Sistema de punições melhora. Em termos. E não há solução fácil

Os números chegam a ser bizarros – foram 861 posições perdidas no grid na última temporada, computando trocas de motor, câmbio e outras infrações, sendo que 83,6% delas vêm de substituições de elementos da UP. Mas eles só são números. Mesmo a dupla da McLaren, que usou mais de 10 motores cada e respondeu por 378 destas punições, pagou menos de 50 delas.

O sistema de punições é complicado, até porque a unidade de potência também é. E as manchetes espalhafatosas também não ajudam: por que fazer barulho com uma punição de 60 posições no grid para o piloto X se, na realidade, ele não pode pagar mais do que 20?

Foi pensando nisso que a FIA alterou a regra: a partir de agora, quem levar 15 ou mais posições simplesmente vai para o fundo do grid. E se houver mais de um piloto nesta situação? Quem somar mais posições fica em último.

Mas é uma medida paliativa apenas. Continuamos com um sistema bastante difícil até de explicar para iniciados, quiçá para quem sequer sabe que o motor da F-1 na verdade não é bem um motor…

Sim, parte do problema é a própria natureza da unidade de potência. A princípio, faz todo o sentido limitar com punições no grid o uso de motores, como acontece com sucesso no caso dos câmbios. Mas quando não é sempre que se troca o “motor” inteiro, a coisa começa a complicar.

Para quem não sabe, a unidade de potência tem seis elementos. Em 2018, serão permitidas três unidades de MGU-H, turbocompressor e motor de combustão. E apenas duas de MGU-K, bateria e central eletrônica. Quando o piloto usa, por exemplo, o quarto turbocompressor, recebe 10 posições de punição. Se ele ultrapassa o limite em um segundo elemento, são 5 posições.

O problema é que, enquanto a F-1 continuar com essa geração de unidades de potência, ou seja, pelo menos até 2021, é difícil imaginar solução melhor:

E se tirar pontos dos construtores?

Há quem alegue que o sistema atual pune o piloto e não a equipe, o que não é verdade. Mas a ideia de somente tirar pontos de construtores provocaria justamente o que os dirigentes estão querendo evitar ao máximo: ainda mais desequilíbrio. Imagine que estourar o limite de motores corresponda à perda de 10 pontos. Para a Mercedes, que terminou 2017 com 146 pontos de vantagem para a rival mais próxima, isso não é nada. Para a Renault, representaria a perda de duas posições no campeonato.

E se as multas fossem em dinheiro?

Novamente, as equipes menores sairiam prejudicadas. Estima-se que o orçamento de Mercedes e Ferrari chegue perto de 500 milhões de euros, enquanto da Sauber não passa de 90. Se a pena fosse financeira, os grandes assumiriam o gasto em troca de um motor mais potente, e o abismo entre os times aumentaria.

E se voltar aos quatro motores por temporada?

Isso foi pedido pela Red Bull na reunião do Conselho em janeiro, mas o relaxamento da regra não foi aprovado. A explicação de Jean Todt faz sentido: a definição da diminuição do número de unidades de potência disponíveis aconteceu em conjunto com a fixação de um teto de preço cobrado pelas fabricantes. Portanto, se as clientes se dispuserem a pagar mais…

E se acabarem as limitações?

Isso escalonaria os gastos e aumentaria o abismo entre montadoras e clientes. Isso porque, sem limitações de resistência, é possível ter um motor mais potente ou sempre trabalhando em seu regime mais forte e os times mais ricos usarão deste expediente. Com os clientes já atuando no limite de seus gastos, é difícil imaginar que eles acompanhariam o investimento.

Voltando aos números de 2017, um dado curioso é que o piloto que mais posições efetivamente perdeu no grid foi Daniel Ricciardo. Mesmo tendo quebrado muito mais, os pilotos da McLaren já estariam largando em posições intermediárias e, por isso, acabaram perdendo menos posições mesmo quebrando mais, em uma das poucas regras que pune mais duramente quem anda lá na frente.

Troca-troca de nomes sugere mudanças no futuro da Red Bull

Onde está o destaque do uniforme novo da Toro Rosso?

Uma mudança – na verdade, duas – na nomenclatura dos times da Fórmula 1 em 2018 pode ter passado despercebida por muitos, mas indica uma direção interessante para o futuro próximo da Red Bull na categoria.

Do lado do que era a Red Bull Racing, que tinha ganhado o TAG-Hauer pelo branding feito no acordo com a Renault para o fornecimento de motores, agora temos a Aston Martin Red Bull Racing.

A parceria, atualmente também mais de branding do que representativa de qualquer envolvimento técnico da marca em si, não é novidade e foi anunciada em meados do ano passado, mas é interessante que não exista mais qualquer menção ao motor atual, justamente no que tudo leva a crer que será o último ano da parceria Red Bull-Renault.

É tido como verdade no paddock que os franceses já avisaram a Red Bull que não vão renovar o contrato que acaba no final de 2018, apesar da notícia não estar confirmada. Isso, inclusive, teria sido um ingrediente fundamental para o acordo que levou o motor francês à McLaren e a Honda para a Toro Rosso.

Isso porque dificilmente a Mercedes vai equipar a Red Bull, e muito menos a Ferrari. A saída, então, seria ajudar os japoneses a arrumarem a casa antes que a própria Aston Martin entre de vez na F-1.

Isso depende diretamente, por sua vez, do texto final do regulamento que vai alterar os motores em 2021, algo que deve ser fechado em meados deste ano. O CEO da empresa, Andy Palmer, inclusive já vem dando seus pitacos publicamente, apoiando a ideia de Jean Todt que as principais categorias mundiais utilizem um motor semelhante, o que vem sendo chamado de “conceito de motor global”.

Mas isso, claro, só em 2021. Nas duas temporadas até lá a Red Bull teria de usar outro motor, provavelmente o Honda. E isso nos leva ao outro nome que surgiu na lista oficial da FIA: ao invés de Scuderia Toro Rosso, um estranho Red Bull Toro Rosso Honda.

Vamos tentar esquecer que Toro Rosso nada mais é que Red Bull traduzido para o italiano. Quando ou se a Aston Martin decidir entrar mesmo na Fórmula 1, é bem possível que seja não apenas como patrocinador principal ou fornecedora de motores, mas como dona de equipe. E qual o time mais rentável para a Red Bull vender? Sua operação principal.

Ainda mais se estes três anos de desenvolvimento e a janela de oportunidade de um novo regulamento em 2021 façam da Honda um motor competitivo, como muita gente aposta no paddock. Ou mesmo façam com que os japoneses deem mais um passo e voltem também como construtores.

Por enquanto, ainda estamos na fase de ligar os pontos, até porque há muita água para rolar debaixo da ponte até 2021. Mas que está com cara de que a mudança em 2018 resulte em uma Aston Martin Racing e uma Red Bull Honda, ou até mesmo a saída da empresa austríaca como construtora, isso está.

Da rápida Mercedes à suspeita McLaren: as não-conclusões da pré-temporada

Em uma pré-temporada na qual a grande estrela foi a capacidade de simulação das equipes, que limitou a necessidade de buscar efetivamente performance seja em ritmo de classificação, seja em ritmo de corrida, sobraram mais perguntas do que respostas antes do início da temporada.

Do lado positivo, o meio do pelotão aparenta estar mais perto (menos longe, na verdade) do que terminou 2017: a diferença da Red Bull para a Force India no final do ano passado era de 1s5 em média, e hoje a vantagem do trio de ferro da ponta aparenta estar na casa de 1s. Seria o suficiente para, com a expectativa de provas mais emboladas devido ao maior número de paradas nos boxes, gerar surpresas? Essa é uma das dúvidas que começarão a ser sanadas em menos de uma semana.

 

Mercedes x Ferrari x Red Bull

A questão mais latente, entretanto, é a ordem do top 3. Há certo consenso de que a Mercedes segue na frente, mas o time alemão em momento algum fez simulações com pneus macios e pouco combustível. A força do W09 foi mostrada, repetidamente, com os pneus médios, e na observação de pista fica claro que o carro é bem nascido.

Mas há os poréns. Descontando-se as diferentes cargas de combustível (algo que só podemos fazer por suposição, comparando vários stints), o Mercedes sempre demonstrou um desgaste mais acentuado que seus rivais diretos, e foi a única equipe que teve problemas com bolhas nos testes. Havia uma preocupação em relação ao centro de gravidade mais pesado do W09 e este parece ser um indício de problemas para Hamilton e Bottas durante as corridas, pelo menos neste início de ano.

Não que as simulações da Ferrari tenham sido perfeitas. O fato dos tempos por volta serem muito parecidos entre o começo e o final dos stints de seus pilotos gerou uma desconfiança: será que o novo motor Ferrari tem problemas de consumo de combustível?

Essa dúvida só foi alimentada pela misteriosa fumaça que saía dos carros com motores Ferrari sempre que eles saíam dos boxes. Sabemos que ela não vem do escapamento, então a possibilidade mais plausível é que os motores italianos precisem de muito mais óleo que os rivais, e essa queima a mais gera algo que chama bastante a atenção, mas não seria tão importante assim.

Já a Red Bull teve alguns problemas de confiabilidade, e também não fez simulações de classificação. Mas demonstrou um ritmo bem próximo de Mercedes e Ferrari nas provas de corrida, fazendo com que alguns no paddock comecem a apostar que Ricciardo e Verstappen estarão à frente das Ferrari em Melbourne.

 

Renault x quem?

O que já era uma tendência ao longo do ano passado ficou comprovado na pré-temporada: a Renault deu mais um salto e já pode ser colocada como quarta força no campeonato. Mas disputando com quem? A Haas surpreendeu na segunda semana, mas é um time do qual se costuma desconfiar, pelas várias vezes em que eles ficaram perdidos com acerto e desenvolvimento.

E o último suspiro de Fernando Alonso no dia final de testes mostrou que a McLaren pode, sim, ser veloz. Mas por quanto tempo? Isso ainda não sabemos, mas existe um consenso no paddock de que o time está neste segundo pelotão.

 

Fechando a fila

Um atraso no projeto devido à demora da Mercedes entregar o desenho de seu motor atrapalhou esse começo de ano da Force India, e é muito curioso o barulho do carro na pista – há alguma ressonância na caixa de câmbio que o faz parecer mais um F-E. Mas espera-se uma recuperação rápida para levar o time ao pelotão intermediário.

Já a Toro Rosso comprovou que a Honda, enfim, tem um modo de classificação, e até superou sua meta em 0s2, o que coloca o time em clara vantagem em relação a Williams e Sauber. A primeira veio com um projeto bastante alterado e é visivelmente um carro muito difícil de guiar. Tanto, que já há quem duvide que Sirotkin e Stroll vão conseguir ficar na frente dos carros suíços, que evoluíram bastante, mas vinham de um déficit muito grande.

Depois de oito dias de pré-temporada, o fato é que as equipes não se enfrentaram de igual para igual. Deixaram seus computadores e simuladores fazer o trabalho de avaliar a performance, e nos deixaram ainda mais curiosos para o que está por vir nas próximas semanas.

Pimenta na Williams

Um menino de 14 anos que largou a vida e a escola na Polônia para seguir seu sonho de ser piloto. Dormia na fábrica de sua equipe e observava o trabalho dos mecânicos, com quem aprendeu o italiano, e acabou se tornando provavelmente o piloto mais técnico da era moderna da Fórmula 1.

Isso, além de ser muito rápido.

Agora, Robert Kubica é uma espécie de super piloto de testes, único que participa até mesmo da pré-temporada mais curta da história. Isso porque, desde que os testes passaram a ter apenas oito dias, nunca as sessões foram tão atrapalhadas pelo meu tempo como em 2018. E ainda assim a Williams prefere dar quilometragem a ele em detrimento de dois pilotos inexperientes.

Contratado para encontrar os problemas de uma equipe que só tem andado para trás nos últimos anos e que não deu ainda nenhum sinal promissor para 2018, Kubica está fazendo sua parte, verificando falhas de procedimento que ele conhece desde a adolescência. Mas isso claramente não é o suficiente para ele.

Robert deixou seu recado logo na primeira coletiva nos testes: “Seria fácil para mim ser quatro décimos mais rápido, mas esse não é meu trabalho no momento.”

Está claro que o polonês não fez todo o esforço dos últimos meses para voltar como um piloto de testes, mesmo que seja um super piloto de testes. Por outro lado, se esse início de trabalho na Williams lhe deu indicativo, é de que ele quer voltar ao grid por outro caminho.

Até chegar lá, muita água deve passar por baixo da ponte em Grove. Kubica não parece ser a única personalidade, digamos, interessante no time. Lance Stroll não sabe lidar bem com um mundo em que ele não é o centro e as coisas não funcionam como ele quer, o que podemos ver claramente a cada entrevista – quando ele tem um dia ruim, até a luz da TV se torna insuportável.

E o time agora tem Sergey Sirotkin. Meu contato com ele foi mínimo até aqui, mas ficou a impressão de se tratar de alguém muito calculista e com uma abordagem bastante prática das coisas. Ou seja, alguém que pode bater de frente com Robert por conta do temperamento e deixar Stroll louco se realmente for, como se espera, mais rápido que o canadense. Se em termos de rendimento a Williams está longe de empolgar, a dinâmica destas duas semanas de testes pareceu ser a prévia de um ano… de emoções.

Como a Toro Rosso consegue fazer o motor Honda funcionar?

A McLaren acabou se colocando em uma posição em que não pode vencer em 2018. Calma, não estou falando de vitórias em termos de resultados na pista. Mas, sim, de expectativas. Ou o time cumpre o que vem prometendo depois de se livrar do que considerava seu câncer, o motor Honda, e luta pelo menos por pódios, demonstrando forte evolução ao longo do ano, ou está fadado a virar piada novamente. Enquanto isso, a Toro Rosso vai acumulando quilômetros e mais quilômetros com o motor que mal conseguiu passar das 400 voltas em todo o teste de 2017.

Há um ano, com condições climáticas muito mais favoráveis por todos os oito dias de atividades, a McLaren-Honda deu 208 voltas no primeiro teste e 217 no segundo. Já a Toro Rosso-Honda somou 324 efetivamente com um dia a menos de pista por conta do frio no teste inicial, e mais 54 no quinto dia pré-temporada, mesmo perdendo muito tempo de pista por um problema de freio. É claro que os japoneses tiveram mais um ano para se desenvolver, mas como explicar essa diferença?

Primeiramente, é preciso lembrar que as comparações diretas entre o motor Honda que começou 2017 e que está começando 2018 não são tão justas. Isso porque os japoneses alteraram significativamente seu conceito no final de 2016, e estavam engatinhando em seu desenvolvimento. Uma comparação mais justa seria o final da última temporada, quando vimos Fernando Alonso até conseguindo lutar por algumas voltas, mesmo que com muita dificuldade e em uma pista em que os carros usam muita pressão aerodinâmica, no México, lutar com Lewis Hamilton. E a as penalizações sofridas na parte final do ano foram mais em função de atualizações do que de quebras em si, uma vez que a Honda usou as últimas etapas estrategicamente para se preparar para este ano.

Em 2018, portanto, eles têm um projeto de continuidade, em evolução, e é natural que tenham menos problemas de confiabilidade. Em termos de performance, ainda há a dúvida em relação à potência especialmente em configuração de classificação. E, nesse caso, a defasagem era grande, portanto mesmo um ganho de, digamos, 50 cavalos, não vai transformar o motor em uma Mercedes da noite para o dia.

Mas seria um erro parar as explicações na Honda em si. Por motivos conceituais – e uma pitada de cabeça dura – assim como pela própria pressão por fazer um carro aerodinamicamente refinado para compensar as deficiências do motor, a McLaren “apertou” ao máximo o motor em seus três projetos com os japoneses. Com, literalmente, espaço para funcionar, ao menos o motor consegue funcionar melhor, e é essa combinação entre a evolução da Honda e as condições criadas pela Toro Rosso que explicam a pré-temporada relativamente tranquila do time de Faenza.

É claro que, depois dos três campeonatos delicados da parceria McLaren-Honda, ter uma pré-temporada sem grandes dramas de confiabilidade relacionados ao motor é um alívio para a Toro Rosso, ainda que não saibamos onde o motor japonês está em termos de performance. Ao mesmo tempo, é a prova de a visão que circulava no paddock estava certa e que seus velhos parceiros nunca foram totalmente isentos de culpa pelo insucesso da parceria.

Fique de olho nestes 5 carros nos testes da pré-temporada

Checar os sistemas do carro, verificar a correlação de dados com o túnel de vento, testar a confiabilidade das peças e, desta vez, tentar entender os novos compostos em um asfalto completamente alterado no Circuito da Catalunha e com condições climáticas muito longe do que as encontradas há um ano, assim como será em todo o restante de 2018. Antes de qualquer análise sobre o que vimos nos testes da pré-temporada até aqui, é preciso lembrar de tudo isso. E tentar segurar um pouco a ansiedade.

Nesta semana, nos testes que começam nesta terça-feira e já com uma previsão bem mais normal para o clima – termômetros devem chegar perto dos 20ºC na sexta-feira, o que já fez com que as equipes chegassem a um acordo de sequer parar para o almoço em dois dos quatro dias de sessões – muitas novidades aerodinâmicas serão testadas e somente nos dois últimos dias teremos uma ideia melhor do que esperar na Austrália.

Dito isso, os testes até aqui deram alguns indicativos. Para o bem e para o mal.

Mercedes x Ferrari x Red Bull

Sim, a Mercedes está forte, ainda que com ressalvas. Foi interessante notar como o W09 perdia para Ferrari e Red Bull no último setor, e isso muito provavelmente ocorreu por um rendimento ruim dos pneus – algo que é uma preocupação para um carro com centro de gravidade mais pesado que os demais, como expliquei aqui. Talvez por uma mudança de acerto (e é bom lembrar que as equipes conseguem melhorar mais de 1s de um carro novo apenas com mudanças mecânicas), essa defasagem desapareceu no último dia.

Calculando as margens de combustível e diferenças entre compostos por aproximação, e lembrando que as discrepâncias entre os pneus é muito menor no tipo de condição enfrentado na semana passada, a distância entre o melhor tempo de Lewis Hamilton e da Ferrari e também da Red Bull foi de três décimos.

Porém, a Ferrari mostrou a força em outro quesito: o ritmo dos stints mais longos. Na mesma quinta-feira, Hamilton e Vettel fizeram sequências mais longas e, também fazendo estimativas quanto à quantidade de combustível, as análises apontam uma Scuderia mais forte e o alemão 2s4 à frente do inglês depois de um stint de nove voltas. E a Red Bull não demonstrou estar muito atrás da Ferrari.

Isso não quer dizer que será uma tendência definitiva – Mercedes fazendo poles, Ferrari e Red Bull dando trabalho em ritmo de corrida. Mas é algo para ficar de olho nos testse desta semana.

Sinal amarelo

A McLaren passou a semana toda tentando diminuir a importância de seus problemas, mas os números não mostram o time exatamente onde ele esperava estar. Normalizando os parâmetros citados acima, o time aparenta estar a quase 2s da ponta no momento. Digo no momento porque, devido aos problemas de escapamento da terça-feira, foi necessário mudar a configuração de motor para avaliar as temperaturas, o que sempre custa caro em termos de performance. Novamente, nesta semana, todos os olhares estarão nos carros laranjas.

Com tantas equipes chamando a atenção por motivos variados, os problemas da Force India passaram quase despercebidos. O time garante que estava concentrado nas correlações aerodinâmicas e que não focou em performance, mas também andou pouco – só 166 voltas, perto do que a Toro Rosso conseguiu em apenas um dia. Tanto, que Fernando Alonso já chamou a atenção que “pode ter um carro com problemas fundamentais de projeto e ninguém está olhando”. Seria um blefe? Teremos uma ideia melhor a partir desta terça-feira.

Mudança é palavra de ordem nos bastidores dos testes

Quando até a Ferrari está “pelada”…

Enquanto nenhuma equipe buscou performance ainda nos testes, algo que já seria normal nos quatro primeiros dias, mas acabou sendo uma marca ainda mais forte neste ano devido às péssimas condições do tempo no Circuito da Catalunha, foram outros assuntos que roubaram a cena nos bastidores.

Curiosamente, a dias do início de uma temporada com relativamente poucas diferenças em relação ao ano passado, fala-se muito da necessidade de mudanças. Afinal, em abril já devem ser definidos os conceitos dos carros e motores para 2021 e muitas preocupações estão em pauta.

