Como nasce um carro de F-1

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São 100.000 componentes, o que significa que, se o carro estiver 99,9% certo, ainda haverá 100 detalhes errados com ele, e mais de 6.500 peças, sendo que 70% delas são feitas pela própria equipe no caso de quem produz o próprio câmbio e transmissão. Isso, sem falar no desenvolvimento: durante uma temporada, os engenheiros estudam perto de 100 mudanças por semana para melhorar o desempenho do carro.

Mas antes de tudo, a direção técnica e os projetistas definem a filosofia geral, levando em consideração as características do motor e as necessidades geradas pelo regulamento. Depois, são feitos os desenhos cuja qualidade é medida ou em simulações de CFD ou no túnel de vento.

Só então começa o processo de manufatura, cuja precisão é crucial para que o carro seja efetivamente rápido. Lembrando que o CFD ainda não responde a todas as questões do mundo real – quem não lembra da Virgin quando surgiu, em 2010, com a ideia de fazer um carro sem túnel de vento? – e que o regulamento proíbe o uso de modelos maiores que 60% do carro, são diversas as variáveis que podem fazer com que o conceito do projetista não tenha o resultado esperado.

Além disso, entre o projeto do computador e um modelo, o processo é bastante rápido. Porém, a construção de uma peça que efetivamente vai para o carro é lenta e cara. Dá para entender, portanto, por que as limitações de orçamento geram tanta discrepância de performance. As equipes mais ricas podem se dar ao luxo de errar mais, de passar pelo processo inteiro e produzir uma peça – ou diversas peças com pequenas variáveis para serem testadas na pista – e ao mesmo tempo têm maior condição de ‘acertar a mão’, por contar com os melhores profissionais e tecnologias.

No vídeo, a Red Bull fala em 5 meses para desenhar e construir um carro, mas esta é a estimativa para um modelo novo dentro de um mesmo conjunto de regras. No caso de 2017, as equipes grandes já separaram uma equipe para estudar o novo regulamento e iniciar o processo de definição da filosofia que adotariam assim que as novas diretrizes foram divulgadas, ou seja, desde o final de 2015. E o trabalho foi se intensificando à medida que cada equipe foi deixando de investir no campeonato de 2016 com base em sua performance de pista. Ainda assim, em julho, a grande maioria já estava com seus projetos bastante avançados.

Existe uma complicação a mais atualmente, que é a limitação de horas de uso do túnel de vento. Por conta disso, um sistema de CFD confiável é muito mais importante do que na última grande mudança de regulamento aerodinâmica, em 2009. E isso parece jogar a favor da Red Bull, que, já em tempos de restrições, encontrou uma série de soluções para todas as restrições que foram colocadas ao chamado escapamento soprado e à flexilbilidade das asas dianteiras.

Porém, é de se lembrar que a partir do momento em que um time sai na frente e domina os princípios que fazem um sistema funcionar – como aconteceu recentemente com o FRIC da Mercedes e com sua própria unidade de potência – é mais fácil se adaptar a possíveis proibições. E isso abre a grande incógnita: quem vai compreender qual o truque para dar o pulo do gato com o novo regulamento?

A volta dos pescoços quebra-nozes

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Nos últimos anos, o que chamou a atenção em relação ao físico dos pilotos foi a magreza. Afinal, principalmente após a introdução dos sistemas híbridos, que começou em 2009 com o KERS, e a manutenção de um peso mínimo baixo, coube aos ‘elementos humanos’ economizarem quilos para dar maior liberdade para os engenheiros determinarem como distribuir o peso.

Isso só não se tornou absolutamente temerário devido à transformação das próprias corridas, bem mais lentas devido ao fim do reabastecimento e aos pneus de baixa duração. O resultado desta combinação foi uma série de corridas em ritmo ao banho-maria e a predominância de ‘vencer sendo o mais lento possível’.

Ainda assim, tivemos casos de desmaio por desidratação – que é, efetivamente, a forma mais fácil de ‘bater’ no peso, emprestando o jargão das lutas. Corpos menos hidratados não são mais magros – uma vez que não estamos falando de diminuição da gordura – mas podem pesar vários quilos a menos.

Mas a ditadura da magreza vai ter que ficar para trás. E nem é pelos 20kg a mais determinados pelo novo regulamento, até porque as dimensões do assoalho e asas também subiram e ainda não está claro o quanto vai sobrar para o peso do piloto aumentar. Mas há, de fato, uma necessidade criada pelo próprio regulamento.

A expectativa de carros até 5s mais rápidos dependendo do circuito, sendo que grande parte desse tempo deve vir do contorno de curva devido ao novo pacote aerodinâmico e à maior aderência vinda de pneus mais largos e com nova construção, afeta diretamente os pré-requisitos físicos dos pilotos. E aumenta a necessidade de construção de massa muscular em alguns pontos-chave. Em outras palavras, devemos ver a volta dos pescoços quebra-nozes.

Colocando em números, espera-se que a força à qual os pilotos vão se submeter nas curvas aumente em até 5G em 2017 dependendo do circuito. Isso significa até 50kg a mais – e é o pescoço a parte do corpo mais afetada por estar mais ‘solta” dentro do cockpit.

 

Aumentar a força e resistência muscular do pescoço, além da chamada região do CORE (músculos estabilizadores do abdome e lombar) e, em menor medida, dos ombros, braços e pernas será fundamental a partir da temporada 2017. Apenas na frenagem estima-se que os pilotos terão de fazer o equivalente a mais 30kg de força para parar o carro. E, como a limitação de peso ainda persiste, isto terá de ser feito com o mínimo de crescimento muscular possível.

Popularmente costuma se dizer que o músculo pesa mais que a gordura. Na verdade, ele é mais denso. Seja como for, os pilotos terão de tentar se equilibrar na corda bamba entre ficarem mais fortes sem aumentarem demais seu peso, ou seja, com o mínimo possível de crescimento muscular.

O aumento da força e resistência tem reflexo direto na performance. Afinal, quem tiver que fazer mais força para segurar um pescoço mais frágil vai desperdiçar energia. E, quanto menos energia e mais cansado o piloto se sentir, menor sua capacidade de reagir, tanto mentalmente, quanto fisicamente, aos demais desafios da prova.

Perguntei justamente a Alonso se ele pretende mudar seu treino. A resposta foi curiosa: “Meu corpo está velho, já aguentou de tudo, não preciso mudar muita coisa. Os mais novos que vão sofrer bastante”. Será que já começaram as alfinetadas a Vandoorne? Seja como for, será uma surpresa se o pescoço quebra-nozes não reaparecer já para os testes de Barcelona no final de fevereiro.

Teto orçamentário virou palavrão

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“É um absurdo pensar que há equipes gastando 400 milhões de euros, isso virou uma disputa tecnológica”. Há tempos ouvimos que o grande problema da Fórmula 1 é a desigualdade de recursos e a escalada de gastos. Afinal, como trata-se de uma categoria diferente das outras, cujo DNA é o campeonato de construtores, o abismo entre eles afeta diretamente sua competitividade. Claro que dinheiro não traz títulos necessariamente, mas também é irreal dizer que um time com baixo investimento faz um carro vencedor.

Foram várias as tentativas nos últimos anos. Ao ver as montadoras saindo após a bonança econômica da primeira década dos anos 2000, o então presidente da FIA Max Mosley tentou implementar um teto orçamentário que nasceu fadado ao fracasso, pois significaria um abatimento de mais de 70% nas contas dos grandes de uma hora para a outra. Jean Todt tentou o mesmo há pouco mais de dois anos e acabou convencido de que a única maneira de atingir seu objetivo seria mexendo nas regras, mesmo tendo conseguido um acordo entre os fabricantes de motores. Recentemente, os novos donos do grupo Liberty Media repetem a dose. E já levaram o primeiro golpe, que vem sempre dela, a Ferrari.

É fato que algumas medidas foram importantes para frear a gastança de 10 anos atrás, especialmente os limites no uso do túnel de vento. Mas ainda é pouco. Mesmo os limites em câmbios e motores não geraram o impacto que se imaginava nas contas: os times foram atrás de detalhes milimétricos e abriram novamente seus cofres.

O Liberty Media teria proposto comprar 20% das ações de cada um das equipes, em uma jogada que indica o tipo de liderança que eles pretendem ter e que deve levar a uma distribuição mais equitativa dos recursos dos direitos comerciais, que hoje contêm estranhas premiações “históricas” que só servem para preservar aqueles que estão no topo.

Até 2020, acredita-se que não há muito que possa ser feito, uma vez que esta é a duração dos últimos contratos firmados por Ecclestone – que são individuais ao invés de um grande Pacto da Concórdia. Até lá, os novos donos vão ter que desfazer alguns nós que, hoje, inviabilizam qualquer controle. E são nós complicados:

Grupo de Estratégia: na verdade, vários itens da lista ‘por que a F-1 não muda’ deveriam começar com o Grupo de Estratégia, que simplesmente coloca nas mãos das equipes mais ricas – e que ganham ‘por fora’ na divisão do bolo dos direitos comerciais, que em teoria deveria respeitar apenas a posição no mundial de construtores – todas as decisões importantes.

Diferenças de propósito entre as equipes: parece óbvio, mas a Ferrari não está na F-1 exatamente pelos mesmos motivos da Mercedes e muito menos de uma Force India. Naturalmente, recursos de uma gigante do setor de carros esportivos são muito maiores, pois para o time italiano vencer significa vender mais carros de luxo. Para os alemães, o desenvolvimento de tecnologias que possam ser utilizados na ruas – ou que pelo menos seus consumidores acreditem que sejam utilizadas – faz os cofres ficarem mais generosos, enquanto, no terceiro caso, a eficiência é a palavra-chave para dar relevância mundial às marcas do chefe com o mínimo gasto possível.

Controle dos gastos: Se você tem um grupo como o McLaren, que faz de carros esportivos a bicicletas de alto desempenho, como garantir que algo usado na equipe de F-1 não está tendo seu gasto ‘absorvido’ por outra divisão? E, assim sendo, como colocar um limite no caso de um teto orçamentário?

Quanto termina meu gasto e começa o seu? Uma das saídas encontradas nos últimos anos para aliviar os gastos dos times médios é a comercialização de partes caras do carro, como o câmbio, o que atingiu seu ápice com o acordo de parceria de Ferrari e Haas. É claro que os times que comercializam estes itens vão querer tirar o custo do desenvolvimento destas peças da sua conta e colocar apenas na dos rivais, mas como separar o que é utilizado apenas pela ‘matriz’ e o que é compartilhado?

Em um ambiente o qual quem conhece bem, Bernie Ecclestone, chegou a oferecer um prêmio de 1 milhão de euros para aquele que ‘dedasse’ trapaças caso um limite orçamentário fosse realmente adotado, dá para perceber que há muitas contas a acertar.

Promessas de ano novo

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Não inventar nenhuma regra esdrúxula seria um bom começo para dirigentes que apareceram, do nada e de maneira autoritária, com a pontuação dobrada em 2014 e o sistema de classificação por eliminação ano passado. Ambas medidas com cerca de 95% de rejeição por parte dos fãs. Aliás, se a Fórmula 1 entrasse na onda das promessas de ano novo, a primeira deveria ser justamente quebrar a barreira que insiste em levantar com quem se importa com ela.

Porque não é simplesmente uma questão de não saber lidar com as novas mídias. A Fórmula 1 acredita que estar acima de tudo e de todos é uma de suas grandes qualidades. Tem certeza que o fato de convidar ricaços para o paddock é o que lhe dá audiência. E isso não poderia estar mais errado em tempos nos quais o que todo mundo busca é fazer parte de algo.

Aos poucos, organizadores aqui e ali vão fazendo mais do que sessões robóticas de autógrafos e oferecem a abertura do pitlane aos primeiros a comprar ingressos e ações do tipo. Mas ainda é pouco. A F-1 deveria mesmo é socializar, ir em boteco e baixar aplicativo de paquera.

O segundo comportamento que deveria ficar para trás é, na verdade, um desmembramento do primeiro: parar com essa mania de querer ser centro do mundo. O momento é de flexibilizar. Plataformas, horários e até a escolha do recheio. Em um esporte tão complexo, é menosprezar a audiência querer mostrar apenas uma corrida. E sem direito a replay a qualquer hora do dia. Isso já acontece em alguns países por meio de assinaturas caras de canais especializados, mas é focado na TV. Para quem continua bloqueando vídeos – como se estivéssemos na época em que o fim do Napster era um tema relevante – e proibindo até mesmo jornalistas de publicar vídeos simplesmente por não compreender como lucrar com isso, a repaginada tem que ser geral.

E a terceira – e não menos importante – promessa é parar com a sofrência, com essa mania de se diminuir, esse excesso de autocrítica só pelo prazer de se criticar. Vimos grandes corridas nos últimos tempos, testemunhamos campeonatos disputados por pilotos em equipes diferentes (com direito a shows de pilotagem) poucos anos atrás. É preciso aceitar que há ciclos aqui e ali e evitar revoluções que só vão gerar novos ciclos. Nada de seguir anúncio de poste e procurar amarração do amor com as corridas dos anos 80. Todos ali seguiram em frente, F-1, inclusive você. Abaixo à sofrência.

Empatia

A ‘nhaca’ com 2016 anda tão grande por aí que já vi brincadeira dando conta que o tradicional programa de retrospectiva não vai ao ar “porque a Globo não está com coragem de mostrar”. Não adianta culpar o ano: numa era que deveria ser de pluralidade, em que o acesso à informação está mais democrático do que nunca, estamos vivendo de intolerância. E desinformação.

Queria, no último post do ano, comemorar com vocês – seja quem acompanha desde antes dos tempos de FasterF1, seja quem chegou nos últimos meses – todas as conquistas deste que foi um ano tão longo quanto produtivo, com 16 corridas in loco, muitas entrevistas e percepções que só ajudam a construir um pouco que seja deste esporte tão complexo. Queria trocar ideias sobre 2017, ano em que a cobertura será ainda mais extensa, perguntar se vocês têm interesse em saber mais sobre viagens também – sim, o espaço está aberto a sugestões. Queria contar que eu e o Ico estamos programando a volta do Credencial justamente pelos pedidos de vocês.

Mas sinto-me obrigada a falar sobre empatia.

Não gosto de pensar que o nível dos comentários caiu, que o pessoal que frequentava antes era melhor. O blog existe desde 2010 e foram vários altos e baixos, e esses baixos sempre causados por uma minoria. O blog continua existindo, inclusive, porque trata-se de uma minoria, mesmo que todos estejamos mais sensíveis em um momento de grave crise econômica e institucional. Afinal, este espaço não me traz retorno financeiro, e é para mim uma espécie de refúgio em que me dedico a abordar temas que me interessam, mas que não teriam espaço na grande mídia.

E refúgios desagradáveis, como a própria raiz da palavra indica, não têm graça.

Ainda estamos tentando entender até onde a internet pode nos levar. E temos tropeçado muito, pois é duro dar liberdade para quem não sabe usá-la. É duro dar liberdade para quem só se preocupa com a emissão, e não com a recepção do que fala/escreve. Às vezes é de se perguntar: será que ninguém aprendeu a não fazer ao outro o que não gostaria que fizessem a si próprio?

Portanto, se tenho o direito de pedir algo a todos, é que usem essa liberdade para evoluir, e não para diminuir vocês mesmos ou os demais. Pluralidade é amiga da tolerância, e não o contrário. E cada ano que passa é feito pelas nossas próprias ações.

Bring it on 2017!

Os três pilares do domínio da Mercedes

Mercedes GP F1  Launch

A Fórmula 1 já assistiu a diversos períodos de domínio. A Ferrari venceu cinco campeonatos seguidos entre 1999 e 2004; McLaren, na década de 1980, Williams, na seguinte, e Red Bull, na última, foram os melhores em quatro anos consecutivos. Mas o domínio que a Mercedes estabeleceu nos últimos três anos não fica devendo em nada aos demais. E tem grandes chances de se tornar o maior da história da Fórmula 1.

De certa forma, não é coincidência que os grandes domínios, daqueles que se estendem por várias temporadas, tenham se tornado mais frequentes à medida que a tecnologia passou a tomar conta do esporte. Afinal, o avanço de procedimentos e equipamentos vai tirando a ‘força’ do acaso e premiando as melhores estruturas. Nesse contexto, é bem provável que a equipe mais ‘perfeita’ da F-1 ainda esteja por vir, não importa quais sejam as regras técnicas.

Isso porque não é uma ideia revolucionária ou uma circunstância que explica o sucesso de um time que conseguiu perder apenas oito provas nos últimos três anos. E também é por isso que o nível de excelência da Mercedes é difícil de ser ameaçado.

Estrutura: Quando a Mercedes comprou a Brawn no final de 2009, apesar de ser um time campeão, era uma sombra em termos de estrutura do que havia sido nos tempos de Honda. Não, os japoneses não tiveram resultados expressivos, muito em função do tipo de administração, e não de equipamentos. Naquele momento, a continuidade de Brawn, agora com um belo orçamento, foi fundamental, assim como a contribuição de Michael Schumacher.

Carro e motor: Tecnicamente, ali foram criados os pilares do que vemos hoje e cujos frutos já começaram a ser colhidos mesmo em 2012 e 2013, quando a equipe veio crescendo paulatinamente.

Paralelamente a isso, a Mercedes acertou ao seguir desenvolvendo o KERS e conceitos do tipo mesmo depois que a Fórmula 1 deixou de dar tanta importância ao sistema, ainda durante sua temporada de estreia, em 2009. A ideia era aplicar o conhecimento construído pela fábrica de Brixworth nos carros de sua, mas é claro que a marca alemã também pressionou a FIA para levar esse tipo de tecnologia mais a sério na Fórmula 1.

Compreendendo um conceito-chave para a economia termal, que seria a grande fonte de performance da unidade de potência adotada a partir de 2014, e usufruindo como ninguém da proximidade das fábricas de motores e chassi, a Mercedes saiu na frente quando o regulamento mudou. Para isso, dois pontos foram chave: no motor, a separação do turbocompressor e da turbina, e o sistema de suspensão integrada.

O primeiro matou logo de cara uma série de charadas do novo regulamento: com a separação, o peso da unidade de potência (por conta do menor uso de tubos) caiu e sua distribuição melhorou, assim como a necessidade de refrigeração; sua eficiência aerodinâmica aumentou e, mais importante, isso gerou a diminuição do turbo lag, que em teoria seria totalmente eliminado pelo ERS, desviando-o para gerar potência. A suspensão, por sua vez, gerou um carro mais equilibrado e com menos desgaste de pneus.

Regulamento: Acertar logo a mão de cara nunca foi tão importante quanto no regulamento que nasceu em 2014 e o nível de domínio da Mercedes tem muito a ver com isso. Afinal, as regras primeiro impediam a atualização da unidade de potência, que se tornara central em termos de performance, e depois limitaram consideravelmente seu desenvolvimento. Já no último ano, em que as fornecedoras de motores estavam mais liberadas, houve um desvio rápido de recursos para a próxima temporada e isso foi fundamental para que o domínio da Mercedes fosse, em termos de números absolutos, o maior destes três anos.

Manutenção: Dentro de tantos aspectos técnicos, é importante ressaltar o fator humano do domínio da Mercedes. É claro que deixar os dois pilotos disputarem – e por algumas vezes até baterem – tem um ingrediente midiático, pois faz o domínio parecer menos ‘doloroso’. Imaginem três anos com uma equipe dominando e tendo um claro primeiro piloto? Mas, para a questão da motivação, não apenas dos pilotos, como de toda a equipe em si, era importante manter todos alerta e sempre procurando vencer. Nem que o inimigo vestisse as mesmas cores.

Número de ultrapassagens explodiu em 2016

A zona de DRS generosa de Xangai facilita as ultrapassagens
A zona de DRS generosa de Xangai facilita as ultrapassagens

Sabe-se lá o que estaremos achando de tudo isso daqui um ano, mas o fato é que a temporada de 2016 da Fórmula 1 teve quase o dobro de manobras em relação ao ano anterior e viu Max Verstappen bater o recorde de piloto que mais concorrentes superou ao longo de um campeonato.

Às vésperas de uma extensa mudança de regulamento, pode ter sido o adeus de uma era. Goste-se dela ou não. Desde a introdução dos pneus de alta degradação da Pirelli, em 2011, em conjunto com o DRS, o número de ultrapassagens voltou aos patamares da década de 1980 – um dos dados deste ano, inclusive, dá conta de que o GP da China foi o mais movimentado da história (ou pelo menos da história que se tem notícia em termos de ultrapassagem, desde 1982), com 128. Dezoito delas, inclusive, de Lewis Hamilton, que largou no fundo do pelotão e chegou em sétimo.

O gráfico mostra o claro salto entre 2010 e 2011 e o choque do ano passado, quando a fabricante, bastante pressionada pela sequência de estouros de meados de 2013 e que voltaram a assombrar em 2015, passou a fazer compostos mais duros e a adotar pressões mínimas mais altas.

Porém, a introdução do terceiro composto e a maior liberdade estratégica que isso deu às equipes voltou a pressionar o aumento do número de ultrapassagens, chegando às 866 em 21 corridas. E, ao que parece, é bom não desconsiderar o fator Verstappen, responsável por 78 manobras – e algumas das melhores do ano.

Lembrando que as ultrapassagens contabilizadas são aquelas que acontecem a partir da segunda volta entre carros efetivamente lutando por posição e excluindo-se problemas mecânicos. Contando apenas os ganhos na volta inicial, quem lidera a estatística é Fernando Alonso, com 41, em um ano no qual o procedimento de largada ficou menos automatizado.

tabelaE daí?
Muitos podem dizer que esses números pouco significam pois uma enorme parcela das ultrapassagens foi feita usando o DRS, mesmo que nem todas as manobras usando o dispositivo sejam fáceis – muitas vezes ele só ajuda a ‘descontar’ a dificuldade de seguir um carro de perto. Mas também há de se pensar que a possibilidade maior de um carro superar o outro muda completamente a visão dos próprios estrategistas e dos pilotos em relação à corrida. Se as ultrapassagens fossem quase impossíveis, a tática que prevê o número mínimo de paradas para completar uma prova sempre seria a melhor, e não é isso o que vemos. Dependendo do tipo de pista, muitas equipes arriscam outros tipos de estratégias e vimos provas no últimos anos em que pilotos com pneus novos vão passando todos e criando emoção nas voltas finais.

É lógico que o DRS infla os números e mascara comparações com o passado, quando o efeito aerodinâmico era menor e era relativamente mais fácil seguir um carro de perto. As máquinas, também, eram menos perfeitas – era possível errar uma marcha, por exemplo – e isso também influi. Além disso, as pistas tinham brita ao invés de asfalto também faziam com que os pilotos tivessem menos chance de ‘se safar’ e aí temos um cenário difícil de reverter sem novas soluções.

Uma delas seria o aumento da aderência mecânica, algo que veremos ano que vem com a adoção de pneus 25% mais largos. Porém, como junto disso vem uma série de mudanças aerodinâmicas, há quem diga – e o coro é encorpado – que números como os de 2016 vão rapidamente virar apenas uma lembrança.

Disputas entre companheiros: as surpresas

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Parecia que Kimi Raikkonen jamais se acostumaria com o torque dos motores turbo híbrido, mas depois das surras que levou de Alonso em 2014 e de Vettel em 2015, o finlandês reagiu. O mesmo aconteceu com Marcus Ericsson na Sauber, ainda que em um ano cheio de particularidades no time suíço, mas que não ajudou em nada o prosseguimento da carreira de Felipe Nasr. E, também envolto em problemas em uma Haas que foi ficando mais e mais perdida ao longo do ano, Romain Grosjean trouxe os pontos para casa, mas teve um duelo bem mais parelho do que era de se esperar com Esteban Gutierrez. Confira as surpresas da temporada:

Ferrari

Raikkonen Vettel
Placar em classificações 11 (-0s124 em média) 10
Placar em corridas 3 10
Porcentagem dos pontos 47% 53%

Um duelo que foi se equilibrando em classificações, mas em aos domingos foi favorável a Vettel. Apesar do alemão ter sido mais efetivo para a Ferrari, 2016 foi o ano em que Raikkonen finalmente justificou seu retorno a Maranello, conquistando pontos importantes para um time que abusou dos erros ao longo da temporada.

Há quem possa perguntar se foi Raikkonen quem melhorou ou Vettel quem caiu, mas quando ambos viram a bandeirada, Raikkonen na maioria das vezes chegou logo atrás, o que costuma indicar que os dois estavam tirando o máximo do carro. E, quando o alemão teve problemas (ou criou seus próprios problemas), o finlandês se aproveitou para conquistar pontos que aumentaram consideravelmente sua participação em relação a 2015, quando marcou apenas 35% do total da Ferrari e levou 15 a 4 em classificações.

