A Ferrari tentou de tudo para reverter o prejuízo com o qual Sebastian Vettel acabou depois da classificação do GP da Hungria: dividiu estratégias duas vezes para tentar tirar dois carros da frente do alemão e permitir que ele usasse o caminho livre para imprimir seu ritmo superior ao de Lewis Hamilton. Mas pelas características da pista e falhas de execução, chegar em segundo foi o máximo possível.
Na classificação, Lewis Hamilton conseguiu talvez sua pole mais improvável do ano, em uma corrida em que, sob condições normais, largaria em quinto. Isso porque a Mercedes superaquecia os pneus traseiros, que não têm retas longas para “respirarem” em Hungaroring, mesmo em uma volta lançada. E isso acabou sendo benéfico com a pista molhada – além da sensibilidade acima da média do inglês para sentir onde está a aderência nestas circunstâncias.
Vettel largou com os pneus macios confiando na melhor saída da Ferrari, que evitaria que ele ficasse exposto aos rivais que vinham atrás, ao mesmo tempo em que teria a chance de, logo depois que os pilotos dos top 3 parassem, ter pista livre para fazer valer o melhor ritmo da Ferrari.
Paralelamente a isso, o plano da Scuderia envolvia usar Kimi Raikkonen para fazer o pit stop cedo e, com isso, atrair Valtteri Bottas. Assim, seriam dois carros a menos à frente de Vettel. Kimi acabou ficando encaixotado por Bottas na largada e perdeu a posição para Vettel logo no início da prova. Mas a tática de usá-lo para atrair Bottas funcionou e, na volta 15, o alemão passou a ter pista livre no momento em sua diferença em relação a Hamilton era de 8s6.
O inglês primeiramente apertou o ritmo e abriu mais 2s, mas não demorou para seus pneus começarem a sofrer. Quando ele parou, tinha 8s7.
Ali existia uma janela interessante para Vettel: os pneus macios não se desgastam tanto, e na verdade até demoravam algumas voltas para que os dianteiros entrassem na temperatura ideal. Tanto, que Hamilton não voltou andando tão mais rápido do que os ultramacios usados.
Mas Vettel não estava conseguindo adotar o ritmo esperado. Analisar após a bandeirada é bem mais fácil, mas se o alemão parasse na volta 33, antes de pegar uma sequência complicada de quatro retardatários, voltaria certamente à frente de Bottas e 6 ou 7s de Hamilton.
O problema é que a Ferrari não confiava que os ultramacios iriam durar mais da metade da prova, ainda mais com Vettel tendo de tirar a diferença na pista. Assim, tiveram que esperar correndo o risco da diferença para Bottas não ser mais suficiente. E, depois de uma combinação de duas voltas na casa de 1min24, enquanto o finlandês andava em 1min22, e um pit stop pouco menos 2s mais lento que o normal, a chance de brigar pela vitória se transformou na obrigação de conseguir um segundo lugar.
Quando Vettel se viu atrás de Bottas, mudou seu foco, como ele mesmo admitiu: logo percebeu que os pneus do finlandês ainda estavam aguentando e decidiu esperar para atacar no final. Quase deu azar do rival encher sua traseira, mal conseguindo parar sua Mercedes no lado sujo da pista e sem pneus, mas cumpriu sua meta.
No final das contas, mesmo com a má execução do domingo, o GP da Hungria deveria ter sido um passeio da Ferrari, que se complicou quando a chuva apareceu na classificação. Entretanto, o ponto mais interessante é que, quando analisamos a prova, é difícil achar um momento em que Mercedes e Ferrari se enfrentaram em iguais condições de ritmo, e isso está diretamente ligado ao fato de, com a chuva, o tipo de composto da largada ser liberado. Especialmente com três equipes tão melhores que não são penalizadas por fazer o Q2 com compostos mais duros, não seria a hora de rever essa regra?