Os engenheiros querem um carro mais leve. Já expliquei aqui como os vários dispositivos de segurança foram aumentando o peso mínimo e o F-1 nunca foi tão veloz e ao mesmo tempo tão pesado quanto hoje: eles vão alinhar na Austrália com quase 840kg!

O peso é visto como um dos fatores que atrapalham as ultrapassagens, outro foco dos estudos. Como esperado, a maior dependência aerodinâmica gerada pelo regulamento de 2017 fez com que as manobras se tornassem mais difíceis e estuda-se uma nova “limpeza” nos penduricalhos aerodinâmicos em um futuro próximo.

Limpeza essa que casa muito bem com outra preocupação: a falta de patrocinadores nos carros. Existe a avaliação dentro do paddock de que são dois fatores intimamente ligados, uma vez que as asas e laterais têm tantos elementos que a visibilidade das marcas fica prejudicada. Pensando nisso, Ross Brawn defende uma asa dianteira totalmente simples, ainda que esteja encontrando resistência de algumas equipes.

O que não faltou foi tempo para discutir tudo isso nesta semana em Montmeló. Uma onda de frio bastante atípica para esta época do ano limitou significativamente o tempo de pista nos primeiros testes e reabriu uma discussão que não é nova: o quanto vale a pena arriscar testar no inverno europeu?

Primeiramente, é preciso deixar claro que o frio desta semana não é a regra. Ano passado, por exemplo, as equipes estavam testando com 18ºC, e não temperaturas negativas como as observadas em 2018. Mas é claro que sempre existe esse risco. Dentro do continente europeu, a solução mais plausível seria Jerez, pista que foi recentemente recapeada e fica mais ao sul – enquanto toda a Europa praticamente congelava nos últimos dias, a temperatura lá ficou em cerca de 15ºC. Seria necessário, entretanto, um investimento local na estrutura para receber a F-1 e também o pagamento de uma taxa para tanto e isso seria um empecilho.

Outra solução seria ir para o Bahrein, o que resolveria a questão do clima, mas criaria outros obstáculos, com o aumento do custo e do tempo para novas peças irem chegando ao longo do teste – tanto pela distância em si, quanto pela necessidade de passar pela alfândega. Até a próxima nevasca, portanto, é bem provável que os testes fiquem onde estão.

Por fim, outro assunto que entrou na pauta da semana foi o anúncio da plataforma de streaming F1 Live, que estará disponível em pouco menos de 60 países a partir do GP da Austrália. Foi um projeto amarrado às pressas (essa história da assinatura do contrato com a ESPN em outubro explica por que) e que ainda não está em sua versão definitiva, mas ao que tudo indica será um produto atraente.

São 20 dólares anuais pelo pacote mais barato e 100 pelo pacote premium, com acesso a diferentes câmeras, corridas antigas, entrevistas e conteúdo exclusivo, e a meta da Liberty é fechar o primeiro ano com 5 milhões de assinantes premium. Pensando que a audiência é bem maior que isso, não parece ser uma meta irreal, ainda que difícil de ser batida de imediato, até porque os dois mercados com maior audiência de F-1, Brasil e Itália, ficaram de fora.

No caso brasileiro, isso parece ser uma questão de tempo, uma vez que a Globo está negociando a implantação com a Liberty. A narração, como ocorre com as plataformas em outras línguas, seria a mesma da TV. Em inglês eles usarão a Sky, em alemão a RTL e em francês o Canal Plus.

Pensando na meta, seria uma receita de 500 milhões de dólares a mais para a F-1, o que justifica as concessões financeiras que a Liberty tem feito nos novos contratos de TV. O que Bernie evitava por não saber monetizar os novos donos fizeram em poucos meses.

Mas o engraçado foi a coletiva com o diretor de mídias digitais da F-1, Frank Arthofer. Basicamente 90% das perguntas não foram sobre a plataforma em si, mas sobre os interesses das emissoras de TV. Ele respondia um pouco atônito com o anacronismo deste pensamento. Em um esporte que só tem falado em mudar, dá para entender por que não é nada fácil fazer isso.

O que já sabemos sobre os carros de 2018 – parte 2

O resumão das novidades nos carros que começam nesta semana a pré-temporada da Fórmula 1 continua com dois times que trocaram de fornecedores de motor e alguns desenhos simples que devem mudar bastante até o GP da Austrália. Aqui está a parte 1.

McLaren

A McLaren que começou os testes deixou claro o investimento feito mais na adaptação para o motor Renault do que o trabalho aerodinâmico do carro, o que explica a informação de que a equipe pretende fazer muitas mudanças até o GP da Austrália, agora que tem mais recursos para cuidar de elementos como a asa dianteira. Até por isso, é preciso cuidado ao analisar os resultados da equipe nos testes.

O trabalho que foi feito é de maximização do arrefecimento do motor agora que o time tem um equipamento que precisa de menos refrigeração devido à geometria utilizada pela Renault. O sidepod ficou significativamente menor, se assemelhando mais aos carros da ponta.

Outra mudança que já se nota é no assoalho, que ficou bem mais longe do solo, o que, junto do aumento da distância entre eixos, é uma busca por “selar” melhor o ar nessa parte e aumentar a velocidade do fluxo, gerando uma pressão aerodinâmica mais eficiente.

Renault

Assim como a McLaren, o carro da Renault também deve evoluir bastante nas próximas semanas, mas já deu para notar o trabalho feito para melhorar o fluxo de ar dos franceses têm menor necessidade de refrigeração. Isso também é visto pela carenagem, que está bem mais enxuta.

Parte do sistema de arrefecimento, contudo, parece ter mudado para a entrada na parte de cima do carro, pois, apesar dela não ter mudado muito em termos de tamanho, esta parte está mais longa.

Ferrari

Não dá para dizer que a Ferrari não está se mexendo para tentar acabar com o domínio da Mercedes. O novo carro tem mudanças interessantes, começando pela maior distância entre eixos, algo que deve melhorar a performance do carro nos circuitos de alta velocidade.

Curiosamente, o time foi buscar na McLaren a inspiração para uma asa dianteira bem diferente em relação ao ano passado, com a base reta, algo que altera toda a forma como o ar circula na parte debaixo do carro e também como ele é desviado do pneu dianteiro. Mas há uma diferença: os pilões estão bastante separados entre si, provavelmente para aumentar o fluxo de ar e a alimentação do assoalho, gerando mais pressão aerodinâmica na área.

O sidepod em si, como em 2017, é o que mais chama a atenção. Talvez motivado pelo halo, que diminui a quantidade de ar direcionada para esta área, os sidepods estão ainda menores neste ano, o que deve ajudar na velocidade de reta. Mas será interessante ver ao longo da temporada se o desenho acabou não sendo radical demais, comprometendo o funcionamento do motor – especialmente com a limitação de duas unidades por temporada para alguns elementos.

Falando em halo, ele também deve ter motivado a Ferrari a usar uma pequena asa no espelho retrovisor, para minimizar a turbulência nessa região.

É interessante notar, também, como a Ferrari optou por usar ao máximo a área da barbatana de tubarão, inclusive com uma asinha indo próxima da asa traseira, provavelmente para minimizar a separação do fluxo de ar entre as duas partes. Será interessante ver ao longo do ano como a Scuderia reagirá às restrições ao monkey seat, espécie de miniatura da asa traseira, posicionada embaixo dela. Isso porque o time italiano usou o monkey seat em quase todas as etapas, dando a impressão de que dependia disso para gerar pressão aerodinâmica nessa área.

Toro Rosso

O maior desafio da Toro Rosso para 2018 foi a adaptação do carro ao motor Honda, que tem uma arquitetura bastante diferente do Renault, com a turbina e o compressor divididos. Mas as mudanças no carro novo começam no bico, mais alinhado agora com a maior parte do grid – antes, a opção era se inspirar na Mercedes. As mudanças parecem terem sido feitas para diminuir o impacto negativo do halo.

Outra mudança influenciada pela novidade é na base de sustentação do espelho retrovisor, algo que vimos em vários carros (e, curiosamente, cada um adotou uma solução diferente nesse sentido). O restante – bargeboards, sidepods – parece mais uma evolução do carro que terminou 2017, com desenhos inspirados na Ferrari e na Red Bull. Mas há uma área em que a Toro Rosso continua tendo uma abordagem bastante diferente, na parte do difusor logo diante do pneu traseiro, com menos buracos, selando o difusor de maneira distinta.

O mais interessante, contudo, é a continuidade da forma e tamanho das entradas de ar mesmo com o novo motor, enquanto a McLaren, que trocou a Honda pela Renault, veio com entradas bem menores.

Force India

Assim como a McLaren, a Force India mostrou um carro bastante básico, dando a impressão de que muitas mudanças serão feitas até a Austrália. Os sidepods ganharam um desenho mais agressivo, com um recorde mais diagonal, a fim de diminuir a turbulência nos pneus traseiros. Mas isso também pressionou a parte central do chassi, que ganhou mais curvas e, potencialmente, fez o centro de gravidade subir.

Outra área em que o time vem trabalhando bastante é no assoalho, especialmente logo à frente dos pneus traseiros. O modelo que começou os testes tem vários elementos, e é bem provável que eles ainda sejam modificados para melhorar a performance do difusor antes da primeira prova do ano.

O que já sabemos sobre os carros de 2018 – parte 1

É aquela época do ano novamente: a empolgação pelo lançamento dos carros e os primeiros testes – e escrevo estas linhas da sala de imprensa do Circuito da Catalunha, vendo os colegas correrem para a janela enquanto os primeiros carros vão à pista no primeiro teste da pré-temporada. Daqui até a Austrália, em menos de um mês, muita coisa vai mudar nos carros – tanto, que podemos até ignorar as asas dianteira e traseira. Mas já dá para ter uma ideia das tendências de cada carro.

Pensando nisso, fiz um resumão em dois capítulos do que vimos nos carros até agora.

Williams

Uma das equipes com clara inspiração na Ferrari na área em que o time italiano foi mais copiado, dos sidepods, a Williams também buscou inspiração na Mercedes no primeiro carro feito sob o comando técnico de Paddy Lowe. Essa inspiração fica clara na parte dianteira, na conexão mais alta entre o bico e o restante do carro, algo que limpa o fluxo de ar da parte debaixo do carro.

Isso deve casar bem com o sidepod o mais alto possível, algo que também serve para alimentar melhor o difusor e gerar mais pressão aerodinâmica, o que vinha faltando nos projetos da equipe nos últimos anos.

A entrada de ar do motor também está mais parecida à da Mercedes, com um formato mais oval, em uma área que sofre a influência do halo neste ano.

As inspirações não param por aí: da Red Bull parece ter vindo uma suspensão traseira redesenhada, bastante longa, algo que deixa o fluxo de ar mais limpo para a asa, que ganhou um suporte duplo para melhorar sua pressão aerodinâmica.

 

Mercedes

Muito se falou sobre a longa distância entre eixos da Mercedes ano passado, que seria uma das fontes dos problemas que o time teve especialmente na primeira parte da temporada, mas eles decidiram mantê-la, agora com um pouco mais de rake (diferença de ângulo da traseira, mais alta, e da dianteira), ainda que muito menos que rivais como a Ferrari.

Não que não haja inspiração nos italianos, como nas aberturas em forma de “caixa de correio”. Mas com uma diferença: elas estão combinadas com a suspensão alta, uma das grandes marcas dessa geração de carros da Mercedes. Isso ajuda a acelerar o fluxo de ar na parte de cima do carro, o que resulta em mais pressão aerodinâmica, pois trabalha o ar de maneira diferente do normal, que seria encaminhá-lo para cima do braço de suspensão. Com ela muito alta, o ar passa pelo meio dos braços, abrindo um espaço que também aumenta a velocidade da passagem do ar e ajuda a grudar o carro no chão.

Isso gera uma desvantagem, pois aumenta o peso do centro de gravidade – algo que também é um subproduto do halo. E não é por acaso que Toto Wolff reclamou tanto da novidade. Esse peso no lugar “errado” costuma gerar maior desgaste de pneus, mas a Mercedes parece ter avaliado que o ganho aerodinâmico compensa as perdas.

Sauber

Lançado provavelmente com uma especificação mais próxima à que será usada nas corridas, o carro da Sauber impressionou, com várias soluções corajosas. Os sidepods são os menores possíveis, algo que ajuda a diminuir o arrasto e o uso de um motor mais atual também permite que as entradas de ar sejam mesmo menores.

Outro ponto que chamou a atenção foi a suspensão, bastante alta, para trabalhar o ar da mesma maneira que a Mercedes, casando com radiadores montados bem baixos.

Red Bull

A Red Bull mudou conceitualmente para esta temporada, adotando a mesma filosofia da Mercedes, de diminuir o máximo o arrasto. Isso é perceptível pelos sidepods, que usam menos espaço do que o máximo regulamentar, deixando um grande canal para alimentar o assoalho. Outro sinal da busca pelo baixo arrasto é o bico do carro, significativamente menor.

Outra mudança para 2018 foi o comprimento do carro. Enquanto ano passado era, junto com a Toro Rosso, um dos mais curtos, o modelo deste ano é mais longo (ainda que bem longe da Mercedes). Isso é talvez um reflexo de todas as outras mudanças para diminuir o arrasto, uma vez que isso também quer dizer menos pressão aerodinâmica e um carro mais longo ajuda a recuperar um pouco desse downforce. Mas uma coisa que não mudou e que também aumenta a pressão aerodinâmica é o forte rake, algo tradicional nos carros da Red Bull e que tem sido copiado por algumas equipes.

Haas

Não é surpresa nenhuma que a Haas pareça uma Ferrari de 2017, tamanha a extensão da parceria técnica entre os times. O sidepod é a similaridade mais óbvia e ajuda a distância entre eixos a ser menor, o que resulta em menos peso e a possibilidade de usar melhor o lastro, equilibrando mais o carro em cada pista de acordo com suas características.

Outra inspiração na Ferrari é vista na relação entre a suspensão e a entrada de ar do radiador que, ao contrário do que acontece com a Mercedes, é desenhada para que o ar passe por cima do braço de suspensão e chegue mais limpo na parte central do carro.

Quais os desafios gerados pelo halo?

Para nós, vai ficar o impacto visual. Mas, para os engenheiros, a implantação do halo gera uma série de desafios e deverá ser o grande ponto de discussão dos carros pelo menos neste início de temporada.

O primeiro desafio já foi superado – o que não significa que foi fácil: passar nos testes de impacto, que são bem mais rigorosos até do que os feitos na célula de sobrevivência. Basicamente, a ideia é forçar lateralmente a peça até que ela se deforme e quebre, mas o cockpit tem de continuar intacto. Isso significa que toda a estrutura à qual o halo é preso teve de ser reforçada – e isso leva ao terceiro desafio, e talvez o maior deles, que veremos adiante.

Antes disso, o impacto aerodinâmico também existe. Tanto, que há inclusive três fabricantes diferentes, uma no Reino Unido, outra na Alemanha e uma terceira na Itália licenciadas pela FIA para equipar os times. Essas empresas oferecem produtos com pequenas diferenças – inclusive de preço, começando em 15 mil euros.

Tais equipamentos só começaram a ser recebidos pelas equipes no final de novembro, já com o desenho definitivo da peça, o que atrasou os projetos. Por outro lado, há uma área de 20 milímetros em que cada time poderá customizar seu halo atendendo a suas necessidades aerodinâmicas e redirecionando o ar por meio de flaps.

Apesar da alteração do fluxo de ar do ponto de vista puramente de performance do carro não ser tão importante, há a tendência que ele seja menor na entrada de ar em cima da cabeça do piloto – com a ‘barreira’ do halo, parte do ar passaria ‘reto’. E isso pode obrigar os times a alterar seus sistemas de arrefecimento, ainda mais fundamentais neste ano com a limitação de três unidades de potência por piloto.

Mas o que está sendo apontado como o maior desafio é o peso. Embora o peso mínimo do conjunto carro + piloto tenha sido aumentado em mais 6kg, chegando a 734kg, o peso do halo + reforço do cockpit para encaixá-lo supera essa marca. Inicialmente, os engenheiros falavam em até 15kg, mas isso depende do desenvolvimento.

Para a maioria das equipes, a questão não é tanto ficar com o carro pesado, mas sim não poder jogar tanto com o lastro quanto antes, o que tem claros impactos de performance. Mas há equipes do fundo do grid, como Haas e Sauber, que já estavam com problemas para chegar no peso mínimo em 2017 e terão um desafio ainda maior, colocando ainda mais pressão nos pilotos para que sejam mais leves ao mesmo tempo em que estarão pilotando carros que, segundo a Pirelli, podem ser até 2s por volta mais rápidos que ano passado, resultado da evolução dos carros e da adoção de compostos mais macios.

Este é um problema sério porque foi-se o tempo em que a F-1 tinha pilotos fora de forma. Quando se fala atualmente em pilotos “mais pesados”, na verdade estamos falando dos mais altos. E já teve no paddock piloto de mais de 1,80m reclamando que teria de “perder um osso” para correr em 2018.

Falando nos mais altos, outro efeito negativo para eles seria sua maior lentidão ao sair do carro. E pelo menos nos primeiros testes de extração, acompanhados por quem estivesse no pitlane em Abu Dhabi ano passado, até Valtteri Bottas, que nem alto é, teve dificuldades de sair de sua Mercedes.

Entretanto, se para engenheiros e pilotos os desafios só parecem aumentar, há um setor que está comemorando: o comercial. A FIA permitiu que as equipes vendessem o espaço publicitário do lado exterior – a parte interior será preservada para não distrair os pilotos. E há quem diga que ele se tornará uma espécie de extensão de um lugar que já é muito valioso: o visor do piloto.

Pelo menos um setor vai ficar contente, enquanto todos os outros esperam por uma solução melhor que o halo. E que seja para ontem.

F1 é esporte que mais cresce nas mídias sociais. Mas ainda engatinha

É inegável que a Liberty Media vem fazendo um bom marketing em cima dos resultados que obteve em mídias sociais e audiência em seu primeiro ano no controle da Fórmula 1. Porém, saindo um pouco da “bolha” do “esporte que mais cresce” em Instagram, Facebook e afins, a realidade é bem diferente.

E não é difícil entender o porquê: a Fórmula 1, muito em função da política de Bernie Ecclestone, demorou muito para entrar na era das mídias sociais e tem um escopo de crescimento muito maior em relação a quem enxergou esse nicho antes.

O campeonato virtual, por exemplo, foi vendido como algo com números surpreendentes: foram 20,5 milhões de impressões (conjunto de curtidas, compartilhamentos, etc.) e 6 milhões de visualizações no vídeo da final. Para um esporte global, com audiência contada em bilhão, isso é realmente muito?

O campeonato virtual apenas atendeu a uma demanda que já existia e o mesmo ocorre com a maior presença da categoria nas mídias sociais. O fã de F-1 é ávido por informação e os canais oficiais pecavam muito nesse sentido – e quem não tem direitos de transmissão continua penando para disponibilizar conteúdo, próxima barreira a ser quebrada ou, ao menos, flexibilizada.

Os números celebrados pela Liberty são de um crescimento de 54,9% em seguidores. Para efeito de comparação, outra categoria que está engatinhando nas mídias (e, nesse caso, também fora delas), a F-E, cresceu 43%. E isso, convenhamos, é um feito mais impressionante que o da F-1.

Mas e na comparação com esportes igualmente consagrados? O campeonato espanhol cresceu 29% em 2017. A Champions League, 19%. O campeonato inglês, 16%. E os esportes norte-americanos? A NFL foi quem mais subiu, com 17% de aumento em número de seguidores, enquanto os demais ficaram na faixa entre 11 e 15%, incluindo a Nascar.

No entanto, mesmo tendo crescido “apenas” 14% em 2017, a NBA tem mais de 96 milhões de seguidores englobando Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Já a Champions League soma 103 milhões. E a Fórmula 1? 11.9. E não é erro de digitação.

A Liberty não está errada em comemorar, claro. Alimentar essa ideia de que o esporte voltou a ser atraente é bom para todos, mas os números deixam claro que o desafio está por vir nos próximos anos. E o crescimento da Fórmula E pode começar a incomodar em pouco tempo.

Liberty mexeu na “perfumaria” até agora. Falta descascar os abacaxis

De um lado, a Ferrari, por meio de seu presidente Sergio Marchionne, faz ameaças de deixar a F-1. De outro, Bernie Ecclestone diz que os últimos 12 meses foram apenas mais uma prova de que a democracia não tem vez na categoria, pois, em sua visão, a Liberty Media não conquistou nada.