Haas

Grosjean Gutierrez
Placar em classificações 12 (-0s071 em média) 9
Placar em corridas 6 7
Porcentagem dos pontos 100% 0%

É até injusto avaliar o desempenho dos pilotos da Haas sem lembrar de todos os problemas pelos quais a equipe passou. Na primeira parte do ano, Grosjean acabou com Gutierrez, mas também é fato que o mexicano contava com uma equipe bem menos experiente, com a maioria dos membros recrutada diretamente da GP2. Apesar dos recursos não serem exatamente um problema, o próprio dono Gene Haas adimitiu ter subestimado o desafio de operar um time de F-1 e é difícil precisar quando Grosjean e Gutierrez correram sem problemas.

No entanto, pelo menos a decisão de apostar no francês pareceu adequada. Conhecido por preservar os pneus e bem mais maduro do que nos tempos em que até foi banido de um GP, Grosjean caiu como uma luva quando o time fez estratégias ousadas e garantiu uma boa quantia com o oitavo lugar nos construtores para melhorar a situação ano que vem.

Sauber

Ericsson Nasr
Placar em classificações 12 (-0s213) 7
Placar em corridas 9 4
Porcentagem dos pontos 0% 100%

Depois de conquistar 75% dos pontos da Sauber em seu ano de estreia, Felipe Nasr teve uma temporada bem mais complicada em 2016, começando com um chassi completamente verde nas quatro primeiras etapas e uma troca que só começou a dar frutos algum tempo depois. A partir do Canadá, o brasileiro começou a reagir, mas uma série de problemas, especialmente em classificação, fizeram com que sua campanha no geral fosse pior do que Ericsson. O sueco, por sua vez, também evoluiu muito, mas também errou muito durante o ano. E, mesmo tendo tido uma temporada melhor, por conta de um destes erros não estava na pista para aproveitar a chance que Nasr agarrou no Brasil para salvar o time da lanterna do campeonato.

A dinâmica foi particular porque, pela maior parte do ano, a Sauber não teve fundos para investir igualmente em ambos os carros – nada de boicote, por favor! – e muitos de seus erros vieram de falhas em procedimentos, que prejudicaram ambos.

Disputas entre companheiros: os equilibrados

Eles começaram o ano com uniformes diferentes, mas...
Eles começaram o ano com uniformes diferentes, mas…

É interessante observar como as brigas internas nas equipes com carros melhores costumam ser mais equilibradas. Há quem possa dizer que o nível dos pilotos tende a ser mais alto, mas também carros mais previsíveis e que quebram menos também diminuem a chance de erro.

Além dos grandes, a Force India teve, a exemplo de 2015, uma dupla bastante igualada – e novamente foi Perez quem aproveitou as oportunidades quando interessava para marcar mais pontos.

Red Bull

Ricciardo Verstappen
Placar em classificações 11 (-0s265) 6
Placar em corridas 8 7
Porcentagem dos pontos* 53,5% 46,5%

*do total marcado pelo time após o GP da Espanha

A temporada de 2016 foi mais uma em que Verstappen evoluiu a olhos vistos. Ele roubou a cena com performances abaixo da média como em Mônaco, levando os duelos roda a roda ao limite como na Bélgica e com o brilho da apresentação de gala do Brasil. E, apesar de ter levado a melhor no duelo ao longo com ano, contando com a vantagem de ter mais experiência tanto na categoria quanto dentro da Red Bull, Ricciardo demonstrou nas últimas etapas saber que tem de elevar seu nível para bater o holandês caso seus altos e baixos virem coisa do passado. E essa necessidade existe, diga-se de passagem, mesmo com Ricciardo pilotando de maneira extremamente consistente: alguém viu algum erro dele neste ano?

Mercedes

Rosberg Hamilton
Placar em classificações 8 (-0s243)* 12
Placar em corridas 9 10
Porcentagem dos pontos 50,3% 49,7%

*Excluindo diferença do GP da Europa

Até passar a depender apenas de si para ser campeão, Nico Rosberg travou uma dura batalha com Lewis Hamilton em classificações. O inglês explicava com sua ‘teoria dos tijolos’ que a diferença entre ambos era tão mínima que, quem começasse a construir sua parede de maneira mais sólida logo no primeiro treino livre, levava vantagem por todo o final de semana. Nas corridas, problemas mais do lado do tricampeão e largadas ruins fizeram com que os dois não se encontrassem tanto na pista quanto em 2014. Mas, pelos toques quase seguidos entre Espanha e Áustria, a Mercedes até agradeceu!

Force India

Perez Hulkenberg
Placar em classificações 9 (+0s071 em média) 12
Placar em corridas 8 8
Porcentagem dos pontos 58% 42%

De um lado, o fato de Perez ter tido dois pódios e, mesmo assim, ter sido responsável por menos de 60% dos pontos da Force India poderia ser um bom sinal para Nico Hulkenberg, mas foi mais um daqueles anos em que o alemão perdeu, por um motivo ou outro, oportunidades, apesar de primar pela regularidade. Tendo isso em vista, fica fácil entender o porquê da reação após o anúncio da saída da Force India, quando passou a superar o companheiro: chegou a hora de recomeçar em outro lugar. Quanto a Perez, será interessante saber como um piloto que impressionou várias vezes pela maneira como preserva pneus vai se reinventar ano que vem.

Disputas entre companheiros: as lavadas

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Fazendo – provavelmente – suas últimas temporadas na Fórmula 1, Jenson Button e Felipe Massa ficaram devendo para seus companheiros depois de terem travado performances mais parelhas em 2015. Enquanto isso, outro espanhol, Carlos Sainz, um dos melhores pilotos da temporada, acabou com o já abalado Kvyat. Já na Manor, Wehrlein usou sua experiência ligeiramente maior para superar de forma convincente Esteban Ocon – como já havia superado Rio Haryanto na primeira parte do campeonato. Confira as disputas mais desiguais do ano:

Williams

Bottas Massa
Placar em classificações 17 (-0s285 em média) 4
Placar em corridas 8 7
Voltas à frente 61,5% 38,5%

Antes mesmo de Massa decidir pela aposentadoria, em meados do ano, perguntei a ele por que Bottas estava sendo tão melhor especialmente em uma volta lançada. E ao brasileiro coube só reconhecer que o finlandês “estava fazendo um trabalho melhor”. Talvez o mérito de Valtteri tenha sido encontrar maneiras de driblar um problema que afetou em cheio a Williams pela falta de pressão aerodinâmica do carro: as pressões de pneus altas determinadas pela Pirelli.

Aos domingos, o duelo foi mais parelho, como demonstrado pelos números das provas em que ambos pontuaram, mas é fato que Massa superou Bottas mais vezes antes do anúncio da aposentadoria e também teve mais abandonos que o companheiro que, por sua vez, aproveitou bem as chances, como no GP da Malásia para ser responsável por mais de 60% dos pontos do time.

McLaren

Alonso Button
Placar em classificações 15 (-0s091 em média) 4
Placar em corridas 8 4
Porcentagem dos pontos 71% 29%

Depois de uma temporada em que foi difícil avaliar o desempenho dos pilotos em meio a tantos problemas técnicos, Fernando Alonso voltou ao modo normal, com placar de 15 a 4 em classificações e sendo responsável por mais de 70% dos pontos, com direito a algumas atuações de gala como no GP da Bélgica, quando largou em último e chegou em sétimo. Com seus costumeiros problemas de aderência e desequilíbrio, fruto em grande parte de seu estilo bastante sensível de pilotagem, Button se mostrou frustrado por boa parte do ano e sua despedida (ainda que oficialmente apenas por um ano) não tenha surpreendido.

Toro Rosso

Sainz Kvyat
Placar em classificações 11 (-0s284, em média) 5
Placar em corridas 9 2
Porcentagem dos pontos* 87,5% 12,5%

*do total marcado pelo time após o GP da Espanha

Não é sempre que as ‘regras de 3’ entre pilotos que trocam de equipe dão certo, mas no caso de Red Bull e Toro Rosso, a lógica dizia que Sainz, depois de um duelo igualado com Verstappen por 23 GPs, bateria Kvyat, que vinha sendo dominado – ainda que sem tanta facilidade – por Ricciardo. Mas o que o espanhol conseguiu em cima de um piloto abalado psicologicamente e tendo a difícil missão de lidar com um carro pior ao que estava acostumado foi impressionante. Em classificação, em corrida, quando as oportunidades surgiram e em número de erros, Sainz foi absolutamente superior.

Manor

Wehrlein Ocon
Placar em classificações 6 (-0s295 em média) 2
Placar em corridas 3 3
Porcentagem dos pontos 100% 0%

O trabalho dos dois pilotos do programa de desenvolvimento da Mercedes era aproveitar as oportunidades que eventualmente surgissem e atrapalharem o mínimo possível em bandeiras azuis. Pascal Wehrlein fez isso, algumas vezes até conseguindo uma vaguinha no Q2. Nas corridas, Ocon crescia, mas ainda é cedo para julgar de fora quem é o melhor entre os dois. Pelo menos a Force India parece ter escolhido o seu.

Renault

Magnussen Palmer
Placar em classificações 11 (-0s052 em média) 8
Placar em corridas 6 6
Porcentagem dos pontos 87,5% 12,5%

Esse duelo até poderia estar nas surpresas. Surpresa por ambos terem encontrado um lugar no grid em 2017 e por Magnussen ter caído tanto de produção no final do ano, dando a chance de Palmer encostar no duelo de classificações. Nas corridas, contudo, o inglês seguiu abusando dos erros até a última prova e claramente ficou na Renault muito em função de seu aporte financeiro. Já Magnussen, basicamente o responsável pelos pontos que tiraram o time francês do vexame de lutar pela lanterna com Sauber e Manor, não fez muito mais que sua obrigação e, mesmo sem um grande patrocinador, terá sua terceira chance na F-1 ano que vem.

As melhores performances de 2016

"Aquele" momento
“Aquele” momento

Não que os dois principais protagonistas do campeonato, Rosberg e Hamilton, não tenham tido grandes performances durante o ano. O alemão, por exemplo, acabou com o inglês em dois circuitos ‘de piloto’, em Suzuka e Cingapura, enquanto o tricampeão deu o troco em outras oportunidades, como Canadá e na parte final do ano.

Mas a temporada contou com tantas outras grandes performances que, mesmo deixando aqueles que tinham o melhor carro nas mãos de lado, fica difícil escolher:

Verstappen no Brasil

Começou antes mesmo da largada, ainda com o Safety Car na pista: enquanto os demais reclamavam de spray, Verstappen procurava a linha mais aderente para atacar. E parece ter encontrado todas elas. Como se a ultrapassagem em cima de Rosberg e a incrível salvada quando estava prestes a ir ao muro não bastassem, a Red Bull ainda errou na estratégia e acabou provocando o grande show da temporada, quando o holandês ganhou 13 posições em 16 voltas.

Nasr no Brasil

Esqueçam aquela ideia de que chuva equaliza os carros. Chuva faz com que a aderência mecânica ganhe importância, mas quem disse que só falta aerodinâmica a um carro ruim? Se já dava para perceber a mão de obra de Felipe Nasr a bordo da Sauber só de vê-lo na pista, imagine levar um carro daqueles ao nono lugar sob condições bastante difíceis. Sua performance foi ótima não apenas na pista: o piloto por várias vezes foi instruído a parar nos boxes e colocar pneus intermediários, mas estava convencido de que a melhor estratégia era ficar na pista. Seu companheiro, Marcus Ericsson, ouviu a equipe e foi parar no muro logo no início do GP.

Alonso em Spa

De último a sétimo em um circuito no qual ninguém apostava que a McLaren pudesse andar bem. Alonso teve outros grandes resultados, como os quintos lugares de Mônaco e de Austin e principalmente o sexto da Rússia, mas na Bélgica, curiosamente uma pista em que ele não costuma se dar bem, driblou meio grid na primeira volta e usou muito de seu racecraft para se defender e atacar em Spa mesmo com um motor que ainda perde em potência e especialmente recuperação de energia.

Ricciardo em Mônaco

Ver a Red Bull jogar fora uma vitória certa de Ricciardo em pleno GP de Mônaco após um final de semana impecável – e em uma corrida que não foi das mais fáceis com a chuva no começo – foi tão doloroso quanto assistir ao desespero de Hamilton após a quebra na Malásia. Em Monte Carlo, Ricciardo deu uma aula de agressividade controlada, enquanto seu companheiro experimentava os limites da pista – mais uma vez.

Sainz nos Estados Unidos

Nas provas finais da temporada, o espanhol, a bordo de um carro com motor já bastante defasado, foi sexto em duas oportunidades, no Brasil e nos Estados Unidos,  e ambas as performances poderiam estar nesta lista. Mas fico com a de Austin porque Sainz conseguiu superar, sob condições normais, conjuntos mais fortes, como Force India e Williams – e só não ficou na frente do compatriota Alonso por uma mãozinha dos comissários, que fizeram vista grossa para a ultrapassagem feita por fora dos limites de pista.

As piores performances de 2016

Monaco F1 GP Auto Racing

Se você tem um carro ruim nas mãos e erra, contando que isso não se repita com frequência, é mais fácil entender do que quando sua equipe vem perdendo não mais que três provas por ano. Por isso a dupla da Mercedes marca presença na lista das piores performances do ano que, curiosamente, também conta com aquele que teve a corrida mais impressionante de 2016. Afinal, Max esteve em todas nesta temporada.

Verstappen em Mônaco

Max vem de uma vitória improvável na Espanha, em sua primeira corrida em um time grande e… se encontra com os guard rails de Mônaco em três oportunidades no final de semana, sendo uma delas logo na primeira parte da classificação, e a segunda na corrida. Enquanto isso, lá na frente, seu companheiro Ricciardo mostra o que ele deveria estar fazendo com um carro que demonstrou se adaptar muito bem às ruas do Principado: lutando pela vitória.

Palmer em Mônaco – e pelo conjunto da obra

É verdade que o inglês deu sinais de melhora na segunda metade do ano, mas sua coleção de momentos no mínimo questionáveis marcou o ano de estreia, por muitas vezes atrapalhando a corrida de outros pilotos. Um bom exemplo de “Palmerzada” no ano foram os primeiros metros do GP de Mônaco, quando se perdeu sozinho ainda na reta de largada, sob chuva. E olha que inglês deveria ter experiência de sobra em uma situação como aquela!

hqdefaultHamilton em Baku

Lewis dominou os treinos livres com certa folga e tinha a vitória nas mãos em um momento importante, em que iniciava sua virada no campeonato. Uma batida boba na classificação o colocou em uma situação difícil e a frustração apareceu no dia da corrida, quando ele se sentiu de mãos atadas sem poder contar com a ajuda do engenheiro devido a uma regra que, ainda bem, ficou pelo caminho na temporada.

Rosberg em Mônaco

Para quem tinha a chance de vencer pela quarta vez seguida o GP de Mônaco, a performance de Rosberg, sem saber como colocar mais temperatura nos pneus na chuva, foi abaixo da crítica. Conseguir terminar atrás das duas Force India e da McLaren de Alonso sem ter tido um problema técnico foi uma proeza.

O racecraft de Vettel

Sebastian não conseguiu esconder sua frustração com a Ferrari nesta temporada e tem lá suas razões. Mas os outros pilotos não têm nada a ver com isso. O racecraft do alemão não é uma de suas maiores qualidades, mas neste ano ficou bem abaixo em várias situações. Que o diga Felipe Massa na Inglaterra, Daniel Ricciardo no México, Nico Rosberg na Malásia ou até mesmo o próprio companheiro Kimi Raikkonen na China.

Escolhendo um piloto em dezembro

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Nesta segunda-feira, Toto Wolff, Niki Lauda e os principais engenheiros da Mercedes se encontram para tentar decidir pelo menos qual o perfil de piloto que querem para substituir Nico Rosberg na próxima temporada. Mais do que isso, determinam as linhas gerais de que tipo de equipe a Mercedes será a partir de agora.

O objetivo de qualquer time é vencer o mundial de construtores e, em primeira análise, com o carro que tem, a Mercedes não deveria ter muita dificuldade em encontrar um piloto que possa, junto de Lewis Hamilton, atingir esse objetivo. Mas em 2017 a F-1 passará por uma extensa mudança de regulamento e nada impede que o domínio dos atuais tricampeões termine. Neste caso, um piloto tapa-buraco poderia se tornar uma decisão cheia de soberba – e custar caro – daqui a 12 meses. Ao mesmo tempo, ter um claro segundo piloto poderia ser útil caso a Mercedes siga na frente, mas veja os rivais se aproximarem, pois evitaria que ambos entrassem em rota de colisão, como aconteceu algumas vezes entre Hamilton e Rosberg.

E este fator parece pesar no momento. É possível ler nas entrelinhas das declarações dos chefões da Mercedes certo esgotamento após três anos lidando com dois pilotos se dividindo nas vitórias e lutando diretamente pelo título. Apesar disso ter sido bom para a imagem da companhia, uma vez que, devido à extensa vantagem, seria bem impopular ter um claro primeiro piloto, a tensão constante deixou suas marcas em quem teve de gerenciar uma série de pequenas crises, especialmente em 2014 e neste ano.

Isso, com um piloto de personalidade mais diplomática, como Rosberg, ao lado de Hamilton.

Por isso, para começar a decidir qual piloto vai querer, primeiro a Mercedes tem de entender qual a diretriz seguir. E não há um caminho claramente mais vantajoso no momento.

Não menos importante, é preciso entender que tipo de piloto os engenheiros querem. Afinal, eles já conseguem prever com bastante precisão como será o novo carro e, especialmente em equipes grandes, a definição dos pilotos passa em grande medida por suas características técnicas.

Por fim, especialmente no caso de Wolff, que entende a necessidade de trabalhar politicamente com os rivais, cabe julgar o quanto vale a pena deixar outra equipe em uma situação complicada em pleno dezembro. Afinal, até que ponto é bom tirar Alonso de uma McLaren que já tem um estreante no outro cockpit? Ou mexer com a Ferrari e tirar sua estrela?

Curiosamente, o próprio Wolff inclui a Williams nesta lista de equipes nas quais não quer interferir, mesmo quando Valtteri Bottas despontava como o candidato ideal. O finlandês, trazido pelo austríaco à F-1, tem quatro temporadas de experiência, já demonstrou ter qualidade, é tranquilo e tentaria bater Hamilton na pista e poderia até representar um bom futuro para a Mercedes caso Lewis não estenda seu contrato. Mas é claro que tirá-lo do time inglês hoje abriria um vazio difícil de preencher. Afinal, como no caso da McLaren, a Williams tem um estreante para amadurecer.

Outro caminho seria ir atrás de Sainz, que não conta com a simpatia de Marko e, por saber que dificilmente vai subir para o time principal, está louco para sair. É lógico que a Toro Rosso não gostaria de perder seu melhor piloto, mas para o sistema da Red Bull seria bom encontrar um lugar para o campeão da GP2 Pierre Gasly.

Estas questões mais do lado político fortalecem as candidaturas dos jovens pilotos da Mercedes, Ocon e Wehrlein. O alemão foi preterido na Force India por motivos até escusos, ao ter se negado a passar informações durante um teste pelo time, mas no duelo direto com o francês na Manor ganhou mais do que perdeu. E, ao perder a disputa pela vaga em um time de meio de pelotão, pode ter tirado a sorte grande.

Sonhos e dores

É quase impossível escapar à tentação de especular sobre quem será o novo dono da vaga mais cobiçada da Fórmula 1 atualmente após o anúncio totalmente surpreendente de Nico Rosberg cinco dias após ser coroado campeão do mundo. Afinal, são vários os caminhos por que a Mercedes pode optar, desde fazer uma aposta no jovem Wehrlein pensando em garantir pontos para os construtores e tentar atrair um piloto de maior calibre quando todos estiverem soltos no mercado, passando pela negociação do passe de Valtteri Bottas com a cliente Williams e chegando até a um acordo com um campeão do mundo, na criação de um dream team que, apesar de parecer um tiro no pé num primeiro momento, é a cara de Toto Wolff.

Olha eu aqui dizendo que não ia especular mas já especulando…

Antes de qualquer projeção para 2017, a decisão de Rosberg mostra o quão singular foi o campeonato de 2016, daqueles que só com o distanciamento do tempo poderemos avaliar. Sem entrar nos pormenores de falhas técnicas, que sempre foram intrínsecas a este esporte, foi o ano em que um piloto tecnicamente inferior – longe de ser fraco, mas indiscutivelmente com menos repertório que Hamilton – e com uma mentalidade e atitude que o colocariam no rol dos ‘ótimos pilotos que não tinham aquele algo a mais dos grandes campeões’ conseguiu bater o favorito com o mesmo equipamento.

E isso ao mesmo tempo custou tanto e é tão difícil de se repetir que não sobrou outra alternativa a Rosberg senão hastear a bandeira branca. Lá do topo da montanha.

Foi uma decisão ao mesmo tempo corajosa e inteligente. Quem sonhou muito alto na vida e trabalhou muito duro e por muitos anos para chegar lá sabe o vazio que se sente depois da conquista tão desejada. E sabe que, quase automaticamente, a energia já não é a mesma.

Para quem as coisas vêm mais naturalmente, é quase instintivo continuar. Para quem tem a mentalidade predatória e impossível de se satisfazer inerente aos multicampeões, é estúpido parar no auge. Para quem reconhece que chegou ao limite do que tem a capacidade de fazer, é a única solução.

Chamou muito a atenção a reação de Rosberg após o título e só aí pudemos ter a dimensão do quanto toda essa montanha-russa de 2016 custou a ele mental e socialmente. Ao invés de tirar um peso das costas, parecia que o título fazia tudo doer ainda mais – ou que ele permitira demonstrar naquele momento a dor que carregava.

E então ficou claro que aquele cara que soava tão blasé nas entrevistas que parecia ser vazio por dentro devia explodir cada vez que Hamilton fazia tudo parecer tão simples; cada vez que ele se gabava de ter vencido uma prova depois de ficar gravando suas músicas madrugada adentro, enquanto Nico tinha que deixar até a família que quis tanto construir de lado.

É, pensando bem a decisão não surpreende em nada. Afinal, o título foi celebrado com a dor de quem não tinha mais nada para dar para realizar sonho de criança. E o adeus veio com a tranquilidade de quem pode começar a sonhar novamente.

Desobediência

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Muito já foi dito sobre a reação negativa da direção da Mercedes em relação à desobediência de Lewis Hamilton no GP de Abu Dhabi. A atitude do inglês, que intencionalmente diminuiu o ritmo para que seu rival na disputa pelo título, Nico Rosberg, sofresse a pressão dos pilotos que viessem atrás, dando a chance de que caísse para o quarto lugar do qual o tricampeão precisava, dividiu opiniões e, mais importante, deixou um clima ruim dentro da equipe.

Ninguém espera que um piloto como Lewis Hamilton simplesmente corra para vencer uma prova e se contente que não pode fazer nada para evitar a perda de um campeonato. Se a Mercedes realmente acredita que ele faria isso, então tenho de concordar com Christian Horner e considerá-los ingênuos.

Pilotos inteligentes sabem que pode ser contraproducente ser rápido o tempo todo. Ganhar da maneira mais lenta possível, geralmente tática aplicada para poupar equipamento – especialmente em dias de restrições de número de câmbios e unidades de potência e de necessidade de economizar combustível – tem sido a regra nos últimos anos e não é crime algum.

Além disso, dizer que os cálculos matemáticos mostravam que a vitória estava em perigo é mais uma prova do excesso de confiança dos engenheiros em seus modelos, a grande causa de erros de estratégia. Da mesma forma que os grandes acertos acontecem quando há um equilíbrio entre acreditar nos dados e enxergar o que está acontecendo na pista. E na pista em Abu Dhabi Hamilton tinha o controle da situação e começaria a acelerar assim que sentisse que Vettel se tornara uma ameaça à vitória.

E, em terceiro lugar, intervir porque uma vitória da equipe está em risco quando o campeonato de construtores está definido e o de pilotos está em seu momento mais agudo é algo difícil de justificar.

Por outro lado, seria absolutamente incrível se a tática de Hamilton funcionasse. Afinal, Rosberg precisava cair de segundo para quarto para que o inglês fosse o campeão. Sabendo que a Mercedes tinha dúvidas se seria uma boa ideia renovar com o alemão justamente pelo fato da relação dos companheiros já estar bastante tensa depois de quatro anos de altos e baixos, a única justificativa para as insistentes mensagens – e, principalmente, pela maneira como os dirigentes deixaram claro que a desobediência não ficaria barata – é que eles estejam olhando adiante.

