Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP de Mônaco

Hamilton 3 a 3 Bottas
Ricciardo 3 a 3 Verstappen
Massa 6 a 0 Stroll
Raikkonen 1 a 5 Vettel
Button 0 a 1 Vandoorne
Perez 5 a 1 Ocon
Kvyat 2 a 4 Sainz
Hulkenberg 6 a 0 Palmer
Wehrlein 4 a 0 Ericsson
Grosjean 3 a 3 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 1s205

Verstappen x Ricciardo: 0s502

Massa x Stroll: 1s097

Vettel x Raikkonen: 0s043

Button x Vandoorne: sem tempo

Perez x Ocon: 0s571

Sainz x Kvyat: 0s

Hulkenberg x Palmer: 0s909

Magnussen x Grosjean: 0s756

Wehrlein x Ericsson: 0s117

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1: Ah, o glamour de Mônaco!

“Ah, que glamuroso é o GP de Mônaco!” É meu pensamento toda vez que saio do circuito lá pelas 21h, morrendo de fome, abrindo caminho pela Rascasse cheia de gente bêbada querendo aparecer, com o sapato grudando no chão pela mistura de pista emborrachada e bebida caída no chão, e sabendo que falam algumas ladeiras até chegar em casa.

Mas eu sei que o cansaço causa efeitos colaterais como este. É legal, sim, estar em Mônaco. Talvez não glamuroso se você não tem muita bala na agulha, mas é legal. Um dos pontos altos da temporada é poder olhar aqueles prédios, curvas e cantinhos que você cansou de ver há décadas na TV por seu próprio ângulo. Quando os carros passam, a sensação de velocidade é maior no circuito de média mais baixa do que em qualquer outra pista – pelo menos é o que seu corpo sente. E pequenas diferenças de estilos de pilotagem ficam gigantes. Acho que especialmente no caso de Hamilton, você vai pensar duas vezes antes de criticar um piloto depois de ver o que eles fazem em Mônaco.

Mas como chegar lá? É tão caro assim? Claro que há várias maneiras de curtir o GP de Mônaco. Mesmo não estando lá. Há quem se divirta muito andando ou dirigindo na cidade nas semanas anteriores, quando a pista já está montada. Ainda no esquema mais barato, é perfeitamente possível hospedar-se nas cidades próximas (Nice é a maior) e ir de trem em meia hora.

Dá para ficar em hotéis em Mônaco na época de GP, claro, mas a não ser que haja uma programação com muita antecedência você vai pagar em uma semana o que muita gente não ganha em um ano.

Os ingressos também são um caso especial com vários tipos de pacotes – para um dia, três dias, ou só sábado e domingo – e, quanto mais na parte de cima você fica, mais barato (ou menos caro) é.

Há alguns anos, fui ver um treino livre da La Rocher, onde o acesso é liberado às quintas e cobra-se em torno de 60 euros – pouco mais de 200 reais – para o sábado ou o domingo. Há inconvenientes, claro, como ter de chegar cedo porque a “arquibancada” é um rochedo bem íngreme e não há muito espaço. E, se chover… Se quiser encarar e madrugar, a vista é ótima. Mas meu lugar preferido na pista é nas piscinas, onde os ingressos para o final de semana podem chegar a 760 euros (mais de 2650 reais).

Toda a região tem vista incríveis e muitos lugares a visitar em qualquer época. No verão, o destaque é o litoral, claro, e no inverno, as estações de esqui. Tudo incrivelmente perto. Mas Mônaco em si não tem muitos atrativos fora do GP – e o que eles chamam de praia não é exatamente o lugar confortável para passar o dia como fazemos no Brasil.

Quem gosta de pedalar tem as trilhas mais duras das montanhas e mais fáceis na orla, que vão até a Itália. Quem gosta de comer está feito, especialmente com disposição para abrir a carteira. E quem gosta de vinho…

RAIO-X

Preços: salgados. Para começar, a cerveja long neck é 8 a 10 euros, perto de 30 reais.

Ingressos: de 54 euros para sentar no barranco (no sábado) a quase 800 para a parte com melhor visão nas piscinas (nos três dias)

Melhor época: no GP. Pode não estar tão quente e chover, mas é quando o Principado ganha um ar especial.

Por que vale a pena? Precisa responder?

Por dentro da F-1: Adaptado para Mônaco

Aguenta, suspensão!

Quando se fala no GP de Mônaco, o primeiro pensamento que vem à mente é o desafio que o circuito representa aos pilotos. Mas não são apenas eles que “mostram serviço” nas ruas do Principado. Os engenheiros também têm muito trabalho para adaptar o carro ao circuito mais lento e travado do campeonato.

Volante turbinado

Talvez a mudança mais famosa no carro para o GP de Mônaco seja no ângulo da direção, que tem de ser modificado caso contrário um carro de Fórmula 1 simplesmente não conseguiria contornar a curva Loews, mesmo ela sendo feita a 50km/h!

Assim, o ângulo da direção, que geralmente gira em torno de 14º chega a 20º apenas para uma prova.

Mas o que nem todo mundo sabe é por que os carros já não saem “de fábrica” com a direção já preparada para esta curva: isso porque um ângulo maior também significa compromissos estruturais na suspensão, além de um sistema de direção maior e mais pesado, por isso as equipes optam por ter esse custo/trabalho a mais apenas em uma prova.

Suspensões

Isso nos leva ao segundo quesito importantíssimo para um carro andar bem em Mônaco: adaptar as suspensões. Para que a direção trabalhe em um ângulo maior, é preciso diminuir o braço da suspensão para evitar que ele toque o aro do pneu. Mas as mudanças não param por aí.

Há quem diga que você não está pilotando rápido o suficiente em Mônaco se não estiver encostando nos muros. E os carros estão preparados para isso: uma das principais alterações nos carros em Mônaco é o uso de suspensões mais macias.

Mas não é simplesmente uma questão de salvar a pele dos pilotos caso eles exagerem na dose: uma suspensão mais macia é algo positivo em pistas cujo asfalto é liso e também ajuda a melhorar a aderência mecânica, fundamental em Mônaco devido às curvas lentas.

Além disso, suspensões e molas mais maleáveis permitem que os pilotos ataquem mais as zebras. E é por isso também que os carros andam um pouco mais altos que o normal.

Sem ar

Em Mônaco também são utilizados dutos de freio maiores, não só pela força das freadas, mas principalmente pela falta de retas para refrigerar. O mesmo acontece com as entradas de ar dos radiadores, que têm de ser maiores tanto pela falta de retas, quanto por um motivo curioso: as asas acabam ficando tão grandes no Principado, cheias de cascatas para melhorar o efeito aerodinâmico, que isso interfere negativamente no fluxo de ar nesta região.

Aerodinâmica

E assim chegamos ao último e mais visível item de todos. Os carros usam as maiores asas possíveis, uma vez que a pista é tão lenta que não existe tamanha preocupação com o comprometimento pressão aerodinâmica x arrasto.

Isso leva a um dado curioso: o homem mais rápido de Mônaco em sessões oficiais foi Pascal Wehrlein, com a Manor, chegando a 297.9km/h na classificação do ano passado, mostrando toda a deficiência aerodinâmica do carro – e indicando que o time provavelmente não tinha dinheiro para fazer um pacote específico para Mônaco.

Ser rápido na reta no Principado é o pior dos sinais, porque significa que o carro está sem arrasto e gera menos pressão aerodinâmica. Tanto, que além de usarem sua configuração máxima – algo que só se repete em Cingapura e no México, devido à altitude – as equipes com maior orçamento costumam levar asas específicas para a pista monegasca, adicionando lâminas na asa dianteira, monkey seats maiores e todos os penduricalhos aerodinâmicos aos quais têm direito.

Ah, mas um piloto bom de braço ajuda também!

Muito tempo. Nem tanto conteúdo

22 Eles só sorriem pra pergunta boa, claro

Tudo partiu de uma conversa com o repórter da Globo Guilherme Pereira durante a sempre longa espera no cercadinho, a zona de entrevistas de TVs e rádios, no domingo na Espanha: vindo do futebol, o colega, que fazia sua segunda prova, estava impressionado com o tempo o qual os pilotos ficam à disposição da mídia durante um final de semana de GP.

Fora eventos de patrocinadores, os pilotos basicamente têm 8 dias de trabalho com a mídia por mês, contando a média de dois GPs por mês. E, de fato, o acesso da imprensa é infinitamente maior que o de jogadores badalados na Europa e mesmo no Brasil, onde eles são mais blindados. Após conversas com colegas e de juntar com meus dados aproximados e os exatos da Williams, cheguei à conclusão de que um piloto fala, em média, por seis vezes mais tempo com a imprensa por mês que um jogador de futebol. Os detalhes estão na matéria publicada no último sábado no UOL Esporte.

E nem vou entrar no mérito da chance incrível que temos de falar com os pilotos no grid.

Claro que há alguns adendos a se fazer. A quantidade de mídia presente no paddock se assemelha mais a uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada do que a uma partida do Campeonato Brasileiro. E, a exemplo destes eventos, são vários idiomas a serem contemplados. É claro que eu na Rádio Bandeirantes ou a Globo não vamos usar Felipe Massa falando em inglês – e esses pilotos cuja língua-mãe não é o inglês costumam ficar um pouco mais sobrecarregados. Outro fator é o número gigante de emissoras de TV, todas elas com contratos caríssimos para ter direito ao uso da imagem. E todas querendo exclusividade no cercadinho.

Não é por acaso que todas as mudanças feitas pela equipes e pela própria F-1 ultimamente visam agradar às TVs: cada vez mais os times resumem ou extinguem sessões para a mídia impressa, enquanto a coletiva de imprensa oficial de quinta-feira – que é transmitida pela TV, tornando seu conteúdo praticamente inútil para a mídia impressa, para a qual ela seria direcionada – está sendo dividida em duas e, enquanto metade dos pilotos escalados fala na oficial, adivinhem com que o restante está falando de forma mais exclusiva?

Isso, porém, não tem ajudado em nada o conteúdo. Imagine que você é Fernando Alonso e acabou de fazer um teste na Indy. Na coletiva, vão lhe perguntar sobre isso. No cercadinho, você vai parar em 10 a 15 TVs e cada uma delas vai querer saber disso. E, no caso da McLaren, há ainda uma outra coletiva para a mídia impressa. E um vai querer uma resposta mais interessante para a mesma coisa. Não vão ter.

Outro problema decorrente dessa necessidade de agradar as TVs durante quatro dias seguidos de atividades – e ter muitas delas para agradar – é que uma grande parcela das opiniões que ficam rodando a mídia por dias foram colhidas assim que os pilotos saíram do carro, no calor do momento, sem qualquer análise posterior. Isso é diferente na maioria das sessões de mídia impressa – não no caso da Ferrari, que leva os pilotos do cercadinho direto para estas entrevistas, então as aspas costumam ser bastante cruas – mas a tal política de agradar as TVs vem fazendo com que os assessores de imprensa cortem o tempo de trabalho de mídia de seus pilotos justamente por estas sessões. Os pilotos da Red Bull e da Williams, por exemplo, não falam com os jornalistas de impresso, que não podem entrar no cercadinho, após a corrida.

Não é por acaso que, mesmo com este acesso que parece gigantesco, há muita reclamação. Dos pilotos, cansados de ouvir as mesmas perguntas, e dos jornalistas, cansados de ouvir as mesmas respostas. Mais um problema criado pela Era Bernie e seu apetite feroz por contratos de TV.

Podcast Credencial e a nova F-1

Já virou tradição: quinta-feira pós-GP é dia de Credencial, que nesta edição de gala conta com a presença de Gabriel Lima, do Motorsport.com brasileiro, reeditando o trio que fez vários programas na época de TotalRace. E, como essa temporada está realmente dando o que falar dentro e fora das pistas, é claro que acabamos nos empolgando com o papo!

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Estratégia do GP da Espanha e o triunfo das novas regras

O GP da Espanha marcou o triunfo das novas regras no circuito para o qual, pode-se dizer, elas foram feitas. Afinal, era em Barcelona que a meta de 5s em relação à pole de 2015 teria de ser batido e, de quebra, ganhamos uma corrida pé embaixo com duas paradas, exatamente como nas previsões.

Já sabemos pelas etapas anteriores que não será sempre assim, pois a F-1 não é como um campeonato de futebol, com cada jogo disputado sempre dentro de variáveis mais estáveis, e justamente uma viagem nos meandros desta batalha estratégica e de pilotagem nos mostra o nível de complexidade deste esporte.

Voltando à classificação, o aumento significativo da velocidade em uma volta lançada já vinha sendo observado desde a pré-temporada. E, mesmo com uma volta que esteve bem longe de ser perfeita, Lewis Hamilton bateu a meta de abaixar em 5s a pole position do ano retrasado, sendo 5s532 melhor do que Nico Rosberg fora em 2015.

Mas o que realmente chamou a atenção na Espanha foi a capacidade dos pilotos adotarem um ritmo forte durante a corrida. A melhor volta da prova, também de Hamilton, foi um pouco mais lenta que a melhor de cinco anos atrás, mas com uma diferença marcante: foi feita na parte final da corrida, depois de 28 voltas com o mesmo jogo de pneus, mostrando que ele teve de forçar o ritmo o tempo todo e só conseguiu o melhor giro quando o nível de combustível era mais baixo.

Nos anos anteriores, a alta degradação trouxe mais ultrapassagens, mas também significou que, logo depois de suas paradas nos boxes, os pilotos tivessem de começar a dosar o ritmo, focando apenas em não destruir seus pneus até o final da prova.

O fato de Hamilton ter que forçar o tempo todo, e até acabar o GP bem mais cansado do que de costume, também tem outro motivo: para vencer na Espanha, o inglês teve que superar uma Ferrari mais rápida e com Sebastian Vettel em uma performance bastante forte.

Com isso, a corrida foi decidida em detalhes – e até decisões que pareceram erros em um primeiro momento fazem sentido em uma corrida bastante complexa do ponto de vista estratégico.

 

A cartada da Ferrari

Antes da largada, a Pirelli falava em três paradas como o caminho mais rápido, mas isso dependia do tráfego e do ritmo com o pneu médio. E o ritmo da Mercedes com o composto de faixa branca fora pior que o da Ferrari na sexta-feira. Por isso, quando os alemães começaram a pedir que Hamilton aumentasse o ritmo na volta 12 e Vettel, líder, pegava tráfego e via a diferença cair para 1s8, o risco de um undercut era iminente e a Ferrari o chamou aos boxes.

O único caminho para Hamilton, portanto, seria continuar na pista e entrar na janela de duas paradas, parando lá pela 20ª volta, o que não foi nada fácil para o inglês, visivelmente sofrendo com os pneus. Com isso, Lewis perdeu muito tempo no stint inicial e a corrida parecia estar nas mãos de Vettel.

Isso até que Hamilton parou e o piloto alemão se viu logo atrás de Valtteri Bottas. Foram apenas quatro voltas, mas o suficiente para o líder do campeonato perder pelo menos 4s, basicamente um terço da vantagem que tinha construído. Isso daria margem de manobra para a Mercedes logo depois mas, naquele momento, a Ferrari continuava em vantagem, até porque o segundo stint de Vettel fora muito bom, o rendimento do pneu médio não se mostrara tão desastroso assim em outros carros e seria possível reverter sua estratégia de volta para duas paradas.

 

A virada da Mercedes

Até que surgiu o SC Virtual com mais de 30 voltas para o fim. E uma decisão complexa para tomar. No caso da Ferrari, seria mais óbvio parar Vettel e colocar os médios. Mas e se eles não se aquecessem, como vimos inúmeras vezes neste ano?

Além disso, a diferença entre uma parada normal e uma com SC Virtual em Barcelona é de 9s, exatamente a vantagem que Vettel tinha, e, diferentemente de um SC normal, é impossível saber quando o Virtual vai terminar.

A Mercedes, por sua vez, ficou esperando a Ferrari parar para responder. Isso não aconteceu e eles arriscaram o último instante para parar Hamilton, perdendo um pouco de tempo porque o VSC acabou assim que ele entrou nos pits, mas sem o risco de perder com o aquecimento dos pneus.

Depois de perder sua oportunidade (e vamos lembrar que a dúvida só aconteceu devido ao tempo perdido atrás de Bottas), à Ferrari, restou reagir e parar Vettel na volta seguinte. Foi então que entrou em ação o fator Hamilton: a estratégia não teria sido suficiente não fosse uma volta espetacular de Hamilton no retorno à pista: seus setores 2 (30s792) e 3 (28s367) foram tão fortes que são comparáveis aos carros que entraram no top 10 na classificação. E isso com combustível para cerca de 30 voltas ainda no carro.

Foi por conta disso que ele e Vettel dividiram a primeira curva e o inglês esteve próximo o suficiente para ultrapassar o rival poucas voltas depois. Além disso, naquele ponto, também fez diferença o fato da Mercedes ter optado por colocar os médios no meio da prova, enquanto a Ferrari usou-o no final.

Vettel está certo quando diz que deveria ter ganho o GP da Espanha, mas não é daquelas provas em que dá para crucificar a estratégia da Ferrari. Afinal, foi uma série de fatores – incluindo o trabalho dos dois pilotos da Mercedes – que deu a vitória a Hamilton.

Drops do GP da Espanha

  • Você vai ler em todos os cantos como a Liberty Media estreou uma série de novidades voltadas aos fãs durante o GP da Espanha, mas o que fez sucesso no paddock mesmo foi o bar montado entre os motorhomes das equipes. Como a identidade visual apontava a promoção da versão sem álcool da Heineken, muitos desconfiaram. Mas logo alguns começaram a sair meio trôpegos de lá e foi confirmados: temos um bar de verdade no paddock!
  • Como se não bastasse essa novidade, o GP da Espanha é tradicionalmente marcado por eventos, com uma espécie de clima de volta à escola pelo início oficial da temporada europeia. E todos já sabem que quinta-feira tem tapas na Mercedes, sexta-feira é a abertura oficial do terraço Martini na Williams e tem evento da Rolex no Paddock Club e sexta-feira é dia de beliscar e beber na Red Bull.
  • Os repórteres até que tentaram, mas Roscoe não se mostrou animado em atacar nenhum piloto quando acompanhou o dono Hamilton nas entrevistas do cercadinho na quinta-feira. Mas bem que Verstappen levou um susto quando um colega francês interrompeu uma entrevista sua imitando um latido. Provavelmente achou que sua canela estava em perigo.
  • Percebendo que o cachorro é extremamente manso, os jornalistas então tentaram alguma “declaração”. Só conseguiram lambidas nos microfones.
  • Falando em microfones, a F-1 pode perder um cinegrafista, que estava se oferecendo à Globo porque está louco para morar no Brasil depois que se apaixonou por uma brasileira quando estava trabalhando nas Olimpíadas. Será que consegue?
  • Outro apaixonado por uma brasileira é Daniil Kvyat. E Kelly Piquet é daquelas que marca em cima: vai buscar o namorado logo que ele sai do carro, ainda no cercadinho.
  • Vou começar a criar uma escala de calor para os GPs. Como costuma acontecer na Espanha, não me perguntem por que, a diferença de temperatura no sol e na sombra é gigante. E pude comprovar isso quando, depois da corrida, ainda tinha pedaços de borracha grudados no solado do sapato, vindos do grid.
  • Vamos agora para Mônaco e o quase vencedor do ano passado já avisou: vai ignorar qualquer pedido da equipe para parar no box. “O pneu vai durar, então o plano é ir até o final sem paradas nos boxes! Talvez eles tenham dó de mim no final e me deixem ganhar”.

Nível lá em cima

Não há dúvidas de que a volta de uma luta direta entre pilotos de equipes diferentes é a grande notícia da temporada de 2017 da Fórmula 1. E não poderia haver notícia melhor do que essa. Mas havia um risco considerável de que isso virasse apenas momentâneo a partir do GP da Espanha. Isso porque havia certa desconfiança em relação ao poderio de desenvolvimento da Ferrari, cuja equipe técnica é composta por engenheiros pouco experientes. Para piorar, a Mercedes chegou a Barcelona com um carro claramente bastante modificado, e com soluções bastante ousadas.

Mas tanto a classificação, quando Hamilton e Vettel ficaram separados por apenas 51 milésimos, quanto a corrida, disputada nos detalhes até o final, mostraram que não há motivos para se preocupar: a disputa pelo título promete ser palmo a palmo. E com os dois pilotando em altíssimo nível.

Afinal, há quanto tempo não ouvíamos os pilotos ofegantes como Hamilton estava em Barcelona? Nas entrevistas após a prova, os sinais de cansaço tinham ido embora, mas o próprio piloto reconheceu que, há tempos, não tinha que suar tanto para ganhar uma corrida. Depois de perder a primeira posição na largada, Lewis foi colocado na seguinte posição pela Mercedes: vamos mudar sua estratégia para te dar chances de retomar a ponta, mas você vai ter que trabalhar duro, primeiro acelerando com os pneus médios, que vinham sendo uma caixinha de surpresas, e depois tendo que superar Vettel na pista.

E o inglês cumpriu o plano com perfeição, com destaque para a volta incrível de retorno aos boxes após a última parada. Não é qualquer coisa ter batido um Vettel que pareceu mais inteiro com a Ferrari pela maior parte da prova, e ainda mais também pilotando em alto nível e fazendo um trabalho irrepreensível até aqui pela Ferrrari. Inclusive, o que foi aquela pedalada para cima de Bottas?

Mas é aí que chegamos àquele que pode ser chamado de protagonista de luxo da prova. Vettel vinha andando em um ritmo alucinante, na casa de 1min24, até chegar no finlandês, que ainda não havia feito sua parada e andava em 1min27. Foram apenas quatro voltas atrás de Bottas, que defendia muito bem o lado de dentro da curva 1, mas elas custaram cerca de 9s para o piloto da Ferrari. Não precisa nem dizer que isso fez muita falta quando o alemão se viu dividindo a primeira curva com Hamilton na saída de sua última parada.

Enquanto isso, Raikkonen teve outro final de semana de altos e baixos, brigando com o acerto do carro. Curiosamente, o mesmo Bottas que já tirou pontos importantes de Hamilton, também lhe deu uma vantagem estratégica na luta com Vettel. E essa dinâmica promete ser tão interessante de acompanhar dentro das pistas quanto a já ferrenha luta do desenvolvimento fora delas.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Espanha

Hamilton 3 a 2 Bottas
Ricciardo 3 a 2 Verstappen
Massa 5 a 0 Stroll
Raikkonen 0 a 5 Vettel
Alonso 5 a 0 Vandoorne
Perez 4 a 1 Ocon
Kvyat 2 a 3 Sainz
Hulkenberg 5 a 0 Palmer
Wehrlein 3 a 0 Ericsson
Grosjean 2 a 3 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s232

Verstappen x Ricciardo: 0s469

Massa x Stroll: 0s273

Vettel x Raikkonen: 0s239

Alonso x Vandoorne: 0s517

Perez x Ocon: 0s203

Sainz x Kvyat: 0s195

Hulkenberg x Palmer: 0s310

Magnussen x Grosjean: 0s120

Wehrlein x Ericsson: 0s005

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1 e a personalidade forte de Barcelona

Não, não é o GP de Barcelona. Ainda que a pista tenha um bom acesso via trem direto do centro da capital catalã e via autoestrada, Montmeló fica a 35km de distância e tem poucos atrativos. Como qualquer cidadezinha pacata do interior espanhol, fica absolutamente parada na hora da siesta e está longe de ter um ritmo frenético antes ou depois disso.