De fato, em termos das grandes mudanças necessárias no esporte, realmente não era possível resolver nada em 2017. Afinal, Chase Carey e companhia não escondem que suas prioridades são mexer em dois vespeiros: a distribuição do dinheiro dos direitos comerciais e a limitação de gastos.

Talvez sabendo que estava vivendo seus últimos anos na F-1, pendurado em um processo pesado na Alemanha e já octogenário, Ecclestone fez de seu último pacto da concórdia o mais desigual deles. Na verdade, como o britânico fez acordos unilaterais, dando muito mais dinheiro aos grandes, hoje sequer existe um pacto, mas sim contratos que terminam todos em sincronia em 2020.

Por estes contratos, a Ferrari está provavelmente mais “mimada” do que nunca: com um top 3, já consegue ser a equipe que leva mais dinheiro, ao passo que, na outra parte da tabela, a Haas esteve fadada a sofrer nas primeiras temporadas e fica com pouco mais de 10% do valor do time italiano.

Não é por acaso, claro, que Marchionne reclama, sempre com a visão obtusa e individualista que marcou a gestão Ecclestone. Mas é óbvio que o futuro da F-1 passa pela revisão destas quantias recebidas pelas grandes independentemente de seu desempenho no campeonato.

Avançar nessas negociações é a primeira lição de casa para a Liberty em 2018.

O segundo vespeiro tem sido tratado de uma maneira inteligente por Ross Brawn: mezzo técnico, mezzo comercial. Há anos a F-1 tenta encontrar soluções para a escalada dos gastos, mas acaba tapando um buraco aqui, e descobrindo outro lá. O projeto de Brawn é atacar o problema criando um teto orçamentário relativamente generoso de um lado – fala-se em 150 milhões de dólares – e uma série de peças padronizadas. Isso inclui o motor, grande fonte de gastos atualmente.

Mais uma vez, a Ferrari se opõe. Seu grande argumento para não aceitar um teto sempre foi o de fabricar o próprio motor “em casa”, e a padronização diminuiria a força deste argumento, ainda que, oficialmente, o time reclame que o DNA da F-1 se perderia com a tal padronização.

O DNA da F-1 é ser uma disputa de construtores, isso é fato. Contudo, não fosse pela recente flexibilização deste conceito, provavelmente a Toro Rosso não teria se mantido por tanto tempo, a Sauber teria falido, a Force India jamais teria tido a ascensão que teve e a Haas sequer existiria.

Este segundo vespeiro precisa de definições já em 2018, uma vez que os novos motores estreiam em 2021. Mas ele também está mais adiantado, com as diretrizes já determinadas. Cabe a Brawn buscar levar esse conceito ao máximo para, desta forma, tornar realidade o tão necessário e polêmico teto orçamentário.

Estes dois vespeiros caminham juntos e não serão desfeitos com o autoritarismo pregado por Ecclestone ou desejado pela Ferrari.

Já a terceira missão da Liberty já começou a tomar forma mais com a mudança dos horários de largada das provas europeias + Brasil do que com o fim das grid girls: aumentar o apelo da F-1 para novos públicos. O primeiro campeonato virtual surpreendeu em termos de números mas, novamente, mudanças mais agudas só serão sentidas quando contratos atuais acabarem ou forem revistos – algo que eles têm tentado fazer. Em 2017, a NBC perdeu o contrato dos EUA porque a ESPN concordou em desenvolver as plataformas digitais que a Liberty poderá em dois ou três anos e a aposta é que todo o esforço de Ecclestone para encher os bolsos por meio de contratos com TVs a cabo perca o sentido, uma vez que a categoria se prepara para o dia em que a TV já não fará mais parte do cotidiano das pessoas.

Olhando assim, Ecclestone até está certo: a Liberty não fez muito até agora, tamanho o abacaxi deixado por ele mesmo. Mas os primeiros meses de total descrédito no paddock do início de 2017 já foram substituídos pelo início de uma relação de confiança com as equipes. E agora é o momento de agir para plantar os frutos que só poderão ser colhidos a partir de 2021.

Confira os horários dos GPs da temporada 2018

Horários do GP da Austrália de 2018 – de 23 a 25/03
Quinta-feira
Treino livre 1: 22h

Sexta-feira
Treino livre 2: 2h

Sábado
Treino livre 3: 0h
Classificação: 3h

Domingo
GP da Austrália: 2h10

Horários do GP do Bahrein de 2018 – de 6 a 8/04
Sexta-feira
Treino livre 1: 8h
Treino livre 2: 12h

Sábado
Treino livre 3: 9h
Classificação: 12h

Domingo
GP do Bahrein: 12h10

Horários do GP da China de 2018 – de 13 a 15/04

Quinta-feira
Treino livre 1: 23h

Sexta-feira
Treino livre 2: 3h

Sábado
Treino livre 3: 0h
Classificação: 3h

Domingo
GP da China: 3h10

Horários do GP do Azerbaijão de 2018 – 27 a 29/04
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP do Azerbaijão: 9h10

Horários do GP da Espanha de 2018 – 11 a 13/05
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Espanha: 10h10

Horários do GP de Mônaco de 2018 – de 24 a 27/05
Quinta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP de Mônaco: 10h10

Horários do GP do Canadá de 2018 – de 8 a 10/06
Sexta-feira
Treino livre 1: 11h
Treino livre 2: 15h

Sábado
Treino livre 3: 12h
Classificação: 15h

Domingo
GP do Canadá: 15h10

Horários do GP da França de 2018 – de 22 a 24/06
Sexta-feira
Treino livre 1: 7h
Treino livre 2: 11h

Sábado
Treino livre 3: 8h
Classificação: 11h

Domingo
GP da França: 11h10

Horários do GP da Áustria de 2018 – de 29/06 a 1/07
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Áustria: 10h10

Horários do GP da Grã-Bretanha de 2018 – de 6 a 8/07
Sexta-feira
Treino livre 1: 5h
Treino livre 2: 9h

Sábado
Treino livre 3: 6h
Classificação: 9h

Domingo
GP da Grã-Bretanha: 9h10

Horários do GP da Alemanha de 2018 – de 20 a 22/07
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Alemanha: 10h10

Horários do GP da Hungria de 2018 – de 27 a 29/07
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Hungria: 10h10

Horários do GP da Bélgica de 2018 – de 24 a 26/08
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Bélgica: 10h10

Horários do GP da Itália de 2018 – de 31/08 a 2/09
Sexta-feira
Treino livre 1: 6h
Treino livre 2: 10h

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP da Itália: 10h10

Horários do GP de Cingapura de 2018 – de 14 a 16/09
Sexta-feira
Treino livre 1: 5h30
Treino livre 2: 9h30

Sábado
Treino livre 3: 7h
Classificação: 10h

Domingo
GP de Cingapura: 9h10

Horários do GP da Rússia de 2018 – de 28 a 30/09
Sexta-feira
Treino livre 1: 5h
Treino livre 2: 9h

Sábado
Treino livre 3: 6h
Classificação: 9h

Domingo
GP da Rússia: 8h10

Horários do GP do Japão de 2018 – de 5 a 7/10
Quinta-feira
Treino livre 1: 22h

Sexta-feira
Treino livre 2: 2h

Sábado
Treino livre 3: 0h
Classificação: 3h

Domingo
GP do Japão: 2h10

Horários dos GP dos EUA de 2018 – de 19 a 21/10
Sexta-feira
Treino livre 1: 13h
Treino livre 2: 17h

Sábado
Treino livre 3: 16h
Classificação: 19h

Domingo
GP dos EUA: 16h10

Horários do GP do México de 2018 – de 26 a 28/10
Sexta-feira
Treino livre 1: 13h
Treino livre 2: 17h

Sábado
Treino livre 3: 13h
Classificação: 16h

Domingo
GP do México: 17h10

Horários do GP do Brasil de 2018 – de 9 a 11/11
Sexta-feira
Treino livre 1: 11h
Treino livre 2: 15h

Sábado
Treino livre 3: 12h
Classificação: 15h

Domingo
GP do Brasil: 15h10

Horários do GP de Abu Dhabi de 2018 – de 23 a 25/11
Sexta-feira
Treino livre 1: 7h
Treino livre 2: 11h

Sábado
Treino livre 3: 8h
Classificação: 11h

Domingo
GP de Abu Dhabi: 11h10

O que muda nos pneus da F-1 em 2018

http://www.youtube.com/watch?v=aetpq3pEAFE

A Pirelli fala nos “pneus mais rápidos da história da F-1”, enquanto Lewis Hamilton diz que o novo composto hipermacio é o “melhor que a marca já produziu” desde o retorno à categoria, em 2011. Após um ano em que acabou sendo mais conservadora, temendo a evolução de carros que foram, em média, 2s3 mais rápidos que em 2016 com as novas regras, a fabricante promete voltar a ter papel de protagonismo nas corridas.

Os pneus de 2017 em si não decepcionaram, mas muitas escolhas de compostos acabaram sendo mais conservadoras, até pelos problemas que ocorreram no passado recente, especialmente em pistas de alta velocidade, como Spa e Silverstone. E uma coisa ficou clara: o ultramacio, aquele que é sempre usado em pistas em que a energia colocada no pneu é menor, estava duro demais.

Para 2018, a Pirelli resolveu atacar em ambas as frentes: ao mesmo tempo em que tornou toda sua escala de compostos mais macia, criou o hipermacio, que seria dois degraus mais mole que o ultramacio de 2017.

Pelo menos na condição do teste de Abu Dhabi, uma das pistas novas com asfalto de mesa de sinuca e sem curvas de alta velocidade, em que os pneus facilmente se tornam longa-vida, o novo composto foi muito elogiado pelos pilotos, o que significa que ele se mostrou rápido e consistente. E, segundo as projeções, mostrou ser 1s mais rápido que o ultramacio. Imaginem como será a classificação em Mônaco…

Por outro lado, a Pirelli também homologou o pneu superduro, o que pode parecer contraditório à primeira vista, mas nada mais é que uma forma de se proteger caso os dois passos dados para aumentar o número de pit stops (tornar todos os compostos um degrau mais macios e criar o hipermacio) se mostrem exagerados ao longo do ano. Isso porque é possível que os carros se desenvolvam mais que o esperado e, neste caso, não haveria problemas de usar o superduro, temor que tem mais a ver com as pistas de alta da segunda metade do ano (Spa, Monza e Suzuka). Caso a Pirelli precisasse adicionar um novo composto ao longo da temporada, seria necessária uma decisão unânime das equipes e sabemos o quanto isso é difícil.

Para quem se perdeu em relação aos compostos, aí vai o quadro

Há diferenças também na construção do pneu dianteiro, visando tornar as janelas de temperatura em que o pneu rende melhor mais uniformes e previsíveis. Essa foi a grande dificuldade das equipes em 2017, especialmente na primeira parte do ano. O pneu macio acabou se tornando mais flexível que outros em termos de temperatura, funcionando bem no calor e durando bastante, o que fez com que a maioria das provas fosse vencida com uma parada. O objetivo deste ano, contudo, é voltar a ter duas ou até três paradas nas corridas e, com compostos mais próximos em termos de desempenho devido à introdução dos dois novos tipos, mais variação em termos de estratégia.

Não é nenhuma revolução, mas as mudanças parecem estar em um caminho positivo. Afinal, muitas das melhores corridas dos últimos anos aconteceram justamente quando carros com estratégias diferentes se encontraram nas últimas voltas, gerando indefinição até a bandeirada.

O que muda nos carros da F-1 em 2018

Depois das grandes mudanças de 2017, esta temporada terá mais estabilidade, mas ainda assim há duas alterações bastante visíveis: a adoção do halo e o fim das barbatanas. Fora isso, uma revisão na suspensão foi decidida bem tarde, em dezembro, e não agradou em nada Red Bull e Ferrari. Vamos às mudanças:

 

Adoção do halo:

Pode ser que dure apenas um ano. Afinal, a própria FIA reconhece que não é a melhor solução do mundo. Mas o fato é que o halo vai invadir várias categorias controladas pela entidade em 2018. Ele muito provavelmente não seria eficaz nos dois últimos acidentes mais graves da F-1 (Bianchi e Massa), é desaprovado pela grande maioria dentro e fora do paddock, mas foi o máximo que os engenheiros conseguiram desenvolver por enquanto. Entretanto, os estudos com coberturas mais parecidas a aviões de caça continuam e uma nova mudança pode vir já para 2019.

O halo traz implicações de aerodinâmica, peso e marketing e pode dificultar a saída do carro em alguns casos. Mas veremos isso com mais detalhe aqui no blog ainda em fevereiro.

 

Fim das barbatanas. De novo:

Quando as regras de 2017 foram estabelecidas, não foram colocados limites na área logo atrás do santantonio, dando a possibilidade dos engenheiros utilizarem pequenas asas para direcionar o fluxo aerodinâmico nas asas traseiras com as chamadas barbatanas de tubarão. E, especialmente nos circuitos mais lentos, a pressão aerodinâmica foi aumentada com asa asas T.

Para explicar melhor, o regulamento determina retângulos imaginários em várias áreas do carro nos quais não é permitido instalar quaisquer apêndices aerodinâmicos. E essa área em que antes víamos as barbatanas, agora está dentro destes retângulos.

 

Sem suspensão “inteligente”:

Uma das grandes batalhas da FIA nos últimos anos tem sido combater os inteligentes sistemas de suspensão que buscam imitar a velha suspensão ativa, controlando a altura do carro de diferentes formas, mas sempre tentando adaptá-lo a cada curva, a cada movimento, estabilizando esta altura de forma a melhorar o desempenho aerodinâmico do conjunto nas curvas e aumentando a aderência do carro.

Por anos, o foco foi a Mercedes. Em 2017, ele se voltou para os sistemas de Red Bull e Ferrari, que conseguiram relacionar a suspensão ao ângulo usado no volante, algo que está banido, pelo menos oficialmente, para 2018.

Motores longa vida:

Uma das regras mais polêmicas de 2018 já estava determinada desde que o regulamento de 2014 foi aprovado: no quinto ano desta geração de unidades de potência, cada piloto teria direito a apenas três delas (a grosso modo, pois são apenas duas baterias, MGU-Ks e centrais eletrônicas) durante a temporada. Porém, agora são disputadas duas corridas a mais do que naquela época e a tal UP deu muito mais trabalho do que era imaginado. Mesmo assim, devido à questionável bandeira da economia, a regra foi mantida.

Existe a possibilidade das equipes pouparem muito mais suas unidades, mas isso depende diretamente do nível de competitividade no campeonato. Na verdade, pode até ser positivo, pois mesmo se o líder tiver um ritmo muito superior, ele vai precisar dosar velocidade x confiabilidade.

O número de punições, todavia, deve aumentar e, prevendo isso, a FIA alterou mais uma vez a maneira como essas penas são dadas, tentando simplificar o sistema de formação do grid. Mas isso, também, é assunto para outro post…

Quem é quem em 2018: Mercedes

O que fez em 2017: Conquistou o tetra em seu primeiro duelo direto

O que muda para 2018: Aumenta a confiança no projeto. E a pressão em Bottas

Meta: Defender o título

A notícia de que o campeão Nico Rosberg se aposentaria acabou sendo o melhor cenário possível para a Mercedes às vésperas do que seria sua temporada mais difícil desde que começou a dominar a F-1, em 2014. Afinal, com o clima bélico mantido pelo alemão internamente e um carro que deu muita dor de cabeça para os engenheiros, o cenário poderia ter sido muito diferente.

Com um Valtteri Bottas que cumpriu seu papel de garantir os pontos que ajudariam o time a chegar ao tetra sem dificuldades e com um Lewis Hamilton impulsionado pelo primeiro embate direto com um tetracampeão, não faltou piloto à Mercedes. A caminhada, contudo, não foi simples: com a opção de uma distância maior entre eixos e por mudanças na suspensão, o carro acabou tendo interações com determinados tipos de compostos/tipo de asfalto/temperatura que pegavam os engenheiros desprevenidos.

Ainda bem que a Mercedes segue com seu modo de motor poderoso aos sábados e pôde minimizar os danos na primeira parte do ano. Na segunda, com sua incrível confiabilidade e um carro mais previsível, fechou ambas as faturas.

Mas, repetindo a pergunta do post ferrarista, o que isso significa para esta temporada? Até o fim da parte asiática da temporada, havia a crença no paddock de que a Mercedes teria de mexer muito no projeto para torná-lo mais previsível e fácil de acertar, enquanto a Ferrari poderia continuar seguindo a mesma linha e aprimorando-a. Depois que os alemães se acertaram na parte final, essa corrente diminuiu.

Se a Mercedes realmente se acertou a ponto de não ter mais que se defender da Ferrari, a pressão, que já é grande em cima de Valtteri Bottas, ficará gigantesca. O finlandês tem a sombra de Esteban Ocon e até de Daniel Ricciardo, esperando os primeiros movimentos do mercado. E se Hamilton continuar no mesmo nível de 2017, vai ser difícil batê-lo.

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Quem é quem em 2018: Ferrari

O que fez em 2017: Passou de um longínquo terceiro para ver seu piloto liderar a maior parte do campeonato

O que muda para 2018: Aí que está a dúvida! Muda algo?

Meta: Disputar o título

Quando se olhava para o grupo de jovens engenheiros responsáveis pelo projeto da Ferrari de 2017, o temor era para uma campanha pior até do que no ano anterior, quando o time foi amplamente superado pela Red Bull. Ainda mais depois que seu diretor técnico, James Allison, saiu do time no meio do projeto do que seria um carro totalmente novo, para alinhar-se a um regulamento modificado.

Para piorar, início do desenvolvimento do projeto já tinha sido dificultado pela ausência de Allison devido à morte repentina da esposa em março, e eram constantes os rumores de que Maurizio Arrivabene não duraria no cargo.

Mas eis que, quando menos se esperava dela, a Ferrari ressurgiu das cinzas. O motor foi o que mais evoluiu com o fim dos tokens e o chassi pode ser considerado o melhor “all rounder” do grid. Sua maior força em relação à Mercedes era nas curvas de baixa, devido à distância menor entre eixos, mas uma série de soluções inteligentes e simples, especialmente na suspensão, fazia do carro “pau pra toda obra”, o que deu a chance a Vettel de permanecer nas primeiras 12 etapas na liderança. Depois, quando a Mercedes passou a compreender melhor seu equipamento, passou a ser mais difícil bater os rivais, mas ainda assim a diferença foi pequena: em média, 0s179 em relação às voltas mais rápidas do final de semana. E era em ritmo de corrida que a Ferrari crescia.

Provavelmente entendendo que essa evolução da Mercedes significa que a vantagem nas curvas de baixa já não seria suficiente, a Ferrari decidiu seguir mais a linha dos rivais em 2018. Além disso, os sinais no geral são mais positivos do que as etapas finais da temporada poderiam levar a crer. Afinal, as quebras que a Ferrari teve ou foram em decorrência de um problema já resolvido no turbo, ou por detalhes operacionais mais fáceis de rever, e as últimas duas corridas foram “contaminadas” pelo rendimento do motor novo de Hamilton.

Outra boa notícia de 2017 foi a de que o desenvolvimento ao longo do ano, algo que vinha sendo o calcanhar-de-Aquiles há anos na Ferrari, foi bastante competente, e nas últimas corridas o time já estava testando trabalhar com um rake maior, visando melhorar a pressão aerodinâmica da parte traseira do carro (algo que funciona bem em conjunto com uma distância entre eixos maior) e resolver um problema que, de fato, dificultou a vida do time ano passado: a lentidão na comparação com a Mercedes em curvas de raio longo, o que ocasionou lavadas duras em Silverstone e Spa.

Talvez perder cedo o campeonato de 2017 tenha sido um bom negócio.

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Quem é quem em 2018: Red Bull

O que fez em 2017: Venceu três corridas. E quebrou muito

O que muda para 2018: Verstappen em ascensão e com ares de dono da equipe. E promessa de rivalidade com a McLaren

Meta: Disputar o título

A lógica apontava que o regulamento de 2017 seria uma grande oportunidade da Red Bull incomodar a Mercedes. Mas o nível de evolução acabou ficando no mesmo nível em relação aos prateados – ambos foram, em média, algo em torno de 2s25 mais velozes que em 2016 – e, para piorar a situação, a Ferrari deu um forte salto e ultrapassou o time de Verstappen e Ricciardo.