As declarações recentes dos chefes e especialmente de Hamilton escancaram as dúvidas que o time tem sobre a continuidade de seu domínio ano que vem. O discurso de “temos de aproveitar esse momento” de Lewis nos últimos meses lembrou muito Sebastian Vettel, ganhando com um pé atrás o campeonato de 2013, mas sabendo que estava às vésperas de uma importante mudança de regulamento. Naquele caso, as incertezas eram enormes porque o desafio dos motores híbridos representaria uma verdadeira revolução, enquanto as alterações aerodinâmicas e a liberação do desenvolvimento dos motores que teremos agora, ainda que representem um grande desafio, não são tão extremas.

Ainda assim, a Mercedes tem seus motivos para se precaver. Mesmo com o regulamento estável, a Red Bull pulou de ficar a 1s4 da pole ano passado para 0s7 nesta temporada e é, sabidamente, um time extremamente preparado – e com altíssimo orçamento – para aproveitar uma situação como esta.

No mínimo, o que se espera é uma disputa mais acirrada. E, ainda mais com Rosberg fortalecido pelo título, ver seus pilotos jogando pontos no lixo é a última coisa que a Mercedes quer. Por isso, pelo ponto de vista deles, o melhor é cortar os individualismos agora – e isso é até previsível. Agora, a reação que um piloto que já tem três títulos e números entre os melhores da história mesmo aos 32 anos, é mais difícil controlar.

Drops do paddock – GP de Abu Dhabi

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As celebridades marcaram presença, como de costume, no paddock em Abu Dhabi. Roger Federer, Paolo Maldini, a cantora Rita Ora, o baterista do Pink Floyd Nick Mason, o piloto da MotoGP Jorge Lorenzo foram alguns dos que apareceram. Mas ninguém empolgou tanto o chefe de imprensa da FIA, Matteo Bonciani, acostumado cruzar com celebridades, quanto Gabriel Batistuta. “Vocês não acreditam que eu encontrei!”, contava a todos o torcedor fanático da Fiorentina.

Não é qualquer um que ganha um carro ao sair de uma equipe. E Felipe Massa ganhou logo dois, uma vez que Peter Sauber prometeu e cumpriu que lhe daria o chassi de presente caso o piloto pontuasse em sua última prova pela equipe. A despedida, começando com aquele momento épico em SP e terminando com uma festa recheada de gente realmente feliz em celebrar a carreira do brasileiro, é reflexo de uma trajetória, ainda que não esteja entre as mais vitoriosas e gloriosas da história, única, permeada pela maneira como a F-1 a reverenciou.

Os Nasr – Felipe e o tio Amir – também marcaram presença no evento e aprovaram a comida. Afinal, em meio a Homus e Baba ghanoush, a influência árabe da família falou mais forte. “Isso é que é comida de verdade”, comemorou Felipe. Brincadeiras à parte, o piloto parecia ter tirado uns 500kg das costas em relação ao GP Brasil. Não porque sua situação é tranquila para o ano que vem, longe disso, mas porque finalmente conseguiu encaixar a performance que o faz sentir que deu o seu recado na F-1.

Há certa confusão a respeito do investimento do Banco do Brasil em sua carreira. Afinal, a entidade diz ter retirado o investimento ao projeto da Sauber, e não diretamente do piloto em si. Mesmo que tenha demonstrado bons desempenhos em um ano cheio de altos e baixos e com vários problemas, a vaga que ele busca, na Manor, será decidida muito mais pelo dinheiro. Nasr teve resultados ruins no momento errado, muitas vezes por circunstâncias que escaparam das suas mãos e pode pagar muito caro por isso.

Foi engraçado ver a reação de vários veículos de mídia ao redor do mundo com a maneira como Jenson Button encarou o GP de Abu Dhabi. Sim, o piloto ainda tem um acordo com a McLaren e pode retornar em 2018, mas desde que esse plano foi anunciado em Monza a sensação no paddock era de que estava se despedindo. E, curiosamente, mesmo sendo uma última prova com pompa alguma, pelo menos o ano acabou um pouquinho mais rápido. E parece ser isso o que ele mais queria.

Depois de deixar claro no pódio e nas primeiras entrevistas o quão mentalmente acabado estava após passar o ano todo aparentando estar mais calmo do que um buda, Nico Rosberg estravasou em uma festa que reuniu grande parte do grid no Amber Lounge. Aliás, há quem diga que os mecânicos da Mercedes preferiam ver o alemão campeão porque sabiam que ele os levaria para a farra, enquanto Hamilton festejaria só com sua entourage. E sabe quanto custava a entrada para a balada? Mais de 2300 reais para quem não tivesse ingresso VIP.

Como bater Hamilton

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Últimas voltas do GP dos Estados Unidos. Nico Rosberg liderava uma corrida muito complicada por conta da chuva e estava prestes a adiar a comemoração do terceiro título mundial de Lewis Hamilton. Mas ele comete um erro, sai da pista, e é ultrapassado pelo inglês, que confirma o título.

Era quase impossível que Lewis perdesse aquele campeonato. Afinal, ainda faltavam três corridas para o final da temporada e sua vantagem era enorme. Mas aquele episódio mudou completamente a forma como Rosberg passou a encarar o desafio de bater um dos melhores pilotos que a Fórmula 1 já viu.

A partir do GP dos Estados Unidos de 2015, Rosberg percebeu que tinha que ser perfeito e agressivo na pista. E praticamente anular-se fora dela.

As três vitórias do alemão nas etapas finais daquele campeonato foram vistas por muitos como resultado do relaxamento natural de um Hamilton já campeão, mas acabaram provando ser o início da virada. Afinal, a partir dali, Rosberg mostrou que aproveitaria toda e qualquer brecha dada por Hamilton. Inclusive mentalmente.

Sim, o inglês teve seus problemas técnicos, tanto no começo da temporada, quanto no final, mas não foi tão brilhante quanto nas duas temporadas anteriores. Baku e Cingapura foram dois exemplos claros, assim como Suzuka. E em todos esses momentos Rosberg estava lá para aproveitar.

Curiosamente, toda essa mentalidade que acabou lhe colocando em posição de conquistar o primeiro título da carreira, veio com um custo considerável. O alemão, que havia dado algumas boas histórias para a imprensa no passado – ainda lembro do clima da sala de imprensa quando Hamilton relevou que o companheiro tinha dito que batera nele “para provar seu ponto de vista” na Bélgica em 2014 – resolveu se anular. Virou aquele piloto que desestimula qualquer pergunta, pois sempre responde o mesmo.

Isso, contudo, foi claramente uma tática para bater Hamilton. E a maneira como o alemão reagiu a seu título apenas comprovou isso. “Ele parece não ser humano”, definiu um colega inglês depois de presenciarmos sua coletiva de imprensa logo após a conquista. O olhar perdido, respostas mais vagas e repetitivas do que o normal, o choro que teimava em não deixá-lo raciocinar direito. Vimos hoje um Rosberg que há muito tempo não aparecia. E que fez aquela ferida de Austin se tornar um título mundial.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP de Abu Dhabi

Hamilton 12 a 9 Rosberg
Ricciardo 11 a 6 Verstappen
Massa 4 a 17 Bottas
Raikkonen 11 a 10 Vettel
Button 3 a 16 Alonso
Hulkenberg 12 a 9 Perez
Kvyat 5 a 11 Sainz
Magnussen 11 a 9 Palmer
Nasr 7 a 13 Ericsson
Grosjean 12 a 9 Gutierrez
Werhlein 6 a 2 Ocon

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s303

Ricciardo x Verstappen: 0s229

Massa x Bottas: 0s226

Raikkonen x Vettel: 0s057

Alonso x Button: 0s228

Hulkenberg x Perez: 0s018

Kvyat x Sainz: 0s390

Palmer x Magnussen: 0s367

Gutierrez x Grosjean: 0s084

Ericsson x  Nasr: 0s390

Werhlein x Ocon: 0s400

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Disputas (recentes) e decisões

F1 Grand Prix of Abu Dhabi - Race

“Com 22 carros na pista neste final de semana na prova decisiva da Fórmula 1 em Abu Dhabi, são 507 os resultados possíveis. E em 455 deles, Nico Rosberg seria o campeão.” Escrevendo um dos previews para a último GP da temporada, fiquei pensando no que efetivamente poderia acontecer para que tenhamos um desfecho improvável em Yas Marina, levando em consideração que os dois candidatos têm o melhor carro e uma diferença de 12 pontos entre si.

A situação mais próxima aconteceu em 2010, quando Sebastian Vettel tirou uma diferença de 15 pontos, também em Abu Dhabi, para ser campeão, superando, na ocasião, o companheiro de Red Bull Mark Webber, mentalmente destruído após errar sozinho na Coreia e perder a liderança da tabela, e Fernando Alonso.

Tal lembrança, por sua vez, me levou ao tipo de corrida que tínhamos em 2010. Afinal, Alonso perdeu aquele campeonato por uma má avaliação, inclusive questionada por ele durante a corrida, do desgaste de pneus. O que os ferraristas viram como queda de performance, ajudados pela parada prematura também de Webber, usado como isca naquela corrida, era na verdade graining. E o resto é história.

Aquela virada incrível de Vettel no campeonato veio em uma F-1 bem diferente. Com pneus que faziam a corrida inteira confortavelmente, como Alonso dolorosamente comprovou atrás de Petrov, carros altamente afetados pela aerodinâmica, motores equalizados, sem DRS. As corridas eram, geralmente, menos movimentadas, mas a competitividade entre as equipes era maior, os erros eram mais constantes, e chegamos ao final com quatro pilotos com chances de título.

Claro que era um equilíbrio artificialmente mantido, mesmo depois que os pneus Pirelli e o DRS entraram em cena – e que as corridas em si também ficaram bem mais movimentadas. Afinal, toda vez que Adrian Newey e companhia achavam algo a mais, alguma regra técnica era modificada e os pneus Pirelli, pelo menos até aquela sequência de estouros do GP da Inglaterra de 2013, também foram usados, digamos, para manter o nível geral mais baixo e competitivo, uma vez que seu comportamento era imprevisível.

Foi assim que tivemos um campeonato bastante interessante em 2012, o que continuou na mesma toada até meados de 2013. Com pneus mais resistentes e previsíveis a partir de Silverstone, a vantagem da Red Bull ficou clara e a competência de Vettel com um carro que era rápido, mas não óbvio de se pilotar, deixou as coisas sem graça.

Isso, até que o regulamento de 2014 deu grande importância aos motores e aumentou a complexidade, distanciando tanto uma equipe da outra, quanto a categoria do público. Assim, mais que pensar que Hamilton precisa de um Petrov para ganhar, como dizem os pontos, o realismo nos leva a acreditar que apenas uma quebra ou uma largada péssima podem fazer com que Rosberg perca.

E assim termina esse ciclo de três anos. É bom a F-1 aprender porque é difícil defender, com uma final de campeonato com ‘tantas’ alternativas, que a tática deu certo.

O novo Bernie

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Não é de hoje que a maneira como Toto Wolff foi expandindo sua influência no mundo da Fórmula 1 impressiona. Aquele ex-piloto e empresário visto como um aventureiro na época em que era apenas acionista da Williams foi ganhando fôlego rapidamente e hoje toma ares de novo Bernie Ecclestone. Pelo menos enquanto os novos chefes do Liberty Media não tomam o controle, de fato, da categoria.

As semelhanças com Bernie são claras: quando o inglês, então chefe da Brabham, convenceu a todos de que alguém deveria tomar a dianteira dos interesses das equipes frente à Federação – e que esse alguém era ele – existia um elo fraco na representação dos times, como de costume mergulhados em seus próprios interesses. E, após a tentativa frustrada de atuar como um grupo com a morte definitiva da FOTA em 2014, as equipes voltaram a estar à mercê de Ecclestone. Porém, ao mesmo tempo, o regulamento técnico mudou e os motores se tornaram proeminentes para o sucesso esportivo. Tendo sob sua asa o melhor motor da categoria, desejo de consumo de todos, Wolff viu, então, a chance perfeita para se sobressair.

Não é por acaso, portanto, que Ecclestone sempre que pode critica as regras atuais. Se ele realmente quisesse o bem do esporte, viabilizaria a modernização de sua comunicação, por exemplo. Mas o que o preocupa é o excesso de poder das montadoras, o que enfraquece sua posição.

Nas entrevistas coletivas, é impressionante como Wolff tem conhecimento e controle de tudo o que acontece na F-1. E como mostra com sua postura de ponderação, nesse aspecto bem diferente de Ecclestone. Mesmo quando Ross Brawn escreveu em sua autobiografia que saiu desconfiado da Mercedes, Wolff já garantiu que tinha falado com o engenheiro e que o considerava um ótimo nome para chefiar a F-1. É como se ele estivesse sempre um passo à frente.

No mercado de pilotos, sua influência se tornou fundamental, lembrando que ele não é apenas o chefe da Mercedes em si, mas também da operação dos alemães na F-1. Seu interesse, portanto, é que a presença da marca seja a melhor possível – e isso inclui garantir que o time de fábrica tenha as melhores condições.

E os melhores pilotos: no momento, Wolff controla cerca de metade do grid, usando sua influência tanto para garantir que os clientes tenham quem lhe interessa, quando convencendo rivais, como a Renault e a própria Haas, a fazerem o que ele quer. Com a Ferrari enfraquecida em termos de liderança e apenas Christian Horner aparecendo como um possível foco de resistência – ainda que o britânico já tenha demonstrado estar apto a jogar qualquer tipo de jogo para garantir seus interesses – é mais negócio para qualquer um ficar do lado de quem está ganhando.

A F-1 tem medo de chuva?

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Se você estava em Interlagos no último domingo e marcou presença na prova de 2008, sentiu na pele (ou na capa) a diferença: a chuva daquela épica decisão de campeonato foi consideravelmente mais intensa e só provocou um atraso na largada. Quem esteve em 1993, então, nem se fale. Aquilo foi mais um dilúvio que chuva. E teve corrida.

O caminho fácil é dizer que a Fórmula 1 está chata e cheia de não me toques. Que o mundo está chato e cheio de não me toques. De fato, quanto maior o investimento, maior também o medo de que algo ruim aconteça – especialmente de quem é mais periférico ao esporte – cresce.

Porém, apesar de, enquanto a bandeira esteve verde, termos assistido a um show de perícia especialmente de Verstappen, inventando um novo traçado para Interlagos; de Nasr segurando um carro claramente desequilibrado; e Hamilton fazendo tudo parecer simples, é impossível ignorar que foram 35 voltas com o SC e duas paralisações.

E não foi excesso de cuidado do diretor de prova, que acertou em todas as decisões.

Mesmo com os carros bem mais altos do que o normal, até em comparação com épocas mais antigas. Mesmo com mais downforce sendo gerado, o que deveria ajudar os carros a ficarem mais estáveis. A geração atual de carros não foi feita para andar na chuva. Prova disso foi o testemunho dos pilotos, todos eles, de que as condições estavam realmente difíceis.

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Mas como Senna conseguiu segurar sua McLaren em 1993? Como Massa parecia em um mundo à parte em 2008 e vimos, com muito menos água, Verstappen, Rosberg, Vettel e Alonso quase indo parar no muro; e Raikkonen, Ericsson e Massa destruindo seus carros?

Como sempre na F-1, não é possível apontar um único motivo. O circuito de Interlagos já é difícil na chuva por sua topografia, que faz com que haja acúmulo de água em determinados pontos. E, apesar de não estar chovendo particularmente forte durante a corrida, a água caiu insistentemente desde as primeiras horas da manhã, um desafio para qualquer drenagem.

Junto a isso, especialmente os pneus intermediários não dissipam bem a água e são descritos pelos pilotos como imprevisíveis. Com pequenos trechos com água acumulada e um pneu que não funciona a contento, em pelo menos algum momento todos os pilotos foram pegos de surpresa. Dependendo de onde estavam, de sua reação e de quão equilibrados são seus carros, os resultados foram diferentes. Outro fator é o atual motor, cujo torque é mais ‘violento’ que o aspirado e dificulta o controle da reaceleração na água.

Há quem possa dizer que a segunda interrupção foi desnecessária, uma vez que os próprios pilotos diziam que o pior já havia passado. É aí que entra o fator Jules Bianchi. Whiting via nos monitores que a água cairia com mais força nos minutos seguintes, o que de fato aconteceu, e não podia se dar ao luxo de contar com a sorte mais uma vez, como Kimi Raikkonen contou algum tempo antes.

Então quer dizer que a F-1 nunca mais vai andar na chuva? Sabe-se que o atual pneu de chuva da Pirelli virtualmente não mudou desde sua estreia em 2011, muito em função da falta de testes. E os carros se tornaram mais velozes de lá para cá, o que só aumenta a deficiência do produto atual. Ainda que os italianos tenham feito testes em pista molhada artificialmente, as condições não são as mesmas e é difícil cravar o quão melhor o novo composto será em 2017.

Trata-se, na verdade, de um problema bem difícil de resolver quando a quantidade de dados com pista molhada não é tão grande, lembrando que, quando a Bridgestone fez aquele pneu usado por Massa em 2008, os testes fora dos finais de semana eram ilimitados. Agora, como o regulamento restringe a quantidade de jogos de pneus a 4 intermediários e 3 de chuva intensa por piloto por GP, quando as equipes trabalham com previsão de chuva para a corrida, economizam nos treinos. E quando chove nos treinos livres e a expectativa é de pista seca no sábado e no domingo, também não compensa andar e arriscar uma batida.

É por essa combinação de fatores que apenas esperar pneus melhores da Pirelli não vai resolver o problema, causado pelo conjunto de regras técnicas e esportivas da Fórmula 1.

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Drops do paddock – GP do Brasil

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Acho que nunca tinha passado uma semana sem escrever no blog a não ser em tempos de festas de fim de ano desde o início do Faster, em junho de 2010. É um indicador de quão alucinantes foram os últimos dias, da cobertura do GP do Brasil em si a algumas questões pessoais que vim resolver a quase 10.000km de distância.

  • Não que tenha faltado assunto. O que mais chamou a atenção no final de semana foi como Toto Wolff está se tornando, a passos largos, o novo Bernie Ecclestone da F-1. Absolutamente todas as peças que se fecharam no mercado de pilotos nos últimos dias têm a mão dele – mesmo as que já estavam encaixadas faz tempo, como Stroll na Williams.
  • Não se sabe exatamente por que o chefe da Mercedes ajudou Nico Hulkenberg a ir para a Renault, mas sua relação próxima com Vasseur ajudou. Kevin Magnussen na Haas, para mim a escolha mais difícil de entender pelo fato do piloto estar andando menos até mesmo que Jolyon Palmer no momento, já ter tido duas oportunidades sem mostrar muita coisa, e ainda não trazer muito dinheiro, também teve a ajuda de Wolff por motivos não claros.
  • Ocon na Force India é mais fácil de entender. O time britânico, que ficou entre a pressão de Wolff e de Ecclestone, devendo favores aos dois, demonstrou saber quem vai ter mais influência daqui em diante.
  • Não enxergar essa mudança de cenário foi uma das más avaliações que os Nasr fizeram nos últimos meses e que deixaram Felipe em situação complicada. Até porque agora é Wolff quem bate à porta da Sauber para colocar Wehrlein. A boa notícia para o brasileiro é que, pelo menos entre os nomes circulam na Manor, ele é claramente o mais forte no pacote experiência, qualidade e dinheiro. Veremos na parte política.
  • Talvez ir para a equipe com menos dinheiro do grid não seja algo dos mais vantajosos olhando agora, mas aproximaria Nasr de Wolff, o que parece ser o melhor dos caminhos nesse acidentado caminho do meio para o fim do pelotão, em que tudo é decidido muito mais fora do que dentro da pista.
  • A influência do austríaco também ficou clara quando o sumido Jos Verstappen voltou ao paddock. A presença do holandês significa pressão em cima de Horner, que pediu que o ex-piloto ficasse em casa e foi atendido. Isso pelo menos até que Wolff o chamasse de volta, dizendo que era importante para o menino ter o pai por perto, como ocorreu por toda a carreira. Deve ser mesmo melhor para Max, mas o que o chefe da Mercedes quer mesmo é ver o clima piorar na equipe que tem tudo para ser sua grande rival ano que vem.
  • Horner também não é nenhuma flor que se cheire e abriu tudo para a imprensa para pressionar Wolff. Quando o austríaco se explicava em uma coletiva de imprensa lotada, o chefe da Red Bull passou pelo vidro do escritório da Mercedes e fez uma careta para o austríaco em tom de brincadeira. O dirigente pediu que ele entrasse para explicar a polêmica e ele, ironicamente, fez sinal de “me liga”.
  • Falando em ironias, o que foi aquela despedida do Massa em SP? O piloto esteve muito tranquilo e feliz com sua decisão desde quando a anunciou a aposentadoria na verdade, e isso ficou muito claro em todos seus movimentos no GP Brasil. Mas como parece que sempre há um porém na carreira de Massa, a despedida veio com um acidente, vindo da necessidade de arriscar após uma classificação muito ruim e uma má decisão estratégica. Como uma ironia do destino, contudo, o brasileiro parou seu carro em uma das principais arquibancadas do circuito e, sob Safety Car, pôde caminhar ao pitlane para ser recebido de forma apoteótica pela própria F1 e por sua família. Não se enganem: não são muitos no grid que teriam algo parecido.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Brasil

Hamilton 11 a 9 Rosberg
Ricciardo 10 a 6 Verstappen
Massa 3 a 17 Bottas
Raikkonen 10 a 10 Vettel
Button 3 a 15 Alonso
Hulkenberg 11 a 9 Perez
Kvyat 4 a 11 Sainz
Magnussen 11 a 8 Palmer
Nasr 6 a 13 Ericsson
Grosjean 12 a 8 Gutierrez
Werhlein 5 a 2 Ocon

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s102

Verstappen x Ricciardo: 0s055

Bottas x Massa: 0s101

Raikkonen x Vettel: 0s091

Alonso x Button: 0s576

Hulkenberg x Perez: 0s061

Sainz x Kvyat: 0s194

Palmer x Magnussen: 0s151

Grosjean x Gutierrez: 0s088

Ericsson x  Nasr: 0s062

Werhlein x Ocon: 0s005

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Amor e ódio em Interlagos

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Não me lembro quando foi a primeira vez que pedi a meu pai que me levasse a Interlagos. Como a política em casa era: ‘se não pode ter para todos, não tem para ninguém’ – e somos em quatro irmãos – a resposta sempre foi “esse ano tá difícil”.

Até que resolvi que esperaria até ter meu próprio dinheiro. Assim, o sonho de criança foi realizado apenas com muito esforço em 2008. E quase se tornou um pesadelo quando completos imbecis – que estavam longe de ser crianças – sentados atrás de duas mulheres sozinhas no autódromo faziam fotos obscenas com salames (!) e tentavam abrir o nó da minha blusa (!!). Sem brincadeira, foi assim que passei minha primeira tarde em Interlagos.

Depois de colocar e tirar a capa de chuva incontáveis vezes, vi a decisão de campeonato mais improvável que Interlagos já produziu. Quer dizer, vi Hamilton cruzando atrás de Vettel – na minha cabeça, em sexto – e não entendi a comemoração da McLaren até ouvir pelo rádio o que acontecera. E senti aquela emoção de ver a história sendo feita na minha frente. Os imbecis, bêbados demais para entender qualquer coisa, perderam.

Voltaria a Interlagos dois anos depois, no mesmo setor A, para ver uma obra-prima de ultrapassagem de Alonso em cima de Hamilton, logo no início da prova. Interlagos tem disso: de lá do alto, deu para ver como o espanhol começou, na descida do lago, a preparar a manobra que faria no final da reta. São poucos os circuitos que permitem visão tão privilegiada. Porém, para chegar a esse momento, dormi na rua, fiquei horas à mercê do clima imprevisível, pagando caro para comer, usando banheiro entupido… são poucos – talvez nenhum – os circuitos em que é preciso ser tão herói para assistir a uma corrida.

A relação de amor e ódio continuou quando passei para o lado de lá, de dentro do paddock. Na verdade, não conheço nenhum jornalista que goste de seu GP caseiro, seja onde for, mas a realidade é que, em Interlagos, poucos gostam de trabalhar. Tirando o iogurte de cenoura e a paçoquinha eventual da sala de imprensa, claro.