A região em si é bonita, bem mais verde que o centro e o sul da Espanha, com os Pirineus no fundo e a praia logo ali. Praia artificial, com areia ‘emprestada’ da África, mas cumpre bem seu papel. E é mais que bem-vinda nos dias quentes do Mediterrâneo. Sem praia e sem montanha, mas encantadora por sua herança arquitetônica, o destaque dos arredores desta parte da Catalunha fica por conta de Girona, que, inclusive, faz seu famoso festival de flores na mesma época do GP.

Porém, mesmo que a pista não seja efetivamente em Barcelona, ela está logo ali para ser desfrutada. Tanto, que já consegui encaixar até uma semifinal de Champions League (com direito a show de gala de Messi, contra o Bayern de Munique em 2015) com um final de semana de corrida.

Barcelona talvez seja a cidade de personalidade mais forte dentre as grandes da Europa, vibrante, ousada em suas formas e cores – e um pouco marrenta também, se é que uma cidade pode ser marrenta. Bacana demais para ser bacana, atrai tanto os jovens em busca de balada em noites que parecem não acabar nunca, como também não tão jovens sedentos por cultura, que está não apenas nos museus, mas sim nos prédios e em cada cantinho despretensioso dentro e fora da rota turística. De Fórmula 1, contudo, não espere ver muito durante o final de semana de corrida: os catalães gostam mesmo é das motos e mesmo a Alonsomania não foi tão forte por lá, muito em função da origem do piloto.

Os preços são bem convidativos para os padrões europeus, ainda que a cidade tenha fama de cara entre os espanhóis. E com um sistema de transporte bem integrado – turistas costumam se apegar ao metrô pela comodidade, mas o sistema de ônibus é muito bem sinalizado – completa o pacote.

Não foi  por acaso que, tendo a liberdade de me basear em qualquer lugar para a temporada europeia – ok, não qualquer lugar, porque quem cobre F-1 precisa de um bom aeroporto por perto! – o encantador bairro de Gracia, injustamente esquecido pelos turistas, que preferem se amontoar no gótico, foi o cantinho que chamei de meu em 2016. Hora de voltar para casa então!

RAIO-X

Preços: barato para o padrão europeu. Dá para gastar 350 reais por dia com hospedagem sem grandes economias. Brasileiros não precisam de visto.

Ingressos: os mais baratos para os três dias saem por 450 reais e chegam a 1.700.

Melhor época: faz bastante calor no verão e a época mais chuvosa é no final do ano. Isso faz com que maio/junho sejam os meses mais agradáveis.

Por que vale a pena ir no GP? É a chance de visitar uma cidade incrível, mesmo que falte um pouco de clima para a corrida em si

Desenvolvimento de motores não está liberado

O regulamento da Fórmula 1 é tão complicado que, muitas vezes, os jornalistas – e até mesmo os pilotos e representantes das equipes, durante as entrevistas – se sentem obrigados a simplificar as coisas e, com isso, a precisão fica prejudicada.

Como não é todo mundo que acompanha o esporte querendo saber de cada detalhe, isso acaba sendo um mal necessário por um lado e útil para não afugentar uma maioria que, por exemplo, não quer saber se Stoffel Vandoorne vai sofrer uma punição porque utilizou a quinta unidade de seu MGU-H. Para estas pessoas, que são a grande maioria, você pode falar que a punição é pela troca do motor, o que é impreciso, mas serve para explicar a perda de posições.

Dito isso, este post visa explicar por que a chamada liberação do desenvolvimento dos motores para esta temporada não é exatamente uma liberação do desenvolvimento dos motores.

O projeto inicial dos V6 turbo híbridos visava ao mesmo tempo colocar a F-1 na vanguarda da tecnologias exploradas pelas montadoras, a fim de atraí-las de volta (o que é questionável mas, neste caso, vamos simplificar!) com o menor custo possível. Por isso, foi determinada uma série de restrições ao desenvolvimento desde o início do projeto. As fichas de desenvolvimento só valeriam de uma temporada para a outra, ou seja, pela primeira regra, os motores ficariam congelados durante o campeonato (o que aconteceu em 2014) e as áreas de congelamento geral iriam aumentando até que se chegasse a praticamente um congelamento total em 2018.

O grande risco do regulamento inicial acabou se tornando realidade e a Mercedes fez um trabalho tão superior aos demais que, caso o plano seguisse adiante, a competitividade do campeonato ficaria seriamente prejudicada. Foi então que começaram a surgir as regras que relaxavam o desenvolvimento até chegarmos ao acordo costurado por Bernie Ecclestone para a “liberação” atual.

Dentro deste acordo, ficou acertado que caberia à FIA avaliar todos os motores após três etapas disputadas em 2017 e classificá-los usando como base o Circuito da Catalunha: se o rendimento entre o melhor e o pior não ficasse ao equivalente a uma margem de 0s3 em uma volta em Barcelona, seria liberada uma intervenção. Pois, bem. A FIA fez suas análises e apenas a Honda estaria fora disso – a Red Bull não concorda, mas isso é outra história, lembrando que, se a Renault não tivesse recebido permissão para furar o congelamento dos motores em 2008, é bem provável que eles não fossem tetracampeões hoje – mas o plano do que será feito para garantir a paridade prevista no acordo dos fornecedores ainda não foi fechado.

Confira quais são as restrições ao desenvolvimento dos motores:

  • O MGU-K não pode pesar menos de 7kg
  • O MGU-H não pode pesar menos de 4kg
  • Há limites, também, para o peso dos pistões (300g), bielas (300g) e virabrequim (5300g)
  • As dimensões dos rolamentos do virabrequim também foram limitadas
  • Taxa de compressão dos cilindros não pode ser maior que 18.0
  • Camadas de ouro, platina, rutênio, irídio e rénio não podem ser mais grossas do que 0s035mm.

Mas não é curioso que o acordo preveja paridade ao mesmo tempo em que o desenvolvimento é “liberado”? Na verdade, foram adotadas algumas restrições que acabam limitando o poder de crescimento de quem já tem um motor potente, ou seja, é difícil para Mercedes e Ferrari crescer muito daqui em diante.

Ao mesmo tempo, com a queda de cinco para quatro unidades de potência a serem usadas por ano – e ano que vem serão apenas três – o foco das fornecedoras agora é mais nas melhorias focando a confiabilidade de suas peças.

Mas o tal desenvolvimento liberado, isso não combina muito com a F-1.

A chave do GP da Espanha

O GP da Espanha está chegando e, com ele, tradicionalmente, a promessa de grandes atualizações nos carros. Porém, se há um tema que tem tirado o sono de pilotos e engenheiros é algo que não tem nada a ver com asas novas ou pontos de downforce: são os pneus, que têm se mostrado bem mais complicados do que se previa.

Com a nova construção usada a partir deste ano, eles se tornaram mais duráveis. Porém, ao mesmo tempo, como a degradação termal virou coisa do passado, isso também significa que as velhas técnicas para colocar ou tirar temperatura deles tiveram de ser revistas. Ou melhor, estão sendo revistas, pois, após quatro etapas, nenhuma equipe ou piloto pode dizer que compreende totalmente o comportamento dos cinco compostos.

Os mais complicados são o médio e o duro. E ambos serão usados neste final de semana em Barcelona.

Já vimos alguns exemplos fortes de efeitos de quedas bruscas de temperatura no pneu, como com Felipe Massa na China e Daniel Ricciardo no Bahrein, ambos tendo suas corridas destruídas nas voltas logo após um período de Safety Car. Porém, a dificuldade também é sentida fortemente na classificação e as equipes têm tentado entender qual a melhor maneira de preparar a volta rápida – e essa compreensão é a grande explicação para a Ferrari ter se dado bem na Rússia, por exemplo.

Tanto, que há quem diga que a resistência de Lewis Hamilton em participar dos testes dos pneus ao longo do ano passado já esteja custando caro ao inglês na luta direta com Sebastian Vettel, que fazia questão de estar na pista o máximo de tempo possível nas sessões conduzidas pela Pirelli. Como tais treinos foram feitos às escuras para as equipes, se há alguém além do fornecedor que ganhou muito com eles é o piloto.

Hamilton se mostra convicto de que as ausências de 2016 não foram importantes. “Acho testes até mais inúteis do que isso aqui”, disse o inglês durante sua entrevista coletiva em Sochi. Porém, sua equipe parece estar entre os times que mais sofrem com os pneus, ao lado da Renault, indo mais para o lado do superaquecimento. E a Force India é um exemplo de carro que pende para a demora em colocar os pneus na janela correta.

Além disso, o aquecimento não é uniforme e, na maioria das pistas, os dianteiros podem estar frios e os traseiros, até superaquecidos. O resultado disso é perda de estabilidade, fritadas, e queda de rendimento.

O que complica a situação é que, devido ao novo regulamento, as equipes têm de aprender sobre os pneus ao mesmo tempo em que descobrem como tirar mais desempenho dos próprios carros. Felipe Massa, por exemplo, acredita que há meio segundo em sua Williams apenas entendendo melhor o acerto e a forma ideal de trabalhar os pneus – e isso é muito mais que qualquer asa ou assoalho pode trazer.

Podcast Credencial e o efeito Bottas

Acredito que teve quem notou a ausência ao longo desta semana, mas a temporada teve a primeira baixa: meu pobre notebook. Mas isso não impediu que eu e Luis Fernando Ramos gravássemos a edição do Credencial pós GP da Rússia, claro! Enquanto vou me familiarizando com as novas posições dos acentos por aqui, fiquem com esse papo – que era para ser curtinho, mas acabou rendendo…

Só para lembrar, estamos sempre com programas novos a cada semana pós GP no Soundcloud e no TuneIn.

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Estratégia do GP da Rússia: fora da caixinha

Em 2014, Nico Rosberg errou completamente a freada da curva 2 na primeira volta, acabou com seus pneus, trocou para um composto mais duro e foi até o final sem grandes problemas de degradação. Há outros fatores envolvidos nesta equação, mas não é tão difícil entender, portanto, como a F-1 assistiu a sua quarta prova na história sem uma ultrapassagem sequer em Sochi no último final de semana.

Mais do que isso, a prova acabou sem grandes chances também para os estrategistas. O pneu macio era duro demais para Sochi mesmo com o inesperado calor do domingo, e todos os carros conseguiriam fazer uma parada tranquilamente. Além disso, o fato da grande maioria largar com os ultramacios diminuía em muito a chance de undercuts, devido à dificuldade de aquecimento do pneu supermacio somada à  falta de degradação, conjunto que tirava a vantagem de quem antecipava a troca.

Mas não foi só pelos pneus que faltou emoção à corrida de Sochi: trata-se de um circuito em que é preciso economizar mais combustível – ainda mais neste ano, em que os pilotos ficam por mais tempo com o pé embaixo – e, dependendo do carro, há chance de superaquecimento quando se anda muito próximo de um rival, muito em função dos muros próximos e freadas fortes, como Lewis Hamilton descobriu logo de cara.

Ou seja, era todo um cenário para que a largada fosse fundamental, e Valtteri Bottas aproveitou isso com maestria. Aliás, o finlandês tem feito boas largadas em um ano no qual os próprios pilotos dizem que é preciso muito mais sensibilidade na embreagem e esse certamente será um fator importante na temporada, especialmente pois vimos novamente que a disputa entre Ferrari e Mercedes foi decidida nos detalhes.

Mas os detalhes desta vez foram em relação ao acerto e à consequente interação com os compostos – é interessante como a Ferrari conseguiu explorar melhor o ultramacio – fazendo apenas uma volta de aquecimento e ainda assim sendo mais rápida que a Mercedes na classificação – como tendo um ritmo superior com o supermacio na prova, permitindo que Vettel tentasse pressionar Bottas no final.

Porém, em termos estratégicos, não havia muito o que a Ferrari poderia ter feito. Primeiro porque o stint inicial de Bottas foi excelente, não permitindo que Vettel se aproximasse de maneira perigosa – e, nesse caso, o único perigo seria aproveitar-se de algum momento em que o finlandês encontrasse tráfego para tentar antecipar a parada. No final das contas, tentar ficar mais tempo na pista era a única saída, mas ainda assim a chance de ser suficiente para o alemão recuperar a posição era mínima.

Enquanto os líderes fizeram marcação homem a homem em Sochi, mais uma vez, a estrategista da Sauber Ruth Buscombe, que já brilhou na Haas ano passado, pensou fora da caixinha e colocou ambos os carros para começar com os supermacios, aproveitando tanto o ritmo com o ultramacio nas voltas finais, em que os carros ficam mais espalhados, mas principalmente esperando um Safety Car no começo, o que já virou tradição em Sochi devido à complicada segunda curva. Não deu outra e os pilotos ganharam um pit stop de graça. As estratégias da Sauber, aliás, têm estado entre as melhores desde o início do ano. Porém, sem ritmo, não há milagre que ninguém do pitwall – ou atrás do volante – possa fazer.

Drops do GP da Rússia

  • A Rússia é dos países que pagam mais caro para receber a Fórmula 1, algo em torno dos 40 milhões de dólares por ano. Certa vez, inclusive, um colega russo me disse que, por aqui, não se sabe valorizar dinheiro. Só se pergunta: ‘Quanto preciso pagar para ter isso?’ e o negócio está feito. Mas parece que o presidente Putin começou a sentir que a conta está salgada demais.
  • Putin teria avisado apenas em fevereiro que o governo russo não colocaria mais a mão no bolso pelo GP, ou seja, os organizadores locais tinham que se virar. E uma das soluções foi cancelar todas as reservas de um hotel bem localizado e grande por ter herdado os prédios da vila olímpica e aumentar os preços de última hora.
  • Passando por um dos dois controles de raio-x para entrar no circuito, algo que está longe de ser comum ao longo do campeonato, lembrei de uma história boa de Sochi: um fotógrafo tinha há meses uma rede chamada CIA Spy em seu notebook e sequer lembrou disso quando foi à Rússia. Acabou interrogado por agentes, que ficaram andando pela sala de imprensa por dois dias rastreando de onde vinha o sinal.https://www.instagram.com/p/BTWyf0lgXhM/?taken-by=massafelipe19
  • Sochi é uma das corridas em que os pilotos que moram em Mônaco alugam um avião, devido às conexões complicadas do aeroporto de Nice à cidade russa. Aliás, um dos motivos que fizeram os pilotos lamentarem a aposentadoria de Rosberg foi porque era ele quem organizava esses voos. Mas isso acabou não sendo um problema.
  • No voo lá estava Max Verstappen com sua inseparável maleta com o PlayStation, o que animou a viagem de Daniel Ricciardo e Felipe Massa. Estaria o trio brincando com simuladores de corrida? Nada disso: a favorito é Fifa.
  • Kimi Raikkonen apareceu com uma nova tatuagem no antebraço em Sochi, com o rosto de seu filho. Ficou no mínimo uma composição interessante com o antigo tribal com a palavra Iceman que ele tem no mesmo braço. Sinal dos tempos?
  • E Alonso, sempre ele: os próprios pilotos estão notando como o espanhol não vem fazendo muito esforço para terminar as corridas nesta temporada. As ‘técnicas avançadas’ de autossabotagem vão desde destruir o assoalho do carro de propósito jogando a McLaren nas zebras até ignorar os pedidos de economizar combustível. Haja 500 Milhas para acalmar a fera.

(O fim das) verdades absolutas

No final das contas, a Mercedes venceu o GP da Rússia pela quarta vez seguida e segue reinando em um circuito no qual deitou e rolou nos últimos anos. Mas foi por pontos, em mais um sinal forte de que a Ferrari não está para brincadeira em 2017.

Talvez o mais importante tenha sido a demonstração de força da Scuderia na classificação, ao fechar a primeira fila. E a boa notícia é que Kimi Raikkonen se sentiu melhor com o carro e agora parece capaz de somar os pontos importantes para o time buscar seu primeiro título de construtores desde 2008. Sabe-se que o modo de classificação do motor usado pela Mercedes é um dos pontos mais fortes do time desde a introdução dos motores V6 turbo híbridos, então uma derrota no sábado, mesmo que por margem pequena, é bastante significativa. Para se ter uma ideia, é apenas a terceira vez que os motores Mercedes são batidos em classificação desde 2014 – e a primeira em um circuito de potência.  

Na corrida, aconteceu uma tendência interessante e ao mesmo tempo difícil de explicar: com 40ºC de temperatura de pista, a Mercedes – pelo menos com Bottas, pois Hamilton esteve perdido – foi melhor com os ultramacios, enquanto a Ferrari se comportou melhor com os supermacios. Acreditava-se que o segredo da Scuderia seria tratar melhor dos compostos mais macios, especialmente no calor, mas é mais uma verdade absoluta, junto da superioridade da Mercedes em classificação, que cai por terra em 2017.

A janela de temperatura menor que nos últimos anos é diretamente relacionada a estas duas verdades, e há quem acredite que entender os compostos e suas particularidades será até mais importante que a corrida pelo desenvolvimento.

Sochi mostrou, ainda, como os pneus são importantes para o espetáculo. Quase sem degradação devido ao asfalto liso, os pilotos puderam forçar até o final e isso tem seu lado positivo, pois aumenta a chance de erros e tem feito com que os melhores se sobressaiam. Porém, ao mesmo tempo, se houve alguma ultrapassagem real na quarta etapa do campeonato, ninguém viu.

Verdades à parte, é impossível não salientar o progresso de Valtteri Bottas. Até mesmo Lewis Hamilton já identificou em Sochi que o finlandês “trabalha muito duro” e o ex-Williams já tem médias superiores no embate com o inglês que Nico Rosberg tinha, pelo menos em classificação. É claro que não se pode esperar que Valtteri supere Lewis em todas as corridas daqui em diante, até porque o inglês teve um final de semana bem atípico, em que não se encontrou com o carro em momento algum, mas a curva ascendente do finlandês nestas quatro etapas indica que o tricampeão terá mais do que Vettel com quem se preocupar.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Rússia

Hamilton 2 a 2 Bottas
Ricciardo 3 a 1 Verstappen
Massa 4 a 0 Stroll
Raikkonen 0 a 4 Vettel
Alonso 4 a 0 Vandoorne
Perez 3 a 1 Ocon
Kvyat 2 a 2 Sainz
Hulkenberg 4 a 0 Palmer
Wehrlein 2 a 0 Ericsson
Grosjean 2 a 2 Magnussen

Diferenças de hoje:

Bottas x Hamilton: 0s478

Ricciardo x Verstappen: 0s256

Massa x Stroll: 0s915

Vettel x Raikkonen: 0s059

Alonso x Vandoorne: 0s717

Ocon x Perez: 0s093

Sainz x Kvyat: 0s020

Hulkenberg x Palmer: 0s955

Magnussen x Grosjean: 1s212

Wehrlein x Ericsson: 0s175

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1: A Riviera dos russos

Pegue a Riviera Francesa e a adapte à Rússia. Essa talvez seja a melhor definição para o lugar que sedia o GP da Rússia de Fórmula 1 neste final de semana. Digo lugar porque a cidade do circuito na verdade é Adler, do lado de Sochi, palco dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 e hoje uma cidade com ares de fantasma, com prédios sem uso após a competição.

Adler faz parte da tal riviera – e realmente os russos têm tentado emplacar esse título, ainda que seja uma comparação um tanto injusta – mas é Sochi o destino mais famoso da região. Alguns elementos estão lá: uma orla cheia de restaurantes, baladas que funcionam especialmente no verão, um pôr do sol bonito no Mar Negro e até as águas são quentes, especialmente para nós, acostumados ao oceano. O clima de praia só é atrapalhado pela falta de… praias, uma vez que o terreno tem pedras. Tanto, que durante o verão é comum os russos importarem areia de outros lugares.

Pode não parecer um destino dos mais atrativos, mas o lugar fica lotado no auge do verão, em julho e agosto, basicamente por ser a melhor opção dentro do vasto território russo. E, se a praia não agrada, nos arredores existem várias trilhas com cachoeiras, um famoso vale chamado Agura, de onde há quem diga que é possível enxergar a Turquia, lá do outro lado do Mar Negro, se o tempo ajudar – e, de fato, a capital turca é a cidade mais famosa nas proximidades, ainda que o Mar Negro ainda tenha a búlgara Varna e a ucraniana Odessa como destinos turísticos conhecidos (ou pelo menos para aqueles que, como eu, já se aventuraram no ‘turismo europeu barato e com cara de tudo menos de Europa’). Os picos de Krasnaya Polyana, que também receberam os Jogos de Inverno, são outra atração que fica nas proximidades e é uma boa pedida para quem gosta de curtir a natureza – inclusive no inverno, um dos mais amenos da Rússia, em que o lugar se torna uma pista de esqui.

Se nada disso parece muito a Rússia da qual nos acostumamos a ouvir falar, há pelo menos uma foto que você pode tirar para provar que está por lá: Sochi preserva um mural de mosaico gigante de Lenin, imponente, entre árvores e arbustos no meio de uma praça, que é considerado um dos marcos da cidade.

Agora, se a ideia é casar Sochi com uma viagem a outros destinos do país – como, aliás, fiz neste ano – é necessária uma dose de preparação, pois as distâncias são bastante grandes. A cidade está a mais de 1600km de Moscou, ou a 2h20 de voo. E de lá a São Petersburgo são mais 4h de trem rápido. Mas os experientes em território russo dizem que a melhor parte do país do ponto de vista turístico é a quase 5000km (!) dali, na região que vai do Lago Baikal, considerado o mais fundo do mundo, à cidade de Novosibirsk, ao norte da fronteira com a Mongólia. Quem se aventura?

 

RAIO-X

Preços: barato. Cerca de 200 reais por dia incluindo hospedagem. E brasileiros não precisam de visto.

Ingressos: os mais baratos para os três dias saem por 300 reais e chegam a 1.650.

Melhor época: No verão, quando as temperaturas raramente passam dos 25ºC e chove pouco. Na época do GP a temperatura é mais amena.

Por que vale a pena para ir ao GP? Não é um destino para iniciantes, tudo é um pouco complicado. Mas a combinação vodca e um lugar diferente anima?

Por dentro da F-1: Os limites das disputas por posição

Depois de muito chororô e até de um pódio que demorou horas para ser confirmado – na verdade, mudado – no México ano passado, a Fórmula 1 promete aliviar as punições aos pilotos nesta temporada. Porém, ao alterar o texto da regra, também abre a porta para ainda mais subjetividade em seu cumprimento.

