Talvez a largada abortada de maneira incomum, com o erro de posicionamento de Felipe Massa, fosse a ‘deixa’ para narradores e comentaristas sobre o que estava por vir. Um GP da Hungria em que poucos puderam dizer que tiveram uma corrida limpa.
As surpresas começaram logo na largada. “Saída muito boa de Vettel, ele já está passando Hamilton e Rosberg tenta apertar pelo lado de dentro. Quem vai passar da primeira curva em primeiro? É Vettel que lidera o GP da Hungria. É outra largada ruim para as Mercedes”, narra David Croft, aos berros, na Sky Sports britânica. “Os dois Ferrari estão na frente. Isso mudou as coisas. Incrível a largada!”, também se empolga Antonio Lobato, na Antena 3 espanhola. Felipe Massa ficou para trás, dessa vez não largou bem”, lamenta Galvão Bueno na Globo.
As emoções continuariam ainda na primeira volta. “Hamilton já foi… isso muda o campeonato e muda a corrida porque essa pista é difícil de passar”, lembra o narrador brasileiro. “Uma manobra desesperada de Lewis, que foi da pole a 11º em meia volta”, julga Croft.
O líder do campeonato chegou a argumentar que foi jogado para fora da pista por Rosberg, mas não convenceu. “Ele não foi apertado por Nico. Come on, Lewis, isso é 100% sua culpa”, comenta Martin Brundle. “Foi Hamilton que foi no desespero e se perdeu na freada e no que falou no rádio depois. É um erro que acontece”, concorda Luciano Burti. “Pareceu uma manobra precipitada de Hamilton e normal de Rosberg”, diz De la Rosa.
Com as Mercedes perdendo na largada, “é uma repetição de Silverstone mas, ao contrário das Williams, são as Ferrari. É muito importante ser primeiro nesse circuito, porque o efeito aerodinâmico de seguir outro carro afeta muito aqui e isso também permite controlar os pneus”, avalia o comentarista espanhol. “Imagina na Bélgica”, diz Lobato, referindo-se às mudanças de regulamento que estarão em vigor a partir da próxima etapa. “Vai ser um drama. Vai parecer campeonato de patinação artística.”
Falando nas alterações, Reginaldo Leme informa de maneira errônea que elas já começaram na Hungria. Luciano Burti tenta consertar, mas o comentarista não cede.
Outra discussão das primeiras voltas é o estado emocional de Massa. “Ele era o que estava visivelmente mais emocionado com o minuto de silêncio do Bianchi. Existia uma verdadeira amizade e pode ter trazido para o carro o resto da emoção. Mas está aí, profissional como é, segurando o Hamilton”, diz Galvão. David Croft é outro que questiona a concentração do brasileiro.
As Ferrari fogem na frente
Impressionados com o ritmo da Ferrari, os britânicos tentam encontrar explicações. “Talvez as Mercedes não estejam acostumadas a andar perto de outro carro, o que pode esquentar seus freios. A diferença está crescendo, o que significa que a Ferrari não precisa se preocupar com o undercut. Onde a Ferrari escondeu esse ritmo durante o final de semana?”, questiona Brundle, enquanto De la Rosa observa que o problema é Rosberg. “Aí não tem estratégia que ajude. Ele não tem ritmo. O porquê não sabemos. Hamilton, assim que teve pista limpa, passou a ser o mais rápido.”
Até que acontece a primeira batida na curva 1, que seria o local de grande parte da ação por toda a tarde. Galvão se apressa para culpar Verstappen, mas são Maldonado e Perez que se encontram. “O menino é muito rápido, mas ele não é mole não. Era o Maldonado… é aquela história de alargar a curva, mas o Maldonado foi alargando sem parar.”
Burti é da opinião de que “Perez e Maldonado na mesma curva não dá. Eles falam a mesma língua só no idioma mesmo. E passar Maldonado por fora é muito otimista.” Brundle não concorda. “Maldonado poderia ter virado mais o volante, porque o normal sempre vai ser espalhar. E Perez estava na frente.”
Quando aparece rádio de Alonso, Lobato fica tenso. Depois, comemora que era só uma conversa sobre estratégia. “É que, quando aparece rádio da McLaren, já trememos temendo que seja uma quebra”.
Na luta pela ponta, Rosberg para antes das Ferrari e coloca pneus médios, diferentemente dos rivais. “A Mercedes não estava conseguindo acompanhar o ritmo da Ferrari e tentou colocar outro pneu”, avalia Burti. “É uma daquelas corridas em que não estamos presenciando nada do que esperávamos antes da largada”, diz Croft. E nem chegamos à metade da corrida.
Brundle lamenta que “Ricciardo tenha sido problemas na primeira volta, porque ele está fazendo um grande trabalho” e os ingleses fazem as contas para determinar quando Hamilton vai chegar em Rosberg, depois de ter escalado o pelotão, quando uma conversa via rádio deixa De la Rosa indignado.
Rosberg é informado que Hamilton vai colocar pneus médios e responde. “Então eu também vou”. E ouve a resposta de que “não é o que o pitwall está inclinado a fazer.” Para o espanhol, “esses ingleses são muito educados. Alguém tem de dizer para o Rosberg que o ritmo dele com pneu duro é horrível e o único jeito de ele ficar na frente do companheiro é colocar pneu macio.”
Brundle também não se conforma. “Acho que ele não tem noção do quão lento ele é com esses pneus . Em algum momento, vão ter que falar para Nico deixar Lewis passar, caso contrário eles vão entregar a vitória para a Ferrari de bandeja.”