Talvez pelo fato do paddock ser apertado e os pilotos não terem muito como escapar, além da cultura futebolística da imprensa daqui, o comportamento dos repórteres é especialmente predatório em Interlagos. Sobra cotovelada e empurra-empurra e falta educação como em nenhum outro lugar.

Mas também tem a camaradagem e aquele pessoal gente boa que quem cobre a temporada acaba vendo só uma vez no ano. E aquele piloto que te reconhece e lhe dá prioridade. Novamente, amor e ódio.

Tem também o desafio de chegar e sair da pista – e já vi arma apontada para minha cabeça em um domingo à noite, ou seja, perdi todas as entrevistas que fizera no final de semana – em oposição à maravilhosa sensação de correr em uma pista conhecendo cada curva. E não importa que seja uma das mais difíceis de correr do ano, Interlagos é amor e ódio mesmo.

Como se não bastasse tudo isso, sempre tem aquele gringo que tem certeza que vai chover olhando pelo vidro da sala de imprensa, sem perceber que ele é escuro e que o melhor é sair – até porque só então dá para ver as nuvens que vêm da repreeeeesa, amigo! É, tem coisas que só em Interlagos.

Fábrica de piloto

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À primeira vista, parece um disparate questionar a contratação de Lance Stroll pela Williams para a próxima temporada. Afinal, o canadense entrou no programa de desenvolvimento de pilotos da Ferrari na pré-adolescência, ganhou os três campeonatos de fórmula que disputou e arrasou a concorrência ano passado, marcando 507 pontos, contra 322 do rival mais próximo, Maximilian Günther.

Isso, no europeu de Fórmula 3, que tem tomado o lugar que deveria ser da GP2 como último degrau de postulantes a uma vaga na Fórmula 1, uma vez que a categoria vencida por Rosberg, Hamilton e Hulkenberg nos primeiros anos hoje se tornou mais um desfile de endinheirados e palco de uma guerra de interesses.

Olhando os números, a escolha de Stroll é perfeita: um garoto talentoso e que, ainda por cima, traz consigo um investimento alto, cujo limite parece não existir. Fala-se em 35 milhões de euros de forma mais oficial, mas as cifras podem chegar a 75 milhões. Nem Pastor Maldonado pagava algo parecido.

O dinheiro em si não é um problema, muito menos no mundo da Fórmula 1. A questão é como a família Stroll vem conseguindo comprar tudo, até mesmo uma carreira. Em todos os campeonatos em que correu, Lance era, na prática, o dono da equipe – o mesmo que aconteceu com Nelsinho Piquet – e, na F-3 Europeia, são fortes os indícios de que até mesmo seus companheiros de equipe tinham como obrigação trabalhar a seu favor.

As notícias que circularam no paddock sobre a preparação/fabricação de Stroll dão conta de que seu pai, um bilionário do setor da moda e apaixonado por automobilismo, sendo inclusive dono de uma das maiores coleções de Ferrari do mundo – onde mesmo Lance começou? – é daqueles ricaços que acham que o dinheiro pode comprar tudo e todos. Além de ter comprado a equipe Prema e colocado todos os melhores mecânicos para trabalhar com o filho, criou o pacto de não agressão com seus companheiros e deu todas as condições de equipamento para que Lance vencesse com facilidade, o que, de fato, aconteceu.

A ideia original era fazer um ano de GP2, mas a confiança de que Lance está preparado para a F-1 é tanta que o plano foi alterado. E se ele não conseguisse o título da F-3 e, assim, não tivesse pontos suficientes para conseguir a superlicença? Papai Stroll conseguiu, com Jean Todt, uma manobra para alterar a pontuação. E se ele chegar muito verde à F-1? Papai Stroll comprou um Williams 2014 e mandou preparar quatro motores Mercedes, além de alugar várias pistas, de Silverstone a Abu Dhabi, para promover um extenso programa de testes. O resultado será algo impensável: desde seu compatriota Jacques Villeneuve, nunca um piloto novato começará uma temporada com tanta quilometragem.

Depois de tentar comprar a Sauber, papai Stroll decidiu colocar dinheiro na Williams, cujo futuro é incerto com a saúde frágil de Frank. A equipe, contudo, não tinha o melhor dos simuladores. O que o magnata fez? Trouxe um equipamento de última geração, usado apenas pelo filho ano passado, pois estava configurado para um carro de F-3.

Agora, o simulador está liberado, também, para Valtteri Bottas. Mas o que mais estará liberado ao finlandês? Sabe-se que Bottas está preocupado com a postura de ‘o dinheiro compra tudo e todos’ da família Stroll e tem tentado se blindar dentro da equipe. Na verdade, o piloto até tentou sair, mas a Williams cobrava muito para liberá-lo, o que emperrou as negociações com a Renault. No final das contas, conseguiu um contrato melhor, mas tem consciência de que é quem mais tem a perder nessa história toda.

Não é tão difícil assim fazer um piloto parecer melhor do que é – principalmente na comparação direta com seu companheiro. Afinal, a disputa na Fórmula 1 ocorre nos detalhes. E no caso de Stroll, vi um comentário dia desses que faz sentido “aqui não foi uma equipe que contratou um piloto, mas um piloto que contratou uma equipe para correr”.

A comparação mais próxima que se pode fazer é do próprio Nelsinho devido à maneira como o brasileiro atuou nas categorias de base. Mas, na Fórmula 1, sabemos bem que a influência do dinheiro dos Piquet era absolutamente inferior – e todo investimento acabou se mostrando ruim para o desenvolvimento do piloto.

Veremos como Stroll aproveita todas as mordomias que teve até aqui, pois as condições estão criadas para que ele já chegue com bons resultados. Seja como for, certo está Bottas em tentar se proteger.

Uma prévia do que vem por aí?

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O GP do México pode ter sido, pelo menos do ponto de vista estratégico, uma prévia do que espera a Fórmula 1 ano que vem: com o pneu médio durando, na prática, por uma corrida inteira, e os times favorecendo táticas que, no papel, eram mais lentas, simplesmente para não depender de ultrapassagens, que se mostraram bastante difíceis. E, pensando que a briga final entre Verstappen, Vettel e Ricciardo na verdade apenas colocou frente a frente visões diferentes sobre qual seria a melhor tática em uma prova que pegou muita gente de surpresa, isso não é um projeção das mais animadoras.

São duas mudanças capitais para próxima temporada: a adoção de novas diretrizes aerodinâmicas, com asas maiores, e pneus mais largos e aumento de aderência e durabilidade. Tudo para  melhorar o visual dos carros e torná-los 5s por volta mais rápidos.

Com isso, a ideia é que os carros sejam mais difíceis de pilotar, tanto física, quanto tecnicamente. Porém, a preocupação geral é de que as novas regras vão prejudicar diretamente as ultrapassagens, pois a maior carga aerodinâmica vai causar ainda mais turbulência no carro que vem atrás.

No México, especificamente, a dificuldade de ultrapassagem tem a ver com a pista em si, muito estreita em sua maioria, e à baixa pressão atmosférica: mesmo usando cargas aerodinâmicas comparáveis a Mônaco, os pilotos chegam a 370km/h e reclamam da falta de estabilidade nas curvas justamente pela menor resistência do ar.

A escolha da Pirelli também acabou sendo conservadora – até pelas temperaturas mais baixas que o esperado – e o médio se tornou duro demais. Ao cruzar estas duas informações, as equipes entenderam que, pela boa duração do médio, mesmo que fosse mais lento, a dificuldade de ultrapassagens favorecia a adoção de uma corrida em ‘banho-maria’.

Isso, mesmo com a zona de DRS aumentada para este ano. Os defensores do novo regulamento dizem que a realidade de 2004 ou 2005, quando as corridas tinham média de apenas 10 manobras por corrida – seis vezes a menos que o auge da era Pirelli – não voltará justamente devido ao dispositivo, mas não foi o que vimos no Autódromo Hermanos Rodriguez quando uma realidade que deve se assemelhar com o que teremos em 2017 acabou sendo criada quase sem querer.

O ponto positivo foi o trabalho que os pilotos tiveram para entender os pneus. É muito cedo para especular que tipo de borracha a Pirelli vai entregar para 2017, e muito do sucesso das novas regras depende disso, mas pelo menos no México vimos muitos reclamando de um desgaste que não existia. Simplesmente o pneu estava tendo um comportamento ao qual eles não estavam acostumados e foi necessária uma sensibilidade maior.

No fim, acertaram os pilotos que perceberam isso e as equipes que escolheram não ouvir as queixas via rádio. E, entre os times, quem fez as escolhas mais ousadas – chegando à frente de carros com ritmo superior – foi a Sauber, talvez na primeira vez que a nova chefe de estratégia, Ruth Buscombe, a mesma responsável por algumas táticas bastante extremas da Haas no início do ano, quando as equipes ainda não tinham domado a possibilidade de um terceiro composto, conseguiu mostrar serviço.

O time foi o único a largar com o pneu médio, com Nasr, que conseguiu ir até a volta 50 de 71 para depois colocar um composto mais rápido. Seria uma boa tática caso seu carro não tivesse avariado por uma falha da asa dianteira desde a volta 15, mas mesmo assim o brasileiro superou as Haas e as Toro Rosso. Já Ericsson chegou perto dos pontos com um carro que está longe de merecer isso depois de ter usado o SC para fazer um pit stop ‘de graça’ e 70 voltas com o pneu médio. Uma boa leitura do time, sem dúvida, mas será que é este tipo de corrida que queremos ver ano que vem?

Drops do paddock – edição GP do México

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A Fórmula 1 tem uma relação de amor e ódio com o GP do México. Ódio pelo trânsito e pelos pequenos detalhes de organização que os mexicanos não conseguiram resolver para esta segunda edição. Os fotógrafos que o digam: o paddock fica do lado da área do estádio, uma das mais fotogênicas da temporada, mas não é possível chegar lá sem dar a volta inteira na pista, algo que poderia ser resolvido com um simples portão de controle de credencial. E o amor? O amor é por todo o resto.

  • Foi interessante ver como ainda é possível manter segredos em uma era na qual a apuração das notícias deu lugar ao desespero de ser o primeiro a publicar um rumor na internet: há semanas soube que o estado de Frank Williams era gravíssimo. Vários colegas também sabiam. Mas a história só se tornou pública com a melhora do dirigente e uma pergunta – pré-arranjada, claro – em uma coletiva oficial da FIA.
  • Falando em segredos, a maneira como Nasr e seu entorno têm lidado com as negociações sobre o futuro não tem sido das melhores. Negar tão veementemente um contato com a Force India que, sabe-se, existe – apesar de estar bem longe de ser algo sacramentado como foi colocado de forma até absurda no Brasil – não é bom para sua imagem no paddock. Sobre a vaga de Hulkenberg, sabe-se que Ecclestone teve uma reunião com Otmar Szafnauer no México para intervir em favor do brasileiro e que haverá uma reunião decisiva entre os dirigentes, incluindo Vijay Mallya, na quinta-feira. E o favorito do diretor técnico, Andrew Green, é Esteban Ocon.
  • Voltando a Nasr, também não é nada bom que a emissora que transmite a categoria em seu país (mesmo que com seus interesses) faça uma acusação tão leviana como a tal história do boicote. Ericsson não é um zero à esquerda e uma equipe que não tem os melhores profissionais, usa procedimentos ultrapassados e é mal gerida erra mais que uma Mercedes da vida.
  • O motorista do Uber comenta sobre a situação do país e me diz que “queria que nós tivéssemos a mesma coragem de vocês”. Tem feito parte do meu trabalho explicar a situação política do Brasil responder perguntas como “agora que a Dilma caiu ela vai para a cadeia?” Tem muita coisa difícil de explicar nessa terra.
  • Voltando ao México em si, a cultura bastante diversa do país é bem explorada pelos organizadores. Na quinta-feira, fizeram uma festa de boas vindas com comidas típicas, mariachis e  aulas de luta livre. Na sexta, as equipes entraram na onda e a Mercedes fez uma festa interna com vários membros da equipe maquiados para o Dia de los Muertos e a Ferrari preparou um frango típico.
  • Mas também há o lado negativo – que não acontece com muito mais frequência do que deveria, diga-se de passagem: duas lentes foram roubadas dos fotógrafos de dentro da sala de imprensa. E ainda na quarta, vindo do aeroporto, um membro da Mercedes foi assaltado dentro do carro.
  • O assalto em si é o tipo de coisa que acontece em cidades como a capital mexicana, mas realizar a corrida dentro de uma metrópole também tem seu lado positivo: a pista fica do lado de uma estação de metrô, a um convidativo preço de 5 pesos, ou 0,85 reais.
  • Alguns de vocês sabem que gosto de correr, a pé, nas pistas ao longo da temporada. Ano passado, a altitude tirou minha coragem de enfrentar o circuito mexicano, mas neste ano resolvi encarar. Mas foi uma corrida com dois pit stops, um improvável: os fiscais pararam a Monisha, que sempre costuma caminhar nas pistas, para uma foto. Fui fazer uma brincadeira com ela e me colocaram para posar para a foto também!

A turma do ‘não vai dar nada’

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Sabe quando a gente vê uma criança sentada na cadeirinha dentro do carro e lembra dos tempos que andava no porta-malas de uma Brasília? É mais ou menos a mesma sensação de ver como as pistas puniam os pilotos em um passado nem tão remoto assim em oposição às intermináveis polêmicas sobre quem deveria ser punido.

No GP do México, até em função de consequências da altitude, como a menor eficiência do vácuo e a maior instabilidade dos carros, mesmo carregando alta carga aerodinâmica – e ainda assim andando a mais de 370km/h como a Williams conseguiu durante a prova – tivemos uma corrida recheada de lances polêmicos.

Com os freios com uma diferença de 150 a 200ºC entre a direita e a esquerda no momento da largada, Hamilton não conseguiu fazer a primeira curva e passou reto, ganhando uma vantagem que seria eliminada com o Safety Car – e o regulamento fala em punição para “vantagem duradoura”. Há quem diga, contudo, que o ganho foi não ser ultrapassado por Rosberg, uma suposição, e por isso o inglês deveria ser punido.

Quando o alemão viu o replay da largada, soltou um “como ele se safou disso?”, mas não ficou claro se falava de uma punição ou do fato de não ter tido (por pouco, aliás) de trocar os pneus naquele momento, lembrando do que aconteceu com o próprio Nico na Rússia em 2014. Perguntei a ele se achava que o companheiro deveria ter sido punido e o alemão se limitou a dizer que ficou “feliz quando viu a travada porque achei que ia pegá-lo, mas não sou eu quem tem de decidir sobre punições”.

O próprio Rosberg, inclusive, vivia seus dramas um pouco mais atrás, dividindo, com direito a toque, a curva com Verstappen, em um tipo de choque que resultou em punição no passado mas que, dessa vez, foi considerado normal.

Com o pneu médio com a chamada degradação negativa (quando o pneu não tem grande perda de performance e os pilotos conseguem ser mais rápidos à medida que têm menos combustível), a estratégia da maioria se uniformizou e a dificuldade de ultrapassagem também fez com que a corrida fosse cozinhada ao banho-maria até as voltas finais, quando Verstappen, que trocara os pneus 20 voltas antes de Vettel, sofria pressão do alemão e via o companheiro, Ricciardo, com macios novos, também chegar na briga.

Verstappen travou os pneus na freada, saiu da pista, e manteve a posição. Escolheu não ouvir quando a equipe pediu que deixasse Vettel passar justamente porque havia assistido de camarote a cena da primeira curva. Mas esqueceu que seu caso foi bem mais claro e levou a punição.

Vettel, em um final de semana de fúria, em que chamou Alonso de idiota, xingou Massa, disse que Verstappen é um imbecil e mandou Charlie Whiting para aquele lugar. Mas a ‘ofensa’ mais grave foi descumprir justamente uma regra criada há uma semana por muita pressão dele próprio, ao mover-se quando já freava para defender-se de Ricciardo.

Depois de tanta confusão, pode-se apontar os dedos para os comissários, que tomaram várias decisões inconsistentes ao longo do ano, ou pode-se tentar entender a fonte de tanta reclamação.

A FIA tem tentado aprimorar os textos das regras para torná-las mais eficientes no papel, uma vez que os códigos de cavalheiros dos pilotos são ignorados por alguns. Esse termo “vantagem duradoura”, por exemplo, é relativamente recente, e nem é preciso citar a chamada “regra Verstappen” que acabou pegando Vettel no domingo.

Existe todo um sistema de coleta de dados e estudo do histórico de decisões para definir as punições, mas daí começaram a reclamar da lentidão. Pediram que ex-pilotos fizessem parte das decisões, mas hoje reclamam de relações pessoais interferindo – o que seria ainda pior se outro pedido, de formar uma comissão estável para todas as corridas, fosse atendido.

Se olharmos a raiz das discussões sobre punições, elas estão no abuso dos limites de pista – e na crença que os pilotos criados na geração sem caixa de brita têm de que vão escapar ilesos de qualquer toque mais agressivo.

A troca das caixas de brita por áreas de escape asfaltadas aconteceu por questões de segurança após inúmeros estudos. Mas nenhum deles levou em consideração que o próprio nível de pilotagem fica mais baixo quando se pode errar sem maiores consequências. As regras podem estar escritas do jeito que for: F-1 não é igual futebol, não é sempre o mesmo campo, as mesmas condições, e isso torna o julgamento muito difícil. A pergunta que se deve fazer é o quanto a categoria quer perder em termos de nível técnico em nome da segurança.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do México

Hamilton 10 a 9 Rosberg
Ricciardo 10 a 5 Verstappen
Massa 3 a 16 Bottas
Raikkonen 9 a 10 Vettel
Button 3 a 14 Alonso
Hulkenberg 10 a 9 Perez
Kvyat 4 a 11 Sainz
Magnussen 11 a 7 Palmer
Nasr 6 a 12 Ericsson
Grosjean 11 a 8 Gutierrez
Werhlein 4 a 2 Ocon

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s250

Verstappen x Ricciardo: 0s079

Bottas x Massa: 0s481

Raikkonen x Vettel: 0s005

Alonso x Button: 0s391

Hulkenberg x Perez: 0s524

Sainz x Kvyat: 1s003

Palmer x Magnussen: sem tempo

Gutierrez x Grosjean: 0s515

Ericsson x  Nasr: 0s630

Werhlein x Ocon: 0s518

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Drops (com links) do paddock

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Não estive presente no Circuito das Américas no último final de semana, mas isso não significa que vocês não terão os drops do paddock, desta vez com informações checadas com os colegas que estavam por lá.

  • O final de semana teve 270 mil espectadores, deixando clara a tendência de crescimento que já vinha dando sinais no ano passado, mas que acabou não sendo comprovado pelas condições climáticas pra lá de desfavoráveis que tivemos ano passado. Essa história de que os americanos não ligam para F-1 vem mudando. Ainda que seja uma minoria, podem ter certeza que é apaixonada.
  • Não são poucas as histórias de que Bernie Ecclestone está tentando viabilizar o GP do Brasil para além da próxima temporada. E a maneira como o (por enquanto) homem-forte está tentando fazer isso é criando o sistema de revezamento que funcionou, pelo menos por algum tempo, na Alemanha.
  • A família Nasr já tentou pressionar os políticos para melhorar as condições de Brasília, um dos circuitos que poderia alternar o GP Brasil com São Paulo, mas os progressos são lentos. Tendo isso em vista, Ecclestone também estaria conversando com os argentinos de acordo com a mídia local. No caso de Buenos Aires, também, a prova só aconteceria em 2018 devido às reformas necessárias no circuito que não recebe a F-1 há 20 anos. Interlagos, portanto, teria que se garantir para o ano que vem de qualquer jeito.
  • Outro GP que pode ficar de fora é o GP da Malásia. Mas isso só em 2019, quando termina o atual contrato. A situação não deixa de ser curiosa, pois a venda dos ingressos do GP que já é o mais barato do campeonato caiu na última temporada, chegando a apenas 60%. Os organizadores culpam o domínio da Mercedes. Mas quem é o grande patrocinador da prova? A Petronas, uma das grandes responsáveis pelo sucesso da equipe alemã.
  • Já no mercado de pilotos, difícil está sendo separar as informações que chegam aos jornalistas por determinado interesse para medir a temperatura de um negócio já fechado e o que realmente é um furo. O que aconteceu com Daniil Kvyat durante o final de semana foi claro: um colega foi usado para pressionar a Toro Rosso a fazer o anúncio.
  • Se este é o mesmo caminho do que foi feito pela prestigiada Auto Motor und Sport no caso de Nasr, é impossível dizer. O que parece, à distância, é que há mais do que uma fagulha nesse palheiro, mas não seria de se espantar se até os patrocinadores de Sergio Perez estivessem contentes com a chegada do brasileiro, representando um mercado importante para eles. A relação entre a família do brasiliense e o pessoal de marketing já existe.

Hamilton e suas voltas por cima x Rosberg e suas contas

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Teve quem achou que estava divagando sobre ‘se’ ao falar dos prejuízos que largadas trouxeram ao campeonato de Lewis Hamilton, mas é difícil sustentar isso quando todas as vezes que o inglês fechou a primeira volta em primeiro e não quebrou, ele venceu. Na verdade, nem todas: em Mônaco, ele estava em segundo, mas ganhou um presente da Red Bull. O fato é que tem sido muito difícil tanto para o inglês, quanto para Rosberg, reverter o resultado da primeira volta em condições normais – e não é por acaso que o próprio tricampeão deixou claro que foi para Austin para fazer a pole e largar bem.

Com a vitória, apesar de Rosberg não ter chegado a Austin podendo ser campeão, Hamilton deve se sentir como se tivesse revertido um match point do companheiro. Ficar com mais de uma vitória de desvantagem com três provas para o final está longe de ser uma situação confortável, mas sua performance absoluta – dentro e fora das pistas – lhe devolve confiança.

Vimos esse tipo de virada de Hamilton em vários momentos de sua carreira. Em 2008, após duas corridas bem ruins no Canadá e na França, o inglês fez uma de suas melhores provas, na memorável performance sob chuva em Silverstone. Alguns meses depois, deve outro ponto baixo no Japão, e foi perfeito logo depois na China.

As voltas por cima do inglês, que teve um comportamento irretocável neste final de semana com a imprensa após a mesma ter declarado que o piloto entrava em uma espiral negativa, ao mesmo tempo em que também dava respostas na pistas, que é o que realmente importa, são conhecidas. O que pesa para ele no momento é que pode não ser suficiente.

Hamilton pode encaixar outros três finais de semanas perfeitos no México, Brasil e Abu Dhabi e acabar descontando apenas 21 dos 26 pontos que precisa. E Rosberg deixou claro que não se importa em ganhar o campeonato apenas controlando a vantagem que construiu.

Isso complica bastante o cenário para o inglês, uma vez que, mesmo quando a Red Bull aparentava ter um bom ritmo de corrida e adotava uma estratégia diferente, o segundo colocado conseguiu chegar confortáveis 15s à frente. Claro que o Safety Car Virtual veio no pior momento possível para Ricciardo, mas o prejuízo final mostra que a Mercedes tinha sobras para bater os rivais.

E aí que voltam à conversa as largadas e as quebras, os dois fatores que fizeram esse campeonato perder a lógica em diversas ocasiões. Só isso parece ameaçar o script (quase) perfeito que Rosberg já desenhou para as três etapas finais.

Saindo da batalha da ponta, é bonito ver a fome até mesmo irracional de Fernando Alonso lutando por um quinto lugar. Isso me fez lembrar uma entrevista dele na Malásia, em que ele dizia que o objetivo da McLaren era ser sétimo em todas as corridas que faltavam. Não me surpreenderia se, em seu íntimo, contabilize um quinto posto em uma prova na qual Raikkonen e Verstappen ficaram pelo caminho, como uma vitória. Dez anos após o último título, o espanhol continua tão cirúrgico quanto aquele jovem de 25 anos que marcou Schumacher no homem a homem, fazendo apenas o necessário para levar o título.

Parecia tudo sob controle quando o motor Renault o deixou na mão em Monza. E parecia tudo mais perdido ainda quando Schumacher partia para uma vitória no Japão que o deixaria perto do hepta. Até que o motor Ferrari ‘retribuiu’ o favor. Corrida de carro tem dessas coisas!