Antes de sair reclamando por aí que fulano não foi punido ou que há exagero em alguma penalização, é bom entender o que diz o texto da regra:

REGRAS DE PILOTAGEM

  • Artigo 27.1 do regulamento esportivo: O piloto deve pilotar o carro sozinho e sem ajudas.
  • Artigo 27.2 do regulamento esportivo: Os pilotos devem observar as prescrições do código a respeito do comportamento nos circuitos o tempo todo.
  • Artigo 27.3 do regulamento esportivo: Os pilotos devem se esforçar razoavelmente para usar a pista o tempo todo e não podem sair dela deliberadamente e sem uma justificativa.
  • É considerado que o piloto deixou a pista se nenhuma parte de seu carro continua em contato com ela e, para que não haja dúvida, as linhas brancas que definem a pista são consideradas parte delas, mas as zebras, não.
  • Se um carro deixar a pista, o piloto deve voltar. Contudo, isso só pode ser feito quando for seguro e sem que ganhe-se uma vantagem duradoura. Cabe ao diretor de pista determinar se o piloto terá a oportunidade de devolver qualquer vantagem que tenha tido deixando a pista.
  • Artigo 27.4 do regulamento esportivo: “Em momento algum um carro pode ser pilotado de forma desnecessariamente lenta, errática ou de maneira que possa ser potencialmente perigosa para outros pilotos ou qualquer outra pessoa.”
  • Artigo 38.2 do regulamento esportivo: “A não ser que seja claro para os comissários que um piloto foi totalmente ou predominantemente culpado por um incidente, nenhuma punição deve ser dada.”
  • Um ponto muito importante e que sempre traz confusão é a tal “vantagem duradoura”. Muitos pilotos escaparam de punição recentemente por conta disso, tirando um pouco o pé depois de passarem reto em chicanes. E eu poderia citar aqui Hamilton no México, mas ali o inglês escapou mais por ser a primeira curva da corrida, em que os comissários costumam fazer vista grossa. Sim, subjetividades!

A tal “vantagem duradoura” continua valendo, mas a tentativa de colocar na regra limites mais literais para a defesa de posição, o que acabou ficando conhecido como “regra Verstappen”, acabou:

O que SAIU da regra neste ano, a chamada regra Verstappen:

Artigo 27.5 do regulamento esportivo: “Está proibida qualquer manobra a fim de impedir outros pilotos, como qualquer mudança anormal de direção. Qualquer exceção às manobras previstas no artigo 27.6, qualquer mudança de direção em freada que resulte na necessidade do outro carro ter uma ação evasiva será considerada anormal e deverá ser punida.”

O fim da chamada regra Verstappen demonstra que a FIA entende que foi um pouco longe demais em sua abordagem “preto no branco” das regras. Há alguns anos, os textos eram menos específicos e havia mais interpretação. Porém, ao longo do tempo, mais detalhes foram sendo colocados nas regras e elas passaram a ser aplicadas de uma maneira mais lógica.

Isso fazia sentido no papel, pois buscava eliminar a subjetividade das punições, mas não foi o que aconteceu na prática. Pesos e medidas diferentes continuaram sendo aplicados e as regras mais descritivas só serviram para aumentar o número de investigações e punições.

Voltando atrás, a FIA dá espaço novamente para subjetividades e reconhece que é muito difícil escrever um texto que compreenda todos os tipos de manobras em diversas situações e circuitos distintos.

Mas isso não quer dizer que a choradeira vai acabar. Ao explicar o afrouxamento das regras, Whiting disse:

“Antes, sempre que um piloto se movia na zona de freada, era investigado. Agora, temos uma regra simples que diz que, efetivamente, se um piloto faz algum movimento errático, diminui demais a velocidade ou se comporta de uma maneira que possa colocar o rival em risco, ele será investigado. A regra é muito mais ampla”.

Ampla e interpretativa. Ou seja, não vai demorar para alguém – o próprio Verstappen é um forte candidato – testar até onde vai essa nova leniência dos comissários.

Olhar estrangeiro: por que os finlandeses são tão bons?

Vou trazer nesta coluna ao longo do ano papos que tive no paddock explorando a visão de profissionais de outros países sobre diferentes aspectos da F-1. Espero que vocês curtam!

Quatro títulos mundiais, quatro vencedores de GPs e agora cinco donos de poles positions. Entre eles, 46 vitórias, 49 poles, 75 voltas mais rápidas e 170 pódios. A média é alta para um país que, desde sua primeira participação em 1974, teve apenas nove pilotos no total, vindos de uma população de 5,5 milhões de pessoas. Mas, afinal, por que os finlandeses são tão rápidos?

Há várias teorias. Heikki Kovalainen certa vez aludiu a uma espécie de tradição de guiar carros o mais rápido possível como regra geral – e começar cedo, nas estradas quase sempre desertas ou por caminhos na zona rural. E há quem diga que é tudo porque tais estradas estão quase sempre escorregadias por conta da neve e da chuva.

Mas também é verdade que o kart é bem mais popular na Finlândia do que em outros países. E não o kart de competição, mas uma brincadeira para as crianças. Para quem quiser levar a prática adiante, existe uma estrutura não muito cara para a realidade local, permitindo que famílias entusiastas das corridas, como era a família Raikkonen, com o pai e dois filhos correndo com os próprios recursos, consigam se manter competindo.

De quantidade se tira qualidade e o fato do kartismo estar tão presente já seria um motivo forte para responder à questão. Ainda mais se tratando de um país que está na Europa – o que diminui os custos de uma carreira nos carros de fórmula em comparação com o Brasil, por exemplo – e da realidade econômica favorável, com um PIB per capita de 50.000/ano. Além disso, trata-se de uma economia bem distribuída, em que a diferença entre os mais ricos e mais pobres é menor do que em outros lugares.

Porém, há quem refute tudo isso: das ruas escorregadias à situação cultural e econômica favorável. Conversei longamente com Heikki Kulta, principal referência do jornalismo finlandês de Fórmula 1 e que está na categoria desde o início dos anos 1990, tendo feito seu nome por ser ao grande especialista do país na época de Mika Hakkinen. O simpático Heikki tinha outra explicação para o sucesso dos pilotos de seu país: a resignação.

O jornalista contou que J.J. Lehto certa vez ridicularizou a teoria de que as estradas escorregadias geravam grandes pilotos. “Se fosse assim, minha vó seria a melhor piloto do mundo!”. Andar de carro comum no gelo, de fato, não faz você ser melhor em um fórmula em condições normais. Mas, sim, faz você ser melhor conduzindo um carro no gelo!

Seria o jeito de pensar finlandês que os tornaria tão bons no automobilismo. Nas várias vezes em que abordou o assunto com gente do meio, Heikki conta que teve respostas similares. “Desde as categorias de base, os engenheiros falam que, quando algo de errado acontece com pilotos de outros países, eles geralmente culpam o carro, arrumam desculpas. Os finlandeses apenas ouvem o retorno da equipe e tentam melhorar.”

Eles mesmos se consideram perseverantes, perfeccionistas e egoístas, trio de características que explica a frieza que passam de fora, mas que acaba sendo importantíssimo no esporte de alto rendimento (faço um parênteses aqui para relembrar um momento memorável da coletiva do sábado no Bahrein, quando Vettel pergunta a Bottas se há tradução para “exciting” no finlandês e a resposta é “não exatamente”). Junte-se a isso a fome de aprendizado e a atenção aos detalhes e dá para entender melhor porque um país cuja população é mais de 36 vezes menor do que a do Brasil é o único que tem dois pilotos entre as melhores equipes do grid.

Podcast Credencial – GP do Bahrein

O Credencial sobre o GP do Bahrein – e já projetando a corrida da Rússia, que será realizada dia 30 de abril – tem tudo sobre o duelo Ferrari x Mercedes, a tal polêmica entre Verstappen e Massa e muito mais. Confira mais esse papo meu com o companheiro de transmissão no Grupo Bandeirantes, Luis Fernando Ramos.

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Estratégia do GP do Bahrein: entre erros e ousadia

De um lado, uma aposta inicial que poderia ter dado muito errado, mas que foi inicialmente salva por falhas do adversário e depois por um ritmo superior. Do outro, uma equipe que teve de rever algumas vezes seus planos durante a prova e, mesmo assim, chegou em segundo e terceiro lugares. O GP do Bahrein levou Mercedes e Ferrari ao limite. E nos deu uma corrida cheia de alternativas estratégicas – e comprovando a teoria de que, quando a Pirelli conseguir levar compostos que se degradam mais, a tendência é a corrida ser boa.

Na segunda corrida disputada com clima mais quente e na qual foram usados os pneus supermacios, a Ferrari levou, muito em função de sua velocidade. No entanto, de pouco adianta esse ritmo superior se houver uma Mercedes na frente, atrapalhando o ritmo, como Vettel descobriu na primeira parte da prova. Sem conseguir ultrapassar muito em função da velocidade de reta superior da Mercedes, a Scuderia teve de ousar na estratégia, chamando o alemão cedo para sua primeira parada, o que só aconteceu porque o time estava seguro de que a degradação seria pior no domingo, mesmo com as temperaturas mais baixas, e seriam necessárias duas paradas.

O pior cenário possível quando se faz esse tipo de aposta aconteceu, com o Safety Car logo depois, que em teoria daria um pit stop “de graça” para a Mercedes. As paradas, contudo, foram lentas: um problema no equipamento não apenas atrasou o pit de Bottas, como também significou que a pressão de seus pneus estaria mais alta do que o desejável no segundo stint, atrapalhando seu ritmo e causando uma reação em cadeia.

Logo atrás, Hamilton exagerou na hora de desacelerar para entrar no pitlane, a fim de não ficar muito tempo esperando a parada do companheiro, e não só foi punido por isso como fez uma parada bastante lenta – mais até que aquela em que pagaria a punição de 5s.

Isso anulou o efeito benéfico que o Safety Car poderia ter na estratégia da Mercedes, àquela altura comprometida pela aposta ferrarista, e Vettel tomou a ponta. Com ar limpo, pôde imprimir seu ritmo em um segundo stint que acabou sendo decisivo para sua vitória.

A essa altura, a Mercedes dividiu suas estratégias e ficou claro que o carro não funcionava bem com os supermacios. Com isso, Hamilton sentia estar mais rápido que Bottas e passou a pedir uma interferência da equipe. Foram 10 voltas até que isso acontecesse, o que gerou uma perda de 4s para o inglês.

Já sabendo que a Mercedes estava mais forte com os macios, a equipe teve de rever a estratégia de Lewis no final, usando um jogo usado. Mesmo assim, seu ritmo foi forte e ele conseguiu tirar 13s da vantagem de Vettel nas últimas voltas.

Então há quem possa fazer as contas e pensar: pit stop lento no SC + 5s de punição + 4s perdidos atrás de Bottas + 13s descontados no final significam que Hamilton ganharia fácil? Não é o que as últimas seis voltas de Vettel sugerem: caso necessário, o alemão tinha ritmo para brigar.

Ao mesmo tempo, isso significa que a Ferrari tem melhor ritmo de corrida e vai ganhar todas? Também não é assim. Por um lado, o que foi visto no Bahrein e em certa medida na Austrália tem a ver com a temperatura do asfalto em conjunto com a utilização dos supermacios, que acabam mais rápido nas Mercedes. Mas o que parece ser o mais importante nesta disputa, que no momento é bastante igualada, é a posição de pista. E, pelo menos pelo que vimos até aqui, a Mercedes vai lutar por ela por meio da vantagem que ainda tem em classificação, enquanto a Ferrari vai contra-atacar com ousadia aos domingos.

Drops do GP do Bahrein

  • A quarta-feira antes de um GP, especialmente nas dobradinhas (corridas em finais de semana seguidos) são um dia tradicional de deslocamento para os jornalistas e uma chance de dar uma respirada depois de muitos dias de trabalho intenso. Então dá para entender por que a frase “Alonso arruinou minha quarta-feira” foi repetida algumas vezes.
  • Por um bom motivo, claro. A notícia é incrível. Mas imagine o ânimo de um competente colega que tinha a história quase toda apurada, sentindo-se quase pronto para dar o furo. Na quarta, a McLaren soltou um release para alguns membros da mídia inglesa solicitando um embargo, prática comum no jornalismo: assim todos dão a notícia na mesma hora. Mas um jornalista da BBC quebrou o acordo de cavalheiros e deu a nota antes de todos – e antes também que ele mesmo embarcasse para o Bahrein e perdesse o prazo do embargo.
  • Mas o paddock não é cego e não é a toa que o primeiro colega em questão, aquele que tinha as informações que ninguém mais tinha, Chris Medland, está ganhando espaço.
  • Muitos perguntaram sobre o sumiço de Felipe Nasr. Ao que parece, quem cuida de sua carreira tem cometido os mesmos erros que o tiraram do grid da Fórmula 1 neste ano, perdendo o timing de algumas oportunidades, como na LMP2. Antes disso, também houve negociações com a Fórmula E. Mas, por enquanto, nada.
  • A fase de Bottas parecia que iria de mal a pior na quinta-feira. Enquanto falava com os jornalistas sobre o erro na China, sua coletiva teve várias interrupções. Livio Oricchio entra, liga seu gravador e uma mensagem inesperada faz todos caírem na risada: “Seu nível de bateria está… alto”. Depois, mais gargalhadas vêm de dentro do escritório da equipe. Um engenheiro entra achando que a sala está vazia e leva um susto. Ninguém ignora a sequência, mas Bottas se mantém impassível. 
  • Dizem que os finlandeses não expressam muito suas emoções, mas o contraste do semblante de Bottas entre o sábado e o domingo foi marcante.
  • No Bahrein, a organização oferece uma grande área de refeições, algo raro na temporada. E é coletivo, para todas as categorias, então não é raro almoçar ao lado de um piloto com o macacão na cintura do seu lado. Mas não de F-1, claro.
  • Falando em categorias de acesso, achando que estava fora de qualquer competição, Coletti descuidou da dieta e programou férias em todos os finais de semana de corrida porque não suportaria ver as provas de fora. Mas fechou por mais uma temporada na F-2. O que mais doeu foi deixar a folga em Barbados com a namorada, marcada para coincidir com o GP de Mônaco.
  • E, para finalizar, fica uma dica para Fernando Alonso: sabe como começou a campanha de Alex Rossi para estrear com vitória nas 500 Milhas de Indianápolis? Com um porre homérico durante o GP da Rússia, próxima etapa do campeonato da Fórmula 1.

Vitória real

Mais de uma equipe com chance real de vencer, lutas pelas primeiras posições, surpresas. O GP do Bahrein teve um pouco de tudo o que os fãs da Fórmula 1 vinham pedindo. E isso em uma pista que não está entre as que permitem mais ultrapassagens, ainda que tenha sido palco de algumas provas interessantes nos últimos anos.

Isso quer dizer que vai ser sempre assim? Infelizmente, não. Além do fator pista – e o calendário tem na sequência três delas em que as corridas não costumam ser das mais animadas (na Rússia pelo asfalto liso demais, na Espanha pelas curvas de alta e em Mônaco porque não há espaço para muita coisa) – o ritmo lento de Valtteri Bottas no início da prova não só deixou o pelotão mais unido, como também fez com que cada um escolhesse um caminho em termos de estratégia. E como vimos várias vezes nos últimos anos, a variedade de escolhas estratégicas sempre gera bons pegas, porque coloca pilotos com compostos diferentes ou com pneus com mais ou menos voltas dadas.

Porém, independentemente de táticas, o que chamou a atenção foi o ritmo da Ferrari. E nem precisou fazer tanto calor assim. Nos treinos livres, a pista chegou facilmente aos 40ºC, mas na corrida não passou de 30ºC. Perguntei a Hamilton se isso preocupava, pois o calor nem foi tão forte e Vettel claramente teve ritmo superior, e ele se esquivou. “30ºC também é um asfalto quente”. De fato, é, mas é nessa faixa que a maioria das provas do ano serão disputadas. E não com a temperatura da China.

Um tanto perdida com a estratégia, como costuma ser de praxe quando é atacada, a Mercedes ainda teve o problema das pressões erradas no pneu de Bottas no segundo stint, obrigando a uma ordem de equipe que, olhando em retrospecto – e é sempre mais fácil tirar qualquer conclusão depois que a corrida acaba – se tivesse vindo um pouco antes, talvez desse chances de Hamilton lutar, de fato, pela vitória.

Esse talvez tem nome e sobrenome. Durante toda a prova, Vettel pareceu ter um ritmo um pouco melhor que as Mercedes, e isso com ambos os compostos. Depois da corrida da China, era visível a satisfação do piloto alemão, mesmo com o segundo lugar. O motivo é simples: se em Xangai, onde clima e pista teoricamente não favoreciam, ele conseguiu andar próximo de Hamilton, isso só pode querer dizer que a Ferrari está na briga.

Não vai demorar muito para todo mundo focar no GP da Espanha, onde devem chegar os primeiros grandes pacotes aerodinâmicos das equipes. E é aí que um campeonato decisivo, o do desenvolvimento, vai começar de vez.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Bahrein

Hamilton 2 a 1 Bottas
Ricciardo 2 a 1 Verstappen
Massa 3 a 0 Stroll
Raikkonen 0 a 3 Vettel
Alonso 3 a 0 Vandoorne
Perez 2 a 1 Ocon
Kvyat 2 a 1 Sainz
Hulkenberg 3 a 0 Palmer
Wehrlein 1 a 0 Ericsson
Grosjean 2 a 1 Magnussen

Diferenças de hoje:

Bottas x Hamilton: 0s023

Ricciardo x Verstappen: 0s142

Massa x Stroll: 0s491

Vettel x Raikkonen: 0s320

Alonso x Vandoorne: 0s

Ocon x Perez: 0s554

Kvyat x Sainz: 0s587

Hulkenberg x Palmer: 1s232

Grosjean x Magnussen: 1s233

Wehrlein x Ericsson: 0s548

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1: E o país que a F-1 colocou no mapa

Aviso: Esta foto oficial está bem tratada. O Bahrein é bem mais bege que isso

Bandeiras vermelhas e brancas minuciosamente distribuídas para formar um ‘jardim’ no deserto. Aposto que é esta a imagem que muitos têm ao lembrar do primeiro GP que a Fórmula 1 disputou em meio à areia.

Lá, a categoria é recebida com muita hospitalidade pelo lado poderoso do país, uma vez que a prova é a grande chance de uma nação de pouco menos de 1.3 milhões de habitantes e 765 km2 aparecer para o mundo. Ao mesmo tempo, foi a oportunidade nos últimos anos da maioria xiita mostrar seu descontentamento com um reinado focado nos mais ricos e com pouca liberdade. Apesar da situação ter piorado em 2011, provocando inclusive o cancelamento da prova, relatórios de entidades de direitos humanos continuam apontando a constante tortura e morte dos opositores.

Em que pese os problemas sociais, o Bahrein tem grande preocupação em encontrar atividades econômicas lucrativas fora do petróleo e, por conta disso, foi uma das primeiras nações da região a investir no turismo. Dizem eles que estão na terra do Jardim do Éden, mas o fato é que trata-se de uma ilha habitada desde pelo menos 3000 AC, sob o nome de civilização Dilmun. Há resquícios destes tempos no Museu Nacional, mas talvez o mais curioso marco para nós brasileiros seja o Forte, considerado patrimônio da Unesco e herança da ocupação portuguesa que durou 80 anos no século XVI.

Os tradicionais mercados árabes, em que a negociação é cultivada como uma arte, não poderiam faltar, e nos últimos anos a cozinha – internacional, e não a barenita – tem ganhado espaço junto com a chegada de estrangeiros. Nada exatamente que empolgue tanto assim os turistas. A não ser, é claro, os fãs de um alaranjado e gigantesco pôr do sol no deserto.

O que esperar

Preços: razoáveis. A hospedagem pressiona um pouco o valor, mas o gasto fica em torno de 400 reais por dia incluindo acomodação. Brasileiros precisam de visto.

Ingressos: os mais baratos para os três dias saem por 560 reais e chegam a 1.300.

Melhor época: melhor não se aventurar no deserto no verão, certo? O melhor período para visitar o país é no inverno, de dezembro a março. No GP, em abril, a média das máximas ainda não é tão alta, chegando a 30ºC.

Por que vale a pena ir no GP? Se estiver afim de uma Abu Dhabi sem grife.

Por dentro da F-1: Em busca do pit stop perfeito

“Nós estávamos o ano inteiro ao lado do pit da Red Bull, e eles vibram bastante quando fazem uma boa parada. Ficávamos ouvindo e querendo fazer melhor”. O testemunho de um dos membros do time campeão absoluto dos pit stops ano passado, a Williams, dá a medida do nível de competitividade e entrega exigidos naqueles 3s de ação.

O trabalho feito pela equipe inglesa para passar de uma das piores equipes de box para a campeã mostra bem o esforço necessário para estabelecer o novo recorde, com o 1s92 na parada de Felipe Massa no GP de Baku em 2016. Absolutamente todos os procedimentos, preparação física e especialmente equipamentos usados para soltar e prender as rodas foram extensamente revisados.

Quando vemos uma parada ruim, uma porca que não solta ou algo do tipo, o primeiro reflexo é implicar o fator humano, mas muitas vezes a explicação é bem mais complexa, como vimos naquele caso do ‘sumiço’ dos pneus de Ricciardo em Mônaco: houve uma mudança de planos de última hora que não levou em consideração o procedimento mais lento dos boxes no Principado e o composto desejado não chegou a tempo ao pitlane.

Quanto mais se estuda sobre esse procedimento tão rápido, mais se percebe o número de coisas que podem dar errado e o altíssimo nível em que tudo é feito, fruto de horas de pesquisa no desenvolvimento de equipamentos e no treino dos mecânicos que, apenas durante os finais de semana de corrida, fazendo centenas de treinos. Principalmente após o fim do reabastecimento, em 2010, o pit stop se tornou uma verdadeira obsessão das equipes, que filmam o procedimento em detalhes – e espionam as soluções dos rivais.

Antes do GP

O trabalho dos pit stops durante um GP começa bem antes da corrida, com a instalação de pequenas placas no pitlane com as cores e nomes de cada equipe. Elas estão bem antes dos boxes em si e servem para que o mecânico responsável por liberar o carro saiba se há espaço para o piloto voltar sem ser punido por um unsafe release, quando os comissários entendem que ele retornou muito próximo de um rival. Se este rival estiver entre a placa e o box do carro parado, o mecânico espera até que ele passe.

Vários ensaios são realizados ao longo do final de semana, com as equipes instalando suas marcações para orientar os mecânicos e, principalmente, os pilotos. Mas isso ocorre com o carro desligado. É durante os treinos livres que os ensaios continuam com os pilotos emborrachando a área de pit nesse processo.

Os mecânicos

Na hora da verdade, cada um dos, geralmente, 18 mecânicos tem uma função específica. O carro é guiado para o box certo pelo mecânico que fica na sua frente e será o responsável por liberá-lo.

Ao parar, o carro é levantado primeiro pela frente e depois pela traseira, uma vez que o mecânico com o macaco tem de correr para sua posição após o carro parar. Três mecânicos estão envolvidos na troca de cada pneu (um tira, um coloca e o outro controla a pistola). Os demais mecânicos fazem ajustes na asa, limpam as entradas de ar, a viseira do piloto ou, como tem sido muito comum, seguram o carro pelo santantônio para que ele balance menos, aumentando a precisão dos mecânicos.

Há, ainda, o pessoal do plano B: sempre há alguém com outro macaco por perto caso o principal quebre e os responsáveis por ligar o carro, uma vez que os F-1 não possuem ignição.

Com todos os pneus trocados, o responsável pelo sinal luminoso dá o ok e lá se foram… míseros 2s. Hoje em dia, uma parada acima de 2s5 já não deixa os times campeões no quesito satisfeitos.

O equipamento

Uma fonte constante de atenção entre as equipes é nas pistolas e porcas. A busca por precisão e rapidez na retirada e colocação dos pneus é fundamental para o tempo total de pit stop, e os últimos anos têm sido palco de muitas inovações neste sentido.