Neste momento, há uma confusão na transmissão brasileira. Burti não entende o rádio e traduz que “é alguma informação que eles não podiam dar sobre o Hamilton” e Reginaldo emenda que “isso tem a ver com o pacto de não-agressão que os dois assinaram.”
O Safety Car muda a história do GP
Logo em seguida, acontece o lance que mudaria a corrida novamente: Nico Hulkenberg virou passageiro após perder a asa dianteira e causou um Safety Car. A maioria para nos boxes e Rosberg, de fato, coloca os pneus mais duros. Para Galvão, “ele está com moral porque aparece com pneu médio. Qual é a aposta do Rosberg? Vai acabar o pneu do Hamilton e ele vai ter condições melhores no final. Ele bancou”. De la Rosa não se conforma: “Que falha de Rosberg! Que falha! Com todos os pilotos a sua volta com pneus duros, ele teria a chance de vencer se colocasse o macio.” Mas Brundle não descarta o alemão. “Acho que três dos quatro primeiros pilotos podem vencer essa corrida. Raikkonen não vai poder fazer nada com esse problema do Kers. Ricciardo não, porque ele não tem velocidade de reta. Se ele estivesse melhor posicionado, talvez.”
Na relargada, Rosberg passa Raikkonen com tranquilidade e Ricciardo vai para cima de Hamilton. “É de faca nos dentes a relargada! Se tocaram demais, exageraram demais. Rosberg foi certinho, decidido para cima de Raikkkonen. Antes que o Hamilton espalhasse o carro, Ricciardo trouxe para dentro e bateu”, narra Galvão. “Há danos na Mercedes. Hamilton está com muitas dificuldades!”, exclama Croft. “É a asa dianteira. Ele não tem nenhuma aderência na parte da frente, vai ter que parar”, completa Lobato.
“Hamilton entra muito forte na curva e bate. É culpa dele. É que a diferença entre os pneus é grande, principalmente de aquecimento. Por isso Ricciardo atacou logo”, avalia De la Rosa. “Foi uma manobra desesperada?”, questiona Croft. “Ele estava defendendo e espalhou”, justifica Brundle, que lembra. “Por muito menos eles puniram Maldonado. Vamos ver se eles são consistentes. Tem sido uma tarde atrapalhada, não é Lewis? Elas não têm acontecido com frequência, mas às vezes acontece.”
Todos começam a fazer contas para o campeonato, indicando a vantagem de Rosberg, que poderia até sair da Hungria líder. Mas a prova ainda teria emoções até as voltas finais. É Brundle quem percebe que Ricciardo ainda não havia desistido. “Ricciardo tem muita aderência, a Red Bull acertou na escolha dos pneus. Se ele passar Rosberg, pode vencer essa corrida.” E Croft emenda. “Mas ele não tem velocidade de reta. Será que vai ter que tentar algo diferente?”
Com o passar das voltas, ficava claro que o piloto da Red Bull teria que forçar na primeira curva. “Ele arrisca, arrisca. Exagerou! Vai tomar o X. Eles se tocaram… furou o pneu do Rosberg e o Hamilton vai abrir mais”, descreve Galvão. “Madre mía, que confusão ele criou para Rosberg agora! Que favor ele fez para Hamilton, sem querer. Rosberg vai lembrar disso no final do ano”, diz Lobato.
Os espanhóis esperam uma punição a Ricciardo e até fazem as contas para ver se Alonso ganharia mais alguma posição com isso – “ele se atirou de longe demais. Ele não julgou bem onde estava a asa dianteira”, explica De la Rosa – mas os brasileiros têm uma opinião diferente. “Fiquei com a sensação que, desta vez, foi o Ricciardo quem veio para cima”, diz Galvão. “Mas tinha espaço. Não acho que vai ter punição porque foi acidente de corrida”, defende Burti. “Acho que Rosberg deveria ter dado mais espaço, porque ele já tinha deixado a porta aberta”, diz Brundle.
Quando sai a confirmação de que a batida foi considerada acidente de corrida, Lobato não se conforma. “É incrível. Com a quantidade de punições que tivemos nessa corrida, é impressionante que Ricciardo tenha escapado”. De fato, foi um GP com várias punições. Que o diga Pastor Maldonado, que recebeu três. “Vou ligar para ele falando que ele pode pedir música no Fantástico”, brincou Galvão. “Existem hat-tricks e hat-tricks”, disse Croft.
Ileso na ‘fatídica’ curva 1 por toda a prova e controlando o ritmo, Vettel venceu pela segunda vez na Ferrari. E emocionou em sua mensagem trilíngue ao final da prova: “essa é para você, Jules. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, ele estaria em nossa equipe”. De la Rosa, que trabalhou com Bianchi no time italiano, não se contém. “Traduz você porque eu não vou conseguir”, pede a Lobato. Os três primeiros fazem questão de lembrar o francês. “Repare que não há um sentimento de extrema felicidade. Claro que há 21 anos não havia uma fatalidade. Entre os pilotos é inaceitável. Eles queriam que a corrida tivesse sido interrompida naquele momento do acidente”, lembra Galvão.
Voltando à corrida, Brundle avalia que “Vettel merece a vitória. Ele sabe como vencer um GP da frente, não?”, enquanto De la Rosa ainda não se conforma. “Rosberg perdeu uma oportunidade de ouro. Acho que o erro de não ter colocado pneu macio o colocou na posição da confusão com Ricciardo. Não era para ele estar naquela disputa, era para estar pressionando Vettel, que não mostrou um bom ritmo com o pneu duro.”