Isso aconteceu muito em função de um carro difícil de ser compreendido e é de se notar que a diferença em relação à pole só ficou acima de 1s em duas das 10 etapas da segunda metade do ano – justamente Monza e Suzuka, onde o motor fala alto. De fato, se o desenvolvimento da Red Bull ao longo do ano manteve a tendência de ser mais acelerado que os rivais, o motor Renault deixou a desejar tanto em evolução, quanto em confiabilidade – foram nove quebras no total.

E é justamente em relação ao motor que estão as dúvidas que pairam sob a Red Bull neste ano: ele avançará o bastante para colocar a própria Red Bull e a McLaren na briga? Ou será que o fim do contrato com os franceses vai deixar sua marca negativa em 2018? Não passou despercebido o fato do time e da Toro Rosso terem mudado seus nomes, que agora são Aston Martin Red Bull Racing e Red Bull Toro Rosso Honda. Seria o primeiro passo para a criação da Aston Martin Racing e a Red Bull Honda?

Todas as questões acerca do “qual será o motor da Red Bull em 2019?” devem ser ainda somadas às especulações em relação ao futuro de Daniel Ricciardo. Mesmo tendo terminado os campeonatos de 2016 e 2017 na frente de Max Verstappen, duas coisas estão claras: a evolução do holandês – e de sua influência dentro da equipe, motivo pelo qual, inclusive, Carlos Sainz vez de tudo para sair da esfera da Red Bull. Mas, com o veto de Vettel na Ferrari, como fica a situação do australiano tanto em termos de barganha interna, quanto em suas aspirações futuras? Por essas e outras não falta pressão no time logo nos primeiros meses do ano.

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Quem é quem em 2018: Force India

O que fez em 2017: Mais uma vez, maximizou seu orçamento como ninguém.

O que muda para 2018: Ocon tem tudo para ganhar espaço. E competição deve endurecer

Meta: Seguir no top 4

Quando a chefia da Force India apontou no início do ano passado que seu objetivo era ficar no top 4 na temporada, muita gente duvidou. Mas com uma dupla de pilotos forte e uma confiabilidade mais incrível ainda, o time chegou lá com sobras. Isso, mesmo vendo seu dono envolto em muitos problemas judiciais – e financeiramente sobrevivendo a tudo isso. Mas e agora que a McLaren tem um motor novo e a Renault vem em franca ascensão?

Para completar o ano de dúvidas, aquele que pode ser o grande trunfo do time também pode se tornar a fonte de problemas: Esteban Ocon mostrou suas garras logo em sua temporada de estreia – em todos os sentidos. Ficou a 13 pontos de Sergio Perez, muito em função de sua inteligência nas corridas em um ano em que cada um teve um abandono. E não deixou barato em todas as vezes nas quais o mexicano, que tem muito apoio interno devido a seus patrocinadores, quis demarcar terreno.

A tendência natural é que Ocon ganhe confiança – ainda mais se Valtteri Bottas não corresponder em sua segunda temporada na Mercedes, possivelmente abrindo uma vaga na qual o francês está de olho. E que Perez não fique calado.

Enquanto a posição da Force India em relação às rivais tem muito a ver com a evolução do motor Renault e ainda seja uma incógnita, a certeza é que o duelo interno promete para 2018.

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Quem é quem em 2018: Williams

É o ano dele

O que fez em 2017: Foi o carro que menos evoluiu no grid

O que muda para 2018: Menos experiência no cockpit e dinheiro no bolso. Mas o primeiro projeto comandado por Paddy Lowe.

Meta: Manter-se no top 5

Em 2017, foi por pouco: ainda que a tabela do campeonato aponte para uma diferença significativa de pontos, se a Renault não tivesse quebrado tanto, seria difícil para a Williams manter o quinto lugar, algo que já não é muito animador para quem foi terceiro com sobras em 2014.

Neste ano, a tendência é que dois rivais cresçam: a Renault, que vem em franca ascensão depois da reestruturação técnica, e a McLaren, que passa a usar o motor francês. Pelo menos pelo que ambas demonstraram na parte final de 2017, a tendência é que a Williams comece o ano fora da zona de pontos.

A esperança do time é o norte dado pelo diretor técnico Paddy Lowe, que chegou tarde demais ano passado para fazer diferença em termos de projeto. Vindo da Mercedes a peso de ouro, o engenheiro implementou novos sistemas ao longo do ano e é bem verdade que eles não resultaram em um desenvolvimento mais certeiro do carro. Pelo contrário: a Williams viveu a mesma estagnação ao longo da temporada dos últimos anos.

A real influência de Lowe e do aerodinamicista Dirk de Beer – esse destacado por Felipe Massa como alguém de grande valor para o time – é apenas uma das incógnitas. Lance Stroll evoluiu durante 2017, mas seu início foi muito ruim, ou seja, era evidente que a curva de ascensão seria forte. E o russo Sergey Siroktin chega com um currículo pouco invejável – ainda que com mais experiência que o próprio Stroll – em um duelo que pode se tornar o mais “fura bolão” da temporada.

Pelo menos sua contratação melhora a perspectiva de orçamento da equipe, que era inicialmente de perda de 30 milhões em relação a 2017. A contratação de Robert Kubica como reserva parece sensata, uma vez que  a grande valia do polonês desde o acidente tenha sido ajudar no desenvolvimento de diversos tipos de carro, devido a sua capacidade técnica, algo que sempre foi muito destacado pelos engenherios que trabalharam com ele. Ainda assim, ao que tudo indica a Williams terá menos dinheiro para fazer mais do que ano passado para, pelo menos, continuar na mesma em termos de campeonato, ainda mais com a promessa de crescimento de rivais diretos.

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Quem é quem em 2018: Renault

O que fez em 2017: Foi a equipe que mais cresceu no ano

O que muda para 2018: Vai pontuar com os dois pilotos

Meta: Top 4

As temporadas de 2016 e 2017 seriam de reestruturação depois do rombo deixado pela Genii, mas os frutos já começaram a aparecer: a Renault começou o ano com o segundo pior carro do grid e terminou lutando para ser a quinta força com McLaren e Williams, sendo o carro que mais evoluiu em 2017. A média de crescimento em relação ao ano passado foi de 3s26, enquanto a maioria ficou por volta dos 2s de ganho devido às novas regras.

Em termos de evolução, não há motivos para que essa tendência não continue. Porém, fica a expectativa para o tamanho da melhora da McLaren e outra realidade que o próprio time inglês também pode ter que enfrentar em 2018: a falta de confiabilidade do motor Renault. Ano passado, foram 11 abandonos por problemas técnicos apenas com o time de fábrica (e mais nove com a Red Bull e sete com a Toro Rosso, enquanto a McLaren-Honda teve oito no total). Especialmente se a meta da Renault, que agora deve pontuar com ambos os pilotos, ainda que Carlos Sainz tenha sido quem por mais vezes abandonou por acidente em 2017, for passar a Force India, a confiabilidade será fundamental.

Falando na dupla de pilotos, impossível não destacar que Hulkenberg foi o único a bater seus companheiros em todas as classificações em 2017. Agora, enfrentará talvez o páreo mais duro da carreira.

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Quem é quem em 2018: Toro Rosso

Será a transferência dos problemas ou o começo da virada?

O que fez em 2017: Terminou o ano com dois pilotos diferentes do que começou. E um novo projeto em mãos.

O que muda para 2018: Muito. Terá pilotos menos experientes em F-1, mas se tornará a equipe de fábrica da Honda, ainda que sem o mesmo aporte financeiro da McLaren.

Meta: Pontuar em todas as provas

Muitos olhos curiosos estarão voltados à Toro Rosso neste ano. Até porque a chegada da Honda não significa apenas uma mudança de fornecedor de motores, mas pode ser o primeiro passo para toda uma reestruturação da própria equipe e sua relação com a dona Red Bull, em desdobramentos sobre os quais abordarei no preview da equipe principal.

Para a Toro Rosso, caberá em 2018 o papel de servir como plataforma de desenvolvimento do motor japonês, o que impactou negativamente na evolução do carro do ano passado e fez com que o time terminasse apenas em sétimo, após ficar o ano todo à frente da Renault, algo obtido especialmente com um forte início, prova da competência técnica do time.

Isso, mesmo em meio a muita tensão causada por um claramente infeliz Carlos Sainz, que não sossegou até sair, e um Daniil Kvyat em sua pior temporada. Se a promoção de Pierre Gasly era uma questão de tempo, chamar Brendon Hartley de volta foi, no mínimo, uma surpresa, e o rendimento da dupla de pilotos é uma das incógnitas do ano para uma equipe que já não deve olhar com muita animação ao limite de três unidades de potência no ano. Ainda que se espere uma melhora da Honda, que já começou a aparecer no final de 2017, ela não será da noite para o dia.

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Quem é quem em 2018: McLaren

Os dias de sofrimento acabaram?

O que fez em 2017: Superou apenas a Sauber. E quebrou. Muito

O que muda para 2018: Sai Honda e, a crer no que dizem os membros da equipe, uns 80% dos problemas.

Meta: Voltar a vencer

Quando a pré-temporada de 2017 começou, era grande a expectativa em relação aos ganhos obtidos pela Honda. Afinal, sem os tokens de desenvolvimento, os japoneses puderam rever os conceitos equivocados de sua unidade de potência e entrar nos trilhos. Entretanto, a expectativa de uma evolução muito acentuada começou a naufragar já na pouca quilometragem dos testes coletivos, e Fernando Alonso chegou a dizer que sequer correria pelo time na temporada.

Talvez ele se arrependa de ter voltado atrás. O motor Honda de fato evoluiu ao longo do ano, mas a duras penas: Alonso e Vandoorne usaram mais de 10 motores para completar as 20 corridas do ano, e só começaram a ver sinais mais claros de melhora, tanto de potência, quanto de recuperação de energia, possibilitando a manutenção de ritmos de corrida mais uniformes, justamente depois do anúncio de que a parceria entre McLaren e Honda estava com os dias contados,

Mas seriam os problemas da McLaren apenas relacionados ao motor? O que os engenheiros do time vêm bradando há três anos está prestes a ser comprovado. Julgando pelos números de 2017, contudo, a história pode não ser bem essa. Nos circuitos em que o motor tem menos interferência, como Mônaco, Cingapura e Budapeste, a McLaren foi pelo menos 2s mais lenta em classificação, o que não é o melhor dos sinais.

Porém, segundo a equipe, o carro está no mesmo nível da Red Bull, o que significa que, com o mesmo motor Renault, Alonso e Vandoorne estarão lutando por pódios – e o espanhol até podendo usar sua leitura de corrida para voltar a vencer depois de cinco (!) anos.

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Quem é quem em 2018: Sauber e Haas

Começam hoje os previews das equipes para esta temporada, desde o fundo até a ponta do pelotão. E conto com a participação de vocês para apostar o que vai acontecer com cada uma delas em 2018.

Alfa Romeo Sauber

O que fez em 2017: Prometeu melhorar com mais investimento, mas carro parou de evoluir no meio do ano

O que muda para 2018: Não está claro em termos práticos, mas o branding da Alfa Romeo deve aproximar o time da Ferrari e melhorar a performance. Muita expectativa em cima do estreante Leclerc

Meta: Sair da lanterna

Havia grande expectativa em relação ao trabalho de Frederic Vasseur no comando da Sauber, e a guinada, pelo menos no papel, se mostra positiva: depois de correr com motores antigos em 2017, a equipe agora não apenas volta a contar com os Ferrari atuais, como também com uma parceria comercial que tem tudo para aumentar o potencial de marketing da equipe.

Porém, será necessário continuar o desenvolvimento do aparato técnico da equipe, algo iniciado com a venda para o grupo suíço de investimentos em meados de 2016 para acabar com um déficit que terminou a temporada passada sendo bastante significativo: enquanto o time começou o ano a 3s3 do líder e a 0s2 da rival mais próxima naquele momento, a Renault, terminou 4s atrás da ponta e a 1s do carro mais próximo.

Em relação aos pilotos, já foram duas as promessas engolidas pela politicagem interna nos últimos dois anos. Agora, todos os olhos estarão voltados para Charles Leclerc, um jovem que parece ter muito mais do que seus 20 anos, e que demonstrou na F-2 tanto ter um forte ritmo, quanto saber ultrapassar.

Haas

O que fez em 2017: Começou bem, depois se perdeu

O que muda para 2018: Nada. Talvez por enquanto

Meta: Pontuar em todas as provas

Ano de tudo ou nada para Grosjean

O cenário não é estranho: a Haas começou o ano bem, mesmo com uma mudança de regulamento aerodinâmico, mas se perdeu ao longo do ano. E, assim como na temporada de estreia, foram falhas que se repetiam e problemas operacionais, frutos de uma equipe formada em sua maioria por membros com pouca experiência em F-1. Isso, mesmo em um ano no qual a “equipe A” melhorou tão significativamente em relação à performance.

E os pilotos também não ajudaram: Romain Grosjean mais reclamou do que pilotou, e Kevin Magnussen se tornou o grande alvo dos pilotos por sua maneira agressiva de defender posições, ainda que fique claro que apenas um dos cinco abandonos foi por acidente, Mas o fato é que, em termos de performance, nenhum dos dois chamou a atenção, e ainda assim eles continuam, o que pode ser considerado mais um erro operacional para a conta de um time que pode estar com seus dias contados da maneira como é hoje, uma vez que a parceira Ferrari já indica que a Fiat pode usar outra de suas marcas e acabar com o sonho de Gene Haas de um time norte-americano na F-1.

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Meus 20 e poucos anos…

Dia desses li uma frase do tipo: “Max Verstappen foi um dos melhores pilotos do ano, ele tem 20 anos, e temos que lidar com isso”. É claro que o fenômeno holandês tem traços únicos em sua história, que o colocam em posição de lutar por vitórias mesmo com tão pouca idade, mas Max não é o único recém saído da adolescência que chega chamando a atenção na F-1.

Tendo sido contratado pela Red Bull ainda aos 16 anos e ganhando uma chance logo em seguida devido à disputa com a Mercedes, Verstappen está evoluindo diante de todos – e especialmente neste ano demonstrou um crescimento muito forte. A ponto de Lewis Hamilton já demonstrar sentir que é ele, e não Sebastian Vettel ou mesmo Daniel Ricciardo, quem vai incomodá-lo nos próximos anos.

Verstappen hoje comete muito menos erros do que no passado, mas mantém a agressividade. É verdade que em termos de racecraft ainda não pode ser comparado ao próprio Hamilton ou a Ricciardo – que, aliás, tem nas decisões que toma na pista seu grande diferencial – mas o crescimento dele em classificação e ritmo de corrida foram marcantes em 2017 e apontam para um futuro brilhante. Isso, juntamente da onda de fãs que Verstappen já leva consigo especialmente nas provas europeias, leva a crer que estamos vendo apenas os primeiros passos do grande campeão do futuro próximo.

Mas Max não está sozinho. Foi interessante ver Esteban Ocon em quinto lugar – Max manteve o segundo que já conquistara ano passado – na votação feita pelos chefes de equipe. Em seu primeiro ano, o francês de 21 anos impressionou dentro e fora das pistas. Ele foi amplamente superado por Sergio Perez em classificação, mas em corrida constantemente chegou à frente do que largou, o que fez com que terminasse seu ano de estreia a 13 pontos de um companheiro que, reconhecidamente, brilha mais aos domingos. Mais que isso, Ocon por várias vezes na temporada conseguiu ser tão rápido quanto Perez conservando melhor os pneus, o que sempre foi a grande qualidade do mexicano.

http://www.youtube.com/watch?v=yazG8xnfepU

Fora das pistas, Ocon tem uma personalidade interessante: ao mesmo tempo em que é muito simpático, não esconde uma forte ambição, e não se intimidou mesmo quando Perez fez toda a pressão do mundo (dentro e fora da pista) especialmente após os dois toques de Spa. Neste seu primeiro ano, ficou claro que o francês não vê Perez como um sério rival: seus olhos estão em uma vaga na Mercedes.

Mirar alto também faz parte do repertório de Charles Leclerc. Sua pilotagem em 2017 foi incrível, ao ponto de gerar a desconfiança dentro da F-2 de que recebeu pneus melhores em alguns momentos, como no GP da Bélgica, quando abriu simplesmente um segundo por volta por toda a prova. Mas isso não tira o brilho de um campeonato que teve performances brilhantes como em Baku.

Leclerc é outro jovem piloto, nascido no mesmo 1997 de Verstappen, marcado pelos ataques agressivos. Mas fora das pistas é bastante diferente, sendo conhecido por soar muito mais velho do que na realidade e pela educação.

Veremos como ele se porta no mundo da F-1 e em uma equipe que está se tornando uma moedora de carreira de jovens promissores. Sorte dele que, com a presença mais forte da Ferrari e a necessidade quase iminente de encontrar um substituto para Kimi Raikkonen que passe pelo crivo de Vettel, a tendência é que o cenário lhe seja favorável. E quem sabe não veremos um garoto de 21 anos em um carro da Scuderia lutando com outro da mesma idade na Red Bull e um terceiro com 22 anos na Mercedes em 2019?

Campeões S/A

Hora de promover marca de surf… quer dizer, de correr nos EUA

Foi difícil não cair na risada ao receber um comunicado de imprensa da McLaren no final do ano passado com os dizeres: “McLaren confirma Kimoa como parceira oficial de surfwear”. Primeiro, porque é difícil imaginar qual o paralelo entre o surf e a F-1, mas principalmente por ser a McLaren, conhecida pelo ar sisudo muito em função dos anos sob o controle de Ron Dennis. Mas o time tem apostado em uma mudança e ela tem sido cuidadosamente observada e aproveitada justamente por alguém que o próprio Dennis fez sair pela porta dos fundos há 10 anos.

Para quem não sabe, Kimoa não é um projeto de um surfista, mas sim de Fernando Alonso e um grupo de amigos. Um projeto moderno, apostando em vendas online ao invés de lojas físicas e usando fortemente as mídias sociais do piloto – e agora sua equipe – para se promover.

Além disso, Alonso viu outras oportunidades de negócio dentro de “seu” mundo. O piloto fez um museu ao lado da pista de kart de alto nível que ele mesmo desenhou e que recebe inclusive etapas do campeonato europeu – e deve sediar o mundial em breve. Lá, também são dadas aulas de educação vial para escolas e são promovidos “campings” para instruir jovens kartistas. Alonso também ganha dinheiro produzindo seus próprios karts (o FA Kart) e toda uma série de produtos relacionados ao esporte – macacões, balaclavas, etc. Ah, e os motores usados no Circuito Fernando Alonso, localizado em La Morgal, nas Astúrias, são Honda, ok?

A partir do ano passado, outra relação construída por meio da McLaren foi usada por Alonso: a Logitech, do ramo de acessórios para games, se tornou a parceira oficial da equipe FA Racing G2, de automobilismo virtual, que terá roupas… Kimoa.

São estratégias que Nico Rosberg vem tentando, mas claramente sua marca não tem tanto apelo. O alemão perdeu a condição de embaixador da Mercedes por pedir dinheiro demais e vem apostando em parcerias mais óbvias para pilotos, como relógios e marcas de roupas sociais masculinas, ao mesmo tempo em que está de olho – como muita gente, aliás – na Fórmula E como uma boa plataforma para o futuro.

Mas é impossível falar em futuro sem pensar em Lewis Hamilton, o rei das mídias sociais e quem mais se conecta e lucra com o mundo atual, ainda que esteja passando por uma fase de “DR” com elas, tendo deletado todas as suas postagens após uma chuva de críticas pelo vídeo em que criticava uma criança por escolher usar um vestido. Ainda assim, ele é, de longe, o piloto mais seguido – tem 5,6 milhões de seguidores no Instagram. Lá, sempre cita(va) seus parceiros, que vão de marca de relógio, algo até corriqueiro para pilotos, até marca de bebida energética (quem nunca viu o rosto dele estampado na latinha da Monster?), fone de ouvido por meio das playlists de Spotify que divulga, de cosméticos. Muitas delas também ligadas à Mercedes e que também têm seus contratos específicos com o piloto.

O fato é que, para Hamilton, esse parece ser apenas o ponto de partida. Perguntei a ele recentemente sobre esses projetos e o piloto mal podia esconder sua empolgação. “Sou muito bom em outras coisas além de correr e espero que as pessoas recebam bem as coisas que vou fazer”. Quem aposta o que vem por aí?

Uma F-1 sem brasileiros no grid?