A grande chave é minimizar ao máximo e tempo em que a pistola precisa estar acionada para ambos os processos, o que fez com que as porcas se tornassem objetos bastante diferentes do que vemos nos carros de rua. Tanto, que hoje a da Ferrari precisa de menos de três voltas para estar presa, tudo em função de seu desenho, em conjunto com o da pistola em si. Não é de se estranhar, portanto, que cada porca seja utilizada apenas uma vez, para garantir sua confiabilidade.

Ainda vemos os mecânicos levantando a mão, indicando que o pneu foi colocado. Porém, este é um backup, pois o verdadeiro sistema que controla a liberação do carro é formado por luzes. O mecânico assinala por meio de um botão na pistola que efetuou a troca e, quando as quatro luzes estão ligadas, o responsável pela liberação ativa o sinal verde para o piloto.

Porém, não há tempo suficiente para o mecânico perceber se a roda realmente está presa. Com isso, é comum a sinalização do mecânico vir depois que o carro foi liberado. E segundos preciosos são perdidos.

O macaco também foi fonte de intensa pesquisa nos últimos anos. A busca era permitir a maior mobilidade possível do mecânico, para que o piloto não tivesse de esperá-lo sair para retomar a aceleração. Com isso, hoje o responsável pelo macaco espera o piloto de frente mas, assim que sobe o carro, vai para o lado do box, soltando o carro por meio de uma alavanca posicionada onde ele segura o objeto.

Para ganhar tempo, tal mecânico coloca o carro no chão quando vê que aqueles cuja responsabilidade é colocar o pneu já ativaram suas pistolas. Ou seja, isso acontece antes mesmo da troca estar feita e um carro no chão não significa que o processo acabou.

Ao receber os sinais luminosos de que todos os pneus estão colocados, o antigo ‘homem do pirulito’, como ficou conhecido aquele mecânico que segurava as antigas placas, observa se algum carro está dentro daquele perímetro demarcado pela placa da equipe no pitlane antes de soltar o botão que deixa o sinal verde para o piloto acelerar.

O piloto

Ao cruzar a linha de entrada do pitlane, o piloto aperta o limitador de velocidade, eletronicamente programado para limitar a velocidade. Depois, visualiza seu lollipop man indicando a localização dos boxes.

Chegando lá, tem um trabalho importante: acertar as marcas, indicadas na dianteira por mecânicos usando luvas e placas com cores bastante chamativa. É importantíssimo que o piloto pare no lugar exato para que o mecânico responsável pela pistola, que já está praticamente ajoelhado, tenha de se mover o mínimo possível.

Assim que o piloto para, ele segura o carro no freio e aperta o botão do neutro (ponto morto) para poder sair novamente. Assim que vê a luz verde, acelera e, ao final do pit, desativa o limitador.

Para esta temporada, o desafio ‘engordou’. Especificamente, 2kg no pneu traseiro e 1,5kg no dianteiro. E podem ter certeza de que as equipes têm usado estas primeiras etapas para adequar seus procedimentos a isso.

Drops do GP da China

Essa legenda não foi uma das melhores coisas do final de semana?
  • O paddock gigantesco e as bases das equipes, escondidas em meio a arbustos em um verdadeiro labirinto, devem agradar bastante quem quer esconder seus segredos na China. Sem brincadeira: você enxerga onde está o escritório da Williams, por exemplo, mas como não tem um barco para cruzar até lá, tem de adivinhar a rota para chegar ao destino.
  • Bom para a Sauber, equipe que está dando o que falar nestas primeiras etapas. Lembra da saga da foto oficial da temporada, em que Wehrlein foi o escolhido e Giovinazzi ficou de fora? Bem, o chefe de imprensa da Sauber achou por bem que o italiano estivesse na foto, até que foi alertado pelo chefe de imprensa da FIA que isso poderia “não passar uma boa imagem”.
  • O fato é que muitos começam a duvidar da história de Wehrlein não estar em condições físicas de correr. O alemão foi parar na Sauber em uma negociação que envolveria uma mudança do motor Ferrari para o Mercedes ano que vem, mas desde então o time suíço já admitiu que também vem negociando com a Honda.
  • Outra linha de pensamento sugere que a pressão de manter Giovinazzi vem da Ferrari, insatisfeita com o rendimento de Kimi Raikkonen. Veremos o que acontece nos próximos capítulos.
  • Falando em interesses e negociações, ouvi uma boa de um colega após a sexta-feira terminar com Lance Stroll em terceiro. Afinal, caso nenhuma outra sessão pudesse ser disputada, o canadense largaria nesta posição na corrida. “O papai vai comprar os heliportos e mandar fechar tudo”.
  • A mentalidade da família é bem assim mesmo. Não pude deixar de ouvir uma conversa em que Lance contava a membros de seu staff que queria comprar um tubarão. “Um pequeno custa uns 300 mil, não é caro”. Ok, então!
  • Continuando no tema Williams, foi curioso ver a mudança na postura de Felipe Massa entre a quinta-feira, quando destacou que o time não tinha andado com pista molhada, ao contrário dos rivais, e na sexta-feira, quando adotou o discurso de “é o mesmo para todo mundo”. Afinal, foi devido a um acidente de Stroll que o carro não foi à pista no dia de testes com chuva artificial.
  • Sempre ouvi de colegas que ‘não ia ninguém’ ao GP da China. Talvez tenha ficado essa impressão nos primeiros anos, pois havia 100mil lugares nas arquibancadas e tudo parecia mesmo muito vazio. Mas, ao longo dos anos, o metrô chegou à porta do circuito e, com preços acessíveis, o público está longe de ser um fracasso: neste final de semana, a prova atraiu 145 mil nos três dias. É mais, por exemplo, que o GP do Brasil.
  • Os preços camaradas ficaram mesmo reservados aos torcedores. Aos jornalistas e fotógrafos, coube pagar por volta de 500 reais (basicamente o preço de um ingresso para ver a corrida da reta dos boxes) para usar a internet, que é de graça na grande maioria dos circuitos. Mais uma vez, os chineses conseguiram superar o Brasil.
  • Foi minha primeira visita à China e, claro, várias coisas chamaram a atenção. Mas nada como um vídeo mostrado à exaustão no metrô no qual Shanghai aparecia como uma cidade moderna, vibrante, com pessoas muito felizes e, logo depois, tinha início uma série de desenhos de bons modos no transporte público – que, aliás, não são seguidos ainda – incluindo um item fundamental: não usar crocs!

Ferrari é real. E as disputas, também

Ainda bem que o GP do Bahrein já será no próximo final de semana, pois o que vimos em Xangai neste domingo deve ter deixado uma pulga atrás da orelha da Mercedes. Afinal, mesmo em um circuito com curvas mais longas e rápidas, e temperaturas 20ºC abaixo do que tivemos no GP da Austrália, o ritmo de Sebastian Vettel com pista livre não ficou devendo tanto quanto o próprio time alemão esperava.

A briga só não foi mais intensa pela aposta da Ferrari de parar cedo, o que muito provavelmente daria certo caso não houvesse um Safety Car. É possível questionar se a possibilidade de algum acidente naquelas primeiras voltas não era grande demais para correr tal risco, mas a Ferrari resolver assumir o risco.

Apenas no tempo em que ficou atrás de Kimi Raikkonen, Vettel perdeu cerca de 6s5 em relação a Hamilton. E adivinhe qual a distância entre os dois no final da prova?

Com essa performance forte em um circuito e sob condições que favorecem a Mercedes em teoria, não é de se estranhar o sorriso de Vettel após cada sessão. E, já no final de semana que vem, o jogo provavelmente se inverte, no travado e quente circuito do Bahrein.

Talento

É curioso como alguns padrões se repetem quando a aderência da pista diminui consideravelmente, algo que ocorreu na China com o combo temperatura e chuva: ao mesmo tempo em que um piloto que sabe ser bom nestas condições, mas acaba se dando mal por querer abraçar o mundo – leia-se Hulkenberg – outros instantaneamente começam a se destacar. Max Verstappen passou nada menos que nove carros na primeira volta, encontrando aderência onde ninguém mais encontrava, e Fernando Alonso deu um jeito de colocar a McLaren dentro do top 10.

Mas quem mais impressionou foi Carlos Sainz, que bancou largar com os supermacios quando o asfalto estava bem molhado. É claro que o espanhol sofreu no começo e teve sorte em não abandonar, mas era uma estratégia a longo prazo. E acabou dando certo.

Números interessantes

A pista da China costuma proporcionar corridas movimentadas, tanto pela longa reta, quanto por curvas longas que permitem várias linhas. E, mesmo com um regulamento, digamos, antiultrapassagem, foram 54 manobras, mas o número que salta aos olhos dá conta de que apenas dez delas foram realizadas com a ajuda do DRS.

A moral da história é que um piloto pode passar 10, 15 voltas travado atrás de outro e não conseguir passar. Mas podemos ter certeza de que, quando acontece, é bonito de se ver.

Por isso, também, mal da para esperar essa corrida no Bahrein.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da China

Hamilton 2 a 0 Bottas
Ricciardo 1 a 1 Verstappen
Massa 2 a 0 Stroll
Raikkonen 0 a 2 Vettel
Alonso 2 a 0 Vandoorne
Perez 2 a 0 Ocon
Kvyat 1 a 1 Sainz
Hulkenberg 2 a 0 Palmer
Giovinazzi 0 a 2 Ericsson
Grosjean 1 a 1 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s187

Ricciardo x Verstappen: 1s392

Massa x Stroll: 0s713

Vettel x Raikkonen: 0s276

Alonso x Vandoorne: 0s574

Perez x Ocon: 0s839

Kvyat x Sainz: 0s116

Hulkenberg x Palmer: 0s826

Magnussen x Grosjean: 0s281

Ericsson x Giovinazzi: sem tempo

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1: A China francesa e futurista

A Fórmula 1 foi testemunha ocular do progresso gigantesco que a China teve desde 2004, quando o circuito de Xangai foi construído em uma área afastada da cidade e que já há alguns anos, foi engolida por ela, contando até com uma linha de metrô.

A metrópole pode ter crescido, mas o interesse dos chineses, que têm entre seus esportes mais populares o tênis de mesa e o badminton e acompanham de perto as ligas de futebol europeias e a NBA, pela Fórmula 1 não acompanhou o mesmo ritmo. Em uma cidade de quase 15 milhões de pessoas, os organizadores têm dificuldade em atrair espectadores e até algumas construções que, inicialmente, eram arquibancadas, hoje fazem parte da decoração do exterior da pista. Tanto, que alguns ingressos (apenas para a sexta-feira) custam menos de 40 reais!

Com isso, é de se entender que a movimentação na cidade em decorrência da corrida é nula. Porém, para quem visita a metrópole, há muito com o que se surpreender. Quem diria, por exemplo, que Xangai possui uma das coleções mais ricas de art deco do mundo, com direito a influência chinesa no estilo?

Além dos prédios construídos sob forte influência dos ocidentais que foram ao país nas primeiras décadas do século XX, especialmente franceses, que operavam uma área da cidade até 1943. Já no Yùyuán Garden é possível encontrar um pouco de tudo, de lojas de chá a comida de rua – outro ponto alto da cidade – mercados e um templo taonista. Além de, é claro, magnólias, as flores que simbolizam a cidade.

Ao mesmo tempo, Xangai foi ganhando nos últimos anos um skyline cheio de prédios modernos, incluindo a segunda torre do mundo. Não é por acaso também que os próprios chineses chamam quem mora por lá que “capitalistazinhos”, dada a grande quantidade de shoppings e artigos de luxo. Até por conta disso e por ser uma cidade muito mais nova do que Pequim, ela tem menos camadas e não conta tanto da história do país, mas é uma boa porta de entrada.

RAIO-X

Preços: razoáveis. Com 300 reais por dia incluindo hospedagem dá para turistar sem excessos.

Ingressos: os mais baratos para os três dias saem por 195 reais e chegam a 1.410. Brasileiros precisam de visto, no valor de 130 reais para uma entrada.

Melhor época: como o verão é muito úmido e o inverno, muito frio, outono e primavera são considerados os melhores meses. E o GP cai justamente durante a primavera.

Por que vale a pena ir no GP? Para começar a conhecer a China e, de quebra, pagar relativamente pouco pelo ingresso para uma prova que costuma ser agitada.

Por dentro da F-1: Por que combustível virou protagonista?

A realidade é totalmente diferente da era do V8, quando o desenvolvimento dos combustíveis era congelado e sua influência na performance era mínima. Já durante o primeiro ano dos V6, o ganho foi de 4% em média, correspondendo a algo em torno de 30 cavalos. Apesar da velocidade destes ganhos tenha diminuído ao longo do tempo, mesmo na parceria mais afinada, entre a Petronas e a Mercedes, vimos o time estreando uma nova especificação de unidade de potência na segunda metade do ano passado justamente para absorver ganhos vindos do lubrificante.

Para 2017, contudo, o cenário é um pouco diferente e a grande qualidade que os fornecedores é a precisão. Afinal, agora há uma limitação de cinco tipos de combustível a serem usados ao longo do ano, sendo apenas dois por final de semana. Até 2016, não havia limitações. A medida foi tomada para frear os gastos na área, o que era uma preocupação quando o sistema de fichas de desenvolvimento foi abolido.

As diferentes composições eram usadas pelas equipes para lidar com dois tipos de variáveis: a adaptação aos requisitos de cada circuito e aos engine modes usados na classificação e na corrida. A restrição desta temporada, portanto, deve significar um salto menor do sábado para o domingo – algo importante no domínio da Mercedes nos últimos três anos – e colocar pressão nas fornecedoras com menos experiência, que têm menos chance de errar.

Vale lembrar que McLaren e Renault passaram a trabalhar com a BP/Castrol neste ano e podem sofrer com a mudança. A Red Bull também mudou, passando da Total para a  Exxon/Mobil, mas deve sentir menos devido à experiência longa da parceira com a própria McLaren. A Mobil, por sinal, era vista como a fornecedora mais fraca até 2015, mas investiu pesado e teve papel importante na melhora do motor Honda ao longo do ano passado. Já Ferrari e Mercedes têm parcerias duradouras com Shell e Petronas, respectivamente.

Diferentemente do passado, quando os tanques precisavam ser lavados com combustível normal após as corridas para não corroerem, devido às substâncias usadas durante as corridas, as regras hoje permitem quantidades mínimas de aditivos. Isso acontece para manter o interesse das fabricantes em investir no esporte e faz do combustível o elo mais direto entre a tecnologia desenvolvida na F-1 e utilizada nas ruas.

Não que a diferença entre os fornecedores seja gigante. Como sempre na F-1, estamos falando de detalhes que fazem muita diferença. A composição do combustível é, a grosso modo, 99% igual à que temos nos carros de rua e é, portanto, naquele 1% que mora o segredo.

Mas a grande diferença entre os fornecedores não está no combustível e, sim, nos óleos lubrificantes, que ganharam enorme importância de 2014 para cá, uma vez que agem diretamente na durabilidade das peças. A busca não é apenas limitar as quebras, mas manter tudo funcionando como se estivesse novo por mais tempo. Para este ano, a preocupação é maior porque, com o aumento das forças que agem sobre o carro nas curvas decorrente da velocidade maior, cresce também o esforço das peças e a importância de uma boa lubrificação, uma vez que o objetivo dos fabricantes é reduzir o atrito entre as peças sob alta pressão. Para isso, são usadas composições diferentes para o motor, o câmbio e a parte hidráulica.

O que o regulamento diz:

  • Os carros não podem usar mais do que 105kg de combustível por GP e o fluxo não pode ultrapassar 100kg/hora.
  • O combustível não pode ser colocado ou removido durante a corrida. Fora isso, o reabastecimento deve ser feito dentro das garagens, a um fluxo de 0.8 litros por segundo.
  • Cada mistura deve ser analisada pela FIA para a aprovação de suas propriedades físicas e composição. Essa amostra serve como uma impressão digital, com a qual os combustíveis usados durante as corridas são comparados constantemente.
  • Os tanques de combustível também são controlados, sendo provenientes de companhias que tenham o aval da FIA. Eles têm de ser instalados diretamente atrás do piloto e à frente do motor e também precisam ser revestidos do mesmo material que garante a segurança da célula de sobrevivência.

Três perguntas antes de crucificar a F-1 em 2017

Cansamos de ouvir que Albert Park não é um circuito dos mais representativos para entender como uma temporada vai se desenrolar – e vale lembrar que, há 12 meses, a Ferrari só não venceu o GP da Austrália por um erro estratégico – mas a Fórmula 1 já recebeu uma chuva de críticas após uma prova de estreia morna em termos de disputas na pista, apesar de toda a expectativa gerada pelo ritmo verdadeiramente forte mostrado pela Scuderia. Porém, a verdade é que Melbourne deixou mais perguntas do que respostas.

As corridas poderão ser ‘consertadas’?

Alguns pontos deixaram a desejar na Austrália: a falta de ultrapassagens, o engessamento das estratégias e o abismo entre grandes e médias. Mas isso não significa que será assim ao longo do campeonato. Como os carros atuais naturalmente geram mais arrasto por serem mais largos, é esperado que o DRS tenha um efeito maior do que nos últimos anos, podendo superar os 20km/h. Isso quer dizer que as ultrapassagens serão ainda mais fáceis do que antes? Não, pois o efeito da degradação, que também gerava diferenças muito expressivas entre os carros, caiu drasticamente. Mas quer dizer que os números baixíssimos da Austrália, pista na qual as retas são curtas demais para o DRS fazer efeito, não serão regra.

Outra solução está nas mãos da Pirelli, que pode começar, a partir da Espanha, a escolher compostos mais macios para provocar variáveis estratégicas.

Como vai ser a disputa entre Mercedes e Ferrari?

Vimos na Austrália que a Mercedes usou seu poderoso modo de motor de classificação, arma que ninguém conseguiu replicar até agora, para garantir a pole, enquanto quem teve o melhor ritmo, especialmente com os ultramacios, foi a Ferrari.

De fato, a Mercedes parece ser um carro que gera maior pressão aerodinâmica, o que torna o carro rápido em curva, mas também aumenta o gasto de pneu e resulta em mais arrasto na reta, motivo pelo qual o time estava usando menos asa que a Scuderia em Melbourne. Pela mesma razão, o W08 parece mais sensível ao calor.

A aposta de Hamilton é que seu carro se dê melhor nas pistas de alta e no frio, enquanto a Ferrari será superior em circuitos mais travados e no calor. Se a Mercedes levar na China e a Scuderia, no Bahrein, a teoria começará a fazer sentido. Isso sem esquecer, é claro, do desenvolvimento, que começará a ser mais sentido na Espanha.

Como uma equipe pequena pode aparecer?

Foi impressionante o abismo entre os carros da ponta e o meio do pelotão. “Vencedor” da prova B, Felipe Massa levou 1s por volta do último da corrida A, Max Verstappen. Isso mostra como os pneus de alta degradação ajudavam a mascarar o efeito que as discrepâncias de investimento do grid tinham no desempenho.

Como dito acima, um dos paliativos que a Pirelli pode utilizar para melhorar as disputas é levar compostos mais macios, mas a diferença é grande demais para que isso torne possível que uma equipe média tenha resultados como os pódios de Sergio Perez ano passado.

Uma solução seria largar com um pneu que aguente muitas voltas e tentar segurar o pelotão para que o segundo carro da equipe se beneficie enquanto os demais perdem tempo. A outra possibilidade é apostar em uma boa largada para ter o mesmo efeito. Nesse sentido, chamou a atenção a boa largada da Williams com ambos os carros na Austrália, mesmo com um espaço pequeno para a primeira curva. Com a reta longa da China, até mesmo um detalhe como esse pode mudar a história da prova.

Podcast Credencial – GP da Austrália e o que vem por aí

As quintas-feiras pós-GP no blog serão reservadas ao podcast Credencial, que faço junto com Luis Fernando Ramos. Nessa edição, tudo sobre o GP da Austrália e o que esperar para as próximas etapas.

Estou curiosa para saber se vocês concordam ou não com minha opinião sobre a reação de Lewis Hamilton ao desenrolar da prova em Melbourne. Ouçam e compartilhem!

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Estratégia do GP da Austrália – e o jeito 2017 de pensar a corrida

Vamos deixar de lado um pouco a queda gigantesca – e esperada – no número de ultrapassagens do GP da Austrália entre 2016 e 2017. Cinco manobras foram feitas neste ano, contra 37 da prova da temporada passada. O circuito de Albert Park, sobretudo pela falta de retas longas, sempre foi palco de provas travadas e dependeu muito de Safety Cars, que não aconteceram no último domingo, para ter emoção e nada impede que, com pequenas revisões, como o aumento das zonas de DRS e a escolha de compostos mais macios por parte da Pirelli, esse cenário possa ser atenuado daqui em diante.

A informação que fica do final de semana em Melbourne é o que vai transformar a estratégia neste ano – leitura que, na primeira prova do ano, foi mais bem feita pela Ferrari do que pela Mercedes – é a seguinte: ao longo de um stint (sequência de voltas entre uma parada e outra), os tempos subiram em meio segundo, enquanto, até o ano passado, podiam piorar em até 4s.

Isso explica por que a estratégia em 2017 será virada de ponta-cabeça. E também elucida por que, pensando com a cabeça de 2016, a Mercedes perdeu a corrida.

De 2011 a 2016, com os Pirelli de alta degradação, o chamado undercut (parar antes do rival e usar a aderência extra nas primeiras voltas para emergir na frente) foi o caminho perseguido pelos estrategistas. Agora, a palavra de ordem é posição de pista.

Como a degradação é muito menor, a diferença de velocidade entre um carro no final ou no começo de seu stint é pequena demais para garantir a ultrapassagem. Assim, os estrategistas têm de observar se seu piloto voltará no tráfego antes de fazer a parada.

Foi esse cuidado que a equipe Mercedes não tomou quando recebeu o retorno de Lewis Hamilton via rádio de que seus pneus tinham acabado. Como Sebastian Vettel conseguira manter uma distância de cerca de 2s antes da parada, o inglês estava exposto à ameaça ferrarista. Com a cabeça de 2016, o time o chamou ao box e esperou que ele tivesse performance suficiente para superar Verstappen e se manter na frente. Com a cabeça de 2017, a Ferrari esperou ele perder tempo atrás do holandês e tomou a ponta.

A questão é que, dificuldade de ultrapassar devido à turbulência à parte, o ritmo de Verstappen com os ultramacios usados não era tão diferente. Ele vinha sendo 1s por volta mais lento mesmo com pneus mais velhos e isso não é suficiente para garantir uma ultrapassagem simples na F-1, o que nos faz voltar àquele número do início, dos 4s de offset de performance entre o começo e o fim do stint, que acabou com a adoção dos pneus duráveis que os pilotos tanto pediram.

Mais atrás no pelotão, houve outros exemplos de como as estratégias podem ser usadas neste ano. Presa por um Fernando Alonso bem mais lento, a Force India, com Esteban Ocon, tentou o undercut e, mesmo parando na volta seguinte, o espanhol conseguiu se defender e voltar à frente. Já no caso do outro carro da equipe, Sergio Perez fez a mesma estratégia, mas conseguiu passar Carlos Sainz usando as dificuldades do espanhol em aquecer os pneus. A equipe, assim como a Mercedes, deve ter aprendido que, com os carros de 2017 e especialmente os pneus, o undercut deve virar coisa do passado.

