Largando na frente, a Mercedes é a favorita para todos mesmo antes do GP de Mônaco começar. “Os carros estão no chão, os pneus não escorregam, então acho que a Mercedes é mais favorita do que nunca”, define Galvão Bueno. Mas fica a questão da estratégia. “Acho que Nico Rosberg tem uma grande chance de vencer esta corrida, dependo de como for a batalha interna. Também acho que a Lotus pode obrigar a Mercedes a mudar sua tática de pneus ideal. Depende da diferença que eles conseguirem colocar para o meio do pelotão. Será que colocam 21s para não pegar tráfego?”, questiona Martin Brundle, demonstrando imaginar em uma tática de duas paradas para Nico e Lewis.
De fato, o caminho mais rápido é parar duas vezes, “mas tem problema de tráfego”, salienta Rubens Barrichello. “Quem fizer uma parada tem a corrida na mão”, diz Galvão. Na TV espanhola, Pedro de la Rosa segue na mesma linha. “Se vê que não dá para ultrapassar, é melhor economizar pneus para buscar fazer uma parada. Estando à frente, com ar limpo, o que você vai tentar é alargar ao máximo a primeira parada. Mas não acho possível fazer só uma.”
Na largada, Antonio Lobato, na Antena 3, chega a ver Hamilton passandoRosberg, e se desanima quando vê que nada mudou.Vettel vai para cima das Mercedes porque “sabe que precisa ficar entre essas Mercedes”, salienta Brundle, enquanto os espanhóis focam em Alonso. “Acho que Fernando viu que não dava para passar e diminuiu o ritmo para sair do ar sujo de Kimi. Só tem que ficar longe do DRS de Perez, que pode tirá-lo da prova em uma curva.”
Os brasileiros estão mais preocupados com a Mercedes. “A única chance deles é um proteger ao outro”, aponta Barrichello. “Mas será que Hamilton vai se submeter?”, questiona Galvão. “A equipe tem de ter comando, e quem comanda lá é o Lauda”, completa Reginaldo, que questiona: “E se Hamilton fizer duas e Rosberg fizer uma parada?” Na Sky Sports e na Antena 3, a hipótese aventada é a contrária. “O que esperávamos era que Hamilton segurasse o pelotão para Rosberg escapar. Será que ele não está jogando o jogo ou Nico não consegue abrir? Seria corajoso fazer só uma parada”, questiona Kravitz.“Reconheço que esperava que só Hamilton fizesse isso”, diz De la Rosa, observando a queda no ritmo. Mas Galvão duvida que as Mercedes podem fazer uma parada. “Se nem a Ferrari consegue fazer, eles também não.”
Outro ponto de discussão das primeiras voltas é mais uma briga entre Sergio Perez e Jenson Button. O inglês chega a “dedar” o companheiro, que passara reto na chicane. “As McLaren continuam batendo uma na outra. Parece um novo Bahrein!” se empolga David Croft. “Já vi muita coisa na F-1, mas nunca vi uma equipe protestar contra o próprio piloto”, brinca o narrador. “Na verdade, não é exatamente um companheiro. É um associado corporativo”, ironiza Brundle.“O dinheiro do México deve ser muito bom para o Button aguentar isso”, diz Galvão.
O entrave interno da McLaren faz com que os espanhóis discutam os limites de saltar a chicane para ganhar vantagem. “Se o cara sempre vai reto, você não vai ultrapassá-lo nunca”, diz De la Rosa, lembrando da disputa que teve com Schumacher no GP da Hungria de 2006. “Não sabemos quais os limites.”
Definida como “guerra fria” por Lobato, a disputa da primeira parte da corrida faz com que todos revejam suas ideias iniciais sobre a estratégia. Brundle não gosta: “Minha mãe dirige muito bem, acho que ela conseguiria correr nesse ritmo. Mas uma hora isso vai ganhar vida”, brinca Brundle. Quando o engenheiro de Webber diz que ‘não temos espaço’, o inglês explica que o “quer dizer com ‘não estamos abrindo a diferença’ é que eles vão ter de fazer só uma parada e ele tem de economizar os pneus, ou seja, ficar a mais de dois segundos do piloto da frente.”
É isso que todos creem que Alonso está fazendo. “Ele está pensando na corrida”, acredita Brundle quando vê o espanhol se distanciando de Raikkonen. “O engenheiro da McLaren fala para Button apertar, mas sabemos que Alonso não está forçando”, concorda Barrichello.
De la Rosa chama a atenção para o risco da estratégia adotada pelas Mercedes, que são lentas para tentar fazer uma parada. “Ninguém fez mais que30 voltas no treino, então entramos em território desconhecido. Mas esse ritmo não dá opção. Vão ter que fazer uma parada. A tática da Mercedes é muito boa. Vão vencer da forma mais lenta possível, apostando em posição de pista”, resume De la Rosa.