Então a Fórmula 1 não vai ter brasileiros ano que vem. Certo? A história não é bem essa. Dois profissionais do país já estão por lá faz tempo e não dão sinal de que vão parar por aqui: Ricardo Penteado é o chefe de operações de pista da Renault. E João de Carvalho Souza, mecânico da Williams.

João, ou Joe, como foi apelidado por muita gente dentro da F-1, está há tanto tempo na categoria que o português não está mais na ponta da língua. Também, pudera. O santista entrou no esporte graças a Christian Fittipaldi, com quem já trabalhava desde a época do kart e quem o levou ao paddock em 1994. Além de acompanhar o piloto na equipe Footwork, ele passou também pela Tyrrell, Arrows, Super Aguri e Force India antes de chegar à Williams.

Já Penteado vem de Florianópolis e começou na Renault em 2001. A relação com a empresa começou ainda na graduação na Federal de SC, mas por meio de um programa que a fábrica de Curitiba mantinha com a universidade. Durante seu estágio lá, foi perguntando qual era o caminho para chegar à F-1 como engenheiro de motores.

A indicação foi para uma pós-graduação específica, o que o levou à França e, posteriormente, à operação de motores de F-1 da Renault, o que lhe deu a oportunidade de trabalhar com pilotos como Fernando Alonso, Robert Kubica e Kimi Raikkonen.

Hoje, assim como João o português já está meio enferrujado, com um leve sotaque francês fruto da vida no país com a esposa, também francesa, e os dois filhos. No paddock, é visto com a roupa amarela da equipe Renault, mas tem um papel de supervisão em todas as equipes Renault.

Também é fato que há houve mais profissionais do país na categoria, ainda que, ao mesmo tempo, sejam insistentes os boatos de um retorno da Petrobras, o que poderia causar mais uma “invasão” brasileira. Ao mesmo tempo, assim que foi feito o anúncio da aposentadoria de Massa, os próprios olhos da imprensa se voltaram a quem está mais próximo da F-1, Sergio Sette Camara, que terá em seu segundo ano de F-2 provavelmente a chance de disputar o título ao lado da promessa da McLaren Lando Norris na Carlin, e aos kartistas Gianluca Petecof e Caio Collet, que vêm tendo bons resultados na Europa.

Ao mesmo tempo, a Liberty parece começar a entender a importância dos números do país, ainda líder de audiência com grande sobra no mundo – tem quase o dobro de alcance da segunda colocada, a Itália. Não que sem brasileiro a F-1 não sobreviva, longe disso, mas não há como negar que o esporte já se enraizou no país faz tempo.

As interrogações de 2018

Enquanto uns fazem suas mandingas para começar bem o ano e outros apostam nas listas de mudanças que muitas vezes não saem do papel, os fãs de F-1 já devem estar com altos níveis de abstinência e cheios de perguntas. Afinal, o que vai acontecer na temporada que começa em 11 (!) semanas?

 

Ferrari do início de 2017 ou a Mercedes do fim do ano?

Há duas maneiras de olhar essa questão. Em teoria, a Ferrari teria vantagem por ter um projeto mais equilibrado, que pode ter os conceitos continuados e aprimorados para a próxima temporada. E o caminho que a equipe escolheu para fazer isso pareceu claro nos testes feitos no final de 2017: aumentar o rake para dar mais pressão aerodinâmica – e tornar o carro cada vez mais parecido com a Red Bull. Mas a Mercedes jogou as teorias para o lixo com a grande melhora de compreensão de seu carro que teve na segunda metade do ano passado. Esperava-se que o time tivesse de jogar seu conceito de carro longo no lixo e começar tudo do zero, o que daria vantagem à Ferrari, mas descobertas importantes foram feitas nos últimos meses do ano e podem ser o início de mais um ano muito forte do time prateado.

 

Onde a McLaren se encaixa?

Há muita especulação acerca do real déficit do motor Honda. De 80 a 160cv, ouve-se de tudo, ainda que seja difícil simplificar as deficiências em números de potência. Nível mais alto de de-rating, confiabilidade, falta de um modo mais agressivo para classificação e alto consumo de combustível entram em uma equação difícil de fechar. Mas tudo ficará mais claro a partir do momento em que o motor Renault estiver na traseira dos carros de Alonso e Vandoorne e o time entrar em comparação direta com a Red Bull. Além disso, o time nega, mas é difícil imaginar que não vão haver dificuldades para encaixar um motor bem diferente a um projeto que foi pensado para ser integrado ao Honda. A McLaren deve “engordar” um pouco e também deve estar esperando uma melhora dos franceses. Afinal, a Red Bull teve 13 quebras em 2017 e isso é uma preocupação especial agora que o limite de UPs no ano é de apenas três. Neste quadro, não é difícil imaginar que Alonso vá conseguir beliscar um ou outro pódio, mas é difícil ver além disso.

 

Quais as consequências do halo?

Os engenheiros já estão sentindo na pele – e nos CFDs: o halo afeta e muito a aerodinâmica do carro, algo que vamos falar mais a fundo ao longo da pré-temporada. Para os fãs, certamente ficará o estranhamento no início e, para muitos deles, a sensação de que o perigo é coisa do passado, o que pode ser ruim para a popularidade da F-1 no futuro – ainda que esperemos que o halo não dure tanto assim, uma vez que Jean Todt já acenou que as pesquisas para o uso de algum tipo de escudo continuam. Mas e para os pilotos? Será que vai ter gente culpando o halo por acidentes? Ou mesmo ficando preso dentro do carro após uma batida?

 

Como o Brasil vai reagir à seca de representantes?

Os números podem dizer que será a primeira vez desde 1969 que o Brasil não terá um representante, mas na verdade é uma realidade totalmente nova, uma vez que o esporte era incipiente naquela época. Por um lado, convenhamos que quem acompanha a F-1 para ver brasileiro vencer já deve ter desistido há algum tempo. Por outro, até por nossa cultura esportiva ter muito a ver com patriotismo – e estamos longe de ser os únicos que agem dessa forma – pode ser estranho não ter um representante. Porém, todos os números não indicam uma queda a curto prazo. A própria audiência da Globo no GP da Hungria do ano passado, por exemplo, ficou acima da média do ano. E nem foi lá uma grande corrida. O problema é se isso continuar por muitas temporadas.

 

Como serão as dinâmicas entre companheiros?

Há algumas duplas no grid que prometem chamar mais a atenção. Há muita expectativa, claro, em relação ao segundo ano de Valtteri Bottas na Mercedes. Os olhos também estarão voltados a uma dinâmica que vem em transformação, na Red Bull, com Max Verstappen ganhando muito espaço no time e Daniel Ricciardo tendo de definir seu futuro. Em uma Renault que tem tudo para estar muito mais forte em 2018, uma eterna promessa e uma promessa cheia de altos e baixos ficarão frente a frente, e a Force India tem tudo para viver outros capítulos tensos entre Perez e Ocon. Até porque o francês está louco para arrumar uma vaguinha na Mercedes.

Turistando na F-1: Perrengues e causos de 2017

Teve perrengue na Hungria, mas também teve esse pôr-do-sol

Muitos temas técnicos e de estratégia passaram pelo blog neste ano, mas para encerrar as postagens de 2017 e já em clima de saldão de final de ano, escolhi um tema mais light: um turistando diferente, quase um lado B das viagens.

Sim, porque viagem sem perrengue não tem graça. E somando viagem e cobertura então, nem se fala.

 

Na fila do “SUS” na China: Lá fui eu ter um cálculo e infecção renal na China. Senti a pontada familiar ainda na quinta à noite, trabalhei com febre, por pouco não desmaio de dor no cercadinho. Na segunda vou com o colega chinês Frankie Mao ao hospital. Na sessão de estrangeiros não há urologista, então me encaminham para a fila normal. Pensem em um hospital superlotado no Brasil, mas com a população na China. Frankie me convence que jamais seria atendida. Estávamos desistindo, andando meio sem rumo na fila, quando vejo uma clínica particular. Saiu caro, mas nunca fui tão bem atendida na vida. Em uns 2 dias já estava 100%.

 

O glamour do grid de Mônaco: Não existe teste que você possa fazer para a conexão para o grid: na hora o sinal sempre estará mais fraco. Eu tinha dois celulares, com opções online e via ligação mesmo, e simplesmente nada funcionava. Na verdade tinha um pequeno espaço em que conseguia conexão, mas lá não conseguiria entrevistar ninguém. Qual a saída? Gravar entradas via whatsapp e ir correndo até a área de boxes para conseguir enviar para a rádio. Haja glamour!

 

A aventura das reservas de hotel em Baku: Vamos para o interior do Japão, onde obviamente a cultura é bem diferente da ocidental. Para o Oriente Médio, ainda que em lugares mais liberais, como Bahrein e Abu Dhabi. Mas acho que o grande choque é o Azerbaijão. O povo lá não parece entender que seja possível uma mulher viajar sozinha a trabalho. E os hoteis também não compreenderam que a maioria das pessoas que trabalha na F-1 faz com muita antecipação suas reservas. Pois, bem. Eu tive que mudar de reserva depois que a minha original foi cancelada, ainda em novembro. Achei um hotel muito perto da pista, preço ótimo. Até que, em maio, começo a receber mensagens no meu whatsapp (o número estava na reserva do booking.com) perguntando se eu ia mesmo para lá. Não quis dar muitos detalhes por problemas que tive no ano anterior, mas no final das contas tive que dizer que trabalharia no GP. “Mas você deve conhecer homens muito poderosos, não precisa ficar no nosso hotel”. Eu juro que essa foi a resposta.

Depois de MUITOS problemas para confirmar a reserva e ligações em vídeo que jamais atendi e uma mudança no tom depois que o sujeito que me mandava as mensagens percebeu que aquilo não daria em nada, decidi correr o risco: como me foi pedido pelo dono do hotel, cancelei a reserva no booking e confiei que ele me buscaria de graça no aeroporto e cobraria menos pelo quarto. E foi isso mesmo que aconteceu. Claro que tudo tem um porém e tive que responder com o máximo de educação possível convites para jantar e coisas do tipo. Para o ano que vem, reservei dois hoteis, diferentes dos de 2016 e 2017. Um já cancelou.

 

Londres sempre de pé

Londres atacada: A cada atentado feito na Europa neste ano, meu pai simplesmente ligava para minha irmã, sem falar nada. Ela atendia já dizendo “ela não está lá”. Ainda bem que, na única vez em que realmente estava perto eu consegui avisar antes. Foi no ataque na London Bridge. Era dia da final da Champions League e estava em um pub no centro com amigos. O retorno para casa não foi fácil, pois havia vários boatos de outros ataques, não confirmados, mas me chamou a atenção a calma e o preparo dos policiais e a cabeça erguida com que todos andavam na rua, quase como num ato de resistência inconsequente. Ao entrar no metrô, um homem tocava “Imagine”. Todos os que iam entrando lhe deixavam uma moeda. Todos queriam imaginar um mundo de paz.

 

O furto da Hungria: Há várias europas dentro da Europa e a Hungria não está entre as mais ricas e civilizadas delas, algo que se nota facilmente ao andar nas ruas. Confesso que, logo que li as instruções para entrar no apartamento que alugara no Booking.com já não gostei muito: três portas abertas por um mesmo código e depois uma chave que estava na caixa de correio. Como estava dividindo o apartamento com outras pessoas e só tínhamos uma chave, deixávamos a chave lá. Até que muito provavelmente nossos vizinhos (que eu inclusive tinha ajudado pouco tempo antes) entraram no apartamento e roubaram uma boa quantia em dinheiro e meus cartões. Tentei fazer boletim de ocorrência mas o descaso da polícia era óbvio. “Espere 2h aí e pode ser que alguém chegue”. E foi bem naquele fim de semana da indisposição do Felipe.

 

Pela Europa de carro: Quando a temporada já está do meio para o final e você não aguenta mais ver aeroporto na frente, a ideia de fazer os GPs da Bélgica e Itália de carro parece uma boa ideia. A ida de Londres até Spa não é das piores: são umas 6h incluindo a balsa de Dover a Calais, na França, e várias opções de cidades charmosas para parar no caminho sem desviar muito, como Bruges e Aalst. Sem vaga no carro para seguir viagem até Monza, peguei uma carona até Colônia e um trem até Stuttgart para visitar um amigo. De lá, voei para Milão (via Amsterdam!) e adivinhem… perderam minha mala dentro do aeroporto de Linate. Demoraram um dia para achar e me entregar (na verdade eu só consegui pegar a mala porque saí correndo atrás da mulher que fazia as entregas, uma vez que a campainha não estava funcionando e ela não quis me ligar por ter visto um número britânico e não saber falar inglês). Para voltar a Londres, primeiro cruzamos a Suíça ainda no domingo à noite (o que acabou sendo uma maratona de quase 5h devido a obras na pista). Chegamos ao hotel às 2h e saímos às 8h da segunda-feira para cruzar uma parte bem sem graça da França, pegar o eurotúnel de volta e chegar em casa lá pelas 23h. A nhaca de avião virou também nhaca de carro.

 

“Oi, eu sou o Mika”: As noites em Cingapura sempre são memoráveis e neste ano não foi diferente. Estava morta de cansaço, mas o amigo Heikki Kulta tinha me chamado umas 500 vezes para seu aniversário. Apareci às 3h da manhã (eles tinham saído da pista lá pela 1h) e a mesa estava morta, todos já acima (alguns bem acima) dos 50 anos falando que estavam na última cerveja. Saímos de lá umas 7h, mas isso é outra história. O melhor foi que Mika Hakkinen apareceu do nada, no último lugar que você esperaria ver um campeão do mundo: falei no turistando de Cingapura do grande sujinho, onde compramos cerveja e comida barata em “barracas” e bebemos em mesas na rua. Mika viu Heikki, que o acompanhou por toda a carreira, e foi cumprimentá-lo pelo aniversário. Para mim, estendeu a mão e disse “oi, eu sou o Mika”. Ficou um pouco com a gente, tomou sua cerveja, e foi embora.

1h30 de engarrafamento para 45min de futebol em SP: Tentei avisar milhares de vezes que tínhamos que sair cedo para ver um jogo do São Paulo às 20h no Pacaembu. Mas os colegas ingleses insistiram em parar calmamente para comer e pegar um Uber por volta das 19h. Resultado: chegamos para o segundo tempo. Pelo menos eles viram a reação ao time, que estava perdendo de 1 x 0 para a Chapecoense e empatou em 2 x 2 no final, enquanto eu mandava mensagens a meu pai pedindo que não me deserdasse. E eles adoraram o estádio “que parece o Olímpico de Berlim”, tomaram Skol com gosto e ficaram curiosos com a embalagem de catuaba.

Carros até 9s mais rápidos. Mas novas regras precisam de ajustes

Foi bonito de ver esse carro nas curvas de alta em Silverstone

Nem parece que faz apenas um ano: os pilotos não paravam de reclamar dos carros, dizendo que eles não eram mais tão desafiadores e que as corridas tinham se tornado uma competição de administração de pneu e combustível. Essa necessidade de economizar não mudou radicalmente neste ano, mas a maior velocidade dos carros nas curvas mudou bastante a relação dos pilotos com seus carros.

Os números mostram que a meta da mudança de regulamento de 2017 foi batida: os carros atuais foram 5s5 mais rápidos em Barcelona do que há dois anos, meio segundo abaixo do objetivo. Nas 20 etapas do campeonato, a média foi de 4s5 em relação a 2015 e 2s3 na comparação com o ano passado.

A média é puxada para cima pelos 9s de melhora na Malásia, em grande parte em função da troca do asfalto em Sepang, mas ainda assim fica a estatística de que apenas em Monza, onde as mudanças fazem menos efeito pela pouca quantidade de curvas de média e alta velocidades, os carros de 2017 não foram mais rápidos do que em 2016.

A diferença foi mais pronunciada nos EUA, na Hungria e na Grã-Bretanha: nos três casos as voltas ficaram mais de 5s mais velozes, algo incrível se imaginarmos que essa queda nos tempos tem que ser descontada pela perda nas retas devido ao maior arrasto dos carros atuais.

Mas o regulamento ainda não está redondo. Especialmente em circuitos nos quais se usa mais carga aerodinâmica, foi muito difícil ultrapassar. E é para solucionar isso que Ross Brawn vem estudando mudanças no regulamento. A F-1 busca um equilíbrio difícil de encontrar entre ter provas movimentadas e ultrapassagens lutadas, e isso sem depender do DRS.

Uma resposta para isso pode estar nos pneus. A Pirelli foi bastante cautelosa devido ao novo regulamento, e o resultado foram várias corridas com apenas uma parada e um composto abandonado. Conhecendo melhor as novas máquinas, a meta volta a ser de pelo menos duas paradas com a possibilidade real de permutações entre os três compostos disponíveis.

A teoria é simples: se for vantajoso para uns usar o composto mais duro e parar uma vez a menos e para outros fazer mais paradas e andar mais rápido, esses carros vão se encontrar na pista com um diferencial de performance importante. Difícil é acertar essa conta em 21 corridas.

Outra questão que ainda fica é a disparidade de motores, tanto em termos de desempenho – especialmente na classificação, quanto de confiabilidade. Por mais que a atual tecnologia seja importante, ela é complicada e cara demais, e chegamos ao final do quarto ano com apenas uma fornecedora conseguindo escapar de punições. A queda de quatro para três motores no ano não ajuda, mas essa é uma questão que a F-1 só deve resolver em 2021.

Por ora, dá para aprovar as mudanças. E torcer especialmente para que a Renault se acerte e coloque pelo menos mais duas equipes no páreo.

Os acidentes de 2017

Não foi um ano de acidentes sérios, mas a temporada de 2017 teve algumas barbeiragens. E outras colisões pelo menos estranhas. Entre os protagonistas, não há muitas surpresas: Lance Stroll começou o ano causando prejuízos para a Williams, e Kevin Magnussen se envolveu em vários toques ao longo do campeonato.

Outro que aparece com certa frequência é Carlos Sainz, piloto rápido mas ainda inconstante. E o quase magnetismo da dupla da Force India.

A batida mais feia do ano, contudo, foi causada por um campeão do mundo em sua despedida: Jenson Button tentou uma manobra bastante otimista em Pascal Werhlein no GP de Mônaco. Mas o acidente mais marcante do ano seria meses depois, “naquela” largada de Cingapura.

Quem foi o barbeiro do ano para vocês?

http://www.youtube.com/watch?v=uOdteCKQ85E

As melhores ultrapassagens do ano

Em em ano no qual as ultrapassagens se tornaram mais difíceis devido às mudanças no regulamento, que tornaram os carros mais sensíveis à turbulência, e em que a média de manobras caiu em cerca de 10 manobras por GP – de pouco mais de 50 em provas no seco para pouco mais de 20 – os pilotos tiveram de trabalhar duro para conseguir abrir espaço no meio do pelotão.

Entre as manobras que mais marcaram o ano, dois nomes se sobressaem. Conhecido por ter saído da pole na grande maioria de suas vitórias na carreira, Sebastian Vettel teve um carro muito melhor de corrida do que de classificação neste ano foi obrigado a abrir caminho aos domingos. Já Daniel Ricciardo por mais um ano se destacou mostrando seu excelente racecraft. Mas qual foi a briga do ano para você?

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Ocon x Hulkenberg e Alonso, GP da Austrália

 

Vettel x Ricciardo, GP da China

http://www.youtube.com/watch?v=aK6dlPPdhS4

 

Vettel x Bottas, GP da Espanha

 

Ricciardo passa 3 de uma vez, GP do Azerbaijão

 

Alonso x Hulkenberg e Ocon, GP da Bélgica

http://www.youtube.com/watch?v=oxwZ3FFInao

 

Ricciardo x Raikkonen, GP da Itália

http://www.youtube.com/watch?v=MVG0snz9SAo

 

Hamilton x Alonso, GP do México

http://www.youtube.com/watch?v=VAAfuySoCBk

 

Hamilton x Verstappen, GP do Brasil

http://www.youtube.com/watch?v=dmXesWcOLJ4

As 5 maiores surpresas de 2017

Quem diria que a Ferrari evoluiria tanto a ponto de dar muito trabalho à Mercedes? Ou que estaríamos falando sobre Robert Kubica ao final da temporada? Hora de escolher qual a maior surpresa de 2017.

