicas distintas de Red Bull e Mercedes, isso foi. Ainda mais com uma briga eletrizante pela ponta entre Vettel e Webber, caras feias no pódio, acusações de proteção e um bizarro ‘desculpe por ter ganhado, foi sem querer querendo’. Do outro lado, Rosberg acatou a ordem de ficar atrás de Hamilton, mas demonstrou claramente sua insatisfação – ou pelo menos o máximo que sua educação monegasca permite. Pode ter sido uma reação menos popular do que a de Webber, mas lhe garantiu pontos dentro da equipe.

Primeira metade do ano

Kimi vence com propriedade, mas sem dominar na Austrália, e parece abrir um mundo de possibilidades em um campeonato que prometia opor o baixo consumo de pneus de uns à velocidade pura de outros. Depois veio o thriller da Malásia, provas cheias de ultrapassagens na China e na Espanha – sim, até em Barcelona! – e uma alternância de forças no Bahrein. Só o GP de Mônaco destoou. Mas as cenas embaraçosas para dizer o mínimo de Silverstone fizeram todo mundo colocar o pé no freio, e escancarou a dificuldade em preencher todos os requisitos de segurança para os diferentes tipos de circuitos na temporada. Mérito de quem acertou a mão após o retrocesso com os pneus, mas quem não sentiu uma ponta de saudade da loucura das primeiras provas lá pelo GP da Índia?

Crescimento da Mercedes

Há duas formas de olhar para os últimos campeonatos: como dominados pela Red Bull ou com disputas por vitórias por cinco equipes – além dos tetracampeões, Ferrari, McLaren, Lotus e Mercedes – algo distante da polarização de temporadas pré-2009. Dentro desse contexto, o crescimento constante da ex-Brawn se consolidou nesta temporada, resultado de uma reestruturação séria e pensada justamente para gerar frutos mais “graúdos” a partir da mudança de regulamento de 2014. Profissionais competentes, estrutura competitiva, pilotos complementares. É bom ver um time aparecer com alicerces fortes para disputar de igual para igual com os suspeitos de sempre.

A redenção de Grosjean

Ele cresceu justamente quando um certo Vettel desequilibrou as ações e acabou faltando a vitória, mas foi uma virada boa de ver essa de Romain Grosjean, representada pelo grande final de semana no GP do Japão, justamente um de seus pontos mais baixos em 2012. O francês, que nunca tinha sido companheiro de um não-campeão do mundo até as últimas duas provas deste ano, demorou para ter uma sequência boa de provas, ora por más classificações, ora por erros de julgamento em largadas e problemas em encontrar a melhor configuração de seu carro. Mas Grosjean foi trabalhando cada uma dessas áreas e se mostrou um piloto consistente, quem diria, em 2013.

Maiores vencedores da história Ferrari penaram após saída da equipe

As 11 vitórias em oito temporadas pela Ferrari colocam Felipe Massa dividindo o quarto lugar com Fernando Alonso na lista dos pilotos mais vencedores da história da Scuderia. Porém, como outros que brilharam como macacão vermelho, o brasileiro terá de seguir em frente a partir da próxima temporada, com a Williams.

Mas será que há vida após Ferrari? O retrospecto dos outros cinco pilotos que mais venceram pelo time italiano mostra um caminho um tanto tortuoso: apenas Niki Lauda conseguiu ser campeão após despedir-se de Maranello, escrita que Kimi Raikkonen e o próprio Massa tentam igualar.

Michael Schumacher: 5 títulos, 180 GPs, 72 vitórias pela Ferrari

Schumacher foi um caso raro que chegou e saiu da Ferrari por cima. Chegou como salvador da pátria ao apostar, já bicampeão, em um time que não vencia fazia 16 temporadas. Saiu dez anos depois, sem o que seria seu sexto título pela Ferrari, em 2006, mas como ídolo, com direito a aposentadoria anunciada em pleno GP da Itália. O alemão seguiu ligado à equipe após o fim da carreira, atuando como consultor e atuando diretamente no desenvolvimento do carro. Schumi chegou a ser cotado para substituir Felipe Massa após o acidente do brasileiro em 2009, mas só retornou a correr em 2010, com a Mercedes. Foram três temporadas com apenas um pódio após a aposentadoria definitiva, no final de 2012.

Niki Lauda: 2 títulos, 57 GPs, 15 vitórias pela Ferrari

Uma das grandes estrelas da história da Ferrari sentiu de perto a proximidade do amor e do ódio na Scuderia, indo de ídolo após a conquista do título de 1975 e o retorno impressionante após o acidente em Nurburgring a persona non grata em Maranello ao final da temporada de 1977. A desistência no GP do Japão de 1976 e a consequente perda do título para James Hunt começaram a azedar a relação com Enzo Ferrari, que piorou mesmo com o bicampeonato. Lauda acabou deixando o time a duas etapas do fim do ano. Foi para a Brabham como estrela e por um salário alto na época, de 1 milhão de dólares, mas amargou dois anos difíceis com um carro que andava bem, mas quebrava demais. Após 11 abandonos em 13 provas em 1979, decidiu se aposentar antes mesmo do fim da temporada. Voltaria três anos depois e chegaria ao terceiro título, com a McLaren.

Alberto Ascari: 2 títulos, 27GPs, 13 vitórias pela Ferrari

Ascari viveu uma lua de mel com a Ferrari entre 1950 e 1953, com dois títulos e um vice, até que a falta de acordo salarial o tirou da Scuderia. O italiano assinou com a Lancia para 1954, mas o carro não ficou pronto a tempo e seu chefe permitiu que corresse eventualmente com a Maserati e a própria Ferrari, no GP da Itália, em Monza, circuito em que morreria no ano seguinte em um teste – a bordo de um esportivo da marca italiana, a Ferrari 750 Monza. O acidente ocorreu na antiga Curva del Vialone, rebatizada como Variante Ascari.