Mas um problema surge quando Webber antecipa sua parada. “Vamos ver o quanto ele vai forçar esses pneus”, espera Brundle. Porém, os britânicos se surpreendem porque as Mercedes não cobrem a parada do australiano.“As Mercedes estão usando o pneu bem melhor que nas últimas corridas”, aponta Brundle. “Circuito diferente, asfalto diferente…”, explica Croft. “E muitos quilômetros de testes”, completa o comentarista.
O acidente de Massa acaba com as elucubrações estratégicas. “Não é o final de semana do Felipe. Esperamos que esteja tudo bem com ele. Foi como uma repetição da batida de ontem, mas mais forte”, diz Galvão.“É bizarro! É o mesmo acidente dos treinos. Que coisa estranha. Massa não cometeria o mesmo erro duas vezes. É uma questão fundamental de frenagem”, estranha Brundle.
O SafetyCar vai à pista e ingleses e De la Rosa acham que Vettel vai sair prejudicado e as Mercedes teriam vantagem. Não é o que acontece. “Ele perdeu tempo porque começou a andar lento para não ter de esperar, mas seria melhor ter ido mais rápido”, diz Kravitz sobre Hamilton, que entra no box em segundo e sai em quarto. O espanhol lamenta que o SafetyCar não tenha segurado mais os Red Bull. “Vettel teve muita sorte porque, justo quando entrou no pitlane, o SC saiu.” Para Galvão, “priorizaram o Nico para ele não perder a liderança.”
Na relargada, enquanto Galvão diz que “só pode ultrapassar a partir da linha de chegada”, Brundle chama a atenção para “os oportunistas” da última curva, pois são permitidas as ultrapassagens após a Rascasse.
Rascasse, aliás, que virou palco de uma tentativa de ultrapassagem de Hamilton em Webber. “Vimos alguns pilotos da GP2 tentando a parte de dentro da Rascasse. Hamilton deve ser assistido”, lembra Brundle. Galvão está muito mais impressionado. “Botar por dentro na Rascasse eu nunca vi!”
Os espanhóis estão mais preocupados com Perez, que passou Button em uma manobra “da qual ele não pode reclamar”, como exclama Croft e está pressionando Alonso. “Fernando tem um pouco de ar, mas preferiria ter Button atrás, e não Sergio”, diz o comentarista Jacobo Veja. Não demorou para Perez colocar de lado e Alonso cortar a chicane para se defender. “Será que ele só manteve a posição porque cortou? Eu quero ver de novo. Boa manobra de Perez. Falamos nas primeiras provas que ele estava sendo muito submisso no tráfego. Não dá mais para reclamar”, observa Brundle.“Foi uma questão de auto-preservação de Alonso. Ele não tinha o que fazer”, defende Croft.
É o mesmo caso em todas as transmissões: defesa legítima ou injusta? “Ele fez bem em perceber que tinha de fazer isso, pois estava focado em não bater na traseira de Raikkonen também. Mas acho que vai ter de devolver a posição”, acerta Brundle.“É uma decisão difícil, depende do critério dos comissários. Se for igual da Hungria em 2006 com Schumacher, o que ele fez está perfeito”, De la Rosa não se livra de seus rancores.
Galvão discorda dos comentaristas, que dão razão a Alonso, e comemora quando sai a decisão de que o espanhol terá de devolver a posição. “Ele passou com as quatro rodas por fora, não tem interpretação. O Arnaldo diria que regra é regra.”
A polêmica da disputa entre a McLaren e a Ferrari só foi resolvida depois da bandeira vermelha causada pela colisão entre Maldonado e Chilton. “Primeiramente, parece culpa do Maldonado, mas depois do replay isso muda”, justifica Galvão depois de criticar o venezuelano. Os demais não têm dúvidas. “Acho que ele não sabia que Maldonado estava do lado de fora”, Brundle tenta justificar.
Durante a bandeira vermelha, os britânicos dão um show, com entrevistas ao vivo com Christian Horner, que reconhece o benefício de Webber trocar os pneus, pois fora o primeiro a parar; Claire Williams, que revela que Maldonado está bem apesar de “algumas feridas” e Martin Whitmarsh, que diz em primeira mão que Alonso terá de devolver a posição a Perez”. Na Sky, também, aparece a cena do espanhol, assim que parou o carro, indo cumprimentar o mexicano.
Na relargada, os espanhóis lamentam que não seja mais Alonso quem está atrás de Raikkonen, principalmente quando o finlandês é o único a continuar com o composto macio. “É uma pena Fernando ter de devolver a posição porque Raikkonen já tem problemas de aquecimento, o que vai piorar porque ele decidiu relargar com duros. Vamos ver se Sergio também mostra sua agressividade com Kimi e nos ajuda um pouco”, diz De la Rosa.
