O GP da Malásia foi mais uma vitória jogada no lixo pela Ferrari, claramente o carro mais rápido do final de semana, mas certamente não o mais confiável. Tanto, que o quarto lugar de Vettel, saindo de último, é para ser comemorado pela Mercedes, que conseguiu usar Bottas para frear o alemão mesmo sem ritmo para tal.
A chuva e principalmente o acidente de Grosjean, que aconteceu justamente durante as simulações de corrida, atrapalharam a preparação das equipes, mas era possível perceber uma Ferrari superior, com a Red Bull atrás e a Mercedes mais lenta, especialmente com os supermacios, que estavam se superaquecendo. Nos cálculos do time alemão, faltavam 0s8 em relação à Ferrari e 0s4 em relação à Red Bull.
Foi por isso que nem a própria equipe entendeu como Hamilton fez a pole, ainda que Raikkonen tenha errado a última curva e o modo de motor de classificação da Mercedes faça diferença. E, no domingo, a incerteza em relação ao desempenho, ainda mais com a chuva que lavou o circuito horas antes, era total. Ou pelo menos até a quarta volta, quando Hamilton nem lutou para defender o primeiro posto e passou a correr pelo campeonato.
Vindo de trás e com a missão de ser pelo menos quarto depois que Raikkonen nem largou, Vettel fez uma boa primeira volta e passou passou seis carros, ganhando oito posições pelo abandono do companheiro e o pneu furado de Ocon. Ficou travado atrás de Alonso por cinco voltas, o que surpreendeu, mas quando Felipe Massa abriu os trabalhos de pit stops no meio do pelotão, no que acabou sendo um erro da Williams.
Entrevistei Stroll logo que ele saiu do carro e ele já estava reclamando de não ter sido chamado aos boxes antes de Massa, o que seria o normal porque ele estava na frente. Mas o time inglês não julgou bem o poder do undercut, e apostou que o brasileiro, que estava 1s8 atrás antes do pit, não voltaria na frente quando o canadense também parasse. Isso não aconteceu, os dois perderam tempo duelando e, depois, com Massa cedendo a posição, e a Williams perdeu um provável sétimo lugar, pois a McLaren demorou mais uma volta para chamar Vandoorne, cochilo que deveria ter custado pelo menos uma posição.
De qualquer maneira, essa sequência de paradas ocorreu antes do esperado e abriu o caminho para Vettel. Isso, até o alemão encontrar Bottas pelo caminho. A estratégia do finlandês foi sacrificada para proteger Hamilton, mas os cerca de 3s perdidos pelo piloto da Ferrari até que o time decidiu fazer o undercut para se livrar da Mercedes – além do potencial tempo ganho ficando por menos voltas com o pneu supermacio, como era o plano inicial – foram fundamentais para Vettel não ter sequer ameaçado seu rival na disputa pelo título.
Depois da prova, contudo, surgiu mais um ingrediente que explica o fato da Ferrari ter ficado de fora do pódio: lembra do julgamento ruim da Williams em relação ao undercut? Uma explicação é o fato do asfalto ter mudado depois do recapeamento feito logo antes da prova de 2016. A ‘maturação’ o alterou, e isso afetou tanto a degradação dos pneus, quanto o combustível. Sim, a pista ficou mais rápida e mais ‘gastona’ e os treinos livres não deixaram isso claro.
Aí estaria o motivo de Vettel ter chegado em Ricciardo dando pinta de que passaria, mas não o fez. Via rádio, ele recebia instruções para fazer lift and coast, ou seja, tirar o pé do acelerador para frear o carro bem antes do ponto de freada, o que economiza combustível. Ou seja, a Ferrari arriscou na conta do combustível e acabou sendo surpreendida por essa mudança da pista.
Isso levou até à teoria da conspiração de que Vettel entrou no caminho de Stroll na volta de desaceleração sabendo que estaria abaixo do peso mínimo. Tudo bem que a F-1 gosta de trabalhar no limite e o GP da Malásia foi prova disso, mas aí já é risco demais…