Rubens Barrichello: 102 GPs, 9 vitórias pela Ferrari

Barrichello fez parte da época mais vitoriosa da Ferrari, no início dos anos 2000, e ficou seis temporadas no time. Descontente com o tratamento de segundo piloto, à sombra de Michael Schumacher, anunciou que trocaria o time italiano pela Honda em agosto de 2005. Depois de uma primeira temporada promissora na estreia da montadora japonesa como dona de um time na Fórmula 1, Barrichello sofreu com um carro ruim no ano seguinte e ficou zerado nos pontos. A Honda acabou retirando seu apoio ao time ao final de 2008, mas Barrichello ainda teria a chance de vencer novamente na F-1 com o espólio do time, renomeado Brawn. O brasileiro ainda teve uma passagem de dois anos na Williams antes de se ver sem assento para 2012 e encerrar a carreira aos 39 anos.

Kimi Raikkonen: um título, 52 GPs, nove vitórias pela Ferrari

Raikkonen foi contratado pela Ferrari em 2007 como substituto de Michael Schumacher, tendo sido um dos principais rivais do alemão quando estava na McLaren. Foi campeão em seu primeiro ano na Scuderia, mas foi superado pelo companheiro Felipe Massa nas duas temporadas seguintes e seu comprometimento com a Fórmula 1 passou a ser questionado. Com a relação desgastada em Maranello, foi demitido para dar lugar a Fernando Alonso, ao final de 2009, mesmo tendo contrato para o ano seguinte. Kimi chegou a ser ligado a McLaren, Mercedes e Toyota, mas decidiu disputar o Mundial de Rali. Dois anos depois, voltou de maneira surpreendente com a Lotus, venceu corridas e se prepara para retornar à Ferrari em 2014.

Alonso não é um novo Schumacher na Ferrari

“Alonso realmente quer repetir o mesmo que Schumacher fez pela Ferrari, mas o alemão sabia que precisava muito mais do que apenas seu talento para isso. Levou junto Rory Byrne e Ross Brawn. Acho que Alonso não teve essa visão (ou não quis ter).”

O comentário do Billy no blog me levou a uma viagem no tempo. Afinal, é justo comparar a relação de qualquer piloto com sua equipe com o que Michael Schumacher viveu na Ferrari?

Voltemos a 1995. O alemão foi bicampeão do mundo com mais folga do que sua Benetton permitia, concorrendo com um apenas mediano Damon Hill. Do outro lado, a Ferrari, terceira no campeonato com menos da metade dos pontos dos campeões, amargava sua 16ª temporada seguida sem títulos de pilotos. Não precisa ser gênio para perceber a situação frágil em que a tradicional equipe italiana se encontrava frente à grande estrela da época.

Schumacher, então, chegou com carta branca na Scuderia e, levando os profissionais gabaritados pelos títulos nos dois anos anteriores, construiu uma estrutura vencedora ao seu redor, com a qual lucraram ele e a equipe, com cinco títulos seguidos entre 2000 e 2004.

Não foi naquela Ferrari “capenga” dos anos 1990 que Fernando Alonso desembarcou em 2010. O espanhol passara dois anos de “limbo” na Renault e estava com as portas fechadas na McLaren. Seu valor de barganha, portanto, era muito menor que o de Schumacher, ainda mais indo para uma equipe que havia sido campeã de construtores em 2008.

Detalhes tiraram dois títulos nos últimos quatro anos daquele que foi o rival mais consistente de Sebastian Vettel e o cenário dá indícios de começar a mudar. Ainda que o Carnaval midiático de Luca di Montezemolo leve a crer que Alonso vem perdendo terreno político na Ferrari, profissionais que trabalharam com o espanhol em seu bicampeonato na Renault chegaram e tomaram o lugar justamente dos principais alvos das críticas do piloto, que não costuma polemizar sem um alvo concreto. As contratações de Dirk de Beer e James Allison (que seriam um velho pedido do espanhol) são um duro golpe para Nikolas Tombazis e Simone Resta, que perdem influência – e vale lembrar o chefe de aerodinâmica do carro de 2013, Nicolas Hennel, já saiu de Maranello.

A Ferrari nunca estará organizada para servir Alonso da mesma forma que aconteceu com Schumacher – na verdade, aquela é uma história com ingredientes únicos. Mas a observação com mais cuidado (e, ao escrever isso, lembro-me da mensagem de rádio do espanhol pedindo desculpa por ter errado em sua volta rápida em Interlagos e recebendo a resposta “você não tem de se desculpar de nada” de seu engenheiro) do desenrolar dessa história Alonso/Ferrari nos faz pensar duas vezes antes de cravar que o piloto anda desprestigiado em Maranello ou “não tem visão” do que é necessário para montar um time campeão.

Afinal, o que há de errado com Hulkenberg?

Há duas boas formas de saber se um piloto do meio do pelotão merece uma chance em equipe grande: se ele consegue aproveitar as raras oportunidades que surgem para classificar seu carro em posições em que não merece estar e se ele faz um trabalho competente mesmo fora de posição durante a corrida. Além disso, sobreviver sem toques na carnificina da briga para entrar nas últimas posições dos pontos é outro quesito importante.

Pois, bem: GPs da Itália e da Coreia em 2013; da Europa, Bélgica e Brasil em 2012; novamente Brasil e Itália, além de Hungria em 2010. Parece que, na pista, Nico Hulkenberg já fez o suficiente para convencer que merece mais que sonhar com pódios.

O alemão de carreira tão vitoriosa nas categorias de base quanto Hamilton e Rosberg sofreu em seu início na Williams, em 2010, como tem sido praxe para todo estreante desde a limitação de testes de 2009. Foram toques evitáveis e uma defasagem de 0s5 em classificação e 1s/volta em corrida em relação a seu então companheiro Rubens Barrichello, mas a diferença praticamente acabou na segunda metade daquele ano, quando marcou 20 pontos contra 18 do brasileiro nas últimas oito etapas e equilibrou o duelo interno, como mostram os números:

Hulkenberg Barrichello
Diferença média em classificação +0.140
Duelo em classificações 6 13
Posição média em classificação 11,2 9,4
Posição média de chegada 11,9 9.8

Preterido no time de Grove em favor de Pastor Maldonado e seus milhões em anúncio feito em 1º de dezembro, Hulkenberg se viu vulnerável no mercado e acabou amargando um ano como piloto de testes da Force India.