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP dos EUA

Hamilton 9 a 9 Rosberg
Ricciardo 10 a 4 Verstappen
Massa 3 a 15 Bottas
Raikkonen 8 a 10 Vettel
Button 3 a 13 Alonso
Hulkenberg 9 a 9 Perez
Kvyat 4 a 10 Sainz
Magnussen 11 a 7 Palmer
Nasr 6 a 11 Ericsson
Grosjean 11 a 7 Gutierrez
Werhlein 3 a 2 Ocon

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s216

Ricciardo x Verstappen: 0s238

Bottas x Massa: 0s153

Raikkonen x Vettel: 0s227

Alonso x Button: 0s414

Hulkenberg x Perez: 0s273

Sainz x Kvyat: 0s305

Palmer x Magnussen: 0s233

Gutierrez x Grosjean: 0s255

Ericsson x  Nasr: 0s543

Werhlein x Ocon: 0s258

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

As quebras e os pontos que Hamilton perdeu

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Mais de uma vez durante a temporada 2016 Lewis Hamilton apontou os problemas mecânicos como fator principal para seu campeonato não estar saindo como ele esperava. Isso desde o início, quando duas falhas em classificações ajudaram a fazer com que o inglês chegasse à sexta etapa com uma desvantagem de 43 pontos.

O fantasma das quebras voltou a aparecer com força na segunda metade do campeonato, primeiro com a necessidade de trocar o motor e a consequente largada da última colocação na Bélgica, e depois na dolorosa falha da Malásia.

Porém, observando o mundial do britânico, que há 12 meses conquistava o tricampeonato justamente na etapa que será realizada neste final de semana, nos Estados Unidos, um fator é pelo menos tão preponderante para a perda de pontos importantes: as largadas ruins.

Não que as largadas sejam totalmente de responsabilidade do piloto, dependendo de vários fatores, especialmente a inconsistência da embreagem e o fato das previsões dos níveis de aderência serem menos perfeitas com apenas uma borboleta para a embreagem. Porém, as mudanças de regras deste ano jogaram mais responsabilidade nos pilotos, induzindo-os mais ao erro.

Sem menosprezar as chances de Rosberg superar Hamilton em um dia normal, mas apenas para simplificar as contas, levando em consideração que o inglês poderia ter vencido todas as provas em que teve problemas, vemos que o inglês perdeu 61 pontos por quebras – e 59 por largadas ruins.

Mais do que isso, se ele tivesse ao menos segurado a posição nas corridas em que largou mal, teria ganho 27 pontos e privado Rosberg de 21. Isso sem contar no lucro que teve nas oportunidades em que foi o companheiro quem não largou bem. Afinal, Rosberg também teve largadas bem ruins no Canadá, Alemanha e principalmente na Malásia. Porém, apesar dos números absolutos mostrarem que o líder do campeonato perdeu mais posições nas primeiras voltas que Hamilton no ano, a grande maioria delas foi justamente quando o inglês teve a quebra em Sepang, o que minimizou seus danos. No caso do tricampeão, contudo, suas maiores perdas foram largando da pole.

 

Os pontos perdidos por Hamilton no ano:

Austrália – largada ruim saindo da pole, chegou em 2º

Bahrein – largada ruim saindo da pole, chegou em 3º

China – falha no motor na classificação, chegou em 7º

Rússia – falha no motor no Q3 e na corrida, chegou em 2º

Espanha – abandonou por acidente

Baku – bateu na classificação depois de dominar treinos livres, não conseguiu se recuperar na corrida, atrapalhado com configurações do carro e chegou em 5º

Bélgica – largou em último por troca de motor como consequência das quebras do início do ano, recuperou-se e chegou em 3º

Itália – largada ruim saindo da pole, terminou em segundo

Cingapura – não teve um bom desempenho por todo o final de semana, largou e chegou em terceiro

Malásia – largou na pole, controlou a prova, mas teve uma quebra de motor e abandonou

Japão – largou mal da segunda posição, chegou em 3º

Mas de onde vieram tantas largadas ruins? No Japão, o próprio Hamilton reconheceu o erro – que, no caso, foi de tempo de reação. Outras provas, contudo, têm explicações diversas.

Toto Wolff reconhece que a Mercedes tem um sistema mais complicado e se defende alegando que, por sempre ter os carros largando na frente, quando existe uma falha ela é mais evidente. De fato, vimos largadas inconsistentes em todas as equipes e pilotos, mas não deixa de ser interessante que uma mudança aparentemente simples no regulamento possa derrubar por tantas vezes uma equipe quem tem feito um trabalho tão bom nos últimos anos. E, quem sabe, decidir um campeonato.

Não é só a Honda que está devendo

Essa imagem mostra o nível de rake que a McLaren tem usado
Essa imagem mostra o nível de rake que a McLaren tem usado

Era de se esperar, claro, mas não deixou de ser bem-vinda a evolução da McLaren-Honda nesta temporada. Mas, ao mesmo tempo que o crescimento do motor japonês foi evidente, o velho discurso de que toda a defasagem de performance era devido à unidade de potência também já não cola mais.

A McLaren garante que tem um dos melhores chassis do grid, mas não esconde que os tais dados de GPS que calculam a velocidade em curva não são vistos exatamente em todo tipo de curva. E não podem mais jogar toda a culpa na Honda.

Os japoneses ainda não chegaram no nível dos rivais, mas fizeram melhorias importantes em seu pacote. Revendo o erro inicial de menosprezar a importância do MGU-H, conseguiram evitar que os pilotos tivessem de economizar tanto combustível nas corridas e aumentaram a potência vinda do sistema de energia calorífica que, há um ano, acabava antes do final das retas, deixando os pilotos sem poder de reação frente aos rivais.

Tais mudanças refletiram tanto na performance, quanto na confiabilidade: e, 2015, foram 10 abandonos por quebra e, nesta temporada 6 até aqui. Button e Alonso ainda são os campeões na utilização de unidades de potência ao longo do ano, mas em 2016 isso foi mais pela opção da Honda de introduzir diversas melhorias no decorrer da temporada

Ainda é preciso evoluir mais, a fim de permitir que o motor ande em modos agressivos por mais tempo e que melhore sua performance em classificação, mas a Honda parece longe de estar perdida.

Ao mesmo tempo, já reconhecendo que o carro não responde tão bem assim que qualquer tipo de circuito, como ficou bastante claro em Suzuka – ainda mais depois que o motor falou alto na Bélgica, talvez no GP em que tenha ficado mais clara sua evolução – a McLaren vem fazendo uma série de alterações no assoalho, difusor e asa traseira, mais recentemente adotando as laterais com ‘dentes abertos’ lançadas pela Toro Rosso – algo que já tinha sido reproduzido na asa dianteira em Cingapura.

Tudo busca aumentar a eficiência geral da parte traseira do carro e fazer com que o rake bastante elevado que tem sido usado cada vez de forma mais intensa nesta temporada funcione. Ter ganhos com um rake agressivo, algo que se tornou especialidade da Red Bull nos últimos anos, é algo tão certeiro quanto difícil de ser obtido, pois depende da interação de uma série de fatores na aerodinâmica do carro inteiro, e as frequentes mudanças que a McLaren tem promovido no carro demonstram que o time ainda não chegou lá.

Logo, a estabilidade especialmente em curvas de média a alta velocidade e mudanças bruscas de direção em velocidade mais alta continuam sendo os problemas do carro do ponto de vista aerodinâmico. É quase como se, para andar bem, a McLaren precisasse de sua carga aerodinâmica máxima mas, uma vez que isso gera uma quantidade contraproducente de arrasto dependendo do circuito, como não é algo possível de fazer em todas as pistas, o rendimento acaba ficando muito dependente do tipo de traçado.

Tendo isso em vista, Alonso já vem há algumas etapas colocando suas maiores esperanças no GP de Abu Dhabi, especialmente pelo travado último setor. Afinal, daqui até o final da temporada, é o que mais se assemelha com Mônaco, Hungria e Cingapura, as melhores pistas para a McLaren nesta temporada. E não é só a deficiência de motor que explica isso.

Hamilton em pé de guerra com a mídia. Ou parte dela

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Quem acompanhou mais de perto o final de semana do GP do Japão ficou sabendo da guerra instalada entre Lewis Hamilton e um setor da mídia britânica. Até muita gente dentro do paddock – mas que não acompanha de perto essa tensa relação nas coletivas de imprensa – achou um absurdo o fato do piloto ter aparecido em sua entrevista no sábado apenas para dizer que não iria responder nada devido à reação a seus snapchats durante outra coletiva, na quinta-feira.

Em primeira análise, ficar brincando com o celular durante a entrevista – que faz parte de seu trabalho, aliás – e depois privar todos os outros jornalistas de sua reação após uma importante classificação não é correto. E posso garantir que está longe de ser a primeira vez que Lewis passou mais tempo dando atenção a seu aparelho durante uma coletiva da FIA do que às perguntas – e, diga-se de passagem, não é o único que faz isso.

Os jornalistas na F-1 podem se considerar privilegiados. Todos nós, seja de TV, rádio ou mídias escritas, temos a chance de falar com todos os pilotos durante os quatro dias de atividade de um GP. Até nos é dada a oportunidade de entrar em contato direto com os atores do espetáculo minutos antes da largada.

Mas a forma como estas entrevistas estão organizadas atualmente tem falhas estruturais que as comprometem. Na quinta-feira, a FIA seleciona seis pilotos para sua coletiva. Na sexta-feira, seis chefes de equipe/diretores técnicos e, no sábado e no domingo, são os três primeiros que falam na sessão, digamos, oficial. Tal sessão seria direcionada à mídia escrita. Porém, ela é televisionada. Como os jornalistas que estão lá fazendo as perguntas não podem levar seus laptops para escrever, isso abre a possibilidade de quem está trabalhando do sofá de sua casa, por exemplo, escrever as matérias mais rapidamente – e, como sempre, sem citar a fonte. Então por que perguntar algo realmente interessante?

No sábado no Japão, chegou-se ao cúmulo de simplesmente ninguém perguntar nada, só o condutor da FIA – neste GP, James Allen, falou. Até porque os pilotos da Mercedes falam à imprensa escrita horas depois, em sessões sem câmeras. E nelas Hamilton não costuma brincar com o celular.

Essa é a primeira parte que tem de ser revista – e é difícil não concordar com Lewis quando ele diz que está ‘cansado dessa merda’. Difícil é achar alguém, até mesmo entre os jornalistas, que não tenha a mesma opinião sobre essas sessões.

Porém, ao colocar aquele snap no ar, Hamilton deveria saber o que iria acontecer. Afinal, ele conhece como parte da mídia de seu país funciona. É a chamada Fleet Street, referência ao endereço comum aos grandes tabloides ingleses.

Eles sentam sempre juntos e claramente definem entre si um tom para suas reportagens, antes mesmo de conversarem com os pilotos. Assim, chegam nas coletivas bombardeando pilotos e chefes de equipe com perguntas do mesmo tom, muitas vezes exacerbando fatos/versões de forma pouco objetiva. E, como o que é escrito nesses jornais acaba tendo grande penetração na massa, eles ganham muito espaço nas coletivas.

É assim que são criadas e exageradas as noções, por exemplo, de que Hamilton está sendo perseguido ou de que está perdendo a cabeça. Enquanto Button raramente é questionado, Lewis vai de heroi a vilão (notem que os links são do mesmo jornalista, separados por dias) rapidamente, dependendo do que os colegas de Fleet Street acreditam que vai vender mais. E sim, existe um toque de racismo aí, como também – algo muito importante na Inglaterra – uma torcida de nariz para alguém que ascendeu socialmente, mas que não teve muita instrução.

Dentro desse contexto, fica mais fácil entender a reação de Hamilton, que pode parecer desmedida olhando de fora. Tanto que ouvi de um dos colegas que “é melhor ele não falar mesmo, nunca diz nada útil” e de outro “com aquele bando de negro americano lógico que ele vai falar em Austin”. É claro que o mais justo seria ele ter respondido apenas para quem está lá para trabalhar direito e que sua reação de Suzuka, em um momento delicado no campeonato, pode ser contraproducente na reta final, mas de certa forma ele acreditou que o melhor seria deixar claro seu ponto de vista. E vocês podem esperar uma chuva de matérias sobre como o inglês está completamente perdido. Até sua próxima vitória.

Drops do paddock – GP do Japão

SUZUKA, JAPAN - OCTOBER 06: Fans supporting Red Bull Racing, Ferrari and McLaren during previews ahead of the Formula One Grand Prix of Japan at Suzuka Circuit on October 6, 2016 in Suzuka. (Photo by Mark Thompson/Getty Images)

  • O GP do Japão tem um clima de corrida das antigas por vários motivos. E é uma das ‘queridinhas’ do paddock por outros motivos mais. Com poucas opções de hoteis, é difícil não trombar com conhecidos a todo momento, o que traz de volta aquela sensação de circo.
  • A educação e humildade do povo japonês é outro ponto que faz a grande maioria esquecer que está em um circuito que não é dos melhores em termos de acesso. Outro ponto positivo é que, assim como no novo paddock de Interlagos, os vidros dos ‘escritórios’ das equipes são transparentes e fica mais fácil ver quem está conversando com quem.
  • No sábado, por exemplo, a conversa parecia séria entre Niki Lauda e os homens fortes da Mercedes. Os alemães estão lutando nos bastidores para levar os testes da pré-temporada ao Bahrein, mas sofrem grande resistência da Red Bull.
  • Outro assunto que movimentou o paddock foi a negociação de Hulkenberg com a Renault, que estaria dependo dos últimos detalhes para ser confirmada oficialmente. O alemão aproveitou que toda a atenção estava na novela mexicana protagonizada por seu companheiro e jogou suas peças com um contrato que estava assinado para 2017 com a Force India, mas que apresentava alternativas de saída.
  • Em casa, a Honda fez um evento de boas vindas na quinta-feira e chamou todo o paddock. Alguns membros da Force India compareceram a uma recepção que estava bem agradável por sinal, com comida de rua japonesa, mas chamou a atenção o contingente da Sauber. Ainda mais em tempos nos quais o time é apontado como cliente dos japoneses para 2018.

Um domínio com altos e baixos

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A Mercedes selou a conquista de seu terceiro título seguido com os 40 pontos do GP do Japão, com quatro corridas de antecipação. Desde o GP da Austrália de 2014, perdeu cinco corridas para a Red Bull e três para a Ferrari. E nada mais. Chato, não? Nem tanto. Mesmo que a disputa tenha ficado na grande maioria das corridas restrita a seus pilotos, a equipe alemã tem garantido uma bela dose de entretenimento.

Primeiro porque o conceito que acabou levando a Mercedes a um domínio raro na história é levar tudo ao limite, e isso traz consigo alguns riscos. O carro não funciona muito bem quando está no tráfego, tendo tendência a sofrer superaquecimento. A unidade de potência também costuma sofrer mais no time principal do que em seus clientes, fruto das configurações mais ousadas. E isso também trouxe incertezas em várias provas.

Mas a grande fonte de emoções vem do fato dos pilotos estarem liberados para disputar. Os dirigentes da Mercedes demonstram ter consciência de que seria muito pior para a imagem da marca vencer sempre, mas de forma engessada. Ainda que tenham ligado o sinal amarelo após a série de toques entre Espanha e Áustria neste ano, criando as tais ‘regras de conduta’ que até hoje ninguém sabe direito o que são, Wolff e Lauda de certa forma preferem correr o risco de verem seus pilotos quebrando a cara de vez em quando do que conviver com a mancha negativa das ordens de equipe e dos resultados pré-determinados. Afinal, com tamanha vantagem, não precisam disso, mas este não foi o pensamento de outros times dominantes no passado.

Mas talvez a melhor parte seja a liberdade dada a Lewis Hamilton. O inglês trocou as amarras da McLaren pela permissividade da Mercedes e, como qualquer um que tateia uma vida sem tantos nãos – na verdade mais do que isso, uma vida sem tantos nãos e com muitos milhões no bolso, que multiplicam as possibilidades – às vezes perde a mão.

Foi o que aconteceu no Japão. Hamilton passou a semana inteira na defensiva – e tentarei explicar melhor a atual guerra que vive com um setor específico da mídia inglesa ao longo da semana – e ainda saiu escancarando uma falta de comunicação interna, quando escreveu que “algum idiota disse que entramos com protesto contra Verstappen”. De fato, houve um protesto formal, do qual o inglês não foi informado e com o qual obviamente não concordava.

Da mesma forma, essa liberdade também foi importante para várias grandes performances que vimos nos últimos três anos, em que Hamilton cresceu bastante como piloto. Então, mais uma vez, é um risco que a Mercedes corre – e que vez ou outra vai fazer o time entrar em ebulição – mas que é importante para tornar uma vantagem técnica considerável o mesmo monótona possível.

A parte deles está sendo feita. Agora cabe aos rivais elevarem seu nível.

Nível, aliás, que foi bastante alto da parte de Nico Rosberg neste final de semana. O alemão sempre andou bem em Suzuka, mas ainda não tinha conseguido converter isso em vitória. Em um GP no qual brigou de igual para igual com Hamilton, ganhou de forma convincente, calando aqueles que pregam que o piloto só bate o companheiro quando este tem algum tipo de problema. Com um carro muito bem equilibrado, quaisquer diferenças de performance são minimizadas, e é isso que Nico tem conseguido usar para abrir uma vantagem importante a quatro provas do fim.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Japão

Hamilton 8 a 9 Rosberg
Ricciardo 9 a 4 Verstappen
Massa 3 a 14 Bottas
Raikkonen 7 a 10 Vettel
Button 3 a 12 Alonso
Hulkenberg 8 a 9 Perez
Kvyat 4 a 9 Sainz
Magnussen 11 a 6 Palmer
Nasr 6 a 10 Ericsson
Grosjean 11 a 6 Gutierrez
Werhlein 2 a 2 Ocon

Diferenças de hoje:

Rosberg x Hamilton: 0s014

Verstappen x Ricciardo: 0s062

Bottas x Massa: 0s065

Raikkonen x Vettel: 0s079

Alonso x Button: 0s032

Perez x Hulkenberg: 0s181

Kvyat x Sainz: 0s062

Palmer x Magnussen: 0s227

Grosjean x Gutierrez: 0s586

Ericsson x  Nasr: 0s110

Ocon x Werhlein: 0s208

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Botão de auto-destruição

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“É uma pista muito especial porque você nunca fica sem fazer nada, em uma retona”, definiu Felipe Nasr cerca de uma hora antes de eu resolver, em minha primeira visita a Suzuka, encarar os 5,8km daquele que provavelmente é meu traçado favorito da temporada. E, é claro, mítico desde os tempos de criança.

Trinta e poucos minutos depois, lá estava, empolgadíssima, repetindo sem perceber o parecer de Nasr: cheia de elevações que são impossíveis de perceber pela TV e com uma sequência de curvas sempre diferentes uma da outra, é impossível se entediar em Suzuka.

A diferença é que meu ‘desafio’ no circuito japonês foi a pé, a cerca de 11km/h. E Nasr e companhia encaram uma pista que também é bem mais estreita e com os números bem mais próximos do que se vê no vídeo, a uma média acima de 200km/h!

É fácil muitas vezes tirar as coisas do contexto e duvidar dos profissionais que trabalham na Fórmula 1. Com um grid em que a diferença entre o melhor e o pior fica nos décimos, caso os carros fossem iguais, é até tentador ver um deles, tomando consistentemente 0s2 que seja e julgar, sem saber o incrível número de variáveis que podem interferir.

Na corrida, por exemplo – corrida de rua, que fique claro – mesmo em um nível amador: se você não dorme direito, não corre direito. Se a meia não está bem colocada, vai sentir dor. Se bate um vento um pouco mais forte, falta fôlego. Se estiver em um lugar bonito, provavelmente vai se sentir mais motivado e correrá mais rápido.

Imagine uma corrida de carros em que, para começo de conversa, só um engenheiro mesmo para explicar o funcionamento do motor. Oops, unidade de potência, força matriz, e por aí vai.

Dentro desse contexto, parte da mídia inglesa (sempre a mesma) tem tentado chamar de complô algo que só pode ser da natureza de um esporte tão complexo e seletivo. Não, a Mercedes não tem um botão para explodir o motor de Hamilton para dar emoção às corridas e falar coisas do tipo é um tremendo desrespeito com quem trabalha com detalhes tão mínimos que a menor das falhar gera uma cascata de problemas.

Se há uma verdade nesse período de domínio da Mercedes é que ele sempre foi acompanhado de uma abordagem bastante limítrofe de absolutamente tudo. A ideia é levar tudo ao máximo, e isso resulta em altos riscos. Não coincidentemente, vimos tanto Hamilton quanto Rosberg por várias vezes tendo de poupar freios ou com alguma falha no motor. Não coincidentemente, isso aconteceu sempre que eles foram obrigados a andar mais tempo que o normal com toda a potência disponível.

Até por isso, a Red Bull começou a dividir suas estratégias para obrigar a Mercedes a reagir dessa forma e, na Malásia, acabou funcionando, como eventualmente vai funcionar nas próximas cinco provas, começando pelo Japão em que, como vocês já sabem, não dá para ficar entediado.

Drops do paddock – GP da Malásia

Cartazes de cerveja do lado de carros e geladeira 'patrocinada' pela FerrariCartazes de cerveja do lado de carros e geladeira ‘patrocinada’ pela Ferrari

  • O GP da Malásia foi o primeiro passo rumo ao desconhecido para a grande maioria que está no paddock hoje, quando estreou em 1999. Com o tempo, tanto a F-1 foi se acomodando no lugar, deixando Kuala Lumpur de lado e hospedando-se perto da pista, quanto os próprios malaios se acostumaram com a presença da F-1. Tanto, que o restaurante que fica na esquina de um dos hoteis perdidos no meio do nada – e lotado de jornalistas – até adaptou sua decoração. A foto acima é a prova. E sim, o restaurante é um botecão mesmo!
  • Imagine correr 5,5km com umidade acima dos 70% e temperatura de mais de 30ºC, terminar a volta e descobrir que… todos os acessos de volta ao paddock estão fechados! A única solução seria entrar pelo box de alguma equipe, mas eles não gostam muito de ver jornalistas por lá. Minha sorte foi encontrar o comandante da Toro Rosso, Franz Tost, andando pela garagem. Com a bênção do chefe, pude passar.
  • O GP da Malásia atrai muitos torcedores de fora do país, até porque o investimento vale a pena. Afinal, trata-se de um país barato e o ingresso de cerca de 150 reais para os três dias pode dar, inclusive, acesso ao pit lane (no caso dos 1500 primeiros a adquiri-lo). Bom para quem quer seguir seu piloto favorito, como a garota japonesa que roda o mundo atrás de Felipe Massa e que, mesmo grávida, estava na porta do circuito, sozinha, sob um sol forte, na sexta-feira esperando o piloto brasileiro.
  • O calendário de 2017 mal foi anunciado e já está causando polêmica. O problema é a realização do GP da Malásia antes de Cingapura e a dobradinha da etapa noturna com o Japão. As equipes estão reclamando, já que isso significa que todos terão de se adaptar ao fuso malaio, voltar para o europeu e logo depois enfrentar o japonês. Não seria uma surpresa se a configuração deste ano (Cingapura, Malásia, Japão) voltasse ano que vem.
  • A sexta-feira à tarde foi concorrida no paddock, com festas pelos 300 GPs de Button e pelos incríveis 500 do jornalista inglês David Tremayne, promovida pela Mercedes. Na McLaren, a comemoração acabou gerando um mal estar com a FOM, que não gostou da mudança radical da decoração, uma vez que o time transformou seu escritório no paddock em um pub inglês. Coisas da F1.
  • A repórter da Globo, Mariana Becker, trabalhou no sacrifício neste final de semana, depois de ter duas hérnias em vértebras próximas ao pescoço quando surfava na semana anterior. Para quem não sabe, a gaúcha começou na TV cobrindo surfe. Fora o susto, usar um colar cervical no calor da Malásia não deve ter sido fácil. Alguns pilotos demonstraram preocupação, mas a surpresa foi Kimi Raikkonen. O finlandês não disse nada para a repórter, mas depois perguntou à assessora da Ferrari o que tinha acontecido e se era a primeira vez que Mariana tentava surfar.

Dramas e riscos

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GP do Japão de 2006. GP da Hungria 2008. GP da Malásia 2016. Três quebras de motores que frustraram postulantes ao título. No caso de Schumacher há 10 anos, e de Massa duas temporadas depois, aqueles momentos acabaram entrando na história como capitais para que o título escapasse na corrida final. Mas como será que a prova deste domingo vai entrar na história de Lewis Hamilton?

Ficou claro, e não poderia ser diferente, que o inglês sentiu o golpe. Afinal, vinha fazendo um final de semana perfeito e especialmente uma corrida irretocável, mesmo com a real ameaça de uma Red Bull que arriscou na estratégia e, de fato, assustou a poderosa Mercedes. Porém, como Toto Wolff bem lembrou após a prova, a Fórmula 1 também é um esporte mecânico e o piloto tem de se contentar que as coisas nem sempre estão em suas mãos.