 

Crescimento da Ferrari

A Fórmula 1 pode ser cheia de sensores e controlada por engenheiros, mas a lógica nem sempre se aplica. Que diga a Ferrari, que começou o ano desacreditada – e com razão. O time vinha de insucessos desde a introdução do motor V6 turbo em 2014, vivia turbulências em seu comando, perdera seu diretor técnico para a rival Mercedes e vinha para a temporada com um carro que estava nas mãos de um grupo jovem e inexperiente. Porém, o projeto, além de bem nascido, foi desenvolvido de uma maneira que a Scuderia não conseguia há tempos. Ainda não foi suficiente para bater a Mercedes, muito em função de alguns detalhes que acabaram se tornando grandes problemas na segunda metade do ano, mas muitos no paddock acreditam que é bastante plausível que essa diferença seja tirada em 2018. Quem diria.

 

Negociação McLaren-Honda-Toro Rosso-Renault e seus desdobramentos

Chegou um momento na temporada em que ficou clara a campanha para se livrar da Honda a qualquer preço. E muitos acharam que Zak Brown e companhia teriam perdido completamente a cabeça, sob o risco de ficar com um motor velho e/ou com uma conta gigante para pagar. Mas em um acordo costurado a várias mãos, inclusive Ross Brawn, chegou-se a um acordo: a McLaren vai de Renault em 2018 e os japoneses ficam com a Toro Rosso, contando com suporte da Red Bull para desenvolver seu motor – e podendo tornar-se parceiros também do time anglo-austríaco em 2019. Isso sem contar no empréstimo de Carlos Sainz para a Renault, que acabou fazendo com que o time francês ganhasse uma das duplas mais interessantes do grid.

 

Alonso nas 500 Milhas – e Button de volta

A notícia surgiu na quarta-feira antes do GP do Bahrein, ou seja, no começo de abril: em menos de dois meses, Fernando Alonso trocaria o GP de Mônaco pelas 500 Milhas de Indianápolis. Mesmo andando por uma equipe forte e com todo o apoio para ter a melhor preparação possível, foi uma decisão corajosa – e uma classificação e corrida muito fortes do espanhol, ainda que tenha acabado da mesma forma que muitos de seus GPs nos últimos três anos. Menos brilhante foi a atuação de Jenson Button em seu lugar em Mônaco. Claramente desconfortável com a situação, ele acabou causando um acidente pelo qual seria execrado se não fosse… Jenson Button.

 

O retorno de Kubica

Ele nem precisa efetivamente voltar. Já escrevi algumas vezes sobre o polonês por aqui e de como o primeiro rumor de que ele tinha conseguido um teste com a Renault e planejava seriamente um retorno, ainda no começo de junho, soou para mim como um disparate. Demorou seis anos para Robert sentir que poderia pilotar um carro de fórmula, seis anos aprendendo a conviver com lesões que impedem que ele segure naturalmente um volante, ainda mais no espaço reduzido de um cockpit. E ele anda e não faz feio, não dá nenhum susto depois de centenas de voltas. Aconteça o que acontecer, é impossível não se impressionar. E imaginar o que poderia ter sido de sua carreira.

 

A personalidade de Ocon

Quem vê aquele menino magrelo de 21 anos com suas pernas absurdamente finas e o sorriso quase constante no rosto não poderia imaginar que Esteban Ocon poderia ser tão duro na pista. Até com o próprio companheiro, que tem uma situação bastante privilegiada dentro da Force India devido a seus patrocinadores. Mas ele não tomou conhecimento de Perez e tirou o mexicano do sério nas reuniões internas. E não foi só com agressividade que ele ganhou o noticiário: suas performances na primeira temporada completa impressionaram e já há quem o veja no lugar de Valtteri Bottas em 2019.

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As 5 maiores decepções de 2017

Para vocês irem se acostumando…

A temporada de 2017 teve carros mais velozes e uma briga pelas vitórias que voltou a contar com mais de uma equipe pela primeira vez em quatro anos, mas teve quem saiu devendo da temporada. Confira as maiores decepções de 2017 e dê sua opinião.

 

Honda, de novo

Havia uma grande expectativa antes do início da temporada por uma evolução significativa da Honda em seu terceiro ano na categoria depois que o sistema de tokens, que criava limites para o desenvolvimento das unidades de potência, foi abolido. Isso, em teoria, permitiria que os japoneses alterassem completamente seu projeto, solucionando problemas que estavam relacionados aos conceitos do primeiro motor, homologado ainda em 2014. De fato, a Honda praticamente começou do zero, mas isso não significou mais confiabilidade – e a melhora de performance, ainda que considerável, não foi suficiente para a McLaren se tornar mais do que a sexta ou sétima força, mesmo com um carro bom, no final da temporada. São quatro unidades permitidas por ano de cada uma das seis partes que compõem a UP, e Stoffel Vandoorne, por exemplo, usou 12 turbos e MGU-H.

 

Pneus conservadores demais

Pode-se dizer que foi uma surpresa até para a Pirelli, que temia voltar a enfrentar críticas e problemas como as explosões do GP da Inglaterra de 2013 com o novo regulamento e a promessa de carros mais velozes e gerando mais pressão aerodinâmica. A opção dos italianos foi tornar sua borracha mais resistente para evitar problemas, especialmente ao longo da temporada, prevendo um desenvolvimento acelerado de um projeto novo. Mas, ainda que os carros tenham sido mais de 2s em média mais velozes que ano passado e tenham batido vários recordes que duravam desde 2004, a grande maioria das provas foi ganha com apenas uma parada, indicando que eles exageraram na dose.

 

Halo, contra tudo e todos

Havia um sentimento de alívio no paddock quando Sebastian Vettel testou a versão mais avançada do escudo em Silverstone e saiu soltando os cachorros, dizendo que era impossível pilotar com a tela. Para muitos, a ideia do halo tinha ficado para trás e, já que o escudo não seria mais uma opção, a ideia de cobrir parte do cockpit teria de ser adiada. Mas a ideia de Jean Todt era outra e, mesmo sem um consenso, o halo foi aprovado. Sim, há um impacto na segurança, mas ele é tímido demais – fala-se em 17% – para algo que descaracteriza bastante os carros e a noção de perigo. Que, aliás, não é tão alta assim, lembrando que a morte de Bianchi foi causada por uma série de irresponsabilidades e não seria evitada com a novidade.

 

Red Bull

O pensamento lógico levava a crer antes do início da temporada que a Red Bull seria a equipe que incomodaria a Mercedes em 2017. Isso porque o novo regulamento aumentaria a influência da aerodinâmica nos carros, aproximando um pouco mais a F-1 da era pré-2014 – ou seja, de quando eles eram o time a ser batido. Mas isso não aconteceu: mesmo com os 13 abandonos, que certamente não ajudaram, Ricciardo e Verstappen só tiveram carros mais competitivos em algumas provas específicas, como Budapeste, Cingapura e Malásia. Isso porque o motor Renault não evoluiu tanto quanto o esperado, mas também devido a um carro que se mostrou difícil e imprevisível por boa parte do ano. O já tradicional desenvolvimento forte apareceu do meio da temporada para cá, mas ainda assim não foi suficiente para apagar a decepção.

 

Kimi Raikkonen

Muito se falou desde que o finlandês voltou à Ferrari em 2014 – e com moral, depois de boas temporadas pela Lotus – que o desempenho abaixo do esperado era primeiro fruto dos carros dianteiros cujo desenvolvimento teria sido guiado desta maneira por Fernando Alonso na Scuderia, e depois as dificuldades com a dirigibilidade do motor italiano nas duas temporadas seguintes. Em 2017, acabaram ambas as desculpas e a Ferrari teve, sem dúvida, o carro mais equilibrado e versátil do grid – ainda que seja questionável se foi o mais rápido. E Raikkonen não foi nem a sombra daquele piloto que um dia foi apontado como possível sucessor de Michael Schumacher.

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O primeiro Hamilton x Vettel

Era um duelo esperado e que, curiosamente, nunca tinha acontecido. Hamilton chegou a liderar o campeonato de 2010 , mas cometeu erros bobos em duas provas seguidas e perdeu contato com os líderes. Em 2012, foi a McLaren que pisou na bola algumas vezes, embora tivesse feito seu último grande carro. Mas desta vez o embate estava claro desde o início.

De cara, o inglês não foi bem em corridas nas quais a Mercedes esteve perdida no acerto, como na Rússia e especialmente em Mônaco, enquanto o alemão maximizou todas as oportunidades e, assim, manteve-se na liderança do campeonato até além de sua metade.

Isso até chegar ao Azerbaijão. Antes da prova, era grande a expectativa em relação ao rendimento de Hamilton, justamente por se tratar de uma pista de asfalto bastante liso e disputada sob calor forte, algo que vinha se mostrando prejudicial ao W08. E o inglês, ajudado pela longuíssima reta (na qual o motor Mercedes sofria menos de-rating que os rivais e as Ferrari sofriam por terem um carro que gera mais pressão aerodinâmica e, consequentemente, mais arrasto), parecia ter a corrida sob controle até uma reação infeliz de Vettel, provocando um toque, criar a grande crise entre os dois.

A maneira como ambos lidaram com aquele momento acabou sendo decisiva. Vettel ficou por semanas fugindo das perguntas sobre o toque obviamente proposital – na verdade, só admitiu mesmo o erro em Abu Dhabi – e de certa forma a Ferrari vestiu sua carapuça. A cada derrota que se seguida, como as lavadas de Silverstone e de Monza, esbanjava confiança, assim como sua equipe, sempre negando que trabalhava com o motor no limite. Até que esse limite ficou claro.

Foi até cruel a maneira como Vettel e a Ferrari afundaram no campeonato, com uma sequência que mais pareceu roteiro de filme. Uma largada mais agressiva no molhado em Cingapura e um strike que tirou os três rivais mais fortes de Hamilton de seu caminho em uma prova em que ele sequer sonhava com o pódio, seguido pela quebra na classificação na Malásia e a vela de ignição (!) não trocada antes do GP do Japão. Talvez, assim como para Vettel em Baku, tenha faltado à própria Ferrari olhar um pouco mais para dentro.

Isso não tira o brilho de uma equipe que cresceu quando todos duvidavam e que continuou desenvolvendo seu carro mesmo tendo alguns ‘truques’ bloqueados pela FIA no meio do caminho. Também não tira os méritos de um piloto que andou em um nível muito forte, por mais um ano. Mas tirou o campeonato.

Enquanto isso, do outro lado, Hamilton viu em Baku a oportunidade de crescer e a partir daí focou em fazer Vettel sentir golpe atrás de golpe. Para a equipe, o efeito foi o mesmo: Baku foi o início da virada para entender a “diva” e fazer suas vontades.

Mas o efeito de tudo isso começou a ficar claro em Spa. Hamilton na quinta-feira disse que tinha ido para a segunda parte da temporada “para ver sangue”. E mesmo com o sorriso no rosto, dava para entender o que ele queria dizer. Depois de anos de certa forma acomodado ao lado de Rosberg, tinha percebido que era necessário dar um passo adiante.

Juntamente com o crescimento da Mercedes, Hamilton também se agigantou e fez poles incríveis em cinco das seis provas seguintes, colocando-se em posição de aproveitar-se dos infortúnios do rival e liquidar a fatura com sobras.

O título de 2017 foi inquestionável, mas o que vem adiante? Por quanto tempo Hamilton consegue se manter em um nível tão alto? E o que Vettel pode fazer com uma equipe mais afiada? Ainda bem que 2018 está logo aí.

Podcast Credencial e o balanço da temporada

E Melbourne seria a primeira de muitas cidades visitadas por essa credencial aí

Eu e Luis Fernando Ramos analisamos as últimas notícias da F1 e fazemos um balanço da temporada em 1h de papo. Deu até para falar um pouquinho das minhas viagens “extracurriculares”!

Aliás, reforço o convite para me seguirem no Instagram @girls_wanna_fly e no embrionário @myf1life

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Estratégia (e sinais) do GP de Abu Dhabi

Tudo bem que não havia muita coisa em jogo no GP de Abu Dhabi – a mudança mais significativa na tabela foi a Renault ter passado a Toro Rosso pelo sexto lugar, levando em consideração que Kimi Raikkonen não deve ter se importado por ter passado Daniel Ricciardo e terminado em quarto – mas a prova do último domingo evidenciou como a pista, que foi feita em uma página totalmente em branco, em uma ilha artificial, tem um projeto equivocado.

Não é a única do campeonato com problema semelhante mas, se não houver uma diferença significativa de desempenho entre os carros, é impossível sequer tentar uma ultrapassagem. Ainda mais quando não há degradação de pneus (e aí está outro equívoco da pista, que tem um asfalto que mais parece uma mesa de bilhar).

Que o diga Lewis Hamilton. Com um motor mais forte, ele conseguiu ficar boa parte da segunda metade da corrida dentro da zona de DRS de Bottas, mas perdia tanta pressão aerodinâmica no terceiro setor pela impossibilidade de seguir a outra Mercedes de perto que nunca esteve perto o bastante para atacar. Foi a mesma situação que Alonso viveu naquela clássica corrida de 2010. Ou não-corrida.

Até por conhecer bem as características de Abu Dhabi, a Ferrari correu em modo conservador apenas para assegurar que Vettel chegasse ao final e garantisse o vice-campeonato, tirando mais um elemento que tinha potencial de dar alguma emoção à prova.

Em termos de estratégia, a prova serviu para enfatizar à Pirelli a necessidade de deixar o excessivo cuidado deste ano de lado e tornar os pneus mais macios. Isso será feito e é um dos assuntos daqui até o início da próxima temporada, e nos resta ficar na torcida para que os italianos sejam realmente agressivos. Para se ter uma ideia, ano passado, a estratégia vencedora em Abu Dhabi foi de duas paradas. Neste, a degradação era tão baixa mesmo com os dois compostos mais macios sendo utilizados que a janela de pit stops era de mais de 15 voltas!

Ou seja, parou primeiro quem sentiu que estava preso no tráfego, como Fernando Alonso, que estava perto o suficiente de Felipe Massa para lhe roubar a posição com um undercut. Enquanto isso, o offset, tática oposta ao undercut e que, no começo do ano, aparentou ser o novo caminho na vitória de Sebastian Vettel na Austrália, foi tentado pelo próprio Hamilton e por Esteban Ocon, mas não funcionou.

Por fim, mesmo tendo sendo ultrapassado por Alonso, que estava mais rápido e, por isso, pôde manter a pressão por todo o primeiro stint, Felipe Massa terminou sua última corrida de cabeça erguida. Especialmente depois que se colocou de fora da disputa pela vaga na Williams em 2018, o brasileiro teve grandes performances na corrida no Brasil e especialmente no Q2 em Yas Marina e mostrou que ainda tem lenha para queimar. E deu a impressão de que os apagões que teve em algumas corridas durante as negociações na verdade não tinham muito a ver com a pilotagem em si.

Drops do GP de Abu Dhabi e mais sobre Kubica

No cercadinho dos barrados

Com o campeonato decidido, o nome mais repetido no final de semana do GP de Abu Dhabi foi o de Robert Kubica. Ele mesmo só apareceu no domingo à noite, evitou toda a badalação, mas parece que todos no paddock queriam dar sua opinião sobre seu possível retorno.

 

Os pilotos, até pelo respeito enorme que têm pelo polonês, evitaram levantar qualquer tipo de dúvida a respeito de sua condição, mas em off a situação não é bem assim. Há muitas dúvidas a respeito da capacidade de Kubica lidar por exemplo com correções muito bruscas de volante. E a certeza de que ele nem precisaria ser culpado de um acidente para o mundo cair em cima dele.

 

No final das contas, ainda que todos achem que seria uma história e tanto para a F-1, a grande maioria acredita que, aconteça o que acontecer, o próprio Kubica só estaria fazendo um mal para sua própria história. Até pela situação confusa que a Williams vive internamente.

 

A influência dos Stroll é clara. Além do dinheiro, claro. Kubica traz, sim, patrocinadores e Pascal Wehrlein, escanteado pela Mercedes, também já arrumou seus milhões de dólares caso sobre uma chance. Só é de se estranhar que Kubica seja o grande favorito para a vaga mesmo não sendo o “team player” que Lance vem pedindo.

 

O que está claro, por sua vez, é que não há contrato fechado. A suposta confirmação da contratação, publicada por algumas mídias ao redor do mundo, foi um boato espalhado aparentemente pelo advogado de Kubica. Teve, inclusive, colega no paddock que disse ter recebido ligações de três pessoas diferentes, todas ligadas ao profissional, dizendo que o negócio estava feito. E não estava.

 

Enquanto escrevo estas linhas, não posso de deixar de registrar uma cena engraçada que está acontecendo neste momento e que mostra um pouco do clima que existe por aqui e vai além da competição que aparece nas telas: alguém imprimiu umas 50 folhas com a foto de um relógio e os dizeres: “apresente esse voucher para Giorgio Piola e vai receber um relógio chique dele.” Piola é jornalista das antigas, conhecido pelos desenhos técnicos – e pela pouca simpatia. Já ouvi ele mesmo se definindo como “stronzo” (idiota). Enfim, lá foi Piola de mesa em mesa recolhendo uma a uma as folhas, bem nervoso.

 

Outro ponto curioso do GP de Abu Dhabi foi a final do primeiro campeonato virtual da F-1, vencido pelo britânico Brendon Leigh. As três corridas, que foram disputadas pelos gamers no paddock em Yas Marina e contaram até com apresentação oficial, entrevistas e mesa-redonda, foi transmitida na sala de imprensa. E chamou a atenção que o jornalista mais antigo ainda em atividade, Roger Benoir, ficou em pé acompanhando, atento, uma das provas. Que acabaram sendo bem legais.

 

Foi uma oportunidade, ainda, de Fernando Alonso vibrar um pouco, com a vitória de um “piloto” de sua equipe virtual na corrida de Spa. Só faltou aos pilotos virtuais o jeitão mesmo de piloto: depois de vencer o título, Leigh, com todo o jeitão de nerd viciado em games, deu entrevista dizendo que nem sabia o que faria agora. “Não quero beber, acho que vou dormir.”

 

Quem ouviu a transmissão pela Band sabe que a FOM resolveu implantar um novo sistema de entrevistas bem na última corrida da temporada, depois de uma briga de meses com a FIA, que tentava proteger a coletiva de imprensa escrita. A ideia era que as TVs que estivessem ao vivo fizessem as entrevistas antes da coletiva, e o restante mantinha o esquema de fazer depois. Porém, mesmo estando ao vivo, eu não tive minha entrada permitida no que foi batizado “cercadinho ao vivo” por ser rádio, e a própria Globo foi barrada porque não usa câmera ao vivo.

 

Eu e a Mariana Becker tentamos, em vão, pelo menos falar com Felipe Massa ao vivo em sua última corrida. Mas esse não seria o único problema: como a grande maioria das TVs foi para o cercadinho ao vivo e havia eu e mais um repórter de rádio, o cercadinho ao qual os pilotos deveriam ir depois da coletiva de imprensa escrita ficou esvaziado. E os três primeiros simplesmente nos ignoraram e passaram reto.

 

Por um lado foi até bom que isso tenha acontecido para mostrar que o sistema é impraticável. Mas não ajudou em nada sentar na frente do computador às 20h tendo muito material para produzir e sem a mínima noção do que os primeiros colocados falaram sobre a prova.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP de Abu Dhabi

Hamilton 13 a 7 Bottas
Ricciardo 7 a 13 Verstappen
Massa 17 a 2 Stroll
Raikkonen 3 a 16 Vettel
Alonso 14 a 4 Vandoorne
Perez 13 a 6 Ocon
Gasly 1 a 1 Hartley
Hulkenberg 3 a 0 Sainz
Wehrlein 12 a 6 Ericsson
Grosjean 12 a 8 Magnussen

Diferenças de hoje:

Bottas x Hamilton: 0s172

Ricciardo x Verstappen: 0s369

Massa x Stroll: 1s091

Vettel x Raikkonen: 0s208

Alonso x Vandoorne: 0s172

Perez x Ocon: 0s023

Gasly x Hartley: 0s747

Hulkenberg x Sainz: 0s587

Magnussen x Grosjean: 0s121

Wehrlein x Ericsson: 0s064

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1 e nos exageros de Abu Dhabi

Ano após ano, Dubai vem se consolidando como destino turístico por vários motivos, que passam pelo sol e calor o ano todo e pela facilidade dada pelas companhias aéreas têm dado para stopovers (possibilidade de visitar mais de um destino, com escalas de dias ao invés de horas e um único bilhete), ajudando a “quebrar” viagens mais longas. As atrações também vêm se diversificando, da vista do prédio mais alto do mundo a uma pista de esqui (!). E passar um dias no deserto passou a ficar mais atraente.