Promovido na temporada seguinte, bateu o companheiro Paul Di Resta, com nível de experiência semelhante ao seu. Marcado pela consistência, pontuou em 11 das 20 etapas e ganhou valor de mercado, podendo acertar sua ida para a Sauber, que parecia a melhor das equipes médias na época, ainda em outubro.

Hulkenberg Di Resta
Diferença média em classificação -0.274
Duelo em classificações 11 8
Posição média em classificação 11,4 11,4
Posição média de chegada 9,7 10,4

Mas a Sauber parecia uma boa até que 2013 começou e o carro se mostrou lento. Praticamente sem competição interna contra o estreante Esteban Gutierrez – dominado com facilidade como manda o figurino para quem almeja passos maiores – Hulkenberg pontuou em quatro oportunidades antes da melhora do carro, na Hungria. De lá para cá, ainda teve tempo de mostrar sua perícia na briga por posições ao segurar ninguém menos que Alonso e Hamilton na Coreia, além do final de semana brilhante na Itália.

Hulkenberg Gutierrez
Diferença média em classificação -0.816*
Duelo em classificações 18 1
Posição média em classificação 9,8 15,6
Posição média de chegada 9,2 11,7

*maior diferença do grid por quase 0s3

Porém, novamente, não foi suficiente. Sem lugar na “falida” Lotus e preterido em Ferrari (que apostou em uma figurinha já conhecida), Red Bull e McLaren (que priorizaram suas crias), Hulkenberg voltou à Force India. Mas por que nunca um time grande? Lembremos que o único movimento em Red Bull, Ferrari, McLaren e Mercedes entre 2010 e 2013 foi a saída de Hamilton e a contratação de Perez, supervalorizado por uma Sauber que cuidava bem dos pneus.

O alemão ainda traz dois outros problemas “crônicos” para sua carreira: falta de apelo comercial em terra de Vettel e Rosberg e a altura, que o torna um piloto pesado para os padrões atuais da F-1, em que o peso mínimo leva em consideração carro + piloto. Acredita-se que Hulk pese cerca de 74kg para seus 1,84m, até 10kg mais que “baixinhos” como Vettel e Alonso. O próprio Martin Whitmarsh reconheceu que essa questão fez com que o piloto não estivesse nos planos da equipe. (E, para quem lembrou que Jenson Button também é dos mais altos, o inglês disse recentemente estar na casa dos 69kg e totalmente no limite para seus 1,82m – e para o carro da McLaren)

Há quem diga ainda que as estratégias de seu empresário não são das mais amigáveis, mas isso é papo de bastidor, difícil de ser comprovado. O fato é que a permanência de Hulkenberg no meio do pelotão mesmo com a efervescência do mercado neste ano pode significar que ele não deixará o papel de eterna promessa tão cedo. Afinal, as peças recentemente alteradas no topo podem demorar a cair.

Massa lidera ranking, mas número de ultrapassagens cai

//e.infogr.am/media-de-manobras-por-grande-premio

Depois do sucesso da receita de pneus de baixa duração e DRS para auxiliar as ultrapassagens em um campeonato cheio de alternativas em 2012, a Fórmula 1 resolveu colocar ainda mais pimenta, com a Pirelli arriscando mais em seus compostos e a FIA determinando DRS duplas para 17 das 19 etapas – em 2012, isso foi feito apenas em três provas.

A resposta dos números é intrigante: o número de manobras caiu. Dez provas foram vencidas com mais pit stops do que ano passado (curiosamente, quatro delas depois que a construção dos pneus voltou aos moldes de 2012), mas apenas em metade destas 10 houve aumento no número de ultrapassagens.

Por outro lado, nas nove provas restantes em que o número de pit stops do vencedor ficou igual ou foi menor que em 2012, apenas em três delas houve mais ultrapassagens do que ano passado. E isto ocorreu mesmo com as duas zonas de DRS em oito destes GPs.

//e.infogr.am/ultrapassagens-por-circuito-2013-x-2012

Ou seja, como já havia ficado claro desde 2011, quando estas duas variáveis para fomentar as ultrapassagens foram adotadas, pneus com mais desgaste são mais eficientes do que a DRS. Porém, como vimos em 2013, especialmente no início da temporada, caso os pneus se desgastem em demasia, a tendência é que os pilotos busquem menos as manobras, temendo acabar com sua borracha.

É um equilíbrio difícil de atingir. Como vemos nos números, não há um padrão de número de ultrapassagens devido às diferenças dos circuitos. Além disso, a evolução dos carros durante o ano vai alterando sua relação com os pneus.

Ultrapassagens e os pilotos

Felipe Massa foi o piloto que mais ultrapassou, com 76 manobras, seguido de Mark Webber (69), Fernando Alonso (68), Kimi Raikkonen (66) e Lewis Hamilton (63). Destes, destacaria o número do último, pois trata-se de um piloto que só largou atrás da segunda fila cinco vezes no ano, enquanto os demais ou se classificaram por muitas vezes “fora de posição” ou se chamam Webber e não largam bem.
//e.infogr.am/ranking-das-ultrapassagens

Outro piloto a ser destacado é Alonso, que pode ter feito uma temporada abaixo do esperado para Ecclestone, mas foi quem mais ultrapassou pelas primeiras posições: cinco vezes pela liderança, nove pelo segundo posto e seis pelo terceiro. O único que chegou perto destas marcas foi Vettel, que passou quatro vezes por cada um dos três primeiros postos. O campeão, aliás, não precisou se preocupar muito em ganhar posições na pista e fez “apenas” 37 ultrapassagens na temporada, menos da metade de Massa, que se manteve mais entre a oitava e quinta posições.