Drops do GP da Austrália

 

Vencido o jet lag (ou a maior parte dele), o GP da Austrália trouxe consigo o clima de volta às aulas na Fórmula 1. Mas o clima não era tão amistoso quando se poderia imaginar. Confira algumas curiosidades do que rolou em Melbourne.

  • A transferência de poder do grupo de Ecclestone para o Liberty Media não parece ter sido dos mais tranquilos e há várias pendências que ainda estão no ar. A sensação geral é de que a parte técnica está em boas mãos com Ross Brawn, mas a parte comercial deve enfrentar muitas turbulências pela ingenuidade como algumas questões estão sendo tratadas por gente que não é do meio.
  • Uma equipe que teve muito mais cobertura do que o normal foi a Force India e foi curioso ver, em um mundo assumidamente machista, como as brincadeiras em relação à cor do carro são liberadas. Mas com uma coisa eu devo concordar com um colega dinamarquês que, vendo os carros na beirada da pista, disse: “Agora os carros estão com cores tão distintas que não precisa ser mulher para diferenciá-los.”
  • Aliás, por falar na nova cor, o chefe Bob Fernley entrou de cabeça na história e foi de calça rosa para a corrida.
  • David Coulthard foi um amigo da onça enquanto conduzia uma entrevista dos pilotos diante dos fãs no circuito: pediu para que todos mostrassem a última foto que tinham tirado no celular. Vandoorne tinha uma selfie dentro de sua McLaren, Alonso um amanhecer, Massa uma imagem mandada por Felipinho e Kimi… preferiu dizer que não tinha levado o celular.
  • A organização do GP da Austrália é bem caprichada, com várias atividades para quem vai ao circuito. Digamos que nem é preciso entender de corrida para se divertir no evento, ainda que os organizadores tenham ido um pouco longe demais com isso ao colocar uma foto de Luigi Fagioli na arquibancada com o nome de Juan Manuel Fangio.
  • Entre os itens vendidos no circuito, o que chamou a atenção foi o sapato de Daniel Ricciardo, adaptado a um souvenir comum na Austrália, uma espécie de proteção para latas de um material similar ao neoprene. Mas o próprio piloto perdeu a chance de patentear o produto, vendido pela loja oficial do circuito a 15 dólares (35 reais). Os porta-copos normais saíam por 10.
  • Não chegou a surpreender o fato de Pascal Wehrlein ter desistido de correr no GP da Austrália. O alemão estava parecendo um robô andando no paddock.
  • A saída do piloto significou a estreia de Antonio Giovinazzi, que também não estava na melhor de suas formas, uma vez que viajou para a Austrália sem preocupações com a adaptação ao fuso ou com a alimentação, e foi para a prova tendo como seu stint mais longo em carros de 2017 apenas 10 voltas. Mas foi o suficiente para criar um furor com os jornalistas italianos, que queriam vê-lo na foto oficial da temporada. Contudo, prevaleceu a vontade da Sauber, de colocar Pascal. “Vamos colar a foto do Antonio em cima”, me garantiu um jornalista italiano.
  • A geração de imagens e gráficos da corrida foi bastante criticada. Apesar dos profissionais da FOM serem os mesmos da era Ecclestone, a nova tecnologia 4D, pedido do Channel 4 britânico, tem dado trabalho para os técnicos.
  • Lewis Hamilton teve uma reação paz e amor à derrota na Austrália, mas a expectativa da assessora de imprensa da Mercedes era bem diferente: “Achava que vinha o apocalipse esperando por mim!”

Com há 10 anos

Nos últimos anos, não tivemos um campeonato além da disputa interna da Mercedes, mas tivemos grandes corridas, na maioria das vezes do terceiro em diante. Agora, os primeiros sinais dão conta de que podemos ter um grande campeonato, mas as grandes corridas viraram algo do passado.

A maior competitividade em termos de briga por vitórias era um pedido constante dos fãs, que se diziam cansados das ultrapassagens facilitadas pelo DRS e especialmente a degradação dos pneus. Os pilotos também não estavam contentes com carros pouco ágeis, que eles sentiam não pilotar, apenas cuidar para que chegassem ao final com os pneus inteiros e combustível suficiente.

A nova Fórmula 1 que estreou em Melbourne contempla esses dois pedidos, mas mais uma vez demonstra que o aumento da pressão aerodinâmica e a menor degradação de pneus age negativamente nas disputas por posição. Tanto, que quando falei para Sergio Perez que ele fizera a melhor manobra da corrida, ele não pensou duas vezes: “Então deve ter sido uma corrida muito chata!”

Sim e não. As posições por todo o pelotão estiveram consolidadas desde a metade. Porém, lá na frente, tivemos uma batalha direta entre carros que têm características diferentes, algo que pode gerar muita emoção nas 19 etapas que vêm pela frente.

É claro que existe uma grande dúvida sobre a capacidade da Ferrari se desenvolver, em função da descontinuidade de seu corpo técnico, mas o cenário atual aponta para a batalha entre um carro mais curto e que lida ligeiramente melhor com os pneus contra outro que tende a superaquecer mais a borracha, mas é mais longo e rápido em curvas de alta velocidade.

Isso nos remete às últimas temporadas de 2000, o que não é um mau sinal. 2007, 2008 e 2010 foram campeonatos incríveis com corridas chatas, enquanto a tendência se inverteu – com exceção de 2012 – dali em diante. Resta saber se a própria Fórmula 1 vai se acostumar com a nova realidade.

Do lado da Ferrari, além da melhora do carro em si, a vitória de Melbourne com uma boa jogada estratégica significa a redenção após o erro de 12 meses atrás. O time entendeu bem essa nova realidade e viu que os tempos de antecipar a parada para usar o rendimento dos pneus novos ficou para trás. Como nos velhos tempos de seu domínio com Michael Schumacher, a posição de pista voltou a ser a grande busca dos estrategistas.

Na Mercedes, talvez por esta ser a primeira corrida do ano, ficou uma mea culpa dos dois lados. Hamilton diz que pediu para parar e a equipe atendeu sem se atentar ao perigo dele ficar preso no tráfego. No final, fica a avaliação positiva do inglês de que o importante é estar na frente mesmo depois de uma grande mudança de regras. E de fato isso impressiona.

Como também impressiona o abismo dos três primeiros com a Williams – ou melhor, com Massa – e do brasileiro com o resto.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Austrália

Hamilton 1 a 0 Bottas
Ricciardo 0 a 1 Verstappen
Massa 1 a 0 Stroll
Raikkonen 0 a 1 Vettel
Alonso 1 a 0 Vandoorne
Perez 1 a 0 Ocon
Kvyat 0 a 1 Sainz
Hulkenberg 1 a 0 Palmer
Giovinazzi 0 a 1 Ericsson
Grosjean 1 a 0 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s293

Ricciardo x Verstappen: sem tempo

Massa x Stroll: 2s044

Vettel x Raikkonen: 0s577

Alonso x Vandoorne: 0s

Perez x Ocon: 0s487

Sainz x Kvyat: 0s025

Hulkenberg x Palmer: 3s269

Grosjean x Magnussen: 0s986

Ericsson x Giovinazzi: 0s236

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1: Melbourne veste a camisa

A série de posts da sessão “Turistando na F-1”, que começou com a lista dos melhores GPs para assistir ao vivo estará presente por toda a temporada, trazendo um pouco dos destinos pelos quais a categoria passa. E, aproveitando que estão todos com as baterias carregadas após quase quatro meses sem corridas, o ano começa com uma longa viagem para um dos destinos prediletos de muitos no paddock.

Melbourne tem uma vocação esportiva – para grandes eventos, claro. Tanto, que já foi eleita a capital esportiva do mundo em quatro oportunidade nos últimos 10 anos, recebendo, além da F-1, o Aberto da Austrália, a Moto GP, o Tour Down Under, de ciclismo, e o Boxing Day Test, de críquete. Isso, mesmo que o maior esporte do país seja outro, o futebol australiano.

E todos estes esportes tomam conta da cidade quando desembarcam. Literalmente. A Federation Square, no coração de Melbourne, se transforma a cada evento, tomando a forma de um capacete no final de semana da Fórmula 1 e oferecendo desde produtos até uma viagem à história da categoria. Não coincidentemente, trata-se de uma das provas mais consolidadas e que reúne um dos maiores públicos do ano, por volta de 250 mil por final de semana.

É claro que a prova enfrenta resistência, tanto dos ambientalistas, por ser realizada dentro de um parque importante da cidade, quanto questionamentos de setores do governo que não veem com bons olhos o uso do dinheiro público para financiar o evento. Ainda assim, os australianos em geral têm um bom motivo para sorrir de orelha a orelha: Daniel Ricciardo, que surgiu logo que Webber abriu a brecha.

Fora a corrida em si, Melbourne tem sua verve cultural, com vários festivais grátis, seu jeitão de cidade de praia e uma ponta hipster. É aquele tipo de cidade que pode se tornar uma experiência cara, certamente – e a Austrália nunca foi conhecida por ser um destino barato – mas também agrada quem busca um clima mais low key, como em St. Kilda, que fica do lado do circuito. Um colega australiano que mora lá definiu como “a Austin da Austrália” e outra comparação comum é com São Francisco. Dá para sentir o clima?

Para os turistas, o preço da hospedagem assusta. Enquanto o custo de vida de São Paulo é classificado como 159 – em uma escala liderada por Zurique, com 300 – Melbourne fica com 219. Sydney não fica nem um pouco atrás, mas é outro destino comum naquela região, ainda que há quem goste de Costa Oeste, onde fica Perth, justamente a terra de Ricciardo. Se todo mundo lá for tão legal quanto ele, é mesmo uma boa pedida!

RAIO-X

Preços: salgados: Dá para gastar facilmente 400 a 500 reais por dia incluindo hospedagem, especialmente quando a cidade recebe seus grandes eventos. Brasileiros precisam de visto.

Ingressos: de 470 reais a 1500 (para os fãs de Nelson Piquet, que podem ficar na arquibancada com o nome do piloto. Detalhe: a de Ricciardo tem o mesmo preço)

Melhor época: a cidade é conhecida pelo clima meio louco, então no verão você pode pegar um calor infernal ou muita chuva, mas o bom é que o inverno é ameno, entre 5 e 15ºC. Janeiro e fevereiro têm os melhores climas.

Por que vale a pena ir no GP? Quando Chase Carey fala que quer 21 Super Bowls, digamos que Melbourne é uma das provas que chegam parte disso no atual calendário.

Por dentro da F-1: com que composto de pneu eu vou?

Sim, virou textão. Mas vai mudar sua perspectiva sobre as estratégias

A temporada está prestes a começar e a ansiedade é grande para ver os primeiros carros na pista nos treinos livres. Até que eles saem dos boxes, passar a dar voltas com tempos altos e você não sabe muito bem o que pensar. Como eu entendo quem está bem e quem não está? Dá para comparar companheiros? Tem alguém escondendo o jogo?

Um dos conhecimentos muito úteis para compreender tudo isso é o funcionamento da alocação de pneus durante o final de semana e sua interferência no final de semana – principalmente nos treinos livres.

Para 2017, as regras serão mantidas: a Pirelli tem até 9 semanas antes dos GPs europeus e 15 antes dos fora do Velho Continente para informar as equipes sobre os compostos que disponibilizará. Os times, por sua vez, devem informar à FIA quais suas escolhas até 8 semanas antes das provas europeias e 14 das demais.

Como os pneus serão bastante diferentes neste ano, ficou decidido que, excepcionalmente, a Pirelli definiria a alocação para as cinco primeiras etapas (dois jogos do composto mais duro disponível, quatro do médio e sete do macio), tirando uma variável que foi importante para dar emoção no início de 2016.

Assim, todos os pilotos começam o ano com:

  • Austrália: 7 ultramacios; 4 supermacios; 2 macios
  • China: 7 supermacios; 4 macios; 2 médios
  • Bahrein: 7 supermacios; 4 macios; 2 médios
  • Rússia: 7 ultramacios; 4 supermacios; 2 macios

A partir de Mônaco, contudo, as equipes terão três compostos de pneus de pista seca à disposição e poderá escolher como será a divisão entre os 13 jogos usados por cada carro. Além disso, cada piloto tem à disposição quatro jogos de intermediários e três de pneus de chuva.

A escolha dos compostos, contudo, não é totalmente livre, e é aí que entra sua importância para a estratégia do final de semana.

  • A Pirelli escolhe dois jogos de uso obrigatório em cada corrida, que podem ou não ser de compostos diferentes, e outro jogo que só pode ser utilizado no Q3 (e que é sempre do composto mais macio). O restante é totalmente livre.

O fato das equipes terem de devolver determinados compostos após cada sessão acaba ditando quais serão utilizados em cada uma delas. Estas são as devoluções, controlada por um sistema de código de barras em cada um dos pneus:

  • Um jogo após os primeiros 40min do FP1
  • Um jogo ao final do FP1
  • Dois jogos ao final do FP2 (a não ser que ambas as sessões sejam declaradas em pista molhada)
  • Dois jogos ao final do FP3

Na classificação, as regras dizem que o jogo com o qual os 10 primeiros fizeram suas melhores marcas no Q2 obrigatoriamente serão aqueles com os quais eles largarão. E que obrigatoriamente todos devem usar pelo menos um jogo do composto mais macio no Q3. Isso existe para obrigar todos a irem à pista. Após a classificação, esse jogo é devolvido.

Na corrida, todos os carros devem usar pelo menos dois compostos diferentes e um dos compostos que a Pirelli estabeleceu como obrigatórios em corridas no seco. Com isso, mesmo com os pneus mais duráveis neste ano, é mantida a obrigação de pelo menos um pit stop e nada impede que três compostos diferentes sejam utilizados.

Caso um piloto use um jogo de pneus fora das regras, ele não pode completar mais de três voltas antes de trocá-los. Caso isso ocorra, será punido.

Como tudo isso influencia o final de semana?

A adoção da escolha livre (ou praticamente livre, como vimos acima) dos compostos a partir do ano passado, a preparação dos pilotos ao longo do final de semana ganhou muitas variáveis. Antes, todos usavam apenas os pneus duros no FP1, depois usavam um jogo de cada no FP2 e repetiam o procedimento no FP3. Assim, para a classificação, tinham três jogos de duros e três de macios.

Agora, a estratégia começa muito antes, já na escolha do número de jogos de cada composto. Para tanto, é avaliado o histórico da adaptação do carro a cada pista e as equipes também levam em conta seus objetivos x características de seu equipamento e piloto.

Por exemplo: um conjunto que conserva bem os pneus (Sergio Perez + Force India) e que calcula ficar entre a 6ª e 12ª posições no grid, em uma prova na qual a alocação é de supermacio, macio e médio, o que é o mais comum. O normal é que sua alocação tenha menos compostos supermacios em relação aos rivais (o suficiente para fazer simulações de classificação no FP2 e FP3, além do Q1 e Q2) e mais macios/médios. É o caso quando vemos que o piloto escolheu 5  supermacios nesse exemplo.

Na outra escala, um conjunto que aposta em lutar pelas primeiras posições no grid e andar com a cara para o vento, podendo optar por uma estratégia de mais paradas, e tem pilotos agressivos com os pneus, como é o caso da Red Bull, normalmente vai optar por uma alocação com mais macios e supermacios. Se o piloto tem mais de 5 supermacios, é porque a expectativa inicial é de guardar pelo menos um jogo para a corrida. Nesse caso, o mais comum é ficar com apenas um médio seguindo o exemplo, pois ele entra na cota obrigatória da Pirelli.

As escolhas mais moderadas, contudo, são as preferidas. Mas sempre com a predominância dos supermacios –  ainda seguindo o exemplo – justamente porque eles serão utilizados para as simulações de classificação e nas três fases de definição do grid pela maioria dos pilotos.

Assim, mesmo com o aumento das variáveis das regras de 2016, costumamos ver a repetição de alguns cenários:

  • FP1: quando a equipe está fazendo comparações de novidades no carro, é importante manter pelo menos o mesmo composto. E devemos ver muito isso em 2017 devido ao ritmo acelerado de desenvolvimento dos novos carros, E quando o foco é mais na preparação da corrida, vemos os dois compostos mais duros. Por geralmente a temperatura estar mais amena pela manhã, quase nunca vemos os mais macios em ação. Também por isso, não é um treino representativo em termos de tempos.
  • FP2: treino mais representativo do final de semana por ser realizado na hora da prova e da classificação. Não coincidentemente, no final da primeira hora, momento em que seria disputado o Q3, as simulações de corrida param e se faz uma volta lançada com os compostos mais macios. Depois, normalmente os pilotos se dividem dentro da mesma equipe para fazer simulações com tanque bastante cheio e podemos ver quem tem a esperança de entrar no Q3 (e que espera, assim, largar com os compostos mais macios) e quem não.
  • FP3: treino em que é feita a comprovação de mudanças de sexta para sábado e as últimas simulações de corrida e classificação, ainda que o horário (das 11h ao meio-dia) faça com que ele não seja tão representativo.
  • Antes da classificação e também antes da corrida, a Pirelli divulga quais os pneus usados por cada piloto, o que dá uma ideia de como será a estratégia, ainda que não dê para saber qual o nível de desgaste da borracha já utilizada.

Ficou alguma dúvida ou há algo da técnica ou das regras que gera alguma curiosidade? Ao longo do ano, sempre na semana anterior aos GPs, vou trazer um tema diferente.

Tem temporada começando nesta semana. E podcast no ar

Para começar a semana que terá os carros da Fórmula 1 pela primeira vez medindo forças pra valer nesta temporada, que tal uma análise do que vimos até agora nos testes comigo e com Luis Fernando Ramos? Não deixem de dar seus pitacos também!

Durante a temporada, os podcasts irão ao ar na semana seguinte a cada GP, no Soundcloud (link abaixo)e agora também no TuneIn, que pode ser baixado no celular (IOS e Android).

Enquanto vocês curtem o programa que gravamos no final da semana passada, estarei a caminho do outro lado do mundo para acompanhar de perto essa nova fase da F-1. E fica valendo o convite para ouvir o programa Pole Position, na Rádio Bandeirantes, todo sábado das 13h às 14h.

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O que esperar da F-1 em 2017: Ferrari

O que fez em 2016: perdeu terreno em relação a 2015, não desenvolveu bem o carro, cometeu erros de estratégia

O que muda para 2017: projeto ousado e motor mais forte

Meta: brigar com a Mercedes pelo título

“É como se eles estivessem andando em um tabuleiro”, definiu Niki Lauda. “Eles estão blefando, podem ser bem mais rápidos do que vimos nos testes”, aposta Lewis Hamilton. Mesmo deixando os tempos de volta de lado, a impressão geral de quem observou os carros na pista no Circuito da Catalunha é a mesma: a Ferrari vem forte em 2017.

Caso a expectativa se confirme, será um dos casos mais difíceis de explicar dos últimos tempos. Tudo ao redor do time de Maranello apontava para um ano de caos, a começar pelo comando autoritário de Marchionne e pela falta de conhecimento técnico tanto do presidente, quanto do chefe da equipe, Maurizio Arrivabene. Este, por sinal, respirando por aparelhos no cargo após uma série de indisposições com Sebastian Vettel, que, por sua vez, sequer pensava iniciar conversas de renovação.

Entre os engenheiros, também não havia grandes motivos para otimismo: a equipe responsável pelo SF70-H é marcada pela inexperiência, que vai desde o diretor técnico, ligado aos motores, até o chefe de aerodinâmica, vindo diretamente das competições de GT. Falou-se na contribuição de Rory Byrne, mas não é de hoje que o homem que projetou as máquinas imbatíveis do início dos anos 2000 vem prestando consultoria em Maranello.

E não é que, mesmo com tudo isso, a Ferrari um carro interessante e pode se dar bem?

Após o time italiano surpreender com um projeto criativo, algo que não se via há tempos na Ferrari, ficou mais claro que foi a equipe comandada pelo ex-diretor técnico James Allison que criou o modelo conceitualmente. Questões pessoais e desentendimentos em relação à gestão tiraram o britânico de Maranello – e o levaram para a Mercedes, o que tem tudo para ser uma perda que será sentida ao longo do ano.

Problemas à parte, com um sistema complexo de ranhuras tanto na parte de baixo do bico, quanto ao longo ao assoalho, além do sidepod cheio de minientradas de ar que encontrou uma brecha para driblar a indesejável angulação determinada pelo novo regulamento, o SF70-H colocou a Scuderia na vanguarda.

No entanto, os pilotos ainda se queixam do comportamento do carro nas curvas de baixa velocidade, onde a aderência mecânica fala alto. Provavelmente, essa deficiência está ligada à dificuldade da equipe reproduzir o que a Mercedes tem feito com suas suspensões e pode ser o ponto que falta para que o time volte ao caminho que começou a ser trilhado em 2015 e seja aquele que vai desafiar os tricampeões mundiais, além da inexperiência da equipe que vai desenvolver essa máquina.

Pelo menos em termos de pilotos a Ferrari parece estar bem servida. Vettel se mostrou contente com seu “carro aspirina, que resolve tudo” – e um Vettel contente com o equilíbrio do carro é um Vettel veloz.

Mas quem deve sentir mais diferença, diretamente em função das novas regras, é Kimi Raikkonen. Com um carro que gera mais pressão aerodinâmica, o finlandês pode retomar seu estilo de pilotagem, freando e começando a virar ao mesmo tempo. Até o ano passado, Kimi se sentia obrigado a esperar o carro se equilibrar e perdia tempo precioso com isso. Tal como Felipe Massa, tudo indica que o campeão de 2007 vai se sentir praticamente 10 anos mais novo em pleno 2017.

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O que esperar da F-1 em 2017: Force India

O que fez em 2016: foi ao pódio duas vezes e terminou como quarta força

O que muda para 2017: time atraiu mais patrocinadores e trocou Hulkenberg por Esteban Ocon

Meta: terceiro lugar entre os construtores

Seria fácil desqualificar um time cujo dono vem de um país sem a mínima expressão no automobilismo – e que sequer pode sair da Inglaterra sob o risco de ser preso. Seria fácil, ainda, desqualificar um time que tem em sua origem a Jordan e que chegou ao fundo do poço antes de se tornar a Force India há 10 anos. Mas, sim, são 10 anos não apenas firme no grid, mas paulatinamente chamando a atenção dos rivais.

Não faz muito tempo que o carro da equipe de Vijay Mallya era coberto por marcas comandadas por ele próprio e a saúde financeira da equipe era frequentemente questionada. Foram vários os adiantamentos pedidos a Bernie Ecclestone, mas também é inegável que os tempos de vacas magras ensinaram lições valiosas. A aposta certeira em Sergio Perez começou a abrir o caminho para patrocinadores periféricos e hoje o time tem mais parceiros que a poderosa McLaren.

E menos gastos: enquanto uma equipe como a de Woking conta com cerca de 600 funcionários, a Force India vem fazendo milagre com 360 e, após a quebra da Manor, com o menor orçamento, pelo menos oficialmente, da Fórmula 1.

Nada disso, é claro, garante sucesso em uma temporada na qual uma grande mudança de regulamento fez todos colocarem a mão no bolso, e tudo indica que o poder de desenvolvimento do time será testado. Primeiramente, e isso não é novidade na equipe, o carro é pesado demais, aproximadamente 10kg acima do peso mínimo permitido pela FIA – o que gera cerca de 0s4 de desvantagem, algo bastante considerável.

Além disso, os problemas iniciais de adaptação ao novo motor Mercedes, especialmente na área do escapamento, algo que só foi percebido depois que o carro foi para a pista, não ajudaram.