Mas o que tudo isso tem a ver com o palco da última etapa do campeonato? Dubai está a menos de duas horas de Abu Dhabi que, apesar de ser a capital dos Emirados Árabes, não é tão desenvolvida do ponto de vista turístico.

Mas é bem verdade que a atração mais bonita está na sede do GP: a Mesquita do Xeque Zayed, inaugurada há 10 anos e toda feita em mármore branco, impressionante até para os não-iniciados no islamismo. E a melhor pedida para fãs de automobilismo está lá, o parque de diversões da Ferrari, que tem como principal atração a montanha-russa que assustou até Alonso.

É difícil negar, contudo, que não falte uma dose de alma a cada ilha artificial por que se passa. A própria pista da F-1 foi construída em um lugar que antes era mar. Bom para quem é entusiasta das possibilidades que se abrem com (muito) dinheiro vindo do petróleo, nem tão interessante para quem vai atrás de cultura, algo que fica mais restrito aos passeios nas dunas do deserto.

Abu Dhabi tem mais cara de cidade que a moderníssima Dubai, mas em ambas é difícil encontrar alguém que more por lá por outra opção que não seja melhores salários. Pelo menos as oportunidades fizeram dos Emirados um caldeirão curioso de nacionalidades, ainda que chame a atenção a forte presença de indianos, basicamente aqueles que construíram – e estão construindo – tudo aquilo.

Quem for para lá atraído pela corrida, contudo, vai se sentir bem tratado. AInda que com os bolsos menos cheios.O ingresso mais barato é o mais caro do ano, ainda que garante acesso a shows e estacionamento em um lugar em que o aluguel de carros combustível são mixaria, compensados com juros pelo preço das bebidas alcóolicas.

No mais, vale a fica para quem quiser experimentar o hotel que passa por cima da pista. Enquanto o preço mínimo no fim de semana de prova é de mais de 5 mil reais, o valor cai logo na segunda-feira, quando costuma haver testes. Então dá pra ver um F-1 na pista da piscina do hotel por menos de 700 reais. Sim, você ainda está pagando por um cinco estrelas em Abu Dhabi.

 

RAIO-X:

Preços: Prepare-se para gastar, desde as passagens aéreas até hotel e ingresso – o mais barato é mais de mil reais. E nem vou entrar no mérito dos quase 50 reais por cerveja.

 

Melhor época: a época do GP é quando a cidade começa a ter mais turistas por ter um inverno quente, ao contrário de muitos vizinhos e dos europeus. Então o melhor equilíbrio entre clima e preços é um pouco antes ou entre abril e maio. Fuja no verão, quando a temperatura média é superior a 40ºC.

 

Por que vale a pena: Junto com o Bahrein e, em menor medida, com Baku, é a etapa que conecta a F-1 com o Oriente Médio e cenários e costumes bem diferentes dos nossos. E se for chegado/a em uma ostentação também…

Por dentro da F-1 e do sistema de largada mais humano

Um dos focos da FIA nas últimas temporadas foi tornar o procedimento de largada mais mecânico e dependente do piloto, depois que evoluções no campo da engenharia chegaram até a tirar totalmente deles a responsabilidade de um bom início da corrida, como em meados da primeira década dos anos 2000, quando a largada dependia do aperto de um botão.

Muita coisa mudou de lá para cá, e especialmente nos últimos 18 meses. Até o GP da Bélgica de 2015, os pilotos tinham duas alavancas de embreagem no volante: uma apenas para a determinação do bite ponto, ou ponto de tração, que era imediatamente solta quando as luzes vermelhas se apagavam, e outra que era liberada aos poucos e prevenia que as rodas patinassem nas primeiras marchas. Além disso, havia um botão, o bite point find (BPI) que tornava o sistema totalmente automatizado.

A função única da alavanca do ponto de tração foi banida a partir de Spa, assim como toda a comunicação entre pilotos e engenheiros para os últimos ajustes de configuração. Com isso, passou a ser responsabilidade dos pilotos encontrar soluções caso seu último ensaio de largada na volta de apresentação fosse ruim, ainda que eles estivessem munidos de todas as informações colhidas ao longo do final de semana. Porém, alguns detalhes ainda facilitavam a vida dos pilotos.

Por isso, as restrições aumentaram em 2017: fora impedido anteriormente a função única de uma das alavancas, mas a partir deste ano foi proibido o uso de duas, e seu curso está limitado em 8cm (uma das soluções das equipes em 2016, da qual a Ferrari foi a pioneira, foi aumentar esse curso para diminuir a sensibilidade da embreagem e facilitar a vida dos pilotos). A posição da alavanca única também foi limitada, tudo para dificultar encontrar o ponto de tração.

Além disso, as regras deste ano impediram que os engenheiros fizessem mapas já prontos, que ajudariam o carro a largar assim que uma determinada posição de ponto de tração fosse usada, obrigando os pilotos a serem mais precisos. Até 2016, mesmo com a proibição da alavanca de função única, o carro largava bem com ângulos de 10 a 80% no caso de alguns carros justamente por esse mapeamento feito pelos engenheiros, que leva em consideração o nível de aderência, torque e peso do carro. Isso acabou em 2017.

http://www.youtube.com/watch?v=pm94AlF0xNY

É preciso entender ainda que a embreagem de um carro de F-1 é bastante sensível, até por ser pequena – seu diâmetro é de 97mm – e feita de fibra de carbono, o que a faz esquentar com mais facilidade.

Assim, o sistema de largada continua sendo dividido em dois momentos – o inicial que é encontrar o ponto de tração e liberar o carro sem escorregar, e o segundo que é ir liberando aos poucos a única alavanca de embreagem para evitar a derrapagem dos pneus nos metros seguintes. É por isso que vemos às vezes os pilotos começando bem e logo depois perdendo terreno, por exemplo.

O desafio passou a ser colocar o máximo de torque e ter o mínimo de derrapagem, algo bem mais difícil em um carro potente e relativamente leve como um F-1 do que em carros de rua, apesar do procedimento ser parecido, além de um bom tempo de reação às luzes.

Mas nem tudo aumentou em dificuldade em 2017. Um dos problemas anteriormente era a possível discrepância entre o torque usado e o que a ECU (central eletrônica) “entendia”, e a partir desse ano foi permitido às equipes que usassem um sensor de torque para tornar essas informações mais uniformes, diminuindo uma das variáveis na largada, a resposta efetiva de torque.

O resultado disso em 2017 acabou sendo a introdução de uma variável a mais, com largadas ruins sendo decisivas – que o diga Sebastian Vettel em Cingapura. Ao mesmo tempo, não deixa de impressionar a consistência dos pilotos mesmo com um sistema tão sensível.

Por que Kubica?

Já faz algumas semanas que Robert Kubica tem em suas mãos uma proposta para retornar à Fórmula 1 depois de sete anos, pela Williams. Mas o porquê da opção do time pelo polonês não é uma questão que tem resposta fácil ou unânime no paddock.

Kubica sempre foi um piloto muito respeitado tanto por seus pares, quanto pelos engenheiros. Fernando Alonso já disse várias vezes que o polonês é o melhor piloto com quem já correu, tendo inclusive vetado seu nome na Ferrari. E profissionais que trabalharam com ambos na Renault dizem que, no mínimo, uma eventual briga entre os dois seria apertada. Ou vencida por Kubica.

Mas esse era o piloto de antes de um acidente que poderia tê-lo matado e por pouco não lhe arrancou o braço ou aquele que desde que voltou a andar com monopostos – o que aconteceu apenas há poucos meses! – decidiu que estava pronto a retornar à F-1?

Muito se ouviu sobre os testes que Robert fez na Renault e na Williams. Os tempos em si não foram espetaculares, o próprio piloto saiu decepcionado com sua performance na Hungria (o que quem o conhece diz que não surpreende em nada por seu mau humor e pessimismo característicos), e seu tempo final acabou sendo pior que a comparação direta com Paul di Resta – ainda que há quem diga que o polonês, ao contrário do escocês, não fez uma simulação de classificação.

Porém, o destacado em todos os testes foi a evolução desde que pegou o carro pela primeira vez até o fim de cada dia na pista. Evolução sua, mas especialmente do carro em si. É difícil ter dados 100% confiáveis, mas fala-se em 1s do começo ao fim do teste com a Williams em termos de acerto, com velocidades de curva maiores do que Massa e Bottas conseguiram com o mesmo carro e no mesmo circuito em 2014 – ainda que as condições possam ter sido outras.

Mais importante, Kubica, como há 10 anos e como tem sido desde então, nos vários carros que foi chamado para desenvolver, deixou os engenheiros felizes.

E Massa, não deixava? Perguntei ao diretor técnico da Williams Paddy Lowe, se ele considerava o brasileiro um piloto desenvolvedor de carro. Ele disse que sim, pois “para desenvolver um carro o que o piloto tem de fazer é ser constante. O resto é trabalho dos engenheiros”. De fato, com o aumento dos dados à disposição, o feeling do piloto hoje tem papel menor, mas se Massa estava fazendo tecnicamente um bom trabalho, por que arriscar dar o carro a alguém que está há 7 anos fora e tem 30% dos movimentos do antebraço direito?

Massa deu a entender de uns dois meses para cá que estava sendo escanteado por Lawrence Stroll que, inclusive, paga o salário de Lowe. E talvez preocupe Kubica o fato de entrar em uma equipe em que não está muito claro quem manda. E sem saber muito bem qual será seu papel.

Para a F-1, é claro que o melhor é que o velho Kubica esteja de volta. Ele garante que suas deficiências lhe atrapalham muito mais no cotidiano do que no cockpit – e a única alteração é na borboleta de câmbio, pois ele só a opera do lado esquerdo – e quem o conhece diz que ele só voltaria com 120% de certeza de quem tem condições para isso. Para a Williams, é uma história que traria muita visibilidade em um ano no qual o time se colocou a dificílima meta do quarto lugar entre os construtores – lutando não apenas contra a Force India, mas também a McLaren e a Renault. E eles vão precisar de piloto.

A privatização é uma boa para Interlagos?

A grande maioria dos que votaram na enquete da semana passada demonstraram apoiar a decisão de Felipe Massa da não esperar a definição da Williams e anunciar a segunda aposentadoria antes do GP do Brasil, dando ao piloto a chance de mais uma despedida emocionante em Interlagos.

Mas o futuro do próprio GP acabou sendo colocado em xeque com os acontecimentos do último final de semana, devido a um problema de segurança que teoricamente não deveria ser difícil de ser coibido, mas que pareceu impossível de ser controlado neste ano, talvez por questões mais políticas do que de segurança pública.

O prefeito João Dória disse no domingo que, com o circuito privatizado ficaria até mais fácil garantir a segurança. Qual a opinião de vocês sobre isso?

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Podcast Credencial, presente e futuro do Brasil na F-1

Tudo sobre o GP do Brasil, a reação aos problemas de segurança em Interlagos, os bastidores para a definição das últimas vagas no grid de 2018 e a expectativa para Abu Dhabi você encontra no podcast desta semana. Curta e compartilhe!

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Estratégia do GP do Brasil e pilotagens de alto nível

Não é à toa que um dos melhores circuitos do campeonato foi testemunha de três das melhores pilotagens da temporada. Vindo de trás e mesmo com alguns atenuantes jogando a seu favor, Lewis Hamilton ultrapassou onze pilotos na pista para ir dos boxes ao quarto lugar, e Sebastian Vettel fez uma corrida inteligente para superar um carro com ritmo muito igual, porém com qualidades diferentes do seu, sem tirar o olho de uma possível pressão do rival inglês nas últimas voltas. E, sem a potência do motor zerado da Mercedes, Daniel Ricciardo escalou do fundo do pelotão até o sexto posto, fazendo as melhores ultrapassagens do dia.

Há algo interessante sobre a pista de Interlagos, que tem o primeiro e terceiro setores mais curtos e mais focados em velocidade final, e o segundo, mais longo, que premia os carros com alta pressão aerodinâmica. Como no fim das contas a soma dos setores mais velozes é igual ao tempo que se passa no miolo, isso quis dizer que Mercedes e Ferrari estavam no mesmo nível.

Um pelo menos a Mercedes de Bottas, pois Hamilton estava voando. Porém, também é verdade que ele tinha motor (que podia ser usado em modo de ataque por mais tempo porque só teria que fazer duas corridas) e câmbio novos, um acerto sob medida para um domingo que, já se sabia de antemão, seria muito mais quente que a classificação, e a estratégia ideal, aproveitando o bom rendimento do pneu macio no asfalto escaldante, que passou de 60ºC no início da prova, dando uma vantagem calculada pelos engenheiros em 3 a 5s ao longo da corrida.

A sorte de Vettel foi que o Safety Car veio na pior hora para Hamilton, nas voltas iniciais, quando ele deveria estar passando todo o grid. Isso quis dizer que ele acabou ficando com o caminho livre para adotar seu ritmo um pouco mais tarde.

Na batalha com Bottas, Vettel venceu nos detalhes: fez uma largada melhor, algo crucial em um GP no qual não se esperava que o undercut tivesse grande papel – a falta de desgaste de pneus fazia com que um piloto só tivesse chance real de parar antes para ganhar a posição de um rival com cerca de 1s de diferença.

Mesmo assim, Bottas conseguiu pressionar Vettel em sua parada, muito em função de uma inlap muito forte e uma outlap rápida até um erro na Junção. Sua parada em si também não foi das melhores – 2s7, pois ele errou sua marca e a Ferrari conseguiu voltar marginalmente à frente. Não é por acaso que Bottas parecia tão decepcionado consigo mesmo após a corrida.

Mais atrás, tivemos outros pilotos mostrando suas diferentes qualidades. Felipe Massa fez possivelmente sua melhor corrida do ano, em um circuito no qual sempre andou bem: a largada poderia até ter sido melhor se ele não tivesse de ter tirado o pé para não bater com Alonso, mas depois ele se livrou rapidamente do espanhol e segurou no braço o espanhol e Sergio Perez nas voltas finais com um desgaste maior dos pneus.

O piloto da McLaren, por sua vez, mostrou mais uma vez sua inteligência: assim que perdeu a posição para Massa, focou em permanecer na zona de DRS para se defender de Perez e, até por isso, não arriscou um undercut em Massa – sabia que, mesmo se superasse o brasileiro nos pits, acabaria perdendo a posição novamente pela falta de velocidade de reta. Neste cenário, só não deu para entender por que a Force India não chamou Perez, até porque quando a janela de pits abriu o mexicano estava a 1s de Alonso e a 2s de Massa.

Outro que também estava, como Alonso, pensando “fora da caixinha” era Verstappen. Ele acabou entrando em uma discussão com a equipe, que não queria que o piloto colocasse pneus novos, mesmo que isso não o fizesse perder posições. O motivo? Max ganha bonificação em dinheiro por voltas mais rápidas. E conseguiu o que queria.

Drops do GP do Brasil e o que Massa vai fazer em 2018

A cobertura do GP do Brasil é tão insana que faltaram forças para escrever sobre uma corrida que, como de costume em Interlagos, não decepcionou. Mas o grande assunto do final de semana não teve relação nenhuma com o que aconteceu dentro da pista.

 

A saída de Interlagos é a pior da temporada, e não é de hoje. A única vez que tive uma arma apontada para a minha cabeça na vida foi justamente ali, lá pelas 22h30, em um domingo. Como descobriram os mecânicos da Mercedes – e os membros da FIA algumas horas antes na sexta-feira – a polícia vai embora dali cedo e os profissionais ficam expostos. No sábado, após muita pressão, saí do circuito 21h45 e vi várias viaturas nos semáforos com policiais armados até os dentes. No domingo, após as 22h, o número já tinha caído bastante.

 

Há quem possa dizer que os brasileiros passam por esse tipo de situação todo dia, mas é contraproducente não conseguir garantir a segurança em um dos eventos que mais movimentam dinheiro na maior cidade do país. O problema de segurança de Interlagos é localizado, tem hora e lugar para acontecer. Não deve ser tão difícil assim prevenir.

 

É impossível não comparar com o México. Havia muitas dúvidas dentro da F-1 antes de voltarmos lá pela primeira vez, em 2015. E o entorno do circuito por lá lembra muito Interlagos. Mas a sensação de segurança é infinitamente maior, com policiamento fortíssimo começando a uns 4km da pista – e nas proximidades, então, é quase exagerado. Isso não impediu que, neste ano, VIPs que pegaram um Uber tenham sido assaltados (na verdade, o motorista do Uber foi rendido). O que aconteceu horas depois? O Uber estava bloqueado nas intermediações do circuito.

 

A segunda despedida de Massa em Interlagos acabou não sendo tão emocionante quanto a primeira, o que já era esperado, mas foi a melhor corrida do brasileiro no ano. Não é exagero dizer que ele venceu a “sua” corrida. Fui a primeira a entrevistá-lo assim que ele alinhou no grid e dava para ver que ele já tinha lágrimas nos olhos. Está claro que ele queria ficar, mas a indefinição de Kubica fez com que o prazo dele e da Williams não fossem os mesmos.

 

Ao contrário do que algumas mídias publicaram, o polonês tem uma proposta nas mãos há pelo menos duas semanas, mas ainda não a assinou. Tem patrocinadores por trás e não quer ser visto como piloto pagante. Por isso, sequer se tem a confirmação de que ele testará em Abu Dhabi, mas todos ao seu redor o pressionam para que ele finalmente assine. Até porque, caso contrário, a Williams fica em uma posição bem desconfortável, com poucas opções no mercado.

 

Isso porque Massa não só já garantiu que não volta atrás novamente, como já assinou contrato para sua próxima empreitada: fará parte da equipe global da Sky Sports, participando como comentarista de cerca de 10 etapas. O acordo quase saiu para este ano, mas teve de ser adiado.

 

O piloto teve propostas de equipes da Fórmula E, mas nenhuma delas era protagonista, então a opção foi esperar para a temporada 2018-2019, quando ele não deve ter problemas para encontrar uma boa vaga em uma categoria que vem absorvendo bem os ex-F-1 – ainda mais com Nicolas Todt como empresário.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Brasil

Hamilton 13 a 6 Bottas
Ricciardo 6 a 13 Verstappen
Massa 16 a 2 Stroll
Raikkonen 3 a 15 Vettel
Alonso 13 a 4 Vandoorne
Perez 12 a 6 Ocon
Gasly 0 a 1 Hartley
Hulkenberg 2 a 0 Sainz
Wehrlein 11 a 6 Ericsson
Grosjean 12 a 7 Magnussen

Diferenças de hoje:

Bottas x Hamilton: sem tempo

Verstappen x Ricciardo: 0s405

Massa x Stroll: 0s987

Vettel x Raikkonen: 0s178

Alonso x Vandoorne: 0s523

Perez x Ocon: 0s070

Hartley x Gasly: 0s061

Hulkenberg x Sainz: 0s102

Grosjean x Magnussen: 0s275

Wehrlein x Ericsson: 0s197

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1, na saúde e na doença com Interlagos

Não serei eu quem vai dar uma de guia turística de São Paulo. Desta vez o turistando é mais um guia de sobrevivência para ver a corrida em Interlagos. Isso porque, a não ser que você tenha a sorte de ganhar um ingresso VIP ou puder bancar as opções que geram mais conforto, o GP do Brasil e daqueles programas de índio que acabam viciando sem conseguirmos explicar por quê.

A pista é maravilhosa, curta e cheia de altos e baixos, gera corridas boas, e mesmo as arquibancadas mais baratas têm vistas que estão entre as melhores da temporada. Dependendo de onde você fica no setor A, é possível ver uns 75% da pista. Nas arquibancadas, você vai encontrar aqueles que torcer para o mesmo piloto que você, aqueles que torcem para o rival, mas será a chance de passar horas conversando sobre aquele assunto que muitas vezes é difícil encaixar em um churrasco com os amigos.

E a lua-de-mel para por aí. De resto, é preciso um pouco de espírito guerreiro.

Primeiro porque é Interlagos e é melhor pensar duas vezes antes de ir de carro. Vai pagar um absurdo para o flanelinha sem ter a certeza de que tudo estará bem, ou adotar a estratégia de parar no shopping e ir de ônibus até a pista. Dependendo de onde você vem, melhor é mesmo pegar o trem.

Segundo porque nas tais arquibancadas mais baratas e com boa visão da pista – especialmente a A – a numeração de lugares não é respeitada. É por isso – e pela bagunça também, é verdade – que muita gente dorme na fila ou chega antes dos portões abrirem, geralmente às 7h. Já fiz isso e vivi todas as estações do ano em algumas horas, sentada no concreto e pensando que pagara algumas centenas de reais por aquilo. Não é das situações mais empolgantes.