Se estudarmos apenas os dados dos companheiros, os que mais se encontraram na pista foram os da Mercedes: foram nove manobras envolvendo Rosberg e Hamilton, sendo seis delas com vantagem para o inglês. Lá atrás, Pic e Van der Garde se encontraram sete vezes, com o placar de 6 a 1 para o francês. Já Raikkonen, Maldonado e Ricciardo passaram cinco vezes por Grosjean, Bottas e Vergne, respectivamente.

Aliás, sabe-se lá que valor isso terá a partir da próxima temporada, mas os novos companheiros de Williams ficaram nas duas pontas das listas de ultrapassagens em 2013: se Massa foi quem mais ganhou posições, Bottas foi quem mais perdeu, com 92. Só não tem saldo pior que nosso “devagar e sempre” Max Chilton, que levou 70 e só fez sete ultrapassagens.

O segredo da Red Bull (quase) desvendado

Momento espionagem no grid do GP Brasil

O domínio não apenas de um carro, mas de um piloto no final da temporada 2013 foi uma das histórias mais impressionantes que a Fórmula 1 viveu. Impressionantemente chato para muitos, é verdade, mas mesmo quem torceu ansiosamente para o campeonato acabar tem de reconhecer o valor do que a Red Bull conseguiu, chegando a colocar mais de 30s de diferença em relação ao segundo colocado.

Era algo que não acontecia desde 2005 e ocorreu nas últimas provas de um ciclo de regras, ou seja, quando em teoria a margem de manobra para novidades era menor. Portanto, seja lá o que a Red Bull tenha encontrado, não é algo fácil de identificar.

Além dos pneus mais estáveis, o time adotou um complexo sistema de amortecimento, que ainda não foi totalmente desvendado, mas seria algo entre o amortecedor de massa da Renault de 2006 e a suspensão ativa da Williams de 1992 (porém, mecânico) e serve para minimizar as instabilidades no contorno de curvas.

O sistema visa ao mesmo tempo manter o carro equilibrado nas entradas de curva, permitindo ganho de tempo em seu contorno – algo que casa muito bem com o estilo agressivo de entrada de curva de Vettel – e permite que ele sempre esteja com a dianteira próxima do chão, o que ajuda na aerodinâmica nas retas.

Um dos conceitos básicos da família vencedora que começou com o RB5 de 2009 é o grande rake (diferença de altura entre a dianteira, mais baixa, e a traseira). Como o projeto consegue “selar” aerodinamicamente o difusor “levantado” com um uso inteligente do escapamento, o foco passou a ser aproximar a frente o máximo possível do solo. Mas um desafio para conseguir isso é que, se o carro estiver muito baixo visando as retas, ele muito provavelmente tocará o asfalto nas curvas de baixa. E os carros têm uma prancha de madeira para limitar a altura (se ela estiver desgastada acima do limite após a corrida, o carro está fora de regulamento).

Então qual a solução? Há algumas teorias por aí, relacionadas a uma peça que atuaria de forma inteligente para corrigir a altura do carro e trabalhar em sinergia com a frequência da movimentação lateral dos pneus. Gary Anderson, ex-projetista, chegou a falar em materiais que cediam quando expostos ao calor, mas a FIA aqueceu a 300ºC a peça que seria chave para este mecanismo e nada aconteceu.

A tal peça é denominada Stay e liga o início do assoalho ao bico e sequer está presente em todos os carros do grid. Mas o que certamente não acontece em nenhum outro modelo é a flexibilidade vista nos Red Bull. Curiosamente, na última prova que Vettel não venceu, o tal Stay estava quebrado, como vemos na imagem ao lado. Essa flexibilidade parece atuar de maneira contrária à frequência do movimento natural do pneu quando ele sobe em zebras, diminuindo o desgaste e tornando a aerodinâmica da parte dianteira do carro mais consistente. Exatamente como o amortecedor de massa, mas feito de outra maneira – aliás, como o blog SomersF1 chamou a atenção, o mesmo engenheiro que seria o “pai” da solução encontrada pela Renault em 2005/2006, Rob Marshall, é hoje desenhista chefe da Red Bull.

As regras dizem que o stay só precisa passar pelo teste de carga de 200kg, então o sistema é legal e pode continuar sendo usado, pelo menos conceitualmente, ano que vem. Talvez esteja aí a preocupação que Ross Brawn demonstrou recentemente. “Parte do desempenho que observei que eles ganharam na segunda metade do ano parece que será transferida para o próximo ano. Você não desaprende coisas.”

Atendendo a pedidos

Fizemos hoje, antes da gravação do último Credencial do ano, uma reunião para passar a limpo o material que traremos para vocês neste final de ano – e posso garantir que vem muita coisa boa por aí, com várias entrevistas exclusivas e até um toque de nostalgia para celebrar o final da terceira temporada do site.

Mas aqui no blog, vocês é que mandam. E sei que tem gente providenciando o arquivo “ju.doc” faz tempo! Mandem suas sugestões, as atenderei na medida do possível.

Money talks

A pouco mais de 100 dias do início daquele que promete ser um dos campeonatos mais revolucionários em termos de regulamento, a Fórmula 1 vive uma situação que beira o ridículo: apenas 15 pilotos estão assegurados para as 22 vagas no grid – e a confirmação de Maldonado na Lotus dá a medida do quanto o dinheiro influi nessa demora.

O novo time do venezuelano está quebrada e seu futuro parece estar nas mãos de um empresário envolvido em fraudes bancárias. A Sauber buscou dinheiro na Rússia, mas tudo indica que as quantias nunca chegaram. A Force India convive com as incertezas em meio a débitos na casa dos bilhões de outras empresas de seu dono, Vijay Mallya. E não estamos falando de times de fim de pelotão mas, sim, de equipes que estiveram lutando por vitórias – no caso de Lotus e Sauber – e pódios – como a Force India – nas últimas temporadas.

O momento econômico especialmente na Europa realmente não é propício para investimentos tão pesados como os da Fórmula 1, mas a categoria em si está longe de passar por dificuldades financeiras. O lucro operacional da CVC, que controla o esporte, foi de nada menos que 1 bilhão de dólares ano passado e deve ficar na mesma margem nesta temporada. Logo, se vê que o principal problema não é falta de dinheiro, mas má administração.

