A largada do GP do Bahrein se aproxima e ninguém sabe ao certo em quem apostar. Na Globo, “a McLaren vem mostrando força e talvez o fato do Rosberg ter feito uma volta para economizar pneu tenha levado a Mercedes à terceira fila”, acredita Galvão Bueno. Na Antena 3, da Espanha, “o bom para Alonso é que, se alguém ganhar, que seja Vettel.” Na Sky, os britânicos não se arriscam e analisam como os pneus andam influindo nos resultados. “O bom desta temporada é que os pilotos têm de ser perfeitos, senão caem uma ou duas filas no grid”, teoriza Brundle.
Ninguém aposta na Ferrari. “O carro é desequilibrado, então vai ser difícil para Felipe Massa. Já Williams é mais forte em corrida e Schumacher vai dar show”, prevê Luciano Burti.
Antes dos carros partirem, os espanhóis já pedem uma punição a Bruno Senna, que se posicionou no grid bem adiante de sua marca. Nada acontece e os semáforos se apagam. Vettel pula na frente. “Boa largada de Vettel e Hamilton. Olha o Grosjean! E Button sob pressão. Largada brilhante de Fernando Alonso. Maldonado e Senna largaram bem e Ricciardo está perdendo posições”, o narrador britânico David Croft tenta seguir toda a ação. “Massa ganhou cinco posições e Bruno Senna foi na dele. Raikkonen foi outro que pulou muitíssimo bem”, observa Galvão, para quem Felipe “larga muito melhor que Alonso”. O narrador Antonio Lobato só tem olhos para seu conterrâneo de Oviedo. “Fernando larga muito bem. Cuidado, que todos estão muito perto! Cuidado com Grosjean, que é um companheiro de batalha muito complicado.”
Após a ótima largada, Massa ultrapassa Raikkonen. “Que batalhador! Que grande manobra do brasileiro”, vibra Lobato. “Não foi uma manobra das mais limpas, mas ele certamente se deu bem”, diz Brundle. “Massa está guiando como um homem possesso.” Galvão também se anima. “Massa vai fazendo uma grande prova. Já tinha passado Rosberg e agora o Raikkonen. Vai fazendo uma grande prova.”
O finlandês, no entanto, devolveria a manobra algumas voltas depois. “Não é normal ver uma ultrapassagem ali”, exclama Brundle. “Isso demonstra que os pneus da Ferrari acabaram”, completa Galvão.
Os espanhóis estão focados em Alonso, esperando que ele ataque Grosjean, e se surpreendem quando o francês passa Webber com certa facilidade. “As Lotus têm ritmo”, aponta o comentarista Marc Gené. “Parece que os pneus deles estão durando mais”, opina Lobato, algo que, para Brundle tem a ver com o pneu não usado na classificação para Kimi e com a tocada de Romain, que “está evitando o giro em falso nas saídas das curvas, usando sua experiência de GP2”. Mas Gené segue maravilhado. “Grosjean e Raikkonen são os únicos nos ritmo de Vettel, enquanto McLaren e Ferrari estão sofrendo muita degradação.” O comentarista chega a falar em quatro paradas.
Nos primeiros pits, a McLaren erra com Hamilton, que sai do pitlane brigando com Rosberg. O inglês supera o alemão, que cobre o lado direito e não dá espaço. Lewis passa por fora da pista mesmo. “Era um Hamilton irritado depois de perder 9s no pit e eles não ia levantar o pé. Incrível que ele tenha conseguido ter tração para passar. Maluco, mas efetivo”, diz Brundle, que não toma partido a respeito de alguma irregularidade. Aliás, acredita que, se houver, foi por parte do piloto da McLaren, que ultrapassou “com as quatro rodas fora, isso é certeza, mas quero ver de novo.”
Para Galvão, qualquer punição miraria Rosberg. “Hamilton mostra que está muito afim e por isso é líder do campeonato. Vai ter investigação porque Nico se moveu demais.” Já os espanhóis demoram um pouco para notar a briga, mais focados em Button e Alonso, que estão um pouco à frente, também lutando por posição. “A mudança de traçado foi criminosa”, diz Lobato, enquanto Gené se impressiona com Hamilton. “Ele não tirou o pé. Como é valente esse Hamilton.” Mas logo volta a seu foco. “O importante é Alonso passar as duas McLaren, porque elas não têm ritmo.”