Por outro lado, tais problemas têm uma fonte promissora: o motor está gerando muito mais potência do que ano passado e existe a chance real de que sua supremacia não apenas se mantenha, mas se amplie, o que seria uma excelente notícia para o Davi da F-1 enfrentar os Golias que, após a campanha do ano passado, se tornaram os únicos que o time vê a sua frente.

Com Esteban Ocon no lugar de Nico Hulkenberg, o time perde em experiência, mas ganha um trunfo que pode ser importante no futuro com a Mercedes, ao dar as boas-vindas a um de seus pupilos.

Ao seu lado, um Sergio Perez que atrai muita curiosidade nesta temporada. E isso não só pelo fato de estar no centro de um mercado de pilotos que promete ser movimentado para 2018. O mexicano se notabilizou por saber cuidar dos pneus e a expectativa é de que isso não faça mais tanta diferença em relação ao que tem sido por toda a sua carreira na F1, desde que estreou, na incrível performance que acabou em desclassificação por um detalhe técnico pela Sauber, em 2011. Será que ele tem outras cartas na manga?

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O que esperar da F-1 em 2017: Red Bull

O que fez em 2016: evoluiu muito ao longo do ano e foi quem chegou mais perto da Mercedes. Teve 2 vitórias

O que muda para 2017: motor mais forte e nova fornecedora de lubrificantes

Meta: brigar por vitórias constantemente

Uma análise mais simplista não deixa dúvidas: se a Red Bull foi quem aproveitou a grande mudança de regras de 2009 para saltar do meio do pelotão e vencer quatro campeonatos seguidos, é ela a maior candidata a fazer o mesmo agora.

O problema é que a Fórmula 1 de 2008 não era a mesma de 2016. E o tipo de regulamento e de mudança não poderiam ser mais diferentes em relação àquela época.

Lembremos que a temporada anterior ao regulamento que previa a queda em 40% da pressão aerodinâmica foi marcada por uma intensa briga entre Ferrari e McLaren pelo título, o que atrasou a preparação das duas gigantes da época. O 2016 da Mercedes, por outro lado, não poderia ter sido mais tranquilo, facilitando o desvio de recursos.

Em 2009, como o alvo das regras era a redução do downforce, quem aparecesse com um projeto que mantivesse os níveis mais próximos do anterior levaria vantagem. Agora, o segredo é aumentar a pressão aerodinâmica gerando o mínimo de arrasto possível. Ou seja, é um desenvolvimento contraintuitivo na comparação ao que levou a Red Bull ao topo.

Do lado do motor, os primeiros sinais dão conta de que a Renault acertou a mão. Porém, as diferenças em relação aos projetos anteriores provocam algumas preocupações com falhas, ora mecânicas, ora na própria unidade de potência. Além disso, como a equipe de fábrica francesa é quem rodou com menos problemas na pré-temporada, há a suspeita de que a questão esteja ligada aos lubrificantes da Mobil, nova parceira da Red Bull e da Toro Rosso. Isso poderia ser grave porque os fornecedores têm de entregar cinco amostras a serem utilizadas ao longo do ano antes da temporada começar segundo as novas regras. Antes, esse número era ilimitado.

Ao mesmo tempo, não apenas a capacidade de elaborar um projeto vencedor, como também – e principalmente – de se desenvolver ao longo da temporada impedem que a Red Bull seja colocada fora do páreo. E ninguém duvida que ainda estamos longe de ver do que o time será capaz assim que o campeonato começar.

Ainda mais com a dupla mais forte do grid atual. Forte, jovem e ambiciosa. Se Max Verstappen impressiona pelos riscos que assume, Daniel Ricciardo tem a dose certa entre se jogar e se segurar e é um osso duro ao longo de uma temporada.

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O que esperar da F-1 em 2017: Haas

O que fez em 2016: fez um bom início de ano, mas depois se perdeu ao longo da temporada

O que muda para 2017: sai Gutierrez, entra Magnussen

Meta: firmar-se no meio do pelotão

Há um ano, a posição da Haas parecia clara: o time era novato, mas não era nanico, em função do orçamento bem razoável e da extensa parceria técnica com a Ferrari, que diminuiria o ‘trauma’ da estreia. Ninguém esperava, contudo, que a equipe pontuasse bem nas duas primeiras provas e houve até quem se adiantou em bradar a injustiça de se permitir tamanha influência de um construtor em outro.

Mas os julgamentos apressados, como de costume, se mostraram infundados. A Haas pagou, como qualquer novata, pela falta de experiência de grande parte de seus funcionários e o próprio Gene Haas foi o primeiro a reconhecer que o desafio da F-1 era maior do que ele esperara. Com boa parte da equipe vinda diretamente da GP2, primeiro a diferença entre um carro e outro ficou clara e, ao longo do ano, a dificuldade em encontrar soluções para problemas que os demais tiram de letra foi transparente.

Isso coloca uma séria restrição no que a equipe pode fazer em seu segundo ano. Ainda mais quando, nos testes, os mesmos problemas de freio que perseguiram o time em 2016 voltaram a aparecer.

É fato que a Haas fez uma pré-temporada respeitável do ponto de vista da quilometragem, mas provavelmente isso sempre será o caso justamente pela grande parcela do carro que vem diretamente da Ferrari, outra que colecionou quilômetros nas últimas duas semanas. Isso costuma ser vantagem no meio do pelotão para as primeiras provas mas, como o ano de batismo demonstrou, não dura muito.

Em termos de pilotos, a equipe fez uma escolha surpreendente ao apostar em Kevin Magnussen, que desperdiçou suas chances na McLaren e na Renault e não tem patrocinadores polpudos. Uma terceira oportunidade é algo raro na F-1 e o dinamarquês deve ter um páreo razoavelmente duro com um maduro Romain Grosjean. Sob o francês, entretanto, paira a mesma dúvida que assombra Sergio Perez nesta temporada: tanto na época em que obteve pódios na Lotus, quanto em suas incursões pela zona de pontuação com a Haas, o piloto surpreendeu quando os demais gastavam seus pneus. Agora, a não ser que haja uma grande evolução ao longo do ano em termos de velocidade, esse ‘poder’ não fará mais tanto efeito.

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O que esperar da F-1 em 2017: Williams

O que fez em 2016: perdeu terreno em relação às grandes e fechou o ano como quinta força.

O que muda para 2017: sai Bottas, entra Stroll e novas caras no corpo técnico. E muito dinheiro

Meta: voltar a fazer pódios

Felipe Massa deve estar feliz da vida pelo rebuliço que acabou mudando seus planos para este ano. O brasileiro, que muito provavelmente disputaria a Fórmula E, categoria que todos entendem como uma grande ideia no papel, mas que ainda deixa a desejar na prática, acabou com um carro bem ao seu estilo nas mãos. Tanto, que mesmo evitando fazer previsões durante a pré-temporada em relação à competitividade da Williams frente aos rivais, o piloto não conseguiu esconder a volta de uma satisfação que há tempos não tinha no cockpit.

O que isso representa em termos de resultados, ainda é cedo para dizer. Mas que a Williams parece ter sido beneficiada de uma maneira torta pelo novo regulamento, parece. Isso porque os carros do time nos últimos anos não vinham primando pelo refinamento aerodinâmico e esse também parece ser o caso do FW40. O efeito colateral disso, todavia, é que o carro oferece menos arrasto, o que, com a ajuda de um motor que empurra muito como o Mercedes, serve para compensar a deficiência nas curvas. Não por acaso, a Williams esteve sempre entre as primeiras no speed trap na pré-temporada.

É lógico que a equipe não pode se apoiar nisso ao longo de uma temporada na qual a pressão aerodinâmica ganha em protagonismo. Afinal, o desenvolvimento dos rivais vai visar o equilíbrio entre a geração de maior pressão e a diminuição do arrasto. E nesse quesito a Williams decepcionou ano passado, com a demora no processo de fabricação de novas peças.

A casa, contudo, está sendo colocada em ordem. O time passa por um período de reestruturação, com a chegada de Dave Ridding e a prometida contratação de Paddy Lowe. Mas o mais importante talvez seja ter Dirk de Beer como chefe de aerodinâmica, uma vez que os projetistas Ed Wood e Jason Somerville (que está de saída) não fazem parte dos mais bem conceituados da F-1.

Dinheiro também não deve ser problema. Se os 24 milhões de euros injetados pelos Stroll – quantia que provavelmente é muito maior na realidade – já seriam importantíssimos para o time, os 16 milhões de desconto no motor para a liberação de Valtteri Bottas foram mais do que bem-vindos.

Investimento na F-1, contudo, não dá frutos da noite para o dia e o mais lógico seria que 2017 fosse o ano para a Williams construir uma base importante para o futuro próximo. Tal base inclui o próprio Lance Stroll que, embora coberto de dúvidas e tendo demonstrado dificuldade em seu primeiro contato com sua nova máquina, é um piloto que tem tempo e apoio financeiro para conseguir se desenvolver.

E tem também em quem se espelhar. O fato de Massa ser a primeira opção da Williams com a saída de Bottas evidenciou a importância de seu feedback para a equipe. E, pela sua reação ao andar com o novo carro, deixar os problemas com os pneus que complicaram sua vida nos últimos anos para trás e poder forçar mais o equipamento podem transformar essa segunda chance em algo bem mais especial do que ele podia prever.

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O que esperar da F-1 em 2017: McLaren

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O que fez em 2016: evoluiu ao longo do ano, frequentando a zona de pontuação na segunda metade do campeonato.

O que muda para 2017: motor é completamente novo. O grafite vira laranja. Sai Button, entra Vandoorne.

Meta: beliscar pódios

Começar o ano com o nível de potência com que a Mercedes terminou 2016. Era essa a expectativa do chefe da Honda na F-1, Yusuke Hasegawa, antes do início dos testes de pré-temporada. Porém, se os alemães realmente têm pelo menos 25 cavalos a mais, há um certo Fernando Alonso que, a alguns meses de completar 36 anos, não deve estar nada satisfeito com isso. Afinal, é do espanhol o diagnóstico: “se você tinha 20cv a menos em 2016, perderia 0s2 ou 0s3 nas retas. Agora, os mesmos 20cv representam uma perda de 0s5.” Isso em consequência do maior arrasto gerado pelos carros mais largos e pela própria eficiência aerodinâmica, que “transformou” curvas em retas.

A ‘felicidade’ de Alonso só aumentou durante os testes, nos quais a falta de confiabilidade fez com que a McLaren em momento algum pudesse comprovar sequer se as previsões pouco animadoras de Hasegawa eram precisas. E o time vai para o GP da Austrália, em Melbourne, mais uma vez bem menos preparado do que gostaria. E bem mais lento.

Não é de hoje que se fala do desafio do projeto da Honda: eles começaram todo o desenvolvimento da unidade de potência depois dos demais, e tentaram desfazer esse gap com uma filosofia diferente, priorizando a miniaturização e dando mais liberdade aerodinâmica aos projetistas. Porém, isso provou ser uma aposta errada e os japoneses tiveram de refazer o motor do zero, aumentando seu atraso. E, como na Fórmula 1 os rivais nunca estão parados, a possibilidade de que esse quadro se reverta vai ficando cada vez mais improvável.

Para piorar o quadro, os problemas da McLaren nos últimos anos não ficaram restritos à unidade de potência. O carro se adaptou bem aos circuitos de baixa velocidade, mas ficava devendo nas de média e alta e sua falta de arrasto, evidenciada quando seus pilotos apareciam entre os primeiros no speed trap do México – ou seja, devido à altitude, usando todo o downforce disponível.

Tudo, então, vai virando uma bola de neve. Você não consegue andar porque o motor tem cada hora uma problema, e não consegue desenvolver seu carro aerodinamicamente. Com um quadro destes, não é só a Honda que começa a temporada sob pressão, mas também Peter Prodromou, que ganhou fama por ser um dos homens de confiança de Adrian Newey na Red Bull, mas ainda não mostrou a que veio quando passou a comandar os projeto da McLaren, a partir de meados de 2015.

Na pista, pelo menos por enquanto, o MCL32 não é apenas lento nas retas, mas também aparenta ser nervoso, os pilotos custam a afundar o pé no acelerador nas saídas de curva. Alonso, aliás, mesmo tendo elogiado o comportamento do carro publicamente, era quem mais parecia estar brigando com o volante nos testes. Se é ele quem está buscando os limites ou falta mesmo equilíbrio, veremos.

Falando em pressão, em Woking ela também é comercial. O lucrativo Grupo McLaren vem absorvendo os prejuízos do time de F-1, que não tem um patrocinador máster desde 2013, mas isso não pode continuar por muito mais tempo. E Alonso, claro, já mostrou nos testes que será mais uma fonte de tensão para o time se o cenário não melhorar.

Ao seu lado, o espanhol terá um dos nomes que gera mais curiosidade neste ano. O belga Stoffel Vandoorne chega com boa bagagem, já conhecendo bem a equipe e tendo causado ótima impressão nas categorias de base. Só fico imaginando como ficará Spa com a concorrência com a enxurrada de holandeses que já tomou conta do circuito em 2016.

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O que esperar da F-1 em 2017: Toro Rosso

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O que fez em 2016: começou o ano figurando entre os 10 primeiros, mas depois perdeu terreno com o motor de 2015 da Ferrari. Sainz chamou a atenção

O que muda para 2017: o novo motor Renault traz ao mesmo tempo a expectativa de mais competitividade e a necessidade de adaptação. As cores também ganharam um upgrade.

Meta: frequentar o top 10.

Deve ser um elogio e tanto quanto Adrian Newey aponta sua solução para a suspensão como o que mais lhe chamou a atenção assim que os novos carros foram lançados. E ainda mais quando seu modelo é o mais semelhante ao da Mercedes. Se a Toro Rosso já demonstrou bons resultados na primeira metade do ano passado mesmo com um motor de 2015 da Ferrari, a expectativa não poderia deixar de ser positiva para este campeonato.

Mas é claro que a mudança da Ferrari para a Renault traz consigo seus desafios, que ficaram claros no primeiro teste da pré-temporada. Cada unidade de potência tem particularidades de funcionamento e interação com o restante do carro – especialmente o sistema de arrefecimento e os softwares – então é normal que o time demore um pouco para conseguir tirar tudo de um equipamento com a qual tanto eles mesmos, quanto a Red Bull, parecem estar bem satisfeitos.

Pelo menos nos testes, o carro não esteve entre os mais estáveis nas curvas e apresentou problemas mecânicos. Assim, a capacidade de desenvolvimento será testada para que o time brigue em um meio de pelotão que tem sido muito competitivo nos últimos anos.

A seu favor, a Toro Rosso tem Carlos Sainz, um piloto de tocada muito agressiva que está no radar dos grandes e que estará bastante focado para conseguir uma boa vaga ano que vem, uma vez que sabe da dificuldade de subir para o time principal. Mas também corre riscos com Daniil Kvyat em uma temporada de tudo ou nada.

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O que esperar da F-1 em 2017: Mercedes

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O que fez em 2016: trucidou a concorrência, mas viu algumas quebras entre seus pilotos.

O que muda para 2017: sai o diretor técnico Paddy Lowe e entra o ex-Ferrari James Allison. E o campeão Nico Rosberg dá lugar a Valtteri Bottas.

Meta: tetracampeonato de pilotos e construtores.

Os domínios não são novidade na Fórmula 1. E nem as mudanças de regras com o intuito de acabar com eles. Mas a atual situação sugere que a história não se repetirá desta vez. É claro que todos torcem para que uma ou mais equipes cheguem mais perto, mas desde a primeira vez que o W08 entrou na pista, dá a pinta de que pelo menos os tricampeões mundiais não perderam em nada sua competitividade. Resta saber o quanto os demais conseguiram evoluir.

Mesmo em uma mudança de regras, a lógica da Fórmula 1 prevalece: um time mais organizado e que consegue se antecipar às tendências, se sobressai. Nos últimos três anos, a Mercedes conquistou cerca de 85% dos pontos possíveis, em um domínio que não deu a impressão de ter diminuído mesmo com a estabilidade das regras. Será que isso seria porque Ferrari e Red Bull já estavam voltados à oportunidade que surgiria em 2017? Pois, bem. Sabe-se que a própria Mercedes, até motivada pela extensão de sua vantagem, também começou a trabalhar ainda em 2015.

E isso não apenas no carro. Há quem diga que o novo motor tem pelo menos 25cv a mais, o que seria preocupante para a concorrência. Por outro lado, mesmo com o domínio, a Mercedes não deixou de ter problemas com a confiabilidade, e isso será ainda mais importante com a limitação de quatro UPs na temporada.

É essa a principal fonte de esperança contra uma organização que aprendeu com Ross Brawn como ser uma máquina de vitórias. A compreensão da necessidade de integrar os projetos da UP e do carro e a coordenação entre engenheiros competentes – que agora passa das mãos de Paddy Lowe para James Allison, o que não deve causar grandes rupturas e acaba dando mais poder para o político Toto Wolff – tem sido fundamental para a equipe estar sempre na vanguarda.

Soluções criativas para as suspensões – e a montagem bem alta deste ano já chamou a atenção de Adrian Newey – e o S-duct podem ser até copiadas pelos rivais, mas eles sempre estarão um passo atrás, a exemplo do que aconteceu com o difusor soprado da Red Bull.

Além disso, uma fonte de tensão do time nos últimos anos deve diminuir consideravelmente: Valtteri Bottas ganhou o emprego dos sonhos, mas ao mesmo tempo estará bastante pressionado para ser o funcionário do mês. Isso porque tem apenas um ano de contrato e conviverá com os boatos que colocam Sebastian Vettel na sua vaga. Isso, tendo de se medir contra um Lewis Hamilton que vai em busca das marcas dos maiores da história.

Para o inglês, há sempre o risco do relaxamento, mas é claro que a lembrança da derrota dolorida para Nico Rosberg estará presente. Tecnicamente, apesar de ter se adaptado muito bem às regras e pneus dos últimos anos, Lewis sempre foi conhecido por testar os limites do equipamento e poderá pilotar mais à vontade agora.

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O que esperar da F-1 em 2017: Sauber

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O que fez em 2016: indefinições financeiras no início do ano deixaram o time correndo atrás do prejuízo por todo o ano.

O que muda para 2017: suíços foram se reforçando ao longo de 2016 e contam com um piloto considerado talentoso, mas que teve de ser salvo por Wolff para não ficar a pé.

Meta: pontuar

Em teoria, a matemática da Sauber era simples: se economizarmos no motor, usando uma unidade de potência antiga da Ferrari, podemos investir mais na aerodinâmica, que ganhará importância com o novo regulamento. Além disso, ganhamos tempo, porque já que nosso projeto atrasou devido à situação econômica ruim até meados de 2016, chegando até ao atraso de salários, é melhor usar um equipamento com o qual já temos intimidade.

A equação dos suíços só esqueceu de alguns “detalhes”: a Ferrari, como as demais fornecedoras de motores, fez uma revisão completa em seu equipamento e há quem diga que sua unidade de potência de 2017 tem nada menos que 40cv a mais. Mesmo que o número soe exagerado, como não há motivos para acreditar que o carro em si tenha algo de especial em relação a seus rivais, o cenário não é nada favorável. Ainda mais quando várias curvas se tornarão efetivamente retas com o aumento do downforce e da aderência mecânica e o arrasto também será maior, mantendo – ou até aumentando, de acordo com alguns – a importância da potência e da capacidade do motor recuperar energia.

Isso sem falar na liberação do desenvolvimento ao longo do ano, que deve ir aumentando o abismo de uma forma até mais forte do que aconteceu com a Toro Rosso ano passado: usando o motor Ferrari de 2015, o time era figura fácil no top 10 na primeira metade do campeonato. Na segunda, pontuou apenas três vezes.

Mas e o dinheiro a mais, não poderia ajudar? A equipe começou a se fortalecer ano passado, especialmente com a chegada de Jorg Zander, mas o carro continuou bem mais simples até que seus rivais diretos, como a Haas. Isso faz sentido porque uma equipe pequena tem menos motivo$ para arriscar, mas também impede grandes ambições.

Em comum com os norte-americanos, a Sauber cometeu muitos erros operacionais ano passado e talvez esteja aí a chave para tentar aproveitar alguma chance que surgir para pontuar.

Chances essas que têm mais possibilidade de surgir nas mãos de Wehrlein. Com um carro pior em 2016, foi o alemão quem aproveitou para entrar no Q2 quando deu e até para pontuar. Marcus Ericsson, por sua vez, vem dando sinais de evolução desde a segunda metade 2015, mas ainda erra muito.

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O que esperar da F-1 em 2017: Renault

Com metade dos testes da pré-temporada ainda pela frente, nem parece que os primeiros treinos livres para o GP da Austrália estão a menos de 20 dias de começar. É hora de aquecer os motores e de entender os desafios de cada equipe em um campeonato com carros não só com um visual diferente, como também prometendo corridas com outra cara.

Nas próximas duas semanas, dedicarei um post a cada uma das 10 equipes, começando pela Renault e seu grande desafio de ser um time top novamente.

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Renault

O que fez em 2016: teve ano de reconstrução com carro pouco adaptado ao motor, e pilotos erráticos.

O que muda para 2017: time perdeu o competente Vasseur, mas ganhou Nico Hulkenberg.

Meta: 5º lugar entre os construtores

“It’s a long way to the top if you want to rock’n’roll”, já dizia a música. A Renault vive de certa forma o que a Mercedes viveu após a compra da Brawn: encontrou um time esvaziado depois de uma temporada em que não havia muito dinheiro a ser investido. Quando retomou o controle da equipe com a qual foi bicampeã 10 anos antes, a Renault encontrou cerca de 300 funcionários – quase a metade do que havia antes – e equipamentos defasados.

Por enquanto, a reestruturação caminha a passos lentos – e tortos. A equipe contratou Pete Machin, da Red Bull, que começa a trabalhar só em julho, e o chefe dos engenheiros da McLaren Ciaron Pilbean, ou seja, nenhum nome de chacoalhar o mercado. Quer dizer, a Renault tinha atraído um nome de peso, Frederic Vasseur, mas uma figura que está longe de ser uma unanimidade no paddock, Cyril Abiteboul, se indispôs com o francês, que saiu no início do ano.

Isso potencialmente já cria um clima pesado no time, uma vez que foi o próprio Vasseur quem convenceu Nico Hulkenberg a fazer uma mudança arriscada na carreira. O alemão tem a mesma idade de Sebastian Vettel e ainda não conseguiu, por uma série de motivos, sair do patamar de promessa. E, como bater Jolyon Palmer não deve convencer ninguém, vai precisar de resultados muito fortes para se colocar bem no mercado de pilotos que deve ser agitado em 2018.

O retorno da Renault à F-1 como construtora não foi só pela equipe em si, mas pela imagem da companhia e sua ligação com carros híbridos. Dinheiro e orgulho ferido, contudo, não garantem sucesso.

Não por acaso, a chefia da equipe evita falar em resultados excepcionais já nesse ano, mesmo com a mudança de regulamento. Nos testes realizados até aqui, o time conseguiu uma boa quilometragem e o carro não era dos mais desequilibrados, mas há de se lembrar da vantagem de ser uma equipe de fábrica. A meta é a quinta ou sexta colocações entre os construtores. Porém, em uma turma em que estão Force India, Williams, Toro Rosso e McLaren, pode soar até um pouco ambicioso.