A entrada da CVC na Fórmula 1 foi uma manobra do octogenário  Bernie Ecclestone para continuar com o controle da categoria. É ele quem negocia habilmente os acordos que distribuem apenas 63% dos lucros às equipes, por meio de um sistema que leva em consideração a posição no mundial de construtores e uma subjetiva cláusula de “valor histórico”, que na verdade só serve para proteger os grandes. Na prática, estima-se que 60% do dinheiro destinado às equipes fique com o “G-4”, em uma divisão semelhante ao que ocorre com os direitos de televisão no futebol brasileiro.

O resultado direto disso é a dificuldade de pilotos talentosos e sem patrocínio terem oportunidades. Até agora, apenas dois estreantes estão confirmados, apadrinhados por programas de desenvolvimento de Red Bull e McLaren. Fora desta esfera, e o brasileiro Felipe Nasr convive com isso, o cenário é nebuloso e contado mais em cifras do que em resultados.

Enquanto isso, a Federação Internacional aparece com ideias como números fixos para os carros e prêmio para quem fizer mais pole positions. E para quando ficarão cortes orçamentários, uma divisão mais sustentável dos lucros e um sistema mais democrático para tomada de decisões?

Coluna publicada no jornal Correio Popular

GP do Brasil por britânicos, brasileiros e espanhóis: “Poucos se despediram assim”

Sem a água que caíra insistentemente desde sexta-feira, mas com a expectativa de uma prova disputada ‘no escuro’ em termos de preparação para pista seca, o GP do Brasil começou com uma largada hesitante de Vettel, que foi superado por Rosberg, ao mesmo tempo em que Alonso ficou encaixotado pela Red Bull e perdeu posição para Hamilton, para decepção do narrador espanhol Antonio Lobato, que deu a entender que o plano do piloto da Ferrari era aproveitar suas boas largadas para ficar na frente de Vettel. “Ele foi duro na defesa de posição. Hamilton largou muito bem e roubou a posição de Alonso – e Webber largou mal, claro. Mas Fernando ainda tem alguns ases guardados.”

Na Globo, o destaque é para Massa, que “vem ganhando posições. Ganhou três logo na largada”, como destaca Galvão Bueno, enquanto David Coulthard, na BBC, vê Vettel “se preocupando demais com Alonso e deixando a porta aberta para Rosberg.”

A primeira volta é animada, com o alemão indo para cima de Rosberg e o espanhol, de Hamilton. “Fernando está raivoso”, diz o comentarista Pedro de la Rosa. Mas Lobato foca na luta pela ponta. “Rosberg tem de defender de qualquer jeito, por Deus! Senão acaba a corrida.” Mas Vettel “vai para cima mesmo antes do DRS poder ser usado”, como salienta o narrador britânico Ben Edwards e “Vettel se vai, que favor Rosberg fez para a corrida…”, lamenta Lobato.

O início alucinante faz o narrador perder o fôlego – “se forem 71 voltas assim eu não termino essa corrida” – e Reginaldo Leme se impressionar – “tivemos seis manobras em uma volta e meia de corrida que acho que não aconteceram no ano todo.”

Alonso vai abrindo caminho e, com menos de 10 voltas, já é o segundo. “Incrível! Agora veremos se ele consegue descontar tempo para Vettel. Já devem estar falando para ele que Alonso está chegando”, aposta Lobato. O espanhol também está bem para Tom Clarkson, repórter da BBC. “Se continuar no seco, Alonso tem uma grande chance nessa corrida, porque há dois pontos de ultrapassagem e ele era o carro mais rápido em reta na classificação.”

Por outro lado, Luciano Burti chama a atenção na Globo para o começo ruim de Nico Rosberg. “Ele era muito rápido na chuva, então a Mercedes deve ter adotado um acerto com muita carga aerodinâmica e são muito lentas de reta”, vê o brasileiro, enquanto Coulthard pede que a Mercedes “libere Hamilton, que está sendo seguro pelo companheiro.”

Mas a empolgação dos espanhóis com seu piloto vai diminuindo à medida que fica claro que Alonso não tem como chegar em Vettel e passa a ser pressionado por Webber. Resta apelar aos céus. “Se chegasse uma chuva no final, seria bom. Vettel está indo embora como sempre, mas Fernando tem um ritmo muito melhor que os demais”, aponta De la Rosa, mas Galvão já vê “Webber armando a dobradinha.”

De fato, o australiano passa com certa facilidade – e se torna a esperança para a corrida, “vamos ver qual o ritmo de Mark, mas é o mesmo problema de sempre: ele já tem 10 segundos de vantagem”, diz De la Rosa – , enquanto as Ferrari passam a ocupar a terceira e quarta colocações. “Alonso disse que vai ajudar, mas eu duvido”, diz Galvão, referindo-se à chance do espanhol ceder o pódio a Massa, que adota estratégia diferente do companheiro na primeira parada. “Felipe colocou médio para andar forte o tempo inteiro e Alonso fez diferente”, explica o narrador brasileiro. Mas De la Rosa não entende muito bem. “Interessante a opção de Massa com pneus médios porque eles sofreram muito graining e têm de durar muito. A menos que chova.” O único problema que Burti vê “é porque o Lewis está com pneu mais duro, então vai durar mais e ele será pressionado no final do stint.”

Após uma parada ruim para Webber – sempre para ele, como destacam os espanhóis – De la Rosa brinca: “Agora Vettel para e poderia colocar intermediários se quisesse.” A chuva, esperada por toda a prova, teimava em não cair. “É uma pergunta de um milhão de dólares”, diz o chefe da Red Bull, Christian Horner, entrevistado ao vivo na BBC. “A Ferrari está mais feliz com os pneus duros e Mark fez um grande trabalho em passar o Fernando rapidamente”, destaca o dirigente, após ver seu piloto perder a posição para o espanhol na parada. Com Alonso custando a se dar por vencido, Lobato vai à loucura. “Por fora não!”, berra. “Acho que ele tem que continuar perto para tentar DRS, só para ganhar tempo. A única chance que ele tem com Webber é se os pneus acabarem.”