Di Resta chega a liderar a corrida, por uma volta, mas não é mostrado pela televisão, em meio a tantas batalhas. Para Reginaldo Leme, uma atitude política. “É um revide de Bernie Ecclestone pela Force India não ter participado de uma das sessões de treinos livres.” E lá vai Galvão explicar os problemas internos do Bahrein como uma “disputa entre etnias, não importa dizer o nome. Mas não aconteceu nada até agora”, completa, referindo-se à presença da F-1 no país. E também logo volta a seu foco. “Não é consolo para ninguém, mas a corrida do Massa é bem melhor que a do Alonso.”
Burti chama a atenção para a estratégia de Raikkonen ser diferente de Vettel – o finlandês está com pneus macios e se aproxima rapidamente. “Raikkonen está muito mais rápido de macios que Grosjean de médios”, também observa Brundle.
Os comissários optam por decidir sobre o caso Hamilton X Rosberg depois da corrida, para a revolta de Galvão. “Essas coisas incomodam na F-1. Não tem motivo para investigar depois da prova. É político. A decisão é política porque a Mercedes é a única grande montadora a seguir na F-1, fornecer motores, é importante.”
Para os espanhóis, no entanto, a situação realmente é discutível. “Rosberg fez uma mudança de posição, o que é permitido, mas forçou Hamilton para fora”, Gené primeiramente dá a entender que vê ganho de causa para o inglês, mas, depois de ouvir reclamação do alemão de que o piloto da McLaren o ultrapassara por fora da pista, entende que a questão é mais complexa. “Rosberg não deu opção, mas acho que não puniria nenhum dos dois.”
David Croft vê Rosberg preso pela Ferrari de Massa. “A largada custou caro para ele.” E Gené imagina o quanto a má classificação prejudicou Kimi.” Surpreendente como ele se classificou mal. Se estivesse mais à frente, já teria chegado na cola de Vettel.”
Espanhóis e britânicos querem que a Lotus dê ordens para Grosjean abrir passagem para quem “realmente tem chance de ganhar”. De acordo com Croft, Kimi também pensava assim. “Se vocês estiverem ouvindo nosso canal do pit, ouviram ele dizendo: ‘vocês têm de me deixar passar’. Quanto isso custou? Ele certamente perdeu tempo.”
Um novo erro no pit de Hamilton chama a atenção de todos. “Ele vai ficar revoltado. Vai dizer que não quer parar mais”, brinca Gené. “A McLaren está a fim de jogar a corrida do Hamilton fora mesmo”, diz Reginaldo Leme. “A McLaren chegou num ponto em que eles realmente vão ter de olhar esses pits”, endossa Croft.
A disputa entre Rosberg e Hamilton quase se repete, mas agora com Alonso, que prefere recuar. “Agora não acho que foi o Rosberg que colocou o Alonso para fora”, vê Galvão. “Muito agressivo o Rosberg. Acho que ele pensa: ‘tenho o direito de ir até o canto e deixo espaço pelo lado de dentro”, diz Brundle, mas Croft acredita que isso não é certo. “As regras dizem que você tem que dar espaço de um carro.” Para os espanhóis, “isso não pode acontecer! Jogou ele para fora! O movimento de Rosberg é algo para se rever, ele já fez algo parecido com Hamilton”, Lobato fica indignado. “Ele muda de trajetória quando o outro já o fez. Por isso eles se veem obrigados a sair da pista”, concorda Gené.
Os ânimos se acalmam e é Massa quem vem se aproximando de Alonso em “de longe, sua melhor corrida do ano”, como destaca Brundle, que diz: “Fernando, Felipe is faster than you. Poderíamos ouvir algo do tipo”. E Croft emenda. “Agora é permitido.” E logo as atenções se voltam para Di Resta e a luta pela ponta. Os espanhóis também não dão muita atenção, só avisam: “não descartemos que Massa pode passar porque está com pneus macios. Esses pneus duros não estão funcionando para Alonso.”
A questão é mais séria na Globo. “Gostaria bastante de ouvir: ‘Alonso, Massa está mais rápido do que você’. Eles estão com estratégias diferentes, assim como aconteceu na China e pediram para o Felipe deixar passar. Única diferença é que na China Alonso faria 3 paradas e Massa duas. Agora eles têm pneus diferentes. Tem que vir a ordem, mas não vai. Todo mundo sabe que não tem comando.”