Assim como não é o ambiente mais agradável para mulheres, sempre alvo de comentários bastante dispensáveis, no mínimo. E curiosamente a agressividade é até maior com as acompanhadas por homens. Mas nós vamos e continuaremos indo mesmo assim.

Mas não é preciso passar a noite na fila, e nos últimos anos têm ficado mais tranquilo. A única questão é que, quanto mais tarde chegar, menor a possibilidade de pegar um bom lugar.

Falando em quatro estações, é bom se preparar para tudo, da capa de chuva ao protetor solar. E comida, se não estiver afim de gastar mais uma nota dentro do Autódromo. Isopores, garrafas e latinhas, contudo, não entram.

É curioso como essas “brasilidades” fazem de Interlagos um GP raíz mesmo sem o perrengue de se acampar no meio do barro, como muitos torcedores fazem em provas europeias. Afinal, como diria José Simão, aqui nóis sofre mas nóis goza.

RAIO-X

Preços: São Paulo já não é uma cidade barata e não são muitos os hoteis na região do autódromo, o que também inflaciona os preços. A maioria dos profissionais da F-1 fica na região da Berrini, o que pode ser uma boa opção para deslocar-se até o autódromo, mas não para curtir a cidade – e acredito que seja por isso que boa parte do paddock não goste da etapa paulistana, pois só veem trânsito pela frente. E os ingressos também estão entre os mais caros no ano. Para quem tem que viajar para ir ao GP Brasil, talvez valha a pena estudar a possibilidade de ir para alguma etapa fora do país, casando com outros passeios.

Melhor época: A F-1 descobriu a duras penas que chove bastante no começo do ano em SP. E no inverno pode ser que fique muito seco, o que não é nada agradável em uma cidade tão poluída. E os paulistanos vão dizer que a melhor época para visitar a cidade é em algum feriado!

Por que vale a pena? Tem seus perrengues, mas é o GP do Brasil! E não sabemos por quanto tempo vai durar…

Por dentro da F-1 e das técnicas de pilotagem

Ok, não precisa exagerar no oversteer

O carro está saindo de frente, de traseira, preciso de mais saída de curva, de mais entrada. São várias as reclamações dos pilotos durante as corridas, muitas vezes difíceis de serem vistas do lado de fora e até compreendidas. Todas elas têm a ver com o equilíbrio do carro, o objetivo principal e mais difícil de um time ao longo de um final de semana. Isso porque são vários os fatores que vão alterando-o, desde o emborrachamento da pista – que faria a cada circuito em função de seu asfalto e utilização – até condições climáticas.

E haja reclamação. Mas o que significam os termos que os pilotos usam?

 

Racing line ou linha ideal

Primeiro vamos entender os termos relacionados à linha ideal, ou seja, a forma mais rápida de se usar um circuito. Isso pode variar de piloto para piloto – lembro, por exemplo, que o circuito de Spa era alguns metros mais “curto” para Alonso do que para Massa na época de Ferrari, algo que tem a ver com o estilo de pilotagem mais “quadrado” do espanhol – mas respeita algumas técnicas básicas.

A tomada da linha ideal começa com o melhor ponto para frear o carro e começar a girá-lo em direção à tangente – ponto mais próximo do lado de dentro da curva que o carro chega, sendo em algumas curvas podem ter mais de uma tangente – e vai até o ponto em que ele volta a andar reto. Dependendo do desenho, velocidade e da sequência de curvas, as tomadas são menos ou mais abertas, e os pilotos muitas vezes optam por não tomar a linha que seria a ideal na entrada (comprometem a entrada) para ganhar vantagem na saída. Isso acontece em curvas que precedem retas longas por exemplo, pois o mais vantajoso é reacelear o quanto antes.

 

Understeer (saída de frente) e oversteer (saída de traseira)

Nem sempre o carro de comporta de uma maneira que permite ao piloto usar a linha ideal, o que seria um comportamento neutro. Na verdade, em grande parte do tempo isso não ocorre – e há quem goste disso. Voltando a Alonso, trata-se de um piloto que fica à vontade com um caro que sai de frente, o que é raro. Já Hamilton é um exemplo clássico de piloto que consegue lidar bem um um toque de saída de traseira.

Primeiro é preciso entender o que acontece com o carro durante uma curva: o piloto pisa no freio e “tira” o peso da parte da frente, começando a fazer o movimento do volante. A partir desse momento é possível que, por questões de acerto ou desgaste de pneus, o comportamento do carro varie:

 

Saída de frente: Quando a dianteira do carro tende e ir para fora da curva, fazendo com que o piloto não consiga chegar na tangente e, assim, não faça a linha ideal. A saída para isso é diminuir a aceleração até que os pneus dianteiros voltem a ter aderência, além de frear mais forte, também para “empurrar” mais o freio da parte dianteira. Em termos de acerto, o que pode ser feito é jogar o equilíbrio de freio mais para frente e “colocar mais asa” dianteira para aumentar o downforce.

 

Saída de traseira: É quando a aderência está mais na dianteira do que na traseira do carro, fazendo o carro perder tração especialmente na saída de curva. Então o piloto faz bem a primeira parte da curva, mas depois o carro escorrega na segunda. Novamente, ajustes de asa e de equilíbrio de freio remediam o problema, mas muitas vezes pneus gastos são os “vilões” do oversteer.

Dentro do cockpit, os pilotos podem virar o volante do lado contrário ao da curva e acelerar, sempre de forma controlada para não provocar uma rodada. É o popular pilotar “de lado”, que levanta arquibancadas, mas não costuma ajudar muito no tempo de volta.

Podcast Credencial com a despedida de Massa e o `novo` Hamilton

Sentiram falta do Credencial? Não conseguimos gravar semana passada mas foi até bom, pois agora sobrou assunto para quase 50 minutos de programa que passaram voando!

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Estratégia do GP do México e os desafios da pista ‘diferentona’

Era a entrevista que marcava seu tetracampeonato, mas Lewis Hamilton não esqueceu de defender mudanças no GP do México. Pediu pelo menos um composto de pneu especial para o Autódromo Hermanos Rodriguez. Duvido se essa seria uma solução, mas o fato é que, não fosse o drama da primeira volta, teríamos tido uma corrida pra lá de chata na Cidade do México.

Basicamente, é a altitude que joga contra o show. O ar rarefeito tem uma série de consequências nos carros, desde prejudicar os sistemas de arrefecimento, até diminuir o efeito do DRS, além de agir como fator nivelador de performances. Em um circuito em que a diferença entre dois carros tem de ser de cerca de 1s3, uma das maiores da temporada, para que se haja uma ultrapassagem, é fácil entender como isso pode ser prejudicial para o GP.

Do ponto de vista estratégico, por sua vez, o GP do México pode parecer simples, e se complicar rapidamente. Pouca energia é jogada nos pneus e o macio pode durar até uma prova inteira, o que faz com que até a janela de pit stops de quem larga com os ultramacios seja bastante longa (cerca de 10 voltas). Por conta disso, a grande preocupação dos engenheiros se torna o tráfego ao invés da degradação. E, no último domingo, se deu bem quem tratou a prova mexicana como única.

No caso de Verstappen e Bottas, a diferença de performance era tão grande que a estratégia era uma questão de esperar a diferença se abrir para trocar os pneus e voltar sem tráfego. Já na Ferrari havia a possibilidade de usar Kimi para abrir um buraco para Vettel no meio do pelotão. Isso poderia ser feito antecipando sua parada ou provocando os rivais a fazê-lo.

A Scuderia usou o segundo expediente, quando pediu ao finlandês que parasse ainda na volta 18, bem cedo, mas só se Perez fosse para o box. A Force India viu a Ferrari preparada e se antecipou, levando o drible.

Temendo o undercut de Perez, a Renault chamou Hulkenberg e isso fez com que a Force India também chamasse Ocon, pelo mesmo motivo. De forma inteligente, a Williams não fez o mesmo com Stroll, e mudou a história de sua corrida.

É claro que o canadense, assim como Magnussen e em menor medida o próprio Raikkonen foram beneficiados pelo SC virtual e fizeram uma parada praticamente gratuita. A Ferrari ainda faria uma escolha interessante com Vettel, colocando-o com pneus ultramacios (até porque não tinha supermacios novos) na parte final e dando-lhe o diferencial de performance tão difícil no México para abrir caminho no pelotão, em mais uma prova que acabou sendo de limitação de danos em um final de semana em que a Ferrari teve o melhor carro.

Até por conta disso, a história poderia ter sido muito diferente – e monótona – sem o drama inicial. E talvez seja necessário repensar a fiesta, que é fantástica fora da pista, dentro dela.

Drops do GP do México e a situação complicada de Massa

Sim, isso é o paddock no México

Encontrei um Felipe Massa bastante chateado com a maneira como tem sido tratado pela Williams nas últimas semanas. E também um Felipe Massa que dificilmente estará no grid no ano que vem, mesmo que esteja se sentindo competitivo o bastante para isso. O piloto claramente não quer chegar ao GP do Brasil na mesma situação que Rubens Barrichello em 2011.

 

Mas a Williams tem outros planos. A equipe quer dar mais um teste para Kubica em Abu Dhabi e já teria feito uma proposta inicial ao polonês, que tornou sua candidatura mais atrativa ao trazer um patrocinador. Mas a conversa no paddock é que ele, embora tenha recebido uma proposta inicial, ainda não está decidido a ir para o time inglês.

 

Toto Wolff está de olho. Ainda na sexta-feira, foi conversar com Paddy Lowe para entender a situação. Ele demonstra ter desistido de Wehrlein – “tem horas que o piloto deve caminhar com as próprias pernas”, disse o chefão da Mercedes.

 

E mais um nome apareceu na jogada, Daniil Kvyat. Ainda em Austin, sabendo que não continuaria na família Red Bull, ele já bateu na porta, na frente de todos, da Williams e da McLaren, onde procurava uma vaga como reserva.

 

Ele precisaria trazer dinheiro, e a falta de investidores russos foi um entrave para ele na Toro Rosso. Calcula-se que o rombo no orçamento da Williams do ano que vem seria de 30 milhões, montante que viria dos dois patrocinadores perdidos, de menos dinheiro de Stroll (algo que estava acertado em contrato e já era sabido) e o fim da ajuda da Mercedes por ter liberado Bottas.

 

Não é difícil ligar os pontos e ver que é quase impossível que uma decisão saia nos próximos dias, como quer Massa. E ele não parece nem um pouco disposto a reconsiderar isso.

 

Outro piloto que não parece muito feliz é Daniel Ricciardo. A Renault tinha um motor atualizado para cada cliente e a Red Bull optou por dá-lo a Verstappen, que está muito atrás de Ricciardo no campeonato. Essa conduta não surpreendeu nada os Sainz: parte do motivo para Carlos ter forçado a barra para sair era porque não quer ir para o time principal ao lado do holandês, por achar que ele sempre terá prioridade. Como já aconteceu na Toro Rosso.

 

Antes de chegar ao México, falei ao parceiraço de grids, cercadinhos e aeroportos Gui Pereira, da Globo, que ele sentiria a diferença entre o nosso tratamento no México em relação ao que acontece no GP Brasil. Mesmo sendo um país mais pobre, é um dos melhores paddocks para se trabalhar, além de sempre trazer elementos da cultura e criar um clima de festa, e a simpatia de todos dá uma compensada na falta de eficiência e no ritmo próprio dos mexicanos.

 

Também acho curioso como Checo Perez é muito mais assediado no México do que Felipe Massa é no Brasil. Uma das coisas mais fáceis de saber no paddock é onde o mexicano está.

 

Um dos mimos deste ano foram 40 ingressos distribuídos entre os jornalistas para ver o show de Paul McCartney no Estádio Asteca. Foi minha primeira vez vendo o ex-Beatle. E a primeira vez no lendário estádio também!

O título definitivo

Se não houvesse alguma reviravolta surpreendente, não seria uma decisão digna da temporada 2017. Lewis Hamilton até tentou ficar longe da briga entre Max Verstappen e Sebastian Vettel na primeira curva, mas ao ver o caminho praticamente aberto a sua frente não teve escolha e mergulhou para um espaço que logo ficaria pequeno demais. Já sem parte da asa dianteira, fora da trajetória e com pneus frios em uma pista naturalmente de baixa aderência, o alemão não conseguiu evitar o toque que, efetivamente, acabou com suas já mínimas chances de título.

Isso porque já não importava que Hamilton perderia um minuto em relação ao líder Verstappen só na primeira volta: Vettel tinha complicado demais a sua vida para conseguir a segunda colocação que lhe daria sobrevida no campeonato.

Após o drama inicial, os dois deram um show de resiliência. Foi incrível ver a preocupação de Hamilton durante toda a corrida e especialmente sua fantástica briga com Fernando Alonso nas voltas finais, quando ele mesmo adimitiu que arriscou demais – e sabe muito bem o porquê. Por todo o final de semana se falou de como o quarto título, pela maneira como foi conquistado, coloca Lewis em um novo patamar, e chegara a hora de mostrar isso.

Vettel, por sua vez, sentiu o golpe da derrota como se tivesse perdido o título por um ponto na última corrida. Demorou para aparecer para as entrevistas e apareceu visivelmente abalado. E repetindo o quão duro foi cruzar a linha de chegada e saber que estava tudo acabado.

Até porque o alemão sabe que esse poderia ter sido seu penta, seu primeiro com a Ferrari que, no geral da temporada, foi um carro, se não ligeiramente melhor, certamente mais previsível. Porém, o que se sobressaiu foi a capacidade de reação da Mercedes, que por inúmeras vezes esteve completamente perdida em termos de acerto e encontrou seu caminho. E, quando teve vantagem clara, maximizou seu resultado, algo que a Scuderia fez na primeira parte do ano, mas não conseguiu manter até o final.

E pensar que o hoje rei da consistência Lewis Hamilton tentou entregar o título por tantas vezes em 2008 e perdeu uma chance real de título em 2010. É visível a evolução do piloto inglês, que certamente é o esportista mais importante de seu país na atualidade e rivaliza com Jim Clark (de maneira pouco justa, pela carreira curta do escocês) o papel de maior britânico de todos os tempos na F-1.

Até porque um piloto só veloz e agressivo jamais teria tantas vitórias em uma época de grande necessidade de gerenciamento de pneus, combustível, energia. Alguém que só sabe acelerar não seria tão bem avaliado pela maneira como acerta o carro. Um baladeiro incontrolável jamais conseguiria manter relações longevas com suas equipes.

É por esses detalhes sobre os quais ele não costuma falar muito que Hamilton hoje está no ápice da carreira. Ele prefere dizer que pilota com o coração. Mas o quanto de razão há no coração do mais novo integrante de um seletíssimo grupo dos tetracampeões.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do México

Hamilton 13 a 5 Bottas
Ricciardo 6 a 12 Verstappen
Massa 15 a 2 Stroll
Raikkonen 3 a 14 Vettel
Alonso 12 a 4 Vandoorne
Perez 11 a 6 Ocon
Gasly 0 a 0 Hartley
Hulkenberg 1 a 0 Sainz
Wehrlein 10 a 6 Ericsson
Grosjean 11 a 7 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s024

Verstappen x Ricciardo: 0s873

Massa x Stroll: 1s060

Vettel x Raikkonen: 0s250

Alonso x Vandoorne: sem tempo

Ocon x Perez: 0s370

Gasly x Hartley: sem tempo

Hulkenberg x Sainz: 0s328

Magnussen x Grosjean: 0s030

Ericsson x Wehrlein: 0s157

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F-1, no caos que conhecemos bem

É bem verdade que meu conhecimento a respeito da América do Sul é nulo, infelizmente, mas não deixa de me impressionar cada vez que eu piso no México como o povo é parecido com o brasileiro. Há um outro tipo de riqueza na cultura, com civilizações antigas e diversas mesmo dentro do território mexicano, e uma culinária bastante específica, mas a essência está ali, para o bem, do carisma e do “vou te receber com o que eu tenho de melhor”, e para o mal, com o jeitinho e as pequenas vantagens que uns querem ganhar aqui e ali.

Também assim como o Brasil, o México tem a sua grande, borbulhante e complicada metrópole, e infindáveis opções de passeio. Até mesmo as praias podem ser extremamente diferentes entre si, entre o Pacífico e o Caribe, ou mesmo quando a distância é de poucos quilômetros, como entre a batida Cancún e o paraíso quase hippie de Tulúm.

Não é em todo lugar do mundo que você vai conseguir, em questão de horas, se esparramar em uma areia branquinha diante de um mar absurdamente azul, mergulhar em cavernas cheias de peixes e desbravar uma mata tropical para escalar uma pirâmide milenar. E comer bem, muito bem.

Nem precisava de tequila.

No mundo da F-1, contudo, o GP do México divide opiniões (assim, diga-se de passagem, como o Brasil). Como sempre, depende de seu olhar e da maneira como você se adapta ao lugar que está visitando. Continuo os paralelos porque eles são realmente impressionantes: ao se aproximar o circuito Hermanos Rodriguez, a impressão é de estar nas vizinhanças de Interlagos, até parece que as casas antigas que seguem em pé foram construídas na mesma época, e que os mercadinhos são do mesmo dono. Só por essa explicação dá para imaginar que não é dos lugares mais bonitos e tranquilos, e sabemos bem no Brasil que há maneiras de se lidar com isso.

E tem o trânsito, também, igual ao de São Paulo. Se você mora na capital, o que tenta fazer para escapar dele? Tenta evitar horários de pico, certo? Pois, bem. Costumo sair do circuito no México às 17h e termino o trabalho do hotel. Lá pelas 19h, 20h, vou tranquila procurar algo para comer. E muitas vezes encontro colegas bufando e reclamando que perderam 2h no trânsito e odeiam aquele lugar. Tentar sair na hora do rush em uma das maiores cidades do mundo e chegar logo em casa é como ir para Londres só com roupa de calor. É pedir para passar raiva.

Eliminados os percalços da gigante e o mau humor dos visitantes que não conseguem passar da superfície do que ela tem a oferecer, trata-se de uma cidade hospitaleira e cheia de atrativos. O museu de etnologia é um dos melhores que já fui e as referências a Frida Kahlo são mais do que bem-vindas nos dias atuais. Pertinho dali, a meia hora de carro, as pirâmides de Teotihuacan são simplesmente imperdíveis e, pelas datas do GP, dá para ficar uns dias a mais e saborear a incrível festa do Dia dos Mortos. E talvez seja só aí, na maneira como se celebra a vida no que para nós é um pesado e nublado dia de Finados, que a antepenúltima e a penúltima etapas do campeonato se distanciem.

 

RAIO-X

Preços: Esqueci de algo bastante diferente entre São Paulo e a Cidade do México: os preços! É barato se hospedar e comer na capital mexicana, e a comida de rua é sempre uma boa pedida. É melhor evitar os táxis pois eles nem sempre são confiáveis, mas os aplicativos como o Uber funcionam muito bem, e também são baratos. Só os ingressos que não ajudam: o general admission é pouco menos de 900 reais e sinceramente não me lembro de algum lugar bom para ver. Para ficar no estádio, que é a parte mais bacana da pista sem sombra de dúvidas, o ingresso é de 1500.

Melhor época: Muita gente se surpreende ao passar frio na capital mexicana, mas é preciso lembrar que a altitude faz diferença. Então quem não gosta de passar frio deveria evitar a cidade no fim ou no começo do ano. E chove mais durante o verão (que é no inverno brasileiro). Até pelo Dia dos Mortos, a época da corrida é recomendada.

Por que vale a pena? Não é apenas o GP mais próximo do Brasil em termos geográficos, é como saber onde está pisando. A Cidade do México é cheia de opções de passeios a um preço camarada e os mexicanos vão fazer você se sentir em casa. E nem falei da tequila.

Estratégia – e detalhes – do GP dos Estados Unidos

Não foram poucas as vezes que falei em um campeonato decidido em detalhes em 2017. E no GP dos Estados Unidos não foi diferente. Com uma melhor leitura da evolução da pista da sexta-feira para o domingo, juntamente com o tempo precioso perdido por Sebastian Vettel na última meia hora do segundo treino livre por mais uma suspeita de quebra da Ferrari, Lewis Hamilton venceu em Austin e está muito perto do título.

O acerto do carro era fundamental para os pilotos conseguirem fazer apenas uma parada na corrida, uma vez que, após as simulações da sexta-feira