Hamilton costuma voltar mais forte de momentos como esse, mas seu problema aqui é outro: a quebra veio em um momento complicado, pois a corrida de Sepang era a primeira em que usava essa unidade de potência, uma daquelas que foram ‘estocadas’ com as trocas múltiplas de Spa. A outra já tem três corridas – duas delas em circuitos duros para o equipamento, Bélgica e Itália – e só uma é completamente nova. Com cinco provas para o final e uma disputa que vem sendo equilibrada com Rosberg, isso pode trazer um prejuízo bem maior do que os 25 pontos deste final de semana. O alemão, inclusive, reiterou a boa fase e fez boa prova de recuperação depois de uma bela pancada na largada.

O que fica de lição é que, mais uma vez, a Mercedes falhou quando foi tirada de sua zona de conforto. Quando consegue controlar seu ritmo, o time é imbatível. Porém, quando existe alguma pressão, que obriga ou os pilotos a aumentarem o ritmo por uma grande parte da prova, ou quando eles têm de passar outros carros, vimos quebras ou, pelo menos, mensagens alarmantes dos engenheiros. Isso mostra o quão no limite é necessário estar na F-1 para ter um domínio tão grande, e quantos riscos se deve assumir.

Falando em riscos, a Red Bull mais uma vez deu show de estratégia, dividindo as táticas de seus pilotos e formando um quebra-cabeça difícil para a Mercedes resolver. Essa tem sido a norma da equipe, tanto na maneira como maneja seus finais de semana, quanto no desenvolvimento do carro. Dessa forma, o time dá lição atrás de lição na Ferrari, presa em peças novas que ora funcionam, ora ficam de fora e em táticas mais de defesa do que de ataque.

Em relação aos pilotos, Daniel Ricciardo insinuou no sábado que a briga interna com Verstappen estava ajudando a Red Bull na briga com a Ferrari porque fazia com que o padrão de pilotagem de seu time subisse de nível. E alto nível foi o que vimos na disputa dos dois em Sepang, coroado com uma vitória que já vinha sendo merecida há meses.

Na Williams, Valtteri Bottas surpreendeu conseguindo fazer apenas uma parada e levando o time ao melhor resultado desde seu pódio no GP do Canadá, em junho. O feito é particularmente impressionante porque a equipe não tinha referências do pneu duro, que seria testado por Massa na sexta mas, com o problema que o brasileiro teve no treino livre, não saiu da garagem.

Fernando Alonso fez outra de suas provas consistentemente impressionantes e deu bons sinais para a Honda poucos dias antes de sua prova caseira. Que a McLaren estará bem mais forte no Japão 12 meses depois dos berros de ‘motor de GP2’ é bem mais fácil de prever qual será o novo drama que vai surgir no campeonato.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Malásia

Hamilton 8 a 8 Rosberg
Ricciardo 9 a 3 Verstappen
Massa 3 a 13 Bottas
Raikkonen 6 a 10 Vettel
Button 3 a 11 Alonso
Hulkenberg 8 a 8 Perez
Kvyat 3 a 9 Sainz
Magnussen 11 a 5 Palmer
Nasr 6 a 9 Ericsson
Grosjean 10 a 6 Gutierrez
Werhlein 2 a 1 Ocon

Diferenças de hoje:

Rosberg x Hamilton: 0s414

Ricciardo x Verstappen: 0s047

Massa x Bottas: 0s155

Vettel x Raikkonen: 0s048

Button x Alonso: 1s888

Perez x Hulkenberg: 0s170

Kvyat x Sainz: 0s005

Magnussen x Palmer: 0s406

Grosjean x Gutierrez: 0s096

Ericsson x  Nasr: 0s133

Ocon x Werhlein: 0s136

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

O contrato do GP Brasil não quer dizer muita coisa

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Em junho, no GP do Azerbaijão, Bernie Ecclestone fez uma de suas aparições relâmpago na sala de imprensa e disse que poderíamos ter 21 provas ano que vem. Ou 18. Logo começaram as especulações sobre quais seriam as etapas que estariam ameaçadas.

Nesse ponto, o Brasil já era uma delas, fruto da dificuldade dos organizadores em garantir o pagamento da taxa para receber o evento. Apesar da vontade de Ecclestone de manter o GP, com o qual obtém um lucro considerável especialmente com o Paddock Club, já havia a pressão para viabilizar a realização da prova em 2017, independentemente do contrato estar ou não em vigor.

Já vimos essa novela antes, e com finais diferentes. Quantas vezes Monza não ficou ameaçada? E o GP da Alemanha, que ficou de fora quando Nurburgring quebrou e Hockenheim não quis arriscar um prejuízo pelo segundo ano seguinte? No caso dos italianos, o evento sempre seguiu adiante, com concessões feitas dos dois lados. E os alemães, mesmo com um tetracampeão no grid, ficaram de fora em 2015. Em provas menos tradicionais, Índia e Coreia são exemplos de quem tinha um contrato, mas quebrou-o ao não pagar a conta.

É difícil entender de que lado da balança o GP do Brasil está no momento. Até que ponto Ecclestone aceita barganhar para não perder a prova no segundo país em audiência no mundo, único na América do Sul?

Há quem diga no paddock em Sepang que a prova do Brasil pode ser salva simplesmente porque as outras duas corridas ameaçadas estão em situação pior: no Canadá, onde também há um contrato em vigor, até 2024, foram prometidas reformas no paddock, que é, de longe, o pior do atual calendário. Porém, como não há nenhum movimento do governo local nesse sentido, a prova, de fato, pode não ocorrer. Na Alemanha, por sua vez, os organizadores de Hockhenheim estão com o mesmo dilema de 2015 e não acreditam que podem receber a prova em dois anos seguidos – e certamente nem um título de Nico Rosberg, piloto com pouco apelo em seu país natal, mudaria essa situação.

Como um calendário com 18 provas não seria uma opção – ainda mais em tempos nos quais fala-se na expansão para 25 GPs – o Brasil ficaria a salvo. Porém, se os organizadores não conseguirem mudar a atual situação, ainda veremos a data da prova brasileira junto de um asterisco várias vezes.

Rumo ao 35º GP da temporada (?)

Deve ser complicada a 'engenharia' de um calendário de F-1. Essa primeira versão de 2016, por exemplo, virou história!
Deve ser complicada a ‘engenharia’ de um calendário de F-1. Essa primeira versão de 2016, por exemplo, virou história!

O aniversário do título de Alonso sobre o qual escrevi na segunda e a expectativa para a 16ª etapa de um campeonato que ainda tem muito chão pela frente dá a dimensão de como a Fórmula 1 mudou nos últimos 10 anos. O GP da Malásia de 1999 foi o primeiro de uma série de provas que marcaram a expansão rumo a países sem tradição prévia no automobilismo – e com grande interesse e poderio financeiro para usar a categoria como marketing para seu turismo e negócios.

A chegada dos ‘magnatas’ do calendário, como Abu Dhabi e Bahrein no Oriente Médio, Azerbaijão entre Europa e Ásia, especialmente Cingapura no Sudeste Asiático e o próprio GP do México, ao mesmo tempo em que inflou de maneira jamais vista o campeonato, também engordou os bolsos dos promotores – e, consequentemente, das equipes – de maneira exponencial.

É só estudar o aumento da arrecadação anual da Fórmula 1 com os chamados racing fees – taxa paga pelos circuitos para receber a categoria – nos últimos 10 anos. Apesar dos números não serem oficiais, as estimativas são bastante coerentes: em 2005, o valor ganho por prova era de 50,3 milhões de dólares entre as taxas, o paddock club e as placas de patrocínio. Hoje, o número chega a 101 milhões por prova. Enquanto o valor do paddock club se manteve estável e o patrocínio de pista cresceu 6 milhões em média, fica claro de onde veio o dinheiro extra.

A questão é que Bernie Ecclestone pode posar de alguém disposto a levar a F-1 onde o dinheiro está a qualquer custo, mas não tem feito isso. Mesmo com os petrodólares na mão, a categoria não abandona lugares que pagam bem menos. Na Itália, fala-se em valores de 20 a 22 milhões por ano; no Brasil, 24. Para efeito de comparação, Abu Dhabi paga cerca de 60 milhões de dólares por ano e o Bahrein não está longe disso.

Com esse equilíbrio entre tradição e o dinheiro destes destinos ‘exóticos’ em termos de automobilismo, o campeonato foi inchando de tal maneira que estamos nos últimos dias de setembro e ainda temos seis provas pela frente, em três continentes. Trata-se de um teste e tanto especialmente para os ‘operários’ das equipes, pois o cansaço do mecânico que mal viu a família o ano todo começa a cobrar a conta.

E também, de certa forma, trata-se de um teste para a própria Fórmula 1. Afinal, com tantas corridas, perde-se um pouco do caráter especial de cada etapa. Como se tivéssemos uma Copa do Mundo a cada dois anos, por exemplo. Nesse sentido, será interessante ver qual a postura dos novos donos da categoria nas próximas temporadas, tanto no sentido de manter ou não o equilíbrio entre tradição e novos horizontes, quanto na determinação de um número ideal de provas por ano. Não gosto de ficar definindo os novos donos por sua nacionalidade, pois são empresários de grande escopo e certamente vão estudar muito bem antes de fazer qualquer mudança. Mas, de fato, o jeito americano de fazer e promover esporte é outro, na base do, quanto mais visibilidade, melhor. E, com essa mentalidade, qual será o limite?

Más notícias para Alonso

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Em 11 anos, Max Verstappen começou a disputar campeonatos de kart e foi contratado pela Red Bull. Em 11 anos, Niki Lauda deixou a categoria, voltou, foi campeão, e se aposentou. Em 11 anos, Fernando Alonso foi de grande candidato a novo Schumacher ao meio do pelotão, no que pode ser um fim de carreira melancólico.

Há 11 anos, o espanhol conquistava seu primeiro título mundial e se tornava o mais jovem da história a fazê-lo – recorde que já foi quebrado, por Lewis Hamilton e por Sebastian Vettel, duas vezes desde então. Na época, o piloto demonstrava uma agressividade alta dentro e fora das pistas – naquele GP do Brasil de 2005, após soltar o equivalente a um ‘chupa!’ ao sair do carro como campeão, disse na primeira entrevista que só tinha três ou quatro pessoas a agradecer – mas ao mesmo tempo parecia correr com o campeonato debaixo do braço. Quando tinha de ser segundo, não fazia besteiras para tentar vencer. Quando tinha o melhor carro, ninguém segurava.

Como um piloto com essas características mesmo aos 25 anos poderia não colecionar uma série de títulos e herdar o posto do heptacampeão? Pois bem. Alonso conseguiu. Primeiro, pela inabilidade em fazer política com Ron Dennis na McLaren – o que, convenhamos, não é tarefa fácil. Depois, pela teimosia em crer que a Ferrari seria o caminho, cegando-se a todas as possibilidades que lhe eram apresentadas. Entre 2008 e 2009, o espanhol focou em Maranello olhando o passado, enquanto a Fórmula 1 evoluía em direção a um futuro para o qual o time italiano não estava preparado.

Acabou saindo no lucro, em 2010 muito em função de sua regularidade e dos erros da Red Bull, e em 2012, por méritos próprios, que fizeram a diferença em um campeonato bastante disputado em termos de equipamento. Foi por pouco que o terceiro título não veio, mas esse ‘por pouco’ não deve eliminar a frustração de alguém tão competitivo, especialmente ao ver os mais jovens somando mais e mais vitórias.

E tudo caminha para que o tal tricampeonato da redenção não venha. Muitos no paddock acreditam no crescimento significativo da McLaren ano que vem. Porém, a diferença em relação à Mercedes, que está muito bem organizada e não dá sinais de queda, ainda é considerável para pensar em lutar pelo título.

E Alonso já vem avisando há meses: se não gostar dos carros do ano que vem, não renova. É claro que o espanhol já disse várias coisas: que encerraria a carreira na McLaren, depois na Ferrari, etc. Mas sua frustração muito mais em não vencer do que com o equipamento em si é clara há tempos.

A má notícia para Alonso é que os pontos os quais critica no regulamento, ligados à conservação de pneus e combustível, não devem acabar. Por mais que as regras de 2017 signifiquem uma aerodinâmica mais arrojada e exista a promessa de pneus mais duráveis, a própria ausência de reabastecimento já limita o ritmo durante as corridas. Assim, mesmo que os carros sejam, de fato, 5s por volta mais rápidos, só veremos isso em classificação. Na corrida, ainda que o ritmo deva ser mais rápido no geral, a necessidade de poupar equipamento permanece.

Isso, mesmo se a Pirelli conseguir a meta de fazer um composto mais durável mesmo testando-o com carros atuais e sem as estimativas claras das cargas aerodinâmicas as quais a borracha terá de enfrentar. Nesse quadro, é bem provável que os italianos optem por uma linha mais conservadora, o que não seria uma boa notícia para Alonso.

Dentro desse quadro, podemos sim estar vendo as últimas 20 e poucas corridas de um piloto que a maioria de nós vai dizer para seus netos que merecia mais do que dois títulos mundiais.

Drops do paddock

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Vou estrear nesta terça-feira uma nova coluna pós-GP com algumas curiosidades e informações que circularam no paddock durante o final de semana anterior. Aproveito o GP de Cingapura por ser uma das provas mais únicas do campeonato – disputada em um momento de efervescência tanto da parte política, quanto do mercado de pilotos no meio do pelotão.

  • Valtteri Bottas já começa a se preocupar com seu companheiro ano que vem.  E com razão. A decisão da Williams, que deve surpreender muita gente, vem recheada com um caminhão de dinheiro que ninguém consegue precisar. E se precisar, compram o time.
  • O primeiro GP de Chase Casey, efetivamente o novo dono da F-1, deve ter sido traumático para Bernie Ecclestone. O norte-americano foi o centro das atenções, a ponto de Bernie, com seus 85 anos e pouco mais de 1,50m, ter quase sido derrubado por um cinegrafista, na ânsia de capturar uma imagem de Chase. Ninguém sabe como o profissional manteve sua credencial. Talvez seja sinal dos tempos.
  • Em uma nota triste, o repórter inglês da TV americana, Will Buxton, perdeu o pai pouco antes do início das atividades e não compareceu ao GP. Apenas dois pilotos perguntaram por que o profissional não estava com o microfone da NBC: Daniel Ricciardo e Lewis Hamilton.
  • Na madrugada de sexta para sábado, com o paddock ainda cheio, às 2h da manhã, a Manor fez uma pequena festa de aniversário para Esteban Ocon para comemorar seus 20 anos.  O francês foi cobiçado, posando para fotos tanto com a chefia da Mercedes, com quem tem contrato, quanto da Renault, que deve tê-lo como titular ano que vem.
  • Uma decisão sobre o futuro de Felipe Nasr deve sair nas próximas semanas. No momento, parece que as maiores chances são do brasileiro permanecer onde está. Mas ele está de olho em uma vaga na Renault.
  • Falando em Nasr, o brasileiro e seu companheiro Ericsson passaram a contar com a estrategista Ruth Ruscombe, apontada como a cabeça por trás das táticas criativas que deram pontos importantes para a Haas.

Nó tático

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A máxima de que tudo pode acontecer no GP de Cingapura ficou na promessa na etapa deste ano. Com os pilotos comportados, coube aos estrategistas encontrarem maneiras de mudar o destino de seus pilotos. E eles acabaram nos dando um desfecho pra lá de inesperado, com Nico Rosberg tendo de suar para vencer uma prova que parecia tranquila até 16 voltas para o final.

Curiosamente, tudo começou com um nó tático desenhado pela própria Mercedes, que chamou Hamilton para os boxes para uma parada não programada na volta 45, a fim de ou provocar a resposta de Raikkonen, que passara o inglês na pista voltas antes, ou dar a chance ao tricampeão de ir à caça do finlandês com pneus mais novos no final da prova.

A jogada deu certo até pela já tradicional atitude defensiva do time italiano nas táticas. Quando o engenheiro disse a Hamilton que ele teria de ir para o plano B, estava claro que pararia de novo. Afinal, quando os quatro ponteiros colocaram os pneus macios entre as voltas 31 e 34, estava claro que a ideia era ir até o final, pois a recomendação da Pirelli era dar 34 voltas com o composto – e faltavam menos de 30 naquele ponto.

Qualquer equipe mais astuta estrategicamente teria chamado Kimi assim que os mecânicos da Mercedes começassem a se movimentar, para anular a possibilidade de Hamilton fazer o undercut. Foi isso, aliás, que a Red Bull fez na primeira rodada de pit stops justamente contra o inglês – e, é claro, funcionou.

Mas a Ferrari sentiu o golpe e ainda demorou para decidir se pararia ou não Raikkonen. Quando Hamilton saiu bem mais rápido, não apenas com pneus mais novos, mas também com um composto mais veloz, o supermacio, os italianos ainda tiveram uma segunda chance de tentar salvar o pódio, deixando Kimi na pista, mas decidiram mais uma vez pela tática defensiva. E tiveram de se limitar ao quarto posto.

Como em um ‘efeito rebote’, a Red Bull teve de reagir com Ricciardo e acabou deixando a Mercedes em uma situação complicada – criada por ela mesma. Como Rosberg estava em meio a retardatários justamente na volta em que o time alemão decidia se valia ou não a pena fazer um terceiro pit stop, a opção foi por correr o risco menor, que nesse ponto era ficar na pista e aguentar a pressão de Ricciardo no final, o que provou ser acertado, ainda que bastante limítrofe.

É interessante ver uma equipe que caminha a passos largos para o tricampeonato arriscar tanto. Mas ainda bem que eles o fizeram.

No mais, mesmo com menos ação do que em anos anteriores, o GP de Cingapura ainda teve algumas performances fortes. Sebastian Vettel fez um segundo stint longo e forte para pular de último para quinto, em uma recuperação que foi um misto de bom ritmo e oportunismo, como na manobra dupla em cima de Gutierrez e Sainz. Fernando Alonso conseguiu conservar seus pneus enquanto segurava um trenzinho de carros mais rápidos no início da prova e foi o sétimo. Magnussen fez sua melhor prova em muito tempo, em um momento decisivo para sua continuidade na Renault e Nasr mostrou novamente que sabe gerenciar os pneus, ganhando seis posições em relação ao fim da primeira volta.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP de Cingapura

Hamilton 7 a 8 Rosberg
Ricciardo 9 a 2 Verstappen
Massa 2 a 13 Bottas
Raikkonen 6 a 9 Vettel
Button 3 a 10 Alonso
Hulkenberg 8 a 7 Perez
Kvyat 2 a 9 Sainz
Magnussen 10 a 5 Palmer
Nasr 6 a 8 Ericsson
Grosjean 9 a 6 Gutierrez
Werhlein 2 a 0 Ocon

Diferenças de hoje:

Rosberg x Hamilton: 0s704

Ricciardo x Verstappen: 0s213

Bottas x Massa: 0s251

Raikkonen x Vettel: 4s152

Alonso x Button: 0s491

Hulkenberg x Perez: 0s103

Sainz x Kvyat: 0s272

Magnussen e Palmer: 0s135

Gutierrez x Grosjean: 0s130

Ericsson x  Nasr: 0s433

Werhlein x Ocon: 0s629

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Coisas da ‘corrida balada’

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Você acorda e dá bom dia para o porteiro. Mas são 3 horas da tarde. Chega para trabalhar lá pelas 5 e vê que tem entrevista marcada para depois da meia-noite. Trabalha até umas 2h da madrugada e talvez até arrisque uma volta correndo na pista depois disso, para manter o corpo em movimento. Depois, arruma um lugar aberto para jantar, às 4h e tenta ficar acordado até o sol nascer. Vai dormir de dia, luta com a claridade do quarto, e acorda… de dia.

E não é só por essa rotina maluca que o GP de Cingapura é único. E rapidamente se tornou um dos prediletos de muita gente (para mim, particularmente, ele é imbatível) que trabalha na Fórmula 1. Inclusive para os pilotos que, apesar de todo sofrimento de um calor implacável mesmo à noite, gostam muito do traçado e de todo esse clima de ‘corrida balada’.

É curioso como o traçado de Cingapura é, aparentemente, simples, mas todos os pilotos se empolgam ao falar sobre as dificuldades que enfrentam. Mesmo em uma volta lançada, é uma pista difícil de acertar, pois a grande sequência de curvas faz com que uma entrada ‘torta’ custe muito caro. Como a tendência do carro é sair de frente neste tipo de circuito, a busca é por ‘prender’ essa parte do carro e conseguir virar o mais cedo possível, tentado quase que criar atalhos na pista.

Essa, inclusive, é uma das especialidades de Fernando Alonso, que costuma ser um show à parte nas ruas de Cingapura. Lewis Hamilton é outro que sempre anda bem aqui, assim como Daniel Ricciardo. Todos pilotos agressivos.

Ao mesmo tempo, Cingapura é uma maratona e é preciso inteligência e sensibilidade para entender como o desgaste de pneus, mais alto que o normal para uma pista de rua, muda o comportamento do carro ao longo da corrida. Para completar, o termo maratona também se aplica ao lado físico: mesmo à noite, a alta umidade faz com que a sensação térmica nunca fique abaixo dos 30 graus e, dentro do cockpit, com o ar ‘travado’ pelos muros próximos, chega facilmente aos 50. Uma verdadeira sauna que os pilotos encaram por duas horas na corrida, algo que certamente atrapalha a concentração.

Pode parecer sofrimento, assim como a forma como nossa cobertura se adapta aos horários de Cingapura. Mas todo mundo aqui gosta mesmo é de um desafio.

A vida loka da F-1

Minha segunda casa por boa parte deste ano
Minha segunda casa por boa parte deste ano

“Então você está dizendo que mora no Brasil, mas tem um apartamento alugado em Barcelona e fica viajando de um lado para outro para trabalhar? Não faz sentido”, me dizia o policial da imigração na Espanha. Ele tem sua parcela de razão. A vida dos profissionais que trabalham na Fórmula 1 não faz muito sentido mesmo.

Tenho feito corridas in loco desde 2011, mas foi apenas a partir do ano passado que passei a estar presente em mais provas. Em 2015, foram oito e, neste ano, serão 16. E só agora entendo por que a própria F-1 é tão negativa com ela mesma. Afinal, pegar carona com o ‘circo’ gera um custo pessoal bastante grande e todos buscam uma compensação no trabalho que fazem. E nem sempre é isso que acontece.

Claro que é uma escolha e a grande maioria que está lá não se vê fazendo outra coisa da vida, ou trabalhando em um escritório esperando chegar a hora de ir embora na sexta-feira e odiando cada segunda. Quando ficamos na sala de imprensa até 22h esperando a confirmação do grid de largada do GP da Hungria e um colega reclamou no twitter, teve a sábia resposta: “O McDonald’s está contratando”. Fato. Mas existe também a noção de que o campeonato está ficando longo demais para que quem trabalha nele tenha uma relação saudável com o que escolheu fazer da vida.

No GP da Itália, circulou entre os jornalistas uma prévia do calendário do ano que vem. Desanimadora. Para começar, uma dobradinha entre Austrália e China, em cidades distantes em 8.000km. Mas pelo menos o fuso horário é de apenas duas horas. Mais adiante na temporada, pelo menos nesta primeira versão não oficial foi mantida a dobradinha improvável de Montreal-Baku, distantes em mais de 9.000km e com oito horas de diferença de fuso.

Era nesta história que queria chegar para dar a vocês uma noção de como é nosso trabalho. O primeiro desafio era encontrar um voo que me levasse de Barcelona a Montreal na quarta-feira e de Montreal a Baku em algum momento entre a segunda-feira seguinte e a quarta. Afinal, as atividades do final de semana começam na quinta-feira, com as entrevistas, e dificilmente conseguimos terminar o trabalho cedo o suficiente para voar ainda no domingo.

Decidi ir direto de Montreal a Baku, ficando no Canadá na segunda, o que acabei descobrindo ser um erro. Vários colegas quiseram ficar uma noite em casa e os japoneses, sempre aqueles que trabalham mais duro, voltaram a Tóquio, passaram algumas horas dormindo no aeroporto e seguiram para o Azerbaijão! Tudo por uma questão de gastos.