Para Reginaldo, “uma justificativa é que Alonso está na frente no campeonato, mas é só o começo. Se bem que na Alemanha em 2010 estava no meio.” Nada de ordem e o narrador não se conforma. “O piloto está tentando se levantar e eles fazem isso.”
Todos se agitam quando Alonso segue no vácuo de Kobayashi até o japonês ir aos boxes. E desvia repentinamente quando percebe o erro. “Estranhíssima a manobra de Fernando. Que perto do muro”, exclama Lobato. “Acho que ele pensou que Kobayashi estava tentando escapar do vácuo”, acredita Gené. Para Galvão, Alonso seguiu o japonês para sair do vácuo de Massa, enquanto Brundle classifica o espanhol de louco. “É um risco que não vale a pena, a não ser que ele não pensasse que Koba iria parar.” Croft raciocina. “Estava cedo para Alonso parar, então isso não é uma possibilidade.”
O narrador lembra que “ninguém venceu aqui largando fora dos quatro primeiros, mas um homem chegou no pódio largando em 22º: Kimi Raikkonen.” O finlandês se aproximava rapidamente em Vettel. “A Lotus teria de parar antes para ultrapassar”, avisa Gené, mesma linha de Brundle. Mas Croft acha que a ultrapassagem será na pista. “Parece uma questão de tempo.”
Na Globo, fica a decepção com suas apostas iniciais. “É de coçar a cabeça mesmo, Ross Brawn, o desempenho é da água para o vinho. Assim como a Sauber, que decepcionou hoje”, diz Reginaldo. “E a McLaren teve desempenho pálido”, completa Galvão. Brundle concorda. “Mesmo sem os problemas dos pits, Hamilton estaria em quinto, longe da vitória. Ninguém preveria que a McLaren estaria a 40s do líder.”
Croft avisa que Raikkonen precisa passar rápido. “temos visto que os pneus perdem temperatura depois que o piloto se aproxima e, se não passar logo, o pneu não se recupera”. Dos boxes, o repórter Ted Kravitz avisa que antecipar a parada não está nos planos da Lotus. “É pelo que aconteceu na China. Eles querer ter certeza de que terminam a corrida.”
Na única chance que teve, Kimi “escolheu o lado errado”, para Gené, que chega a acreditar que os primeiros a fazerem seu terceiro pit teriam de parar de novo, mas logo recua. Os espanhóis fazem as contas do campeonato e lembram que Alonso colocou o GP do Bahrein como “o último de sofrimento”. E Gené observa que “os três primeiros do campeonato estão em 7º, 8º e 9º.”
Na Antena 3, as últimas voltas são marcadas pela empolgação. Após abandono de Button – desistência esta antidesportiva, para Galvão, pois as equipes “usam a estratégia de parar nas últimas voltas para poder trocar componentes sem punição” –, problemas com o escapamento de Rosberg e o ritmo ruim de Di Resta fazem os espanhóis sonharem com um quinto lugar para Alonso. Enquanto os três primeiros cruzam a linha de chegada, Lobato não se aguenta. “Mostrem, por favor, o que está acontecendo lá atrás!” Devido à “falta de velocidade de reta da Ferrari”, Alonso chega a 0s2 da Force India. “É um bom resultado de Fernando no mundial. E se Raikkonen conseguir se classificar melhor…” Gené é interrompido pelo rádio do segundo colocado e se diverte. “Ele fala como se tivesse terminado em 10º.”
Na Globo, também se interessam pela personalidade do finlandês. “Como será que vai ser a reação do Kimi no pódio?”, pergunta Galvão. “A única vez que o vi sorrindo foi quando foi campeão”, lembra Burti, que logo é recordado pelo narrador sobre a festa daquela noite em 2007. “Aí ele sorriu bastante.”
E lá se vão contas de último pódio e vitória da Lotus. Os britânicos não se rendem à tentação de unir a história desta Lotus àquela de Colin Chapman. Ou quase. “É uma equipe diferente, claro, mas é ótimo ver esse nome no pódio”, diz Croft.
Impressionados com os carros pretos e dourados, quase se esquecem de Vettel. “Semana passada, não colocou o carro no Q3, e agora vence. A última vez que isso tinha acontecido foi no Brasil em 2009, e ele venceu logo em seguida”, lembra Croft. “É um bom garoto. Se der carro para ele, vem bem. Quase virou o Zettel, de zebra, mas voltou a ser o Vettel”, Galvão encerra os trabalhos.