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Menos piloto, mais carro?

De um lado, temos um dos grandes pilotos de sua geração dizendo que os novos carros fazem com que o piloto perca ainda mais em importância. De outro, um novato com mais quilometragem do que qualquer outro que chegou nos últimos anos apanhando para ficar na pista. Afinal, que F-1 é essa?

“Acho que em termos de forçar o carro e de conseguir expressar seu estilo de pilotagem, o carro está melhor. Nos carros anteriores você ficava restrito na pilotagem porque tinha de economizar tudo. Às vezes ano passado, quando mais lento você era, melhor era seu tempo de volta porque você estava economizando pneus e podia maximizar o stint, enquanto neste ano parece que dará para forçar mais o carro e provavelmente usar seu próprio estilo de pilotagem para maximizar a volta. Por outro lado, acho que a porcentagem de importância do piloto, com a tecnologia que temos agora, o pacote aerodinâmico que temos agora e os motores, diminuiu.” – Fernando Alonso.

A opinião de Alonso é coerente com o que os engenheiros previam sobre o novo regulamento. Pela primeira vez na história recente, a Fórmula 1 mudou suas regras para ser mais rápida, para que os carros tenham mais aderência mecânica e aerodinâmica, fiquem mais no chão. O resultado direto disso é a diminuição do número de curvas – ou seja, trechos em que efetivamente há pilotagem, com modulação de aceleração e freio – e o aumento do arrasto, fazendo crescer a importância de um carro potente.

Além disso, quanto mais aderência, maior a sensação de que o carro está andando ‘sob trilhos’ e isso, como explicou Sebastian Vettel nessa semana, acontece tanto nas curvas rápidas, devido ao downforce gerado pela aerodinâmica, quanto nas lentas, em decorrência da aderência mecânica vinda do pneu.

É claro que há o lado físico: como o carro é mais veloz, as forças que agem no piloto a cada curva e desaceleração são maiores, e isso ao longo de uma corrida vai gerando uma fadiga que pode aumentar o número de erros. Por isso, alguns pilotos, como Lewis Hamilton, relataram que este carro é, na verdade, mais difícil de pilotar. Talvez seja mais atlético e menos técnico.

Ao mesmo tempo, vimos Lance Stroll sofrendo nos primeiros dias de teste, mesmo estando teoricamente bem preparado. O próprio Hamilton saiu em defesa do canadense, dizendo que este “é o ano mais difícil para um estreante” e a Williams também tem blindado seu piloto. Seu ponto de comparação é Stoffel Vandoorne, que ainda não pôde fazer muito com a McLaren.

Porém, ao justificar a batida de Stroll na quarta-feira, Rob Smedley deu outra indicação interessante que, confesso, não ouvi de outras equipes. Hamilton, inclusive, disse que “dá para fazer muitas voltas com estes pneus. Eles são provavelmente os mais duros que eu já usei.”

“Os dois falaram bastante sobre esses pneus. Eles são bons, mas há um certo momento em que eles se tornam muito complicados. Felipe perdeu o carro no primeiro dia porque ele saiu dessa área em que os pneus geram muita aderência e passaram a não render tanto. É algo a que eles estão se adaptando e o Felipe disse que achou bem complicado no primeiro dia. Ouvi que os outros times também estão passando pelo mesmo.”

É claro que são apenas os primeiros testes e cabe às equipes domarem os novos pneus ou quaisquer desafios que encontrem – e o paddock tem gente muito capacitada para isso. Para nós, fica a certeza de um visual mais robusto, com mais cara de F-1. E que quando chegarmos em curvas longas e rápidas como na China ou em lugares quentes como o Bahrein, tem gente que vai sofrer.

Guia dos testes: como saber quem é quem na pré-temporada

A Mercedes andou mais de 6000km nos testes, seguida pela Toro Rosso – que tinha um motor de 2015 e, portanto, mais confiável. A Ferrari apareceu em terceiro, mas com quase 2000km a menos que a líder, sinal da tranquilidade dos alemães, que tiveram apenas uma quebra por toda a pré-temporada.

Tanto, que eles nem sentiram a necessidade de comprovar sua velocidade. Os melhores tempos no geral ficaram com a Ferrari, que optou por testar com os compostos mais macios mesmo andando em Barcelona, enquanto as Mercedes focaram em simulações intermináveis com os pneus médios – e ainda assim davam indícios de quão velozes seriam quando trocassem os compostos.

Vocês podem se perguntar qual o problema em insistir em testar com os macios, princi
palmente em um ano no qual um composto – o ultramacio – fazia sua estreia. A questão é que o asfalto em Montmeló é abrasivo, o traçado é recheado de curvas de média-alta e o tempo frio também dificulta a coleta de dados a serem ‘traduzidos’ para uma situação real. Os médios são os pneus daquele circuito e proveem uma plataforma bem mais segura para o restante do ano. A não ser que você queria fazer tempos para impressionar.

Mas a pré-temporada de 2016 também deu seus alarmes falsos, principalmente no caso da Haas, que passou o tempo todo andando pouco e frequentando as últimas colocações na tabela de tempos para surpreender e pontuar bem logo nas primeiras etapas.

A Red Bull também não demonstrou que viria a ser a segunda força logo de cara, mas acredita-se que isso tenha sido muito em função do fato da suspensão ter sido desenvolvida ao longo do ano. Foi ela que permitiu que o time voltasse a adotar níveis impressionantes de rake, pois seu sistema, que é diferente do usado pela Mercedes, ainda que com o mesmo princípio, trabalhar de forma a ‘estolar’ a traseira nas retas, tendo sido um recurso usado para diminuir o arrasto e compensar a menor potência do motor Renault.

Trata-se de um exemplo muito válido para um ano em que há uma extensa mudança de regras. A expectativa é de que os carros estejam em constante evolução ao longo da temporada e que os oito dias de Barcelona estejam longe de definir uma relação de forças estável para 2017.


Como nunca é demais relembrar, retomei o guia dos testes que publiquei ano passado com os principais pontos para ficar de olho nos próximos dias:

Confiabilidade: este é o sinal número um e deve ser mostrado logo de cara. A primeira prova pela qual os carros novos passam é a verificação de todos os sistemas. Logo, se algo falha, a equipe fica longas horas sem colocar o carro na pista. Problemas repetidos também são um forte sinal de alerta.

Tipo de trabalho feito na pista: cruzando o que vemos na pista com as informações passadas pelas equipes e as entrevistas concedidas pelos pilotos, dá para ter indicativos do tipo de trabalho que está sendo feito. E, geralmente, quanto mais cedo uma equipe passar da confiabilidade para a avaliação aerodinâmica e da avaliação aerodinâmica (feita normalmente com trechos de velocidade constante e sem dar importância ao tempo de volta) para a avaliação de diferentes acertos, melhor. Afinal, isso indica que o programa está correndo dentro do planejado e que não houve surpresas no caminho.

Simulações de corrida: quanto mais cedo uma equipe começar a simular corrida, melhor em termos de competitividade. E a maneira como ela faz isso, também. Comparar stints com o mesmo tipo de pneu e número de voltas semelhantes ajuda a entender quem está onde nas relações de força do grid, especialmente quando as equipes fazem simulações completas de corrida, sem reabastecimento – algo que, inclusive, só acontece em pré-temporada. Isso porque, devido às diferentes metodologias, quando são feitos stints menores, é bastante comum que haja discrepâncias de peso – e 10kg de combustível geram uma diferença de cerca de 0s3 por volta.

Tabela de tempos (só nos últimos dias): o procedimento normal das equipes é buscar comprovar a confiabilidade geral, cruzar os dados de aerodinâmica, colocar quilometragem e ver o que o carro pode fazer em corrida e, só depois, buscar tempos, quando o acerto começa a amadurecer. É possível, inclusive, que um time sequer faça uma simulação de classificação completa, unindo um setor aqui e outro ali para saber qual seu potencial. E também é possível que não seja usado o composto mais adequado. É o que se costuma chamar de esconder o jogo, mas que só o esconde aos olhares mais desatentos. Com apenas oito dias para passar por um longo checklist antes da Austrália, ninguém pode se dar ao luxo de perder tempo blefando.

O que muda na F-1 em 2017: os carros

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Asas e difusor maiores e promessa de um visual mais agressivo. Essa é a propaganda do novo regulamento. Mas o que isso quer dizer e, mais importante, era necessário? Parece claro que a atual mudança de regras tinha como pano de fundo a cobrança dos pilotos por uma F-1 mais extrema e a necessidade de sacudir o grid depois de anos de domínio da Mercedes. Porém, uma análise mais aproximada dos dados que se tem até agora coloca em dúvida se os resultados realmente serão vistos na pista.

Os carros serão indubitavelmente mais rápidos em termos de tempo de volta, embora devam perder velocidade final nas retas. Isso porque o aumento de pressão aerodinâmica, além das dimensões maiores – do carro em si e dos pneus – também gera maior arrasto. Para compensar, a velocidade nas curvas deve aumentar consideravelmente.

Tanto, que as primeiras simulações falam em uma série de curvas que simplesmente se transformarão em retas tamanho o downforce, e é aí que as novas regras passam a preocupar. A previsão é de que uma volta em Barcelona seja feita com 70% do tempo em pé embaixo. Em Monza, isso pode chegar a 80%. Ano passado, as porcentagens eram de 50 e 69%, respectivamente.

Por isso, quando se fala que os carros ficarão mais difíceis de serem pilotados, trata-se de algo relativo. Eles serão sem dúvida mais difíceis fisicamente, pois as forças que incidem nas curvas serão bem maiores com o aumento da velocidade, obviamente. Mas ao mesmo tempo os engenheiros alertam para a sensação de que os carros estejam andando ‘sob trilhos’, tamanha a aderência, tanto aerodinâmica, quanto mecânica.

Assim, a tendência é que a potência do motor seja ainda mais importante em curvas de alta, enquanto a pressão aerodinâmica apareceria como diferencial mais nas médias/lentas. De qualquer maneira, engana-se quem pensa que o equilíbrio de relevância entre PU x aerodinâmica seja completamente diferente em relação ao que tivemos nos últimos três anos.

Outro ponto polêmico é se as corridas em si vão mudar. Um dos problemas hoje é que os pilotos, assim que largam, já tiram o pé. Isso ocorre muito em função dos pneus, que devem durar mais em 2017, mas também pelo combustível. Por conta disso, o limite foi aumentado de 100kg para 105kg por GP, mas com o fluxo permanecendo igual e os carros mais rápidos será que o objetivo será atingido?

Mas a questão que mais preocupa os próprios pilotos é a diminuição das chances de ultrapassagem. Sabe-se que, quanto mais pressão aerodinâmica um carro produz, menos eficiente ele é no ar turbulento de quem vai à frente. Portanto, o que muita gente não entende é por que o ganho de tempo de volta não foi feito apenas a partir da aderência mecânica – por meio dos pneus, no caso – e sem as novidades aerodinâmicas.

Do lado de quem defende as mudanças, o argumento é que o ganho de downforce será proporcionalmente maior na parte traseira do que na dianteira e, portanto, o efeito do ar ‘sujo’ não seria tão forte uma vez que a aderência dependerá mais da configuração das asas traseiras + difusor.

Os entusiastas do novo regulamento também apontam que, com os motores tendo de durar por 5 provas – uma vez que o limite agora é de quatro PUs por ano – e sendo mais forçados devido à diminuição dos tempos de volta, teremos mais quebras, o que aumenta as variáveis.

Os argumentos estão na mesa. Resta saber quem soube ler melhor o novo conjunto de regras a partir de 26 de março em Melbourne.

 

O que muda na F-1 em 2017: os pneus

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O diagnóstico dos dirigentes da Fórmula 1 mudou, o exames que a Pirelli pediu se tornaram realidade. Mas ainda há dúvidas se o produto que será utilizado em 2017 será exatamente o que o médico prescreveu.

Nesta temporada em teoria devemos ver menos pit stops e pilotos forçando mais os pneus. Os italianos mudaram a construção e os componentes, uma vez que receberam a ordem de tornar os compostos não apenas mais rápidos, como também mais duráveis.

No entanto, não foi uma preparação sem dramas. Depois de muita briga nos bastidores, a Pirelli conseguiu 24 dias de testes apenas dedicados aos pneus e realizados por Ferrari, Mercedes e Red Bull, o que foi feito de agosto a novembro do ano passado. No entanto, para garantir que ninguém ganharia nenhuma vantagem, foram usadas apenas asas e difusores com as novas dimensões, o que não simulou com precisão as cargas às quais os pneus serão submetidos: o aumento observado na pista foi de 10%, enquanto a expectativa gira em torno de 25-30%.

Assim, mesmo após os testes, a Pirelli está contando com os dados de simulação das equipes – tanto do downforce para o início, quanto (e até mais importante) para o final da temporada – para ajudar no desenvolvimento de seu produto. Sua expectativa é de que apenas a maior aderência dos pneus mais largos e duráveis diminua os tempos de volta em 2s5.

Outro obstáculo foi a falta de validação final dos pneus médios e duros, que seria feita em Barcelona pela Mercedes. O teste foi atrapalhado pela chuva. No caso dos três compostos mais macios, a prova final foi em Abu Dhabi com os três carros na pista, o que garantiu a aferição de uma grande quantidade de dados. O cuidado com a estreia destes pneus ficou claro, contudo, com a decisão de ceifar a liberdade de escolha dos compostos para as 5 primeiras etapas: todos receberão 2 jogos do composto mais duro, quatro do intermediário e sete do mais macio disponível.

O novo pneu será melhor?

Considerando que os pneus vão funcionar bem para seu propósito, fica a dúvida se adotar uma borracha com mais performance é o melhor caminho, principalmente quando vemos sistemas de suspensão como o da Mercedes por meio do qual o carro “interage” com as curvas de forma tão perfeita que Paddy Lowe reconheceu que “o único fator que nos distancia de ter um carro perfeitamente equilibrado é que a performance do pneu não é estável.”

Mas há alguns bons sinais: com a expectativa de menos degradação, deve diminuir consideravelmente a sujeira na pista, que criava um trilho que desencorajava os pilotos a tentarem ultrapassagens na parte final da prova. Além disso, as simulações também apontam para uma menor sensibilidade a mudanças de temperatura. O pneu usado até o ano passado saía facilmente de controle quando se superaquecia e isso não se repetiu nos testes. Seja como for, como no caso dos motores, a Pirelli já admite mudanças em seu produto para 2018 se os objetivos não forem atingidos. E não é difícil encontrar no paddock quem defenda que a tarefa é complicada demais para que os fornecedores acertem de primeira.

O que muda na F-1 em 2017: os motores

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Como vimos nos posts anteriores, grandes mudanças de regulamentos geraram grandes revoluções na relação de forças das equipes. Mas, desta vez, são alguns os motivos que levam a crer que a Mercedes, depois de arrasar a concorrência nos últimos três anos, não perderá totalmente a majestade.

No primeiro dos textos sobre as mudanças de 2017, as unidades de potência entram em pauta. As mudanças passam por limitações técnicas, menor número de unidades disponíveis – quatro ao invés de cinco – e, ao mesmo tempo, pela maior liberdade, uma vez que o sistema de fichas de desenvolvimento, ou tokens, foi abolido.

A busca é pelo nivelamento do rendimento dos quatro fornecedores. E, caso a convergência de performance não ocorra, a FIA já indicou que realizará mais mudanças para 2018. É por isso que essa mudança é menos definitiva do que as anteriores, uma vez que existe uma preocupação com a competitividade e custos e muitas dúvidas se o que foi estabelecido realmente ataca estes problemas. A maioria, inclusive, garante que não.

O ponto pacífico é que o motor continua sendo um diferencial de performance fundamental. Mesmo que as maiores mudanças no regulamento sejam aerodinâmicas, o aumento do downforce e das dimensões do carro trazem consigo mais arrasto nas retas e, por conta disso, é a potência segue forte como diferencial.

O que muda?

A Renault fala em um motor 100% novo, mas deixa em aberto se vai copiar a Mercedes. Engenheiros da fábrica francesa apontaram que as mudanças não serão tão dramáticas assim, mas alteram a filosofia do motor em si. Pelo histórico das últimas três temporadas, estas alterações devem ser mais no software do que na geometria em si. O fato é que eles entendem que seu conceito chegou ao máximo – e a falta de melhoras durante a temporada 2016 também indica isso – e vão seguir uma linha totalmente diferente.

Quanto à Ferrari, é preciso cuidado com as informações, pois a pressão da imprensa italiana (e NA imprensa italiana) é grande por novidades positivas e geralmente muita coisa que não se confirma é publicada nesta época. E dizer que a expectativa é de que o novo motor tenha 1000cv não é exatamente uma novidade.

Uma revolução também é prometida pela Honda, que finalmente vai se libertar do conceito “size zero” de seu motor. Entendendo que os problemas de recuperação de energia foram solucionados em 2016 com o aumento especialmente do MGU-H, o foco dos japoneses agora é o motor de combustão. Mas cuidado: alguns sites publicaram que compressor e turbina serão separados a partir de agora, mas essa solução a Honda já usa desde sua primeira PU. O que deverá ser abandonado é o posicionamento do turbo dentro do V do motor.

Isso é especialmente importante porque os grandes ganhos têm sido de termoeficiência, que vinha permitindo que a Mercedes aumentasse a cada ano sua turbina e seu compressor. A ideia é manter um equilíbrio entre a energia gerada pelo MGU-H e MGU-K e o que efetivamente chega ao final do virabrequim – ou crankshaft – uma vez que uma ampliação do sistema de arrefecimento para lidar com o resíduo de calor de uma transferência maior de energia tornaria o conjunto menos eficiente.

Não é coincidência, portanto, que as restrições que entram em vigor em 2017 estão justamente nas dimensões do crankshaft e a imposição de limites de pressão para frear o desenvolvimento de sistemas de arrefecimento. Além disso, também há restrições de materiais que podem ser usados e também haverá uma padronização dos sensores, para diminuir custos. Tudo isso acaba limitando o tanto que a Mercedes pode evoluir e, se os demais acertarem a mão, teoricamente tornaria os motores mais parecidos. Um número mágico que surgiu na imprensa é a expectativa de que os motores fiquem dentro de 0s3 por volta entre o melhor e o pior, mas não existe nenhum dado concreto que comprove isso até que os carros efetivamente estejam na pista.

O que acontece quando mudam as regras? (segundo capítulo)

  • Fim de todos os apêndices aerodinâmicos, permanecendo apenas as asas dianteira e traseira.
  • Pneus slick, sem ranhuras
  • Limite de oito motores por temporada e de 18.000rpm
  • Redução de 75% da largura da asa traseira e aumento de 800 para 950mm na altura; asas dianteiras ficam mais próximas ao solo e maiores (de 1400mm a 1800mm)
  • Difusor traseiro mais longo (330mm a mais) e alto.

Em um período de ebulição política e econômica, com a F-1 sendo atingida em cheio pela crise mundial, o campeonato de 2009 ficou marcado pelo nascimento, título e fim da equipe Brawn, campeã com um carro fora de regulamento.

Mas o mais interessante deste conjunto de regras é que ele foi determinado após os estudos do chamado Grupo de Ultrapassagem a fim de deixar as corridas mais emocionantes e basicamente o que foi feito em 2009 está sendo revertido agora para… tornar as corridas mais emocionantes.

Perguntei a um dos membros do Overtaking Group, Pat Symonds, se ele não sentia que todo o trabalho tinha sido jogado no lixo – na verdade, isso já começou a ocorrer quando o difusor duplo da Brawn foi aceito. E ele deu uma resposta interessante: “não tem como comparar a quantidade de dados que tínhamos à disposição para determinar aquelas regras e o que existe hoje. O trabalho que foi feito para desenhar o regulamento de 2017 é infinitamente mais detalhado”.

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Pois, bem. Voltando a 2009, logo de cara, ficou claro que quem desenvolveu seu projeto ao redor da utilização do KERS, que na época era pesado e muito limitado (dava 82bhp por 6s6/volta) errou. A BMW foi uma destas equipes. Os alemães foram um dos que decidiram focar cedo no projeto de 2009, apostando tudo na mudança de regulamento. Como McLaren e Ferrari, Hamilton e Massa, desperdiçaram muitos pontos na segunda metade daquele ano, Robert Kubica poderia ter entrado na briga caso a decisão fosse outra – e sempre deixou clara sua insatisfação por aquela decisão.

Outros que apostaram no Kers foram Ferrari e McLaren, que também pagaram caro pela disputa que foi até a última curva  e chegaram em 2009 com projetos ainda verdes, e não coincidentemente foram dois dos times que mais cresceram ao longo daquele ano, voltando a um patamar mais condizente com sua história na temporada seguinte.

Porém, foi essa mudança de regra que fez com que os gigantes tivessem de se acostumar com a presença da Red Bull. O time usou os três anos anteriores a 2008 para reestruturar a fábrica comprada junto à Jaguar e atrair bons profissionais, mas seu grande trunfo foi entender o que seria preciso dominar com a tendência da F-1 se afastar dos testes e se aproximar das simulações. Ao fazer essa adaptação mais rapidamente que os times grandes, deu um salto que é importante até hoje.

Escola de pilotos

Os programas de desenvolvimento de jovens pilotos como vemos hoje podem ser considerados subprodutos da redução do investimento de grandes montadoras no esporte, que se intensificou no final da primeira década de 2000. Afinal, apesar da importância de um aspirante à F-1 se vender como um bom pacote sempre ter existido, quem por um motivo ou outro não conseguisse se viabilizar financeiramente simplesmente se tornou carta fora do baralho, não apenas pelos custos da categoria principal em si, como também da caminhada até chegar lá.

Hoje, um piloto da GP2 tem de investir cerca de 2 milhões de euros para começar a pensar em lutar pelo título. Tanto, que certa vez Toto Wolff afirmou que, de acordo com seus cálculos, dificilmente alguém chega à F-1 sem investir 10 milhões de euros se percorrer todo o caminho, desde o kart.

Mesmo que de uns anos para cá optar por fazer GP2 ou GP3 tenha se mostrado um erro, pelo fato de ambas terem se tornado caras demais e virado um clubinho cheio de politicagem e questionável talento, dificilmente uma fortuna pessoal vai garantir uma carreira até a F-3 Europeia e, por mais que o piloto seja bom, é bastante improvável que ele vá conseguir, sem grandes patrocínios, uma vaga em um time que luta pelo título.

Porém, ainda que chamar a atenção de um programa de desenvolvimento aparente ser o caminho, a escolha está longe de ser simples. Afinal, temos visto nos últimos anos diferentes abordagens – e resultados distintos.

O programa mais sólido é o da Red Bull por cuidar de todos os degraus. A marca não apenas tem times desde a base como também é a única que controla totalmente duas equipes na F-1, além de ser famosa por ter um dos melhores simuladores de que se tem notícia. Ao mesmo tempo, por tirar qualidade de quantidade – e é de se questionar o tanto que foi obtido x o que foi investido – e por também ter politicagens intrínsecas a seus personagens principais não é garantia nenhuma de sucesso.

O programa da Red Bull tem um problema importante: qual a saída caso seu destino final não for o time principal? Já são mais de 20 anos de envolvimento da marca com o esporte e ainda não vimos ninguém sair de uma Toro Rosso da vida e traçar outro caminho rumo ao topo. Esse foi o motivo pelo qual Nasr não quis fazer parte do programa e é tudo o que Sainz mais teme. O espanhol, inclusive, tem tudo para ser o primeiro a quebrar essa barreira. Veremos.