O engenheiro de pista de Massa, Rob Smedley, aparece no rádio pedindo ao piloto que não atravesse mais a linha branca que delimita a entrada dos pits e Galvão torce para que seja apenas “um cartão amarelo”. Mas logo vem a confirmação da punição. “É difícil quando você está correndo em casa, e está indo muito bem, mas é uma penalização preto no branco, não tem o que interpretar. Nós fomos alertados antes da corrida que não poderíamos colocar os quatro pneus fora da linha branca ali, porque isso te dá uma vantagem e você está saindo da pista”, aponta De la Rosa. “É curioso que estão falando para Webber parar de entrar na linha branca. Isso quer dizer que Massa fez várias vezes. É possível que eles não estejam vendo, é muito rápido, mas a equipe tem que avisar.”

Coulthard lembra que “nunca foi um problema cortar a linha de entrada nos boxes, é algo que os pilotos sempre fizeram, mas parece que Massa está ficando com as quatro rodas lá por mais tempo do que eles querem. Regras são regras, mas obviamente isso é um saco.” O narrador Edwards lamenta. “Que pena, isso estava nos animando. Massa está pilotando bem e Hamilton estava vindo para cima.”

Na Globo, a discussão é longa. Burti parece informado da determinação dada aos pilotos neste ano, enquanto Barrichello demora para se convencer de que a punição não foi por uma irregularidade no momento da primeira parada de Massa. Com o replay, explicam exatamente a mudança em relação aos últimos anos. “Fizeram uma alteração para mostrar que não pode passar com as quatro rodas. Vou dizer uma coisa: olhei para o Rubinho e ele torceu o nariz”, diz Galvão. “Só se eles mudaram alguma coisa neste ano”, o ex-piloto não se convence.

De qualquer forma, Galvão começa a dança da chuva para ajudar Massa. E não está sozinho. “Precisamos de mais água. Essas quatro gotas não servem para nada”, reclama De la Rosa. “A não ser que o cinegrafista tenha escorregado, está chovendo”, conclui Coulthard após ver pingos na câmera, enquanto Barrichello aparece com os conselhos da avó. “Se vem ali do ‘S’ do Senna, vai chover. A gente sempre pode contar com uma nuvenzinha em Interlagos.”

O banho-maria segue até que a Williams de Bottas aparece sem pneu saindo pela área de escape. Os espanhóis não veem, estavam nos comerciais. Inicialmente, Burti acha que a roda escapou e depois corrige. “É estranho porque a roda está ali. Tem alguma coisa estranha na pista porque é muita gente parando ao mesmo tempo”, vê Barrichello, ao mesmo tempo em que Coulthard vê a possibilidade de “detritos” na pista pois, logo em seguida, o pneu de Hamilton aparece rasgado e muitos correm para os boxes. Inclusive com direito a trapalhada da Red Bull, que não tinha todos os pneus prontos para Vettel. “Pela primeira vez, parece que a sorte do Vettel o abandonou”, diz Edwards. “Deu um momento Ferrari neles”, explica Galvão.

O replay mostra o toque entre Hamilton e Bottas, levando Coulthard e Barrichello a compreenderem que a correria nos boxes foi causada pelo temor de um Safety Car. O escocês só não concorda com a punição ao piloto da Mercedes. ”Você não pode jogar o carro para fora, mas acho que havia espaço para Bottas na direita. No fim dos dias, se houver espaço, não há motivo para punição.” E ganha apoio do comentarista técnico Gary Anderson e de De la Rosa. “Para mim ele não merecia a punição. Bottas vinha a um metro e meio da linha branca e ele poderia tê-la utilizado para evitar a colisão”, opina o piloto de testes da Ferrari. “Mas, de qualquer jeito, como está o Mundial de Construtores?” Já Galvão nem questiona seu trio de comentaristas. “Hamilton enlouqueceu naquele momento, não havia outra opção.”

A chuva não chega nem nas últimas voltas e Vettel vence sua nona corrida seguida. “Que grande, mas como ele tornou essa coisa chata”, diz De la Rosa. “A Red Bull realmente é o melhor carro disparado, mas o Vettel também tem sua qualidade e não deu brecha para o Webber se aproximar após o problema do pit stop”, opina Burti. A fase do alemão é tão boa que até nos zerinhos consegue ir melhor que Massa, como destaca Lobato. “Mas é porque tem mais experiência.”

Mas não era o dia de falar de Vettel e, sim, do mais novo aposentado da Fórmula 1 – principalmente depois que ele tirou seu capacete após a bandeirada. “Ele disse que deixou o nome marcado e deixou sim. Escolheu andar seus últimos metros num Fórmula 1 com a cara para o vento”, destaca Galvão. “Não tente isso em casa, crianças. Nunca tinha visto isso”, diz Coulthard, que acredita que seu ex-companheiro “forçou Vettel a ser tão bom quanto é.”

O fato é que Webber terminou sua carreira na Fórmula 1 com um pódio, algo que nenhum dos ex-pilotos comentaristas que estavam no ar conseguiu. “Que bonito poder se despedir e, ainda mais, no pódio. Poucos puderam fazer isso”, lembrou De la Rosa. A comemoração só não foi perfeita por um escorregão na hora do champanhe, explicado por Barrichello. “Tentou dar uma sambadinha e caiu.”

Terminando a quarta temporada do post das transmissões (os demais podem ser acessados na categoria ‘transmissões’, à direita), queria saber de vocês como querem que a dinâmica seja ano que vem. Italianos entram? E a transmissão da NBC, dos EUA? Preferem Sky Sports ou BBC na Inglaterra? Ou seria melhor fazer um rodízio? Quem não pode sair? Opinem!

Estratégia do GP do Brasil e uma solução para os pneus

Queima!