A cobertura do GP do Canadá já não tinha sido das mais fáceis. O fuso pesa bastante e um frio inesperado na quinta-feira deixou todo mundo meio ‘baleado’ nos dias seguintes. Sem saber direito o que me esperava, deixei Montreal na terça à tarde e segui para Baku, via Frankfurt. Para ajudar, houve um atraso no segundo voo e cheguei no meu destino perto da meia-noite. Pelo menos era o que o relógio dizia, pois meu corpo já tinha perdido as contas das horas há alguns dias.

A segunda adaptação ao fuso provou ser ainda mais complicada. Tinha sono às 18h, despertava completamente às 3h. Olhava ao redor e só via zumbis trabalhando. Se nós, jornalistas, aterrisamos quarta à noite, os mecânicos, que têm de montar e desmontar as garagens e os carros, que viajam ‘desmembrados’, chegam um dia antes e sempre ainda estão trabalhando quando finalizo meu trabalho no domingo, lá pelas 21h em um dia no qual tudo corre bem.

Na conexão de volta em Frankfurt, outro policial da imigração, duvidando que eu trabalhava na F-1, me pergunta quem tinha ganhado a corrida no domingo. Juro que meu cérebro não tinha condições de lembrar nem qual a última coisa que tinha comido. Curiosamente, fui salva por um nome improvável. A policial do lado me pergunta se eu conhecia Timo Glock. Isso mesmo! Digo que sim, que ele estava no meu voo porque comenta na TV alemã. Ela abriu um sorriso. E pude voltar para casa. Seja lá onde for.

A bênção

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O campeonato de pilotos está pegando fogo, com dois pontos de diferença entre os líderes, e a confirmação da venda da Fórmula 1 para um grupo de mídia norte-americano pode alterar os rumos da categoria mesmo a médio prazo. Mas foi interessante notar ao longo da semana que um piloto que vem de um 11º e um 7º lugares nas últimas duas provas roubou as manchetes.

Não é de hoje que Max Verstappen desperta paixões. Quando chegou à Fórmula 1 aos 17 anos, foi criticado especialmente por ex-pilotos, que viam uma urgência perigosa em sua ascensão. Apenas 33 GPs depois, dá para dizer que estavam certos e errados ao mesmo tempo. Afinal, Max demonstra claros sinais de imaturidade, mas é exatamente do que a categoria precisava.

Isso, até causar algum acidente grave, alguns podem argumentar. De fato, os riscos assumidos especialmente nas defesas tardias, particularmente perigosas em tempos de grandes diferenças de velocidade devido ao acionamento do DRS e às diferenças de frenagem causadas pelos modos distintos de recuperação de energia, são exagerados. E a impressão de que o piloto tem uma certa licença extra dos comissários também não ajuda. Mas até nisso a F-1 tem sido cuidadosa, com conversas particulares com o piloto, evitando a exposição diante das câmeras e até dos demais pilotos.

Sim, a F-1 está alimentando um monstro. Mas são monstros, e não bons moços que se contentam com o segundo lugar e vão tentar novamente na próxima prova que vendem.

Tanta coisa aconteceu nesse um ano e meio de Verstappen na Fórmula 1, antes mesmo dele completar 19 anos, que é difícil ver onde esta história vai dar. O holandês tateou nas primeiras provas, até mostrar suas garras pela primeira vez em Mônaco, quando acertou a traseira de Grosjean – e o culpou. E, para que ninguém tivesse dúvida de que manteria a postura, bateu boca com Felipe Massa na coletiva seguinte. Dentro da Toro Rosso, por várias vezes negou-se a respeitar ordens de equipe, e ainda por cima com o apoio do chefe.

Enquanto isso, nos bastidores, seu pai pressionava. Afinal, engana-se quem pensa que alguém é contratado por uma Red Bull da vida aos 16 anos simplesmente por talento. Jos sempre jogou duro e, até aqui, tem vencido todas as batalhas. Ao ameaçar levar o filho à Ferrari, abriu as portas do time principal logo na quinta prova da temporada em uma das decisões mais surpreendentes do ano.

Na pista, Max fez o improvável e aproveitou uma chance de ouro de vencer em sua corrida de estreia. De lá para cá, teve pontos altos, como a performance na Áustria e na Inglaterra, e baixos, como as desastrosas corridas de Mônaco e Bélgica, mostrando um clássico estilo win or wall.

Isso, dentro e fora das pistas. Parece que Max já aprendeu a usar as entrevistas em seu idioma marterno para ser mais incisivo nas críticas – foi assim nas respostas a Raikkonen e Villeneuve após a Bélgica. Depois, é só culpar uma tradução ruim, de um idioma que bem poucos dominam na F-1. Os jornalistas holandeses, pelo menos por enquanto, se mostram tão encantados com o maior fenômeno esportivo do país dos últimos anos – que vem, inclusive, ganhando ainda mais força devido à péssima fase da seleção de futebol local – que não se importam com as calculadas ‘confusões linguísticas’ e até defendem seu piloto.

Blindado na pista e fora dela, por ora, o jogo de Verstappen é perfeito. Não costumo concordar com Flavio Briatore, mas é difícil negar que o holandês é “uma bêncão” para a F-1. Para se tornar um dos grandes, contudo, vai precisar de mais win, e menos wall. Dentro e fora das pistas.

De bandeja. Mais uma vez

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O consultor da Red Bull, Helmut Marko, tem sua teoria: a Mercedes sempre faz um de seus carros largar mal porque sabe que sua superioridade é tanta que eles, ainda assim, terão uma dobradinha. E, de quebra, isso diminuiria consideravelmente o risco de alguma colisão nas primeiras curvas. Seja como for, em grande medida, foram as largadas ruins de ambos os pilotos que têm contribuído para o campeonato estar totalmente aberto com sete etapas para o final.

Tem sido um campeonato estranho, é fato. Nico Rosberg venceu sete vezes e, em nenhuma das oportunidades bateu Lewis Hamilton de forma convincente. Porém, da mesma maneira, o inglês vem dando várias chances para o alemão crescer no campeonato.

Este cenário já aconteceu com o próprio Hamilton em sua campanha de 2008, mas a situação atualmente é diferente e coloca outro ingrediente estranho na campanha: a mesma Mercedes que é tão dominante há três anos vira e mexe é acometida por falhas. No início do ano, era o motor que pecava em confiabilidade, o que acabou levando à punição sofrida pelo inglês na Bélgica. E, ao longo da campanha, as largadas inconsistentes continuam a jogar um ar de incerteza mesmo em uma prova na qual Hamilton consegue uma incrível pole por quase meio segundo, em um circuito no qual a diferença entre os companheiros raramente é superior à metade disso entre carros da mesma equipe.

Não é a toa que aparecem as teorias pouco ortodoxas como a de Marko. Não é a toa, também, que mesmo que ninguém no paddock duvide da superioridade de Hamilton, não seria exatamente uma surpresa ver Rosberg como campeão.

Difícil seria explicar essa história.

No mais, o GP da Itália serviu como uma mini redenção da Ferrari, que vinha extremamente pressionada após a falta de pódios das cinco etapas anteriores. A sensação de que a última atualização do motor à qual os italianos têm direito ajudou o time a superar a Red Bull, contudo, deve ser momentânea: além de Cingapura ser uma pista que casa perfeitamente com o carro de Ricciardo e Verstappen, a Renault estaria programando uma atualização que lhe daria dois décimos de performance. Isso, no mundo da F-1, seria impressionante por parte dos franceses, que têm sido econômicos e certeiros nas novidades adotadas nos últimos 12 meses.

Falando em Red Bull, foi interessante ver como Verstappen se comportou – pelo menos dentro do carro – neste final de semana. Não deixa de ser significativo que o holandês tenha incomodado justamente o piloto que mais costuma dar de ombros para tudo na F-1 e será interessante observar a dinâmica de sua pilotagem a partir daqui.

Finalmente se aproveitando do motor Mercedes e do pouco arrasto do carro, a Williams conseguiu seu melhor resultado em termos de pontos desde o GP do Canadá, voltando ao quarto lugar entre os construtores. Não seria surpresa, contudo, se a Force India voltar à frente em duas semanas e, pelo andar da carruagem, continuar por ali até o final do ano. Não por acaso, já há quem acredite no paddock que o caminho de retorno ao meio do pelotão do time inglês não tem volta.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Itália

Hamilton 7 a 7 Rosberg
Ricciardo 8 a 2 Verstappen
Massa 2 a 12 Bottas
Raikkonen 5 a 9 Vettel
Button 3 a 9 Alonso
Hulkenberg 7 a 7 Perez
Kvyat 2 a 8 Sainz
Magnussen 9 a 5 Palmer
Nasr 6 a 7 Ericsson
Grosjean 9 a 5 Gutierrez
Werhlein 1 a 0 Ocon

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s478

Ricciardo x Verstappen: 0s022

Bottas x Massa: 0s468

Vettel x Raikkonen: 0s093

Alonso x Button: 0s126

Perez x Hulkenberg: 0s022

Sainz x Kvyat: 0s164

Palmer x Magnussen: 0s206

Gutierrez x Grosjean: 0s236

Nasr x Ericsson: 0s131

Werhlein x Ocon: sem tempo

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

E agora, Felipe?

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O day after do anúncio da saída de Felipe Massa da Fórmula 1 ao final desta temporada foi recheado da mesma pergunta: e Felipe Nasr, está assegurado na categoria ano que vem? Há meses venho ouvindo diversas pistas de colegas e fontes que a permanência do piloto brasileiro é uma certeza. Mas onde?

Especialmente depois das férias de agosto, Nasr parece bastante relaxado em relação a sua situação. Apurei que o brasileiro chegou a conversar na Haas e teria tentado apoio governamental para sua candidatura na Renault. Seu nome também é mencionado no paddock na lista da Williams, justamente para o lugar de Massa.

Isso pode fazer imaginar que as portas estão abertas para Nasr, mas na verdade o que deve desencadear toda a movimentação do mercado é o futuro de Sergio Perez. E, no caso do mexicano, o cenário parece mudar a cada final de semana. Já ouvi que ele ficaria onde está – Perez tem contrato com a Force India, mas seu patrocinadores quiseram avaliar outras opções no mercado e estariam dispostos a pagar para liberá-lo – que estava certo na Renault e, em Monza, os rumores de que seria o novo piloto da Williams e empurraria Button à aposentadoria cresceram.

O fato é que Perez parece segurar a chave do mercado e a divulgação do futuro de Nasr só deve acontecer depois da novela mexicana acabar. Ao mesmo tempo, na entrevista desta sexta-feira, em Monza, Felipe falou como se já estivesse acertado com a Sauber para a próxima temporada. Ao comentar sobre as caras novas que estão chegando na equipe após a venda para o grupo de investimento suíço, falou, conjugando os verbos na primeira pessoa do plural, de maneira otimista.

De fato, ficar na Sauber parecia a última das opções em meados de junho, mas muita água passou por debaixo da ponte desde então. Conversando com os membros do time, a sensação é de que o dinheiro que vem dos novos donos é o bastante para investir pesado em diversas áreas que vinham enfraquecidas nos últimos anos. E, rapidamente, o time se tornou atrativo para os profissionais que estavam em outros times do meio do pelotão.

Ao mesmo tempo, a falha da Williams em desenvolver seu carro neste ano, escancarando o fato dos bons resultados de 2014 e parte de 2015 tem vindo muito em função da vantagem, que tende a ser ainda menor em 2017, do motor Mercedes, coloca dúvidas na capacidade do time até mesmo se manter como quarta ou quinta força no campeonato do ano que vem.

Já na Renault, é difícil encontrar alguém no paddock que realmente aposte no time. Fala-se em um investimento de 50 milhões, mas que seria diluído em cinco anos – e isso na F-1 é o chamado dinheiro de pinga. Ainda mais para uma equipe bastante enfraquecida pela falta de investimento na parte técnica de 2013 para cá, quando a situação dos ex-donos Genni começou a se deteriorar.

Como em toda mudança de regulamento, é muito difícil prever quem vai prevalecer e qual seria o melor destino para Nasr. Porém, pelo menos em relação ao futuro imediato do Brasil na Fórmula 1, a essa altura seria uma surpresa se ficarmos sem representantes em 2017.

Batendo no peito

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Só faltou bater no peito. As lágrimas quase vieram. Mas foi com a mesma dignidade com que aceitou a derrota naquele pódio em Interlagos que Felipe Massa anunciou sua aposentadoria da Fórmula 1 ao final desta temporada.

Nem o anúncio em si, nem a maneira como ele foi feito surpreenderam os dezenas de jornalistas que se apinhavam no motorhome da Williams. Afinal, era sabido que as opções do piloto brasileiro, que repetia não querer fazer número na Fórmula 1, eram nulas. E seu caráter, colocado à prova em várias ocasiões, também não permitia uma saída melancólica, tentando ter uma sobrevida a qualquer custo.

Para se entender o que significou esta quinta-feira para Massa, basta ouvir seus pares. Coragem foi a palavra mais repetida para se referir ao anúncio de um piloto que revelou não ter dormido na última noite. ‘Não sabia se iria dizer as palavras corretas, nem se as pessoas iriam aparecer’, disse.

Pode parecer maluquice, mas tem muita gente na Fórmula 1, não apenas dentro das pistas, que simplesmente não consegue largar o osso. Que, a sua maneira e em sua posição, segue pelas beiradas, talvez nem dentro da ‘zona de pontuação’. Afinal, mas do que uma corrida de carros, há todo um estilo de vida que Massa estará deixando para trás após a bandeirada em Abu Dhabi.

É, também, um sonho que deixou de se completar por um ponto. Ou por uma prova manipulada, como ele acredita em seu íntimo. Mas isso não tira seu mérito. Massa foi não apenas um piloto, mas um homem que amadureceu aos olhos do público.

Começou errático demais, teve uma segunda chance, e aprendeu com talvez o piloto mais trabalhador da história da categoria. Assim, ganhou o equilíbrio que lhe permitiu ganhar 11 corridas em um espaço de três anos, quando a Ferrari não era absoluta, brigando com a Renault e especialmente com a McLaren. Isso, correndo ao lado do próprio Schumacher, de Raikkonen, Alonso e Hamilton. Apesar de nunca ter sido colocado na mesma categoria destes nomes, por motivos que vão além da falta de um título, naqueles três anos, de 2006 a 2008, Massa fez o bastante para estar no meio deles.

Uma série de razões motivos fez com que as vitórias não viessem mais. Poderiam ter vindo, em Hockenheim em 2010 e até mesmo em Silverstone em 2014. Mas fatores, como carros que não eram bons o bastante, má adaptação aos pneus especialmente após 2011, e um companheiro tão forte dentro da pista quanto fora dela fizeram com que aquela cena de Massa batendo no peito no pódio do Brasil o definisse. E, de uma forma mais madura e contida, que vimos aquele mesmo olhar de dever cumprido hoje.

Alonso, Hamilton e a evolução da McLaren

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A recuperação de Lewis Hamilton deixou até Nico Rosberg perplexo no GP da Bélgica. Segundo o próprio alemão, sua reação ao ver o nome do companheiro no terceiro lugar nas voltas finais após ter largado em 21º foi “o que? É sério?!” É de se imaginar, então, o que o vice-líder do campeonato pensou quando viu Fernando Alonso na sétima colocação.

O espanhol largara ao lado de Hamilton na última fila, e estava em Spa-Francorchamps, conhecido como um circuito de potência, no qual a McLaren não esperava um grande desempenho. Como explicar, então, que o mesmo carro que sofreu para superar as Manor – que, na época, usavam motor Ferrari, no GP da Bélgica do ano passado – conseguiu segurar as Williams e não foi um alvo tão fácil para o próximo Hamilton?

Primeiro, vamos entender como Alonso apareceu no quarto lugar na volta 11, com um quarto da prova disputado. O espanhol fez uma primeira volta agressiva, optando pelo lado de dentro na primeira curva, e pulou de 22º para 12º ao final do giro inicial. Hamilton, por sua vez, só superou Marcus Ericsson, que tinha problemas, na primeira volta, além dos pilotos que se envolveram em acidentes, e fechou a primeira volta em 15º.

Depois disso, a corrida de Alonso foi totalmente estratégica, tanto do ponto de vista da escolha certa de parar – algo que incluiu uma boa dose de sorte – quanto do próprio piloto, utilizando a unidade de potência da melhor forma possível para frear o ataque dos rivais.

Alonso, que não tivera um final de semana limpo até ali, tendo perdido toda a primeira sessão com problemas hidráulicos e passou por duas trocas de motor, não tendo conseguido dar uma volta sequer na classificação, foi um dos pilotos que decidiram não entrar nos boxes quando o Safety Car foi à pista, pois largara com o pneu médio, a exemplo de Hamilton. Na verdade, o SC teria acabado com sua estratégia, não fosse a necessidade da bandeira vermelha logo em seguida. Isso deu um pit stop grátis ao espanhol e permitiu a “mágica” do quarto lugar. E com pneus novos.

Hamilton, que ficara três voltas atrás de Alonso antes do SC sem conseguir se aproximar significativamente, o ultrapassou com certa facilidade na relargada. A manobra foi uma das cinco que o inglês fez durante a corrida, sempre contra pilotos com carros inferiores – além da McLaren, passou Kvyat e Ocon nas primeiras voltas e Hulkenberg por duas vezes para fazer sua estratégia de três paradas funcionar. Alonso, por sua vez, ainda seria superado por Perez e Vettel.

Isso, contudo, é muito mais do que a própria McLaren ou a Honda esperavam. A estrear um novo pacote de atualizações, os japoneses esperavam compensar a sede de potência de pistas como Spa e Monza, mas jamais podia prever que estariam no mesmo nível de competitividade de Hockenheim, como salientou o chefe da marca na F-1, Yusuke Hasegawa. De fato, caso Alonso, se visse em quarto com ¾ da prova a serem disputados há alguns GPs, podia comemorar se conseguisse se segurar e pontuar na bandeirada.

O sucesso do update, que focou mais na eficiência no uso das energias híbridas na corrida e na diminuição do consumo, algo que limitou muito o desempenho de Alonso e Button nos últimos 18 meses, é uma boa notícia não só para este ano, uma vez que a Honda tem conseguido repetidamente melhorar o motor e, a partir da próxima temporada, o desenvolvimento será liberado.

Mas não foi só a Honda que ajudou Alonso a se segurar contra carros teoricamente mais rápidos. O fato do espanhol ter sido o mais rápido no speed trap da linha de chegada demonstra como o carro tem boa tração, e a maneira como se defendeu de Felipe Massa, distanciando-se no segundo setor, mais travado, para compensar a deficiência de velocidade que ainda existe.

Não é de se esperar o mesmo desempenho em Monza, circuito no qual a aerodinâmica conta muito pouco e o motor tem de trabalhar no seu modo de corrida mais ‘faminto’ por mais tempo, mas não deixa de ser um resultado que mostra a clara evolução do conjunto. E que Alonso ainda é Alonso.

Agressivo ou perigoso?

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O GP da Bélgica acabou há mais de cinco horas. Escrevo depois de pegar um belo congestionamento na saída de Spa-Francorchamps. Nas placas, as mesmas duas letras: NL. Era a maré laranja que invadiu o país vizinho para torcer para aquele que foi, para o bem e para o mal, o grande nome do final de semana.

O fenômeno Max Verstappen mudou a cara de um GP que vinha perdendo público nos últimos anos, depois de viver seus tempos áureos às custas de outro fenômeno da vizinhança. Michael Schumacher. E se este final de semana deixou algo claro, é que as comparações entre Max e o heptacampeão não param por aqui.

A sensação geral no paddock é de que Verstappen se tornou a grande aposta para o futuro da Fórmula 1, especialmente na Europa, e, com isso, ganhou o poder de fazer o que quiser. Já o vimos ultrapassando por fora (da pista), defendendo-se de maneira bastante questionável. E sequer sendo investigado. É como se estivéssemos assistindo à gestação de um novo Schumacher.

Michael incomodou muito em seus primeiros anos, e nunca tirou o pé, nunca deixou de testar os limites do que era aceitável fazer dentro da pista, e também fora dela. Verstappen dá seus primeiros passos no mesmo caminho e, ao mesmo tempo que agrada muitos pela agressividade e por não demonstrar nenhuma intenção de mudar, estando disposto a pagar o preço quando as coisas não saírem como planejado, como foi o caso em Spa, incomoda aqueles que acabam se tornando as vítimas de tais atitudes.

Isso ficou claro na Bélgica, quando Verstappen conseguiu a proeza de tirar Kimi Raikkonen do sério. Não é o único: a cada disputa, o holandês, via de regra, faz mais um inimigo no paddock. O motivo é simples e vai além da agressividade: especialmente a maneira como o piloto se defende é bastante temerária. E até certo ponto, amadora.

Sim, Verstappen foi otimista na largada, mas tinha o direito a tentar a manobra por dentro da La Source. Quando espalhou para cima de Raikkonen e de Perez, entrou naquela linha em que talvez o atual regulamento seja duro demais, não permitindo um tipo de manobra que foi comum por toda a história da F-1.

Mas a maneira como Max se defendeu de Kimi no final da reta são outros 500. E tem se tornando um tipo de manobra normal no arsenal do holandês. A tática é esperar ao máximo para o piloto que vem atrás escolher um lado para atacar e, só então, se posicionar para defender. E quem vai à frente tem esse direito, é um fato. Mas não quando já está na zona de freada, pois o perigo de causar um acidente é real, especialmente em dias de DRS e grandes diferenças de velocidade.

Mas o que mais preocupa dentro do paddock é que Verstappen não demonstra ter noção alguma de que pode, de fato, causar algum acidente desnecessário com esta tática. Há quem defenda uma conversa interna entre os pilotos, há quem acredite que, quando ele passar a ser punido, vai pensar duas vezes, e Raikkonen defendeu neste domingo que só um acidente vai ensiná-lo a se defender sem colocar ninguém em risco. Todos concordam que algum tipo de consequência é preciso para quem Max possa incomodar os rivais apenas pelo talento que já deixou claro que tem.

O GP da Bélgica ainda teve inúmeros pontos interessantes. Mas melhor discutir a recuperação de Hamilton ou a surpreendente corrida de Alonso quando toda a maré laranja voltar para casa.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Bélgica

Hamilton 6 a 7 Rosberg
Ricciardo 7 a 2 Verstappen
Massa 2 a 11 Bottas
Raikkonen 5 a 8 Vettel
Button 3 a 8 Alonso
Hulkenberg 7 a 6 Perez
Kvyat 2 a 7 Sainz
Magnussen 9 a 4 Palmer
Nasr 5 a 7 Ericsson
Grosjean 9 a 4 Gutierrez
Werhlein 1 a 0 Ocon

Diferenças de hoje:

Rosberg x Hamilton: 2s014

Verstappen x Ricciardo: 0s282

Bottas x Massa: 0s349

Raikkonen x Vettel: 0s198

Button x Alonso: sem tempo

Perez x Hulkenberg: 0s136

Sainz x Kvyat: 0s182

Magnussen x Palmer: 0s403

Grosjean x Gutierrez: 0s282

Nasr x Ericsson: 0s122

Werhlein x Ocon: 0s149

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Fazendo a mala para Spa

Calma. A foto é de 2014, quando a temperatura não passava de uns 12ºC em Spa
Calma. A foto é de 2014, quando a temperatura não passava de uns 12ºC em um GP da Bélgica “autêntico”. Depois de suar subindo e descendo as escadas intermináveis entre o paddock e a sala de imprensa, dá até arrepio só de olhar pra esse casaco!

A introdução do terceiro composto nas corridas e a maior liberdade na escolha dos pneus ajudou várias corridas no início do ano a ganharem emoção, muito em função da falta de experiência das equipes que, nas primeiras quatro provas da temporada, tiveram de escolher seus compostos antes mesmo da etapa inicial.

Nas últimas provas, contudo, estávamos vendo opções mais uniformes, apenas com as variações de sempre: a Force India tende a gostar mais dos médios, a Haas tende a arriscar optando sempre pelos mais macios, e assim por diante. E a tal regra da escolha livre perdeu importância.

Até chegarmos a Spa-Francorchamps sob um calor de 30 graus. Confesso que, quando vi a previsão, com todos os dias limpos e a temperatura alta, não acreditei. E vim equipada com casacos, bota, capa de chuva. O kit Spa.

Várias equipes pensaram o mesmo quando fizeram sua “bagagem” de pneus. A Sauber chegou ao extremo de optar por apenas um pneu médio, o que pode não ser tão prejudicial para o time porque o macio pareceu ser, pelo menos no primeiro dia de treinos livres, antes do completo emborrachamento da pista, o composto mais consistente.