A Mercedes é quem teve mais sucesso até o momento, com dois campeões do mundo em seu ‘portfólio’ – contando Hamilton como fruto da parceria McLaren-Mercedes. Basicamente o que os alemães oferecem são vagas em uma série de categorias em que estão presentes, o que parece ser o mais interessante para quem tem um plano de carreira que admite ir além da F-1. Não é claro, contudo, o quanto da estrutura do time principal os aspirantes têm acesso.

A Renault está voltando a apoiar a carreira de pilotos, mas o recente histórico de cortar e liberar dinheiro é um ponto contra, enquanto a Academia de Pilotos da Ferrari ainda não mostrou a que veio. Ainda que pareça ser uma boa escola, com preparação mental inovadora e utilizando a boa estrutura de treinamento de pilotos que existe na Itália, incluindo a própria pista de Fiorano, não existe ainda um caminho claro para seus pilotos. No final das contas, é o programa que mais tem condições de dar certo, mas em quantos aspectos da Ferrari não é aquela que, em teoria, tem tudo para deixar as demais comendo poeira?

Liberdade, liberdade

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Nos primeiros dias de reinado do Liberty Media, perdoe-me o trocadilho, livre de Bernie Ecclestone, foram dadas inúmeras indicações dos caminhos que os novos donos buscarão nos próximos anos. Sabendo que os contratos com os times estão blindados até 2020, os dirigentes falaram mais em mudanças nos eventos em si, sua forma de promoção e sua presença no mundo digital, além de alterações nas diretrizes das regras esportivas e técnicas.

A promessa de mudança profunda, contudo, tem seu prazo: 5 anos.

O grupo espera que isso seja suficiente para aumentar os lucros com as novas políticas de organização do campeonato e conquistar o apoio dos poderosos, trazendo-lhes para dentro do processo decisório, o que acontecia apenas quando interessava a Ecclestone. Com o esporte em pleno crescimento, ficará mais fácil renegociar os contratos daqui a dois anos e estabelecer uma distribuição mais igualitária, para chegar à meta audaciosa traçada por Ross Brawn de permitir “o surgimento de um Leicester City” na F-1.

É, realmente Chase Carey e companhia confiam que podem mudar muita coisa.

Não que as ideias não sejam boas. O novo comandante da parte comercial já prometeu “uma estratégia bastante agressiva” no campo digital, algo de que o esporte precisa para ontem. Há quem receba com ceticismo a possibilidade de liberação de streaming pela internet devido aos atuais contratos com as TVs e é bem provável que a política mude de país para país, mas é de se esperar um investimento em campeonatos virtuais e tudo o que aproxime os fãs dos eventos.

Falando em eventos, é esperado que os GPs se tornem, para muitos que compram ingresso, um detalhe ou um bônus. Isso já aconteceu em Austin ano passado quando a procura foi grande muito em função da apresentação de Taylor Swift, que seria uma das únicas do ano, e as arquibancadas acabaram com recorde de público. As estratégias utilizadas para tornar o campeonato uma sequência de “21 superbowls”, como disse Carey, ainda não está clara e não é de se descartar mudanças significativas na forma de disputa ao longo do final de semana.

Outra questão colocada é a necessidade de melhorar a ação na pista, o que ficará a cargo de Brawn. Novamente, não é uma tarefa simples, uma vez que não existe nenhum tipo de consenso sobre o que deve ser feito. Em linhas gerais, os fãs pedem um aumento das variáveis e uma simplificação e estabilização das regras, mas na prática têm sido objetivos difíceis de atingir.

O questão central é criar um mecanismo que nivele os times sem atacar o princípio da F-1, que é ser um campeonato de construtores, ou seja, sem padronizar demasiadamente os carros, mas ao mesmo tempo sem liberar demais para que as equipes com maior investimento não tenham uma vantagem ainda maior.

Isso, ficando de olho na ação de pista em si. Não existe um consenso sobre o que é necessário para permitir mais brigas entre os pilotos e, como veremos nos posts do próximo mês, depois de anos tentando reduzir a pressão aerodinâmica, sem sucesso, agora o regulamento prevê justamente o contrário.

É fácil listar o que poderia ser melhorado e a favor da Liberty Media está a sensação geral de que é preciso mexer na massa para fazer o bolo crescer. Para todos. E é assim, na contramão de um mundo que anda em uma fase meio Bernie, que a F-1 tem a chance de viver uma nova era.

Turistando na F1: os melhores GPs para ver ao vivo – parte 2

Continuando a série dos melhores eventos da Fórmula 1 para curtir ao vivo, uma lista com opções baratas e as melhores experiências combinando a corrida em si e a cidade em que ela é realizada.

Barganha: Malásia

Há quem possa pensar: como um GP realizado tão longe do Brasil pode ser uma barganha? Sim, a viagem até lá é cara, mas caso uma passagem por esta parte da Ásia estiver em seus planos – e, acredite, é uma experiência e tanto e deveria estar na lista de qualquer um – o GP da Malásia é, de longe, sua chance de ver uma corrida de F-1 no exterior gastando o mínimo possível.

Os ingressos são os mais baratos da temporada: sim, eles começam em 120 reais para os três dias! As diárias na região de Sepang ficam entre 50 e 100 reais – ok, os hoteis são simples, mas nenhuma espelunca. A capital Kuala Lumpur fica a cerca de meia hora em um trem moderno e confortável – e é uma cidade recheada de bons preços de roupas e eletrônicos. Para completar, as passagens dentro da Ásia são absurdamente baratas: de KL a Bangkok, capital da Tailândia, por exemplo, dá para pagar menos de 300 reais ida e volta. Mas é preciso correr para aproveitar a última corrida da F-1, que será no final de setembro. Ou voltar outro ano para ver a MotoGP, que segue firme no calendário.

Custo-benefício

Na Europa: Budapeste

Uns dizem que é porque eu não conheço Paris. Outros garantem que é porque estava encantada demais com Berlim quando cheguei a Praga. Mas considero Budapeste a mais bela capital europeia. É gloriosa e clássica ao mesmo tempo em que é jovem e pulsante. E, com a Hungria fora da zona do Euro, está entre as mais baratas. Dá para pagar pouco mais de 100 reais por dia para ficar muito bem localizado, o sistema de transporte coletivo funciona bem com metrô, bonde e ônibus e a alimentação é bem em conta.

Considero o GP da Hungria como o melhor da Europa em termos de custo-benefício porque é possível ao mesmo tempo visitar essa cidade incrível e ir em um GP com um clima todo especial, já em pleno verão europeu – e em que raramente se vê chuva. A pista fica perto da cidade – a uma meia hora do centro – e, se ficar quente demais, tem um parque aquático logo do lado! Os ingressos? Dá para sentar na arquibancada por 270 reais.

Fora da Europa: Montreal

Mas se alguém me perguntasse qual GP indicaria para ter um pouquinho de tudo o que citei nos exemplos acima, escolheria o Canadá. É lógico que os GPs roots têm seu charme para os fãs, mas nada como casar a visita a um GP e uma cidade incrível como Montreal. Lá, é possível chegar tranquilamente de metrô ao Circuito Gilles Villeneuve, que costuma ser o palco de corridas emocionantes.

A cidade em si se transforma devido à prova, com donos de carros antigos, esportivos e/ou envenenados desfilando nas ruas, e as pessoas são contagiadas por um clima de festa, com barraquinhas servindo comida e bebida no centro e várias atividades culturais paralelas. Apesar do país não ter tanta tradição em termos de pilotos, a prova atrai um público fanático com conhecimento bem acima da média.

O preço da hospedagem depende diretamente do quão perto da festa você quer ficar. Se o foco for só a corrida, qualquer lugar próximo ao metrô já serve. O ingresso para a prova também é convidativo: o mais barato sai por 320. Quer ficar no famoso hairpin e ter uma visão como esta da foto? Vai pagar cerca de 480 reais. Só precisa correr, porque com um canadense no grid depois de tanto tempo, Montreal promete ter uma das provas mais concorridas da temporada.

Turistando na F1: os melhores GPs para ver ao vivo

Que tal essa vista do circuito de Austin?
Que tal essa vista do circuito de Austin?

Quem gosta de Fórmula 1 deveria tentar pelo menos uma vez acompanhar de perto uma corrida fora do Brasil. Seja para entender por que todo mundo gosta tanto do clima particular de arquibancada de futebol de Interlagos, seja para experimentar maneiras diferentes de curtir o esporte – e de ser tratado por ele.

Pensando nisso, fiz uma lista dos GPs que mais valem a pena acompanhar ao vivo. Em uma temporada longa e cada vez mais variada, tem para todo mundo. E, caso os organizadores daqui não consigam manter a prova por muito mais tempo, é bom se programar mesmo!

F1 Roots: Bélgica

Por que não Monza? (Se for ferrarista, é imprescindível) Por que não Silverstone? (Se não ligar para uma visão limitada da pista…) Por que não Suzuka? (Ok, Suzuka é concorrente forte para Spa, mas é tão particular por conta do show de paixão e respeito que os japoneses dão que tem que ser um evento colocado à parte). O GP da Bélgica tem tudo o que um tradicional GP europeu tem de ter: uma pista incrível, grande chance de chuva, acampamentos e nenhuma cidade grande por perto. Sim, a F-1 roots tem um pouco de festival de verão, uma dose de barro entre várias de álcool e um povo doido. No bom sentido, claro.

Para chegar lá, os aeroportos mais próximos são de Colônia e Dusseldorf, na Alemanha, e de Bruxelas. O melhor é alugar um carro – ou um trailler que possa servir de hotel, algo muito comum nessa parte da Europa. Os hoteis são poucos e os locais também alugam casas, mas é de se lembrar que as cidades próximas são pequenas e o circuito é em uma ‘encruzilhada’ de estradas. Há a opção de acampar próximo à pista também. De qualquer maneira, é bom ir equipado com as chamadas wellies (popular bota sete-léguas por aqui) e uma bela capa de chuva. E, já que está em Spa, melhor pegar o ingresso de general admission (aquele que dá direito à entrada, mas não a um lugar na arquibancada, que custa menos de 450 reais) e desbravar o sobe e desce da pista em um cenário incrível.

Experiência: Cingapura

É impossível não fazer uma menção a Mônaco. Afinal, para qualquer fã de Fórmula 1, ver os prédios e curvas que aprendemos a decorar de outros ângulos é uma experiência e tanto. Mas o GP de Cingapura é meu preferido em toda a temporada. A região de Marina Bay é espetacular – e muda a cada ano que a F-1 desembarca. A corrida noturna dá um ar completamente diferente e os organizadores se certificam que os espectadores fiquem entretidos com shows em pelo menos dois palcos. Como qualquer corrida de rua, é possível ver os carros muito de perto mas, à noite, eles ficam ainda mais bonitos e impressionantes. E dependendo do ângulo da arquibancada, dá até para ver o olhar do piloto.

O ponto negativo é o preço da estadia, que está entre os mais caros da temporada – espere pagar pelo menos 300 reais a noite. A passagem saindo do Brasil, é claro, também é salgada, saindo por volta dos 3500 reais. Os ingressos não estão entre os mais baratos,mas os organizadores oferecem algumas opções interessantes, como pacotes para grupos e alguns que combinam três lugares diferentes para os três dias, incluindo visita aos pits, o que sai por pouco mais de 1100 reais.

Visão da pista: EUA

Foram alguns os circuitos em que Hermann Tilke teve praticamente uma página em branco para desenhar e não fez grande coisa, mas em Austin ele inegavelmente acertou. Além do traçado em si ser bastante seletivo e uma espécie de ‘best of’ de outras pistas, a elevação do terreno faz com que determinados pontos tenham uma visão privilegiada. E você não precisa pagar mais por isso: mesmo com o ingresso de general admission, é possível ficar no final da reta, diante de uma das melhores curvas do circuito e ainda vendo boa parte do restante da pista.

Os organizadores fazem uma promoção incrível incluindo F-1, MotoGP e WEC em apenas um ingresso vendido antecipadamente por 200 dólares. Para quem pensa em visitar a região apenas em outubro, há outros mimos como ingressos com open bar, visita aos pits e festa exclusiva. Mas se estiver interessado só na corrida em si, os ingressos de general admission não saem por mais de 750 reais.

O problema em Austin é o preço salgado da hospedagem. Em 2017, mesmo após muita pesquisa, vou pagar mais que em Mônaco! A capacidade hoteleira da cidade não comporta o evento e não raro a F-1 divide a atenção com outro grande evento na cidade, como será o caso deste ano.

Ainda não encontrou seu lugar? Aguarde o segundo capítulo ainda nesta semana.

Cedo demais para a silly season?

Sebastian Vettel, Kimi Raikkonen, Fernando Alonso, Valtteri Bottas, Sergio Perez, Nico Hulkenberg, Carlos Sainz… a lista vai longe e deve dar até para montar um time de futebol. Mas o assunto não é nenhum plantel de luxo, e sim quem estará fora de contrato para a temporada 2018.

Principalmente o fato dos três primeiros nomes já estarem garantidos na Ferrari e McLaren para esta temporada fez com que vários outros contratos do meio do pelotão fossem fechados apenas pelo ano de 2017. Qualquer piloto mais experiente e que acredita ter condições de beliscar alguma vaga entre os grandes sabe que esta é uma grande oportunidade. Da mesma forma, as equipes veem um bom momento para manter suas opções abertas.

Do lado dos times, tudo depende da melhor ou pior adaptação às mudanças de regras. Uma equipe como a McLaren, por exemplo, pode acertar a mão e se tornar um lugar atrativo em 2018, com maior poder de barganha. Para os pilotos, a hora é de mostrar serviço e pavimentar uma ‘promoção’ com a expectativa de abertura de vagas importantes.

É claro que importantes pode não querer dizer necessariamente vagas boas. Que o diga a Ferrari, que parece ter muito o que perder em 2017. Toda a impaciência de Sebastian Vettel demonstrada ano passado terá ficado, a princípio, para trás. Afinal, o alemão sabe que a mudança no regulamento é uma nova oportunidade. Porém, caso não seja suficiente, o piloto já deu mostras de que sua paciência não é infinita.

E nem deveria ser, ainda mais com a possibilidade de abertura de vaga até na desejada Mercedes. Lá, o piloto teria o apoio de James Allison, com quem ganhou muitos pontos mesmo no relativamente curto período de convivência em Maranello. O inglês, inclusive, que foi para a Itália muito em função do projeto de Alonso – com quem trabalhara na época de Renault, não teria gostado nada da maneira como o espanhol conduziu seus últimos meses na Scuderia.

Mas Alonso seria um candidato a uma eventual vaga na Mercedes em 2018? Ele já deu a entender diversas vezes que 2017 pode ser seu último ano na categoria. Oficialmente, culpa os carros, mas é claro que a falta de competitividade é o que pesa. Novamente, a mudança ou não da relação de forças é o que vai ajudar a movimentar as peças e Zak Brown já deu indícios de que vai tentar segurar o espanhol.

E Kimi? Enquanto interessar à Ferrari – leia-se Vettel – ele fica. Ricciardo e Verstappen? Esses têm contrato com a Red Bull, mas nada que já não tenha sido quebrado antes. É só o equilíbrio interno ficar balançado que o astuto Horner faz a fila andar.

Não é por acaso, portanto, que aqueles que estão há muito tempo esperando uma vaguinha na frente – e quem chegou agora, como é o caso de Sainz, que se vê como carta fora do baralho na Red Bull a médio prazo – estão preparados para aproveitar.

Prepararem-se para meses ouvindo sobre os tais pré-contratos da Ferrari com praticamente todo mundo e com a mídia espanhola colocando seus pilotos como prediletos para… praticamente todo mundo. E Bottas, alvo mais fácil, ameaçado logo no primeiro deslize. Se até a aposentadoria de Rosberg com praticamente todo mundo sob contrato já provocou uma mini-silly season, imaginem o que está por vir.

O escolhido

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Fui sentindo uma mudança importante quanto mais corridas ia cobrindo in loco: passei a entender por que alguns pilotos nos quais eu, de longe, não ‘botava fé’ eram tão respeitados por quem estava por lá. É uma imagem construída não apenas pelos resultados em si, mas pela postura e clareza em enxergar pontos a serem melhorados. E não cometer os mesmos erros.

Dentre eles, está Valtteri Bottas. É claro que a complexidade e a rapidez dos julgamentos do mundo da Fórmula 1 às vezes prega peças em todos nós, mas seria uma surpresa se o finlandês não der conta do recado na Mercedes. Isso, mesmo pegando uma bela pedreira como Lewis Hamilton correndo em casa e tendo de tirar o atraso por entrar no emprego novo pouco mais de um mês antes dos testes.

Bottas não é daqueles pilotos que roubam a cena. Não tem lampejos impressionantes de velocidade, nem faz ultrapassagens inacreditáveis. Ao mesmo tempo, não é de perder oportunidades ou de cometer erros e acabar no muro. Com estas qualidades especialmente importantes ao longo de um campeonato, também teve suas corridas marcantes, desde o terceiro lugar no grid GP do Canadá com a fraca Williams de 2013, até um quinto lugar bastante improvável na Malásia ano passado, quando o time novamente perdeu rendimento. Isso sem contar, claro, nos nove pódios.

Qualquer um que tenha visto a carreira de Massa por perto aponta a maneira como Fernando Alonso tomou conta da Ferrari enquanto o brasileiro se preparava para retornar em 2010 como o golpe que o fez ir de protagonista a coadjuvante. Não coincidentemente, um novo Massa surgiu após 2013 – sem as vitórias de antes, claro, mas também sem a vantagem de equipamento do período pré-acidente – e mesmo assim não conseguiu bater Valtteri. Foram três anos com menos pontos e com desvantagem de 3 a 4 décimos em classificação.

O grande motivo para isso é que o finlandês é consistentemente bom. Conviveu com um carro muito ruim no primeiro ano e só passou a ter a oportunidade de mostrar serviço a partir do segundo, quando já era companheiro de Massa. Nos três anos em que esteve ao lado do brasileiro, sempre admitiu estar aprendendo. Mas nunca perdeu o duelo interno, chegando a ficar em quarto em 2014.

Isso é possível ver de fora. Mais de perto, Bottas aparenta ser aquele profissional desejado por qualquer equipe, que entende a importância de trabalhar em grupo, sem precisar exercer uma influência tóxica para o ambiente interno. E também sempre demonstrou muita clareza e estudo para entender o que está errado, lavando a roupa suja em casa.

É um CDF, isso é fato, mas que por trás do ar tranquilo esconde aquela disposição de fazer o que for preciso para atingir seus objetivos.

Nada veio de mão beijada para ele. Na época de kart, era rápido, mas considerado pesado demais para seguir adiante. Cavou uma porta de entrada pela Williams, ajudado por Toto Wolff e vindo da (improvável) GP3, e quando ninguém apostava no time inglês. E agora entra em um duelo, à primeira vista, desigual com um dos pilotos mais vitoriosos da história e que se prepara para sua quinta temporada na Mercedes. Mas o pior erro de Lewis, que acabou perder um campeonato para um piloto trabalhador, seria acreditar que seu novo companheiro é só mais um operário.

O Credencial voltou

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Não precisou de campeão do mundo resolvendo dar um basta e ligação da ex-chefe. O Credencial voltou após inúmeros pedidos e vai continuar durante toda a temporada comigo e com Luis Fernando Ramos discutindo os temas relevantes das corridas e respondendo às perguntas de vocês.

Nesta primeira edição do ano, falamos do retorno de Massa, da contratação de Bottas, por que Werhlein está sendo deixado de lado e o futuro de Felipe Nasr (além do arquiteto, de uma forma ou de outra) disso tudo.

Curtam, comentem, compartilhem e já podem ir mandando perguntas para os próximos papos.

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Panela velha

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Teria ele voltado ou nunca teria se aposentado realmente? Para que todo aquele teatro de Interlagos? A orelha de Felipe Massa deve ter ficado inchada nas últimas semanas, desde que começaram os rumores de que seria ele o escolhido da Williams caso o time perdesse Valtteri Bottas. E não foi só por aqui: a imprensa internacional criticou duramente a equipe por uma escolha que considerou tão conservadora quanto suas estratégias de pista.

Pois, bem. Primeiramente, não houve teatro em Interlagos, em Abu Dhabi, ou mesmo no anúncio em Monza. Massa sempre demonstrou estar em paz com a decisão de sair da Fórmula 1, mas nunca escondeu que a ideia foi amadurecendo junto da noção de que não teria um cockpit competitivo para 2017. Afinal, o negócio com Stroll ficou claro quando a FIA, misteriosamente, em junho, mudou o sistema de pontos para a obtenção de superlicença para quem vinha da F-3 Europeia, garantindo a chance até do vice ir direto à F-1.

Logo, ao receber o chamado e sentindo-se ainda em condições de ser competitivo, Massa aceitou.

Do lado da Williams, também é difícil imaginar outra saída. Se para a Mercedes, que tem uma extensa influência por meio de seus clientes no grid, foi complicado encontrar um substituto para Rosberg, para o time de Grove a complicação era dupla: além de poucos nomes disponíveis, era preciso alguém tanto mais velho por conta das questões do patrocínio, quanto – e principalmente – experiente para dar o norte a um projeto totalmente novo.

A mídia inglesa clamou por Paul Di Resta, de 30 anos, já há 3 temporadas fora do grid, mas com experiência como reserva da Williams. Mas os engenheiros da Williams têm lá seus motivos para não concordarem e buscaram a continuidade em um piloto que, nestas mesmas três temporadas, sempre teve sua contribuição técnica elogiada internamente.

Assim, Massa voltou com a vantagem de ter ido embora apenas enquanto estavam todos de férias. Na prática, portanto, é a volta de quem não foi.

Isso é importante. Os últimos grandes retornos da F-1 foram bastante distintos entre si. Schumacher retornou em 2010 após três temporadas fora e apanhou, muito em função do fato dos requerimentos serem outros devido a uma série de mudanças regulamentares. O fim do reabastecimento e o tipo de pneu adotado mudaram totalmente a maneira das corridas serem disputadas e a limitação de testes acabou com uma arma sempre utilizada com maestria pelo alemão.

O outro retorno foi de Raikkonen, em moldes semelhantes. Saindo em 2009 e voltando em 2012, o finlandês também encontrou um cenário bem diferente, mas andando em uma equipe desacreditada – embora com um excelente carro – e com um companheiro relativamente fraco, deixou uma boa impressão e voltou à Ferrari. Mas nunca chegou perto ao Kimi de antes, enquanto contemporâneos como Alonso e Button seguiram no mesmo nível mesmo com todas as mudanças.

A grande vantagem de Massa é não ter perdido o bonde em momento algum. Mas a segunda, e não menos importante, é a mudança de regulamento e a promessa da Pirelli de compostos não apenas mais duráveis, mas principalmente sem a sensibilidade térmica que deu muita dor de cabeça para pilotos e equipes nos últimos anos. Será uma F-1 mais pé embaixo e foi em uma F-1 mais pé embaixo que Massa viveu seus melhores anos.

Há a questão da influência que os Stroll terão na Williams, mas no papel não há nada que impeça Massa de fazer um bom trabalho. Afinal, os times grandes andam celebrando suas ‘panelas velhas’ e isso não há de ser coincidência.