Nem um voltinha sequer com pneus slick e uma chance permanente de chuva. O GP do Brasil deve ter sido dos mais tensos para os estrategistas. As simulações davam conta de que a tática de duas paradas era cinco segundos mais rápida que a de três, mas a durabilidade dos pneus em uma pista lavada por dois dias de chuva contínua era uma incógnita e certamente geraria graining. Outros problemas eram decidir entre os compostos duro ou médio na primeira parada e quais as pressões que deveriam ser utilizadas, uma vez que elas interferem no aquecimento dos pneus.

As respostas foram obtidas ao longo da prova. Jenson Button abriu caminho no pelotão largando com o pneu duro, que apresentou rendimento melhor do que o esperado, mostrando que a diferença de rendimento entre os compostos era menor do que se esperava.

Ao mesmo tempo em que o inglês subia, Nico Rosberg ia ladeira abaixo com sua Mercedes, que adotara uma configuração com mais downforce esperando chuva. Provavelmente, outro problema para o alemão foi nas pressões dos pneus no primeiro stint, em que caiu de 1º a 6º, posição em que terminou a prova.

O desempenho de Button talvez tenha levado a Ferrari a arriscar e colocar Alonso com pneu duro no segundo stint e dar a ele a possibilidade de atacar Webber no final, quando estaria com o composto teoricamente mais rápido. Foi uma boa tentativa, porém, mesmo tendo saído do segundo pit próximo da Red Bull, a Ferrari não tinha ritmo para pressionar.

Mas o espanhol só teve qualquer chance de melhorar seu terceiro lugar por um erro incomum da Red Bull, que não tinha todos os pneus de Vettel prontos quando o alemão chegou para seu segundo pit stop. Com o acidente entre Bottas e Hamilton – cuja punição foi mais uma decisão confusa dos comissários, uma vez que o inglês deixou mais de um carro de distância entre sua Mercedes e a linha branca, como manda a regra – Red Bull e Ferrari temeram um Safety Car e correram para chamar seus pilotos. Webber já entraria de qualquer jeito, como explicou após a prova, mas Vettel só foi avisado de que pararia, em suas palavras, “na saída da 12”, ou seja, na Junção, a poucos menos da entrada dos boxes. Quando chegou, seu pneu dianteiro direito não estava lá, cópia do que aconteceu em 2012.

Assim como naquele ano, em que venceu o campeonato mesmo com a falha, o alemão deu sorte de ter seu companheiro em segundo na pista – e também tendo de parar. Como Webber teve de esperar atrás da outra Red Bull, Vettel não perdeu a primeira posição e ainda saiu com uma vantagem de certa forma confortável para lidar com os pingos das últimas voltas.

Uma corrida digna para uma temporada que começou com provas agitadas até demais, chegando às quatro paradas na Espanha e vinha com algumas corridas previsíveis estrategicamente.

Aliás, aproveito o post para perguntar a vocês: o que deve ser feito para resolver a questão dos pneus, que ora geram incógnitas nas corrias mas são frágeis demais a ponto de serem perigosos, ora têm pouco efeito nas corridas, que se tornam mais engessadas?

Caiu a ficha

Tem quem prefira apenas escrever e deixar a discussão rolar solta, mas sou do time que vê os blogs de uma maneira diferente. Os posts são apenas o alicerce de opiniões que só ficam completas com os comentários de vocês e nossas trocas de ideias. E, se tenho orgulho do trabalho feito aqui, tem muito a ver com essa excelente turma que comenta.

Muitos nomes eu reconheço desde os tempos de “Faster F1”. Dentro do jornalismo, sempre trabalhei com esportes – e sempre com o desejo de trabalhar com Fórmula 1 – mas decidi publicar meu material sobre o assunto apenas quando me senti capaz de fazer algo diferente. Afinal, assistia as corridas pela TV como todo mundo, mas tinha de mostrar potencial para um dia “mudar de lado”.

O embrião do Faster surgiu com a ideia de fazer um texto casando transmissões de diferentes países, demonstrando como uma mesma corrida pode ser construída de formas distintas. Junte-se a isso análises mais numéricas, uma vez que preferia deixar a interpretação para quem estava dentro dos paddocks, e o blog nasceu em junho de 2010. A aposta parece que deu certo e, a partir daí, foi tudo muito rápido: depois de cinco meses, meu “olheiro” Ico me chamou para escrever um texto no blog dele; pouco tempo depois, ele e Felipe Motta me apresentaram um projeto novo, que nascia em 2011, o TotalRace. E o Faster ficou “chique”.

Minha primeira cobertura de GP foi em Monza, naquele mesmo ano. De lá para cá, tive a chance de conhecer outros templos do esporte, como Silverstone e Nurburgring, cidades únicas, como Barcelona e Budapeste, e viver de perto uma decisão de campeonato inesquecível, em Interlagos.

Mas nada disso me emocionou tanto quanto esse último domingo.

Como compensação por problemas que tive com minha credencial, o prestativo chefe de comunicação da FIA, Matteo Bonciani, providenciou um upgrade, que me daria acesso ao grid. E eu jamais poderia imaginar o tamanho do presente.

A proximidade dos carros (e fiz algumas fotos que vão pintar em posts dessa pós-temporada), o indescritível clima de expectativa, a emoção da família de Felipe Massa ao ver o piloto entrando pela última vez em sua Ferrari, o papo longo de Alonso com Webber na despedida do australiano, o burburinho de um esporte único, que permite o acesso a suas estrelas instantes antes delas entrarem em ação. Todos os ingredientes que eu esperava estavam lá.

Até que eu resolvi caminhar até o fim do grid e ver a arquibancada. E me lembrei que, em 2010, eu estava justamente ali, espremida na grade, tentando chegar o mais perto possível dos carros. Ao perceber que, em três anos, tinha “mudado de lado”, não sei muito bem se consegui conter as lágrimas.

Nunca tinha parado para pensar em tudo isso. Quando se trabalha tanto, sacrificando horários, finais de semana e o que for em busca de um objetivo, a noção de tempo muda. As coisas parecem caminhar lentamente. Porém, nada como jogar um pouco de perspectiva para perceber como tudo valeu a pena.