O problema é que o time de Nasr, assim como Haas, Toro Rosso, Renault, Williams e Ferrari, além de Sergio Perez, têm sete jogos de supermacios. Certamente tal opção foi feita com a expectativa de temperaturas mais amenas, e quem sabe até de chuva pois, quando a pista está secando, o histórico recente mostra que é sempre melhor apostar pelo composto mais rápido pela velocidade de aquecimento.

Mas esse não será um problema neste final de semana.

No momento, quem parece ter acertado foram as equipes que priorizaram os macios. Lewis Hamilton é o único que tem seis jogos, o que pode ser fundamental para sua recuperação. Rosberg, as Ferrari, as Sauber e Gutierrez têm cinco cada e quem parece ter se dado mal são Williams, Red Bull e Renault, com apenas três jogos.

O cenário pode virar especialmente para Verstappen e Ricciardo caso a evolução da pista favoreça o uso do pneu médio, pois eles têm quatro jogos do composto cada. Porém, é o mesmo número escolhido por Rosberg, que tem a corrida nas mãos neste final de semana.

Muito da ameaça que a Red Bull pode representar ao alemão vem da capacidade de fazer a segunda parte da classificação com o pneu macio. Nesta sexta-feira, Rosberg deixou claro por que a Mercedes escolheu carregar sua “bagagem” com os pneus amarelos: não pretende largar com eles. Caso ele seja o único a fazer isso, será difícil alguém ameaçá-lo. Nada como saber fazer uma boa mala.

Primeira metade na ponta: Red Bull mais forte e Ferrari em crise

E olha que eles também desperdiçaram pontos...
E olha que eles também desperdiçaram pontos…

Quando a temporada de 2016 começou, a expectativa era de que a Ferrari crescesse e conseguisse mais do que as três vitórias do ano passado, uma vez que o escopo para melhora da Mercedes seria menor em um terceiro ano com as mesmas regras. De fato, os problemas de confiabilidade que os virtuais tricampeões mundiais tiveram especialmente no início do ano provaram que eles seguem arriscando no desenvolvimento. Porém, ao mesmo tempo, quando estiveram ameaçados, mostraram todo seu poderio. E arrasaram a concorrência.

Concorrência essa que não foi, na primeira metade, tão consistente para chegar a assustar de verdade. Hamilton e Rosberg até passaram do limite algumas vezes, sabendo que a briga se limitaria aos dois. Porém, especialmente depois da estreia do motor atualizado da Renault e da falha da Ferrari em melhorar seu carro, a Red Bull se tornou a segunda força do campeonato, crescendo de forma suficiente para acender a luz de alerta na Mercedes para o ano que vem.

Dentro do time, a batalha de Ricciardo e Verstappen só tem ajudado os resultados do time a crescer. Com um motor que responde bem especialmente às rotações médias e um carro que tem sido bem adaptado para andar bem também em reta, apesar de ter ‘nascido’ para circuitos mais travados, a Red Bull hoje não é boa só em pista de rua. Mas é claro que, na segunda metade da temporada, é em Cingapura que o time está especialmente de olho.

Isso porque o segundo posto no campeonato parece relativamente seguro, tanto pelo seu próprio crescimento, quanto pela bagunça que a Ferrari se tornou. O time passa por um momento politicamente frágil, com o presidente Sergio Marchionne dando palpite em todas as frentes, da gestão do time à estratégia, passando até pelas atualizações do carro. Não é coincidência que James Allison se foi e não é uma boa notícia que o chefe de motores tenha assumido a direção técnica em um momento no qual o time precisa voltar a crescer do ponto de vista aerodinâmico, no qual está perdido desde maio.

Há quem diga que o clima é tão ruim que ninguém quer ousar dentro do departamento técnico e levar a culpa para si. Enquanto isso, vemos Sebastian Vettel tomando conta da estratégia de dentro do cockpit, em um cenário particularmente ruim se lembrarmos que um carro totalmente novo está sendo pensado neste mesmo momento.

Mas como agosto é mês de férias para a F-1, hora de respeitar as duas semanas de fábricas fechadas e aproveitar um pouco do verão europeu. Podem ir deixando suas dúvidas e propostas de temas por aqui e voltaremos com tudo para a segunda metade do campeonato.

Primeira metade do ano no meio do pelotão: Williams perdida, McLaren chegando

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Muitas vezes separados por menos de um segundo nas classificações, os pilotos de Williams, Force India, McLaren e Toro Rosso têm travado os maiores duelos da temporada até aqui, em uma briga no meio do pelotão que vai mudando de cara a cada prova – e a cada vez que uma delas acerta a mão com os pneus.

A Williams começou o ano claramente na frente, mas foi perdendo terreno por uma série de motivos, que eu expliquei melhor aqui. O tempo perdido comparando peças e configurações às sextas-feiras custou caro à equipe, que há um ano lutava por pódios e hoje tem sofrido para chegar no top 10. Isso, mesmo resolvendo seu maior problema de 2015, os erros nos pit stops. Se há 12 meses os resultados não eram melhores por conta destas falhas e das estratégias engessadas, agora o caso é mais grave: o que falta é ritmo.

Ritmo que a Force India ora tem, ora não. O time parece mais confortável com o pneu médio mas, quando ele não é o mais adequado, como ocorreu nas últimas três (quentes) etapas, sente falta de sua grande arma e não consegue variar a estratégia. Mesmo assim é quem vem marcando pontos mais consistentemente neste meio do pelotão, chegando a ameaçar o quarto posto (quem diria!) da Williams no campeonato. No momento, a diferença é de 20 pontos, mas, nas três últimas etapas, o time fez 15 pontos contra quatro da rival.

A boa notícia para a equipe de Grove é que a Force India não tem recursos para seguir desenvolvendo esse carro e já pensar em 2017. Por incrível que pareça, é o mesmo caso de outra ameaça, a McLaren. Porém, do lado do time de Alonso e Button, deve contar a favor uma evolução que a Honda promete já para o GP da Bélgica. Agora que as falhas do equipamento se tornaram bem menos recorrentes, dá para ver com mais clareza o que uma dupla de pilotos que erra pouco pode fazer em termos de aproveitar as oportunidades que surgem. Bom para nós, que voltamos a ver Button e Alonso lutando por posição com armas ‘de verdade’ nas mãos, e não perdendo no meio das retas.

Por outro lado, a McLaren está hoje no nível que era esperado há 12 meses e, apesar de todos no paddock concordarem que o time vai dar um salto em 2017 com as novas regras, é de se pensar que dificilmente será suficiente para lutar pelo título tão cedo.

Voltando a 2016, a Toro Rosso já esperava uma queda nos resultados ao longo do ano, uma vez que utiliza um motor antigo da Ferrari. Mas o time pouco tem feito para aproveitar as oportunidades, com pit stops abaixo da crítica – e um piloto completamente desmotivado. Ironicamente, a falta de desenvolvimento dos rivais pela chegada das novas regras pode ajudá-los a comer pelas beiradas na segunda metade do ano.

Primeira metade do ano do fundão: Haas é grande surpresa

Após sofrer no início do ano, Nasr começou a engrenar. E deve ter carro 'novo' para segunda metade do ano
Após sofrer no início do ano, Nasr começou a engrenar. E deve ter carro ‘novo’ para segunda metade da temporada

Renault, Sauber e Manor são as maiores candidatas à eliminação na primeira parte da classificação seja de pistas rápidas, seja nas mais travadas. E vez ou outra recebem a companhia da Haas, atualmente em uma ‘terra de ninguém’, nem tão forte para entrar no top 10, nem tão fraca para se preocupar com o fundão. Mas, apesar dos resultados não serem tão distantes, a história de cada um desses times até aqui vem sendo distinta.

Começando pela Haas, que utilizou com maestria as oportunidades das primeiras quatro etapas, quando as equipes tinham feito as seleções de compostos de pneu às escuras, antes do início da temporada. Arriscou e conquistou 22 de seus 28 pontos naquele início de ano, ajudada também por um carro que quebrou bem pouco até aqui.

Agora, contudo, é hora do time norte-americano focar totalmente em 2017, o que pode dar a chance para os rivais que vêm de trás. Especialmente a Sauber, que é o carro que mais deve crescer na segunda metade do ano, simplesmente porque estava esperando o dinheiro chegar para tirar ‘do forno’ as peças projetadas desde a pré-temporada. O primeiro pacote aerodinâmico deve chegar em Spa e, levando em consideração o fato dos demais estarem abandonando os projetos atuais, tem tudo para devolver ao time a esperança de sair do zero no mundial de construtores.

Apesar de ter pontuado em 2016, a Manor segue como a lanterna. O motor Mercedes e a chegada de nomes experientes como David Ryan e Pat Fry, fizeram com o que o time se tornasse o que mais evoluiu em relação ao ano passado, chegando a bater a Sauber em classificações. Mas o carro ‘comedor de pneu’ tem jogado o time para trás nas corridas.

Pelo menos a dupla Pascal Wehrlein e a grata surpresa Rio Haryanto tem mantido um nível baixo de erros, ao contrário do que tem acontecido com a Renault. O carro, projetado com poucos recursos e pensado para usar o motor Mercedes, é claramente difícil de pilotar, mas Kevin Magnussen e Jolyon Palmer não têm ajudado o hoje único fornecedor de motores que frequenta as últimas posições, ‘vaga’ que era da McLaren ano passado. Mas o time inglês é assunto para o próximo post.

Vai faltar cadeira no mercado de pilotos para 2017

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O fato das equipes grandes terem fechado suas duplas de pilotos para 2017 não esfriou o mercado de pilotos, especialmente para os brasileiros Felipe Massa e Felipe Nasr, que parecem ir para as férias de agosto vivendo situações bem distintas.

Enquanto Massa dá a impressão de ser carta fora do baralho na Williams – ainda que nada esteja confirmado oficialmente – e não vê seu nome muito comentado em outros times, Nasr teria a opção de seguir na Sauber, mas estaria avaliando possibilidades melhores. Inclusive, no lugar do outro Felipe.

Do lado das equipes, todos parecem estar esperando ver o que acontecerá com Sergio Perez, piloto que ao mesmo tempo provou ser eficiente, ainda que não seja dos mais consistentes, e tem cerca de 15 milhões de euros em patrocínio. O mexicano está sob contrato com a Force India, que executou seu poder de renovação, mas deixou claro que seus apoiadores não estão felizes com a situação, abrindo as portas para negociações. Perez estaria conversando com a própria Williams e a Renault, ou seja, tem a chave das vagas mais cobiçadas.

No time de Massa e Bottas, nem mesmo o finlandês parece assegurado. Na Alemanha, inclusive, deixou claro que está avaliando suas opções fora de Grove. Afinal, os resultados ruins do que deveria ser a melhor sequência do ano para o time, entre Canadá e Inglaterra, aumentaram a demanda por dinheiro. Esse cenário desfavorece a atual dupla e em certa medida a chegada de Button, ainda que os patrocinadores se mostrem mais inclinados a aumentar suas ofertas com o inglês a bordo. Não coincidentemente, o nome do piloto de testes Alex Lynn vem ganhando força. Com um caminhão de dinheiro do pai, o britânico está preparado para pagar o que foi necessário por uma vaga.

Outro novato bastante cotado – porém mais por seu desempenho – é Esteban Ocon, tido como certo na Renault. O time francês deve ter outra vaga, ainda que não haja confirmação de que os dois (fracos) atuais pilotos serão demitidos, e o fato de se tratar de uma montadora vem atraindo tanto os jovens, como o próprio Nasr, quanto os mais experientes, como Bottas.

Outra oportunidade para o brasileiro é a Haas, com a qual seu empresário conversa no momento. Lá, Grosjean está garantido, mas perguntei a Gutierrez na Alemanha se ele ficaria e a resposta, após um longo sorriso sem graça, foi ‘sigo na F-1. Aqui, não sei’.

Quem deve estar de saída é Kvyat, que vem tendo performances indefensáveis após voltar à Toro Rosso. Ao mesmo tempo, Pierre Gasly, que demorou a engrenar, começou a andar bem na GP2. Além disso, com as chances cada vez maiores de Vandoorne se tornar companheiro de Alonso na McLaren, vai faltar cadeira quando a música parar.

Rosberg dá ‘aula’ de como perder com uma Mercedes

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Como um piloto da Mercedes, carro que venceu com facilidade mesmo com Lewis Hamilton reconhecendo que correu com o ‘freio de mão puxado’ devido à necessidade de poupar motor, consegue largar na pole position e chegar em quarto lugar? Em uma de suas piores corridas dos últimos tempos, junto do GP de Mônaco deste ano, mas sem a surpresa pela falta de aderência na chuva, Nico Rosberg mostrou que, com uma série de erros e oportunidades perdidas, isso é possível.

A primeira foi na largada. O alemão disse ter feito o mesmo procedimento da volta de apresentação, mas o resultado não poderia ter sido mais diferente. Patinando nos primeiros metros e cauteloso na primeira curva, viu Hamilton e as duas Red Bull o superarem.

Depois, teve a chance de ultrapassar Ricciardo e não conseguiu, algo fundamental para acabar com sua tarde, uma vez que seria uma corrida na qual a administração do desgaste dos pneus seria fundamental e, caso não conseguisse abrir caminho nas primeiras voltas, o jeito seria dar espaço para o carro da frente e esperar a primeira rodada de pit stops.

Na Red Bull, como Ricciardo vinha conseguindo preservar melhor os pneus traseiros, a ideia desde era dividir as estratégias, com o australiano parando duas vezes. Por isso o time não teve dúvidas em chamar Verstappen para os boxes para cobrir a primeira parada de Rosberg, ainda na volta 11, enquanto o australiano colocou os pneus macios para tentar permanecer mais tempo na pista no segundo stint.

Porém, logo ficou claro que a tática de Ricciardo teria de ser mudada. Com o calor, a performance entre os compostos macios e supermacios ficou mais próxima e não havia mais a vantagem de usar o macio e ficar mais tempo na pista. A Red Bull percebeu isso rapidamente e voltou a usar os supermacios com o australiano em sua segunda parada. Como já estavam com a borracha menos durável, Rosberg e Verstappen pararam antes e se viram lutando pelo mesmo pedaço de asfalto assim que o holandês saiu dos boxes.

Era a terceira chance de Rosberg minimizar os danos. Caso passasse Verstappen rapidamente, teria a chance de acelerar e estar na frente de Ricciardo quando o outro piloto da Red Bull parasse. Porém, o alemão tentou a manobra quando ainda estava muito atrás, fritou os pneus e não fez grande esforço para dar espaço ao holandês, sendo punido com a perda de 5s.

Tal pena seria ampliada por um erro incomum da Mercedes, que teve um problema no cronômetro e deixou o piloto parado por 8s antes de sua terceira e última troca.

Naquele momento, Rosberg era segundo, mas tinha Ricciardo a menos de 1s e bem mais rápido. Verstappen estava a 4s após a inversão de posições na Red Bull. Portanto, o alemão perderia de qualquer maneira as duas posições com a punição, mas acabou voltando dos pits mais longe do que deveria, devido ao erro de sua equipe.

Mais do que uma corrida para esquecer para Rosberg, o GP da Alemanha serviu para comprovar a evolução da Red Bull, que ficou em média a 0s3 da Mercedes mesmo em um circuito no qual a potência do motor é importante. E deixou claro que, quando os líderes do campeonato não têm o ar limpo para ditar seu ritmo de corrida e controlar seus pneus, uma dobradinha que deveria ser tranquila pode ir por água abaixo sem uma execução perfeita, algo que pode muito bem se repetir na segunda metade do ano. E ser decisivo para o campeonato.

Férias tranquilas

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Quando Nico Rosberg abriu 43 pontos nas quatro primeiras etapas do ano, sua tarefa parecia bem mais simples do que antes do início da temporada: como a Mercedes seguia disparada como melhor carro, seu trabalho seria só marcar Lewis Hamilton de perto e aproveitar as oportunidades de bater o inglês, que estaria constantemente sob pressão.

Mas as quatro vitórias de julho e, mais do que isso, a falta de segundos lugares de Rosberg, fizeram com que a vantagem confortável se tornassem incômodos 19 pontos. Ainda mais quando vários exemplos nos últimos três anos e meio, mas especialmente em 2016, mostram que as vitórias de Nico vêm em dias nos quais Hamilton falha, obrigando o alemão a ser perfeito e ainda esperar que algo não funcione do outro lado. Talvez tenha sido isso que mudou a pressão de lado.

Chega a ser impressionante que Rosberg só tenha conquistado um segundo posto nas quatro provas de julho, especialmente se observarmos a vantagem gigante que a Mercedes tem no momento. E isso faz com que o que poderia vir a ser seu grande trunfo, a maior tranquilidade no uso da cota de unidades de potência, perca força. Afinal, em corridas como a da Alemanha, com o rival perdendo para si mesmo, Hamilton pode usar um modo mais conservador de motor e se dar ao luxo de chegar ‘apenas’ 7s na frente das Red Bull. Se continuar assim, começa a se tornar plausível que Hamilton só largue do fundo do pelotão uma vez – provavelmente em Spa – o que parecia impossível há algumas etapas.

Se Rosberg não tem feito o bastante para colocar Hamilton sob pressão, a grande briga do momento é dentro da Red Bull. Depois de Verstappen ter demonstrado um melhor gerenciamento de pneus nas últimas provas, desta vez foi Ricciardo quem teve a vantagem. A diferença entre os dois, contudo, tem sido pequena até em classificações, ainda que o holandês ainda não consiga tirar tudo do carro em uma volta rápida. Mas Daniel sabe que isso é só uma questão de tempo.

A qualidade da dupla de pilotos e especialmente do carro da Red Bull serve ainda para expor as mazelas da Ferrari, que se mostra tão perdida quanto a Williams no desenvolvimento de seu carro e, especialmente, na compreensão dos pneus. Como a borracha tem uma janela de funcionamento muito sensível, capaz de transformar o rendimento de qualquer carro, nada impede que a Scuderia dê a volta por cima no segundo semestre. Mas a velha realidade de tensão e falta de confiança dos homens de cima certamente não joga a favor.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP da Alemanha

Hamilton 6 a 6 Rosberg
Ricciardo 7 a 1 Verstappen
Massa 2 a 10 Bottas
Raikkonen 4 a 8 Vettel
Button 3 a 8 Alonso
Hulkenberg 7 a 5 Perez
Kvyat 2 a 6 Sainz
Magnussen 8 a 4 Palmer
Nasr 4 a 7 Ericsson
Grosjean 8 a 4 Gutierrez
Werhlein 7 a 5 Haryanto

Diferenças de hoje:

Hamilton x Rosberg: 0s107

Ricciardo x Verstappen: 0s108

Bottas x Massa: 0s085

Raikkonen x Vettel: 0s173

Button x Alonso: 0s132

Hulkenberg x Perez: 0s027

Sainz x Kvyat: 0s559

Palmer x Magnussen: 0s080

Grosjean x Gutierrez: 0s203

Nasr x Ericsson: 0s115

Werhlein x Haryanto: 0s260

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Bola dentro

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“O halo não vai nos fazer assumir menos riscos quando entramos em uma Eau Rouge, só vai nos proteger de acidentes bizarros”. É difícil não concordar com a maneira clara como Daniel Ricciardo colocou a questão da proteção no cockpit dos carros da Fórmula 1. Afinal, andar a mais de 300km/h jamais deixará de ser algo arriscado, jamais será algo para qualquer um. Da mesma forma, já não vivemos nos anos 60 há algum tempo, a categoria é muito mais do que algo restrito a alguns apaixonados garagistas, e é preciso minimizar ao máximo de que tal risco acabe em morte.

Dito isso, o halo não é a solução apropriada para cumprir essa função – pelo menos nesse momento. Apenas quatro pilotos o testaram por uma volta cada: todos falaram em queda visibilidade, e dois deles relataram a sensação de claustrofobia. Além disso, o visual pouco atrativo, reconhecido por todos, acabaria prejudicando a imagem de uma categoria que vem tendo dificuldades para dar uma ‘bola dentro’.

Nesse ponto de vista, deixar o halo – ou qualquer tipo de proteção – para 2018 é um dos poucos gols marcados pela F-1 nos últimos tempos. Afinal, desta vez os dirigentes não esperaram algo dar muito errado ou ser mal recebido para desistir, como em outras soluções ‘pela metade’ que vimos recentemente.

Os exemplos do formato de classificação e, mais recentemente, da restrição dos rádios, pelo menos parecem ter ensinado uma lição. E criaram uma sensação geral de que as melhores soluções para a F-1 são aquelas que tornam as coisas mais simples.

A sobrevivência de qualquer esporte tem a ver com a capacidade de atrair um novo público e o excesso de regras e detalhes está longe de permitir isso. É claro que a categoria, por sua natureza complexa, será sempre complicada e provocará vários níveis de compreensão. Há quem assista apenas avaliando um piloto frente a outro, sem levar em consideração todos os outros fatores. Há quem veja apenas uma corrida tecnológica. Há ainda quem acredite que tudo não passa de jogo político.

Se a F-1 não pode ser tão simples quanto o futebol, por exemplo, que as possíveis mudanças de regulamento sejam mais pensadas e menos comuns. Principalmente após o fraco presidente Jean Todt assumir a FIA e a criação do Grupo de Estratégia, que acaba atendendo aos interesses apenas nos grandes, as decisões desesperadas e pouco pensadas se tornaram a única regra. Ao mesmo tempo, o clima de insatisfação no paddock cresceu de tal forma que parece ter engrenado o cérebro de quem anda querendo complicar para melhorar. O caminho é justamente o inverso.

Cozinhando o galo

Ameaça, só na largada
Ameaça, só na largada

Lewis Hamilton ganhou a fama de ser um piloto agressivo, não muito chegado a estratégias, mais Senna que Prost. Mas corrida após corrida o inglês mostra que é bem mais do que só coração na pista. E o GP da Hungria foi mais um exemplo disso.

Com temperaturas acima de 50ºC na pista e sabendo das dificuldades de ultrapassagem do circuito de Hungaroring, o inglês ditou um ritmo deliberadamente lento para se tornar o maior vencedor da história do circuito.

Isso porque a expectativa antes da prova era de que o desgaste dos pneus fosse mais crítico do que foi observado, algo que surpreendeu até a Pirelli, cuja recomendação máxima para o supermacio era de 14 voltas – e Kevin Magnussen chegou a fazer 24 ainda no início da prova. O fato da maioria dos pilotos terem conseguido permanecer mais tempo na pista na parte inicial acabou simplificando o restante da prova, e também gerando poucas variações estratégicas.

Uma delas foi justamente gerada pelo ritmo em ‘banho-maria’ de Hamilton, uma vez que a Red Bull chegou a imaginar que poderia antecipar sua parada e provocar uma mudança de planos da Mercedes. Neste momento, contudo, após a segunda parada de Ricciardo, Lewis demonstrou o ritmo que tinha na manga e deixou claro que as Mercedes estavam imbatíveis.

O risco assumido pela Red Bull ao antecipar a parada de Ricciardo quase custou um pódio à equipe, uma vez que expôs o australiano ao ataque de Sebastian Vettel, com pneus 8 voltas mais novos, na parte final da prova. Porém, são justamente as apostas feitas pelos estrategistas do time anglo-austríaco em termos de estratégia que têm sido importantes para que a vantagem da Ferrari no campeonato de construtores tenha caído significativamente: nas últimas três provas, a Red Bull marcou 83 pontos, contra 47 da Ferrari.

Na Hungria, porém, o time italiano pelo menos entendeu que a posição de pista era mais importante que ter os pneus em excelentes condições no final, por ser um circuito travado, e antecipou a primeira parada de Vettel, algo fundamental para ele ganhar a quarta posição de Verstappen. Afinal, a Red Bull teve de reagir com o carro que vinha à frente e o holandês acabou demorando demais para parar. No final do segundo stint, contudo, a Red Bull foi mais agressiva ao parar Ricciardo bem cedo, dificultando a briga por um pódio. Mas pelo menos a Scuderia foi bem nas estratégias, percebendo a força do supermacio e permitindo que Raikkonen fizesse dois stints com o composto, em uma escolha que pareceria ousada antes da largada.

Ousadia, aliás, que faltou à Sauber. Mesmo ainda com bom ritmo e relatando que os pneus estavam em boa forma, Felipe Nasr foi o primeiro a ser chamado aos boxes, na volta 11. Isso comprometeu sua corrida, uma vez que o brasileiro ficou preso atrás da Manor, bem mais rápida nas retas, e calcula que tenha perdido cerca de 8s. Mesmo fazendo stints mais longos que os rivais a sua volta, novamente conseguiu fazer os pneus macios durarem mantendo um bom ritmo. Pelo jeito os estrategistas da Sauber precisam confiar mais em seus pilotos.