É o que o mexicano faz. E Raikkonen e Perez cortam a chicane para evitar uma colisão. “É sutilmente diferente com o que aconteceu com Alonso, mas acho que ele não tem de dar a posição de volta”, entende Brundle.“Esse é o problema de lutar com esses pilotos: se não tira o carro, perde o mundial”, observa De la Rosa, que acredita que “agora Fernando poderia dizer: que os dois deem a posição para mim porque fui o único que fiz a chicane. Não quero me meter, é uma confusão. Que decidam os comissários.” Para Lobato, “Sergio vai acabar ultrapassando no susto porque esses pilotos estão disputando o mundial.”
Já na visão de Galvão, “com Raikkonen é diferente [de Alonso]. Ele foi reto.” E Barrichello explica: “Nessa condição, tudo o que você quer é que o outro vare a chicane também [para não ter de ceder a posição].”
A ultrapassagem de Sutil em Button não anima os espanhóis. “Ter Sutil atrás não é nada agradável”, avisa Lobato. Pouco tempo depois, Alonso é passado pelo alemão. “É, Alonso, não é seu dia”, zomba Galvão. “Acho que Alonso estava sonolento. Parece que ele está de saco cheio. Deixou a porta aberta”, observa Brundle. “Fernando está muito limpo”, explica De la Rosa. “Ele tem que cuidar dos pneus e chegar, minimizando perdas. Há outros que estão forçando demais, enquanto Vettel já desistiu da vitória justamente por isso: já é um grande resultado para ele.”
Mas ainda haveria um novo SafetyCar, causado por Grosjean. “Ele pode pedir duas músicas no Fantástico para o Tadeu Schmidt porque bateu quatro vezes no final de semana. O Rosberg deve estar pensando: abro quatro segundos e alguém bate atrás e estraga tudo”, brinca Galvão. Os britânicos também não perdoam. “Esse menino me preocupa”, diz Brundle. “Fico imaginando se ele tem mais uma asa dianteira”, completa Croft.
Junto dos espanhóis, lembram do acidente semelhante de Raikkonen enchendo a traseira de Sutil, em 2008. “Ricciardo freou antes, mas não fez nenhuma mudança de direção. Foi erro do Grosjean”, define De la Rosa.
Mais uma relargada e novamente Perez é o personagem. Desta vez, tocando com Raikkonen. “Você se compromete a tentar muito antes da freada. Ali não havia nada que ele pudesse fazer”, Brundle defende o mexicano. “Você não tem de deixar a distância de um carro?”, questiona Croft. “Ele tinha de fazer a curva. Novamente, são coisas muito sutis. Ele colocou o carro de lado tarde demais.”
Brasileiros e espanhóis não concordam. “Foi um abuso do Perez, tem de ser punido”, defende Galvão. “A equipe deveria ter dito para ele acalmar”, completa Reginaldo. “A chicane da discórdia. Sergio tentou inventar um espaço que não havia”, opina De la Rosa.
Na verdade, as atenções dos espanhóis seguem com Alonso, mesmo com a prova apagada. “Estou olhando com detalhe o carro de Fernando. Conhecemos ele e não é normal que todos o passem desta maneira. Tem que ter acontecido algo”, De la Rosa não se conforma.
O espanhol também está na bronca com Vettel, acha que o alemão poderia ter pressionado Rosberg mais fortemente depois de mostrar ritmo ao fazer a volta mais rápida. “Não dá para entender o Vettel. Se ele consegue ir tão rápido, por que não faz três voltas dessa e pelo menos pressiona Rosberg?”
Mas não há mais tempo para reações e Nico vence o GP de Mônaco de forma razoavelmente tranquila. “Um final de semana completo para Rosberg, que é torcedor do Bayern”, lembra Vega, citando o time que fora campeão europeu um dia antes. “Cuidado com a Mercedes, que aprendeu a lição para lidar com os pneus”, destaca Lobato. “Corrida muito controlada, abriu quando devia. Foram 3s8 de diferença para Vettel, mas poderia ter sido muito mais”, acredita Galvão.
Os destaques da prova foram Sutil e Perez. Em especial o mexicano, que apareceu para o bem e para o mal. “O homem do dia tem de ser Perez”, diz Croft, mas Brundle não se convence. “Ele jogou o dado vezes demais, e acabou saindo do GP. Gosto do Perez, e tenho de citar Sutil também. Grosjean mais uma vez questionado. Boullier é seu empresário também, acho que os interesses são muitos”. “Foi uma corrida que poderia gerar um saldo positivo para Perez, mas que acabou sendo negativa pelos excessos”, define Galvão.