Queria dividir isso com vocês porque sabem que este blog é nosso. As vitórias, também.

Monza 2008, Brasil 2013

Três sessões afetadas pela chuva e dificultando a escolha do melhor acerto em um circuito já complicado, pancadas providenciais bem na hora em que aqueles que tinham os melhores equipamentos buscavam suas voltas rápidas e a vida facilitada sem o spray na corrida. Em uma época em que fica difícil não falar de Sebastian Vettel quando o assunto é Fórmula 1 e com esse clima incerto de GP do Brasil, não pude deixar de lembrar do feito mais épico do alemão: sua primeira vitória, em Monza.

Nunca se viu tanta água em Monza quanto naquele final de semana em setembro de 2008, em que os pneus de seco apareceram apenas brevemente na segunda sessão de treinos livres, liderada por Adrian Sutil. Como chuva não combina muito com a região em época de GP – a última vez em que havia chovido fora em 1981, as equipes tinham poucas informações sobre o acerto.

Foi então que o baixo downforce da Toro Rosso de Vettel ajudou, pois eles não precisavam colocar tanta asa para serem rápidos de reta. Acertando o tempo exato de entrar na pista em uma classificação em que protagonistas como Raikkonen e Hamilton ficaram no Q2 justamente por erros estratégicos, estava aberta a oportunidade para o alemão mostrar o que serviço. Dizem que piloto bom é aquele que, mesmo quando se classifica fora de posição, consegue fazer uma boa corrida – e como não lembrar do pobre companheiro de Vettel, Bourdais, quarto na classificação, que ficou parado no grid na volta de apresentação e perdeu a chance da vida. E o agora tetracampeão mostrou ali algumas qualidades que desenvolveu ainda mais ao longo dos anos, como a maximização de oportunidades, adaptação a condições diferentes e fez uma corrida sem erros para vencer mesmo aos 21 anos.

Olhando em retrospecto, não foi nenhuma “vitória em condições normais com a enésima força do grid”, como costumamos a ouvir por aí. Isso não existe em um esporte como a Fórmula 1. Mas foi uma oportunidade que apareceu e foi aproveitada com todo o mérito. Cinco anos depois, parece que ele se especializou em não dar nenhuma chance para um “novo Vettel” repetir sua história.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Brasil

Vettel 17 a 2 Webber
Alonso 11 a 8 Massa
Button 9 a 10 Perez
Kovalainen 0 a 2 Grosjean
Hamilton 11 a 8 Rosberg
Hulkenberg 18 a 1 Gutierrez
Di Resta 12 a 7 Sutil
Maldonado 7 a 12 Bottas
Ricciardo 15 a 4 Vergne
Pic 11 a 8 Van der Garde
Bianchi 17 a 2 Chilton

Diferenças de hoje:

Vettel x Webber: 1s093

Alonso x Massa: 0s570

Perez x Button: 0s039

Grosjean x Kovalainen: 1s295

Hamilton x Rosberg: 0s575

Hulkenberg x Gutierrez: 0s929

Di Resta x Sutil: 0s632

Bottas x Maldonado: 0s704

Ricciardo x Vergne: 0s029

Pic x Van der Garde: 0s477

Bianchi x Chilton: 0s584

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

 

Tarefa inglória

Então é para eu ir "devagar"?

Um dos grandes personagens desta temporada da Fórmula 1 não está em nenhum cockpit. Guillaume ‘Rocky’ Roquelin, engenheiro de pista de Sebastian Vettel, roubou a cena durante o ano com uma missão um tanto inglória: tentar parar o alemão. Frases como “estes pneus não são à prova de balas”; “você só pode perder a corrida para si mesmo” ou até um bem paternal “nem pense nisso”, quando o tetracampeão ameaçava forçar o carro no final para garantir a volta mais rápida “por satisfação”, como costuma dizer, já se tornaram célebres nas corridas.

As broncas chegaram ao cúmulo de, ao invés de parabenizar o piloto pelo título, logo após a bandeirada do GP da Índia, Rocky adotar um tom repreensivo e dizer que eles “conversariam depois” sobre a insistência de Vettel em buscar a volta mais rápida. “Para sua informação, Raikkonen colocou pneus novos na última volta e estraçalhou seu tempo”, disse o engenheiro.

Realmente deve ser frustrante estar na pele do alemão. Sua Red Bull, pelo menos nas últimas oito etapas, sempre pareceu capaz de dar um pouco mais. E, quanto Vettel precisou mostrar isso, como nos momentos em que esteve com uma estratégia diferente em Cingapura e no Japão, a folga foi grande, chegando a três segundos por volta e mais de 30s para o segundo colocado ao final na prova noturna.

Muita gente tem dificuldade em entender por que isso acontece. A vantagem da Red Bull sobre os demais carros é clara, mas como explicar a diferença para o próprio companheiro, com o mesmo carro? Na Fórmula 1 de hoje é muito importante andar longe do tráfego para conservar seus pneus e, largando da pole – e bem – o alemão costuma conseguir isso. Além disso, sua agressividade dosada, podendo ao mesmo tempo entrar forte nas curvas e controlar o pedal da direita e endireitar o quanto antes do carro para uma melhor reaceleração, estilo que casa muito bem com esse carro da Red Bull, cria uma vantagem incrível, especialmente se lembrarmos de todas as restrições usadas atualmente.

Mas por que a equipe quer pará-lo? Para ser tão bom com um regulamento tão manjado, basicamente o mesmo desde 2009, o carro da Red Bull funciona no limite. Câmbio e Kers são algumas das preocupações constantes. Daí a verdadeira neurose em ver Vettel forçando-o sem necessidade, quando as vitórias já estão asseguradas.

Tudo bem que as broncas são até justificadas olhando pelo lado pragmático da equipe mas, infelizmente para os rivais, a verdade é que, se o trabalho de Rocky é parar Vettel, ele não anda fazendo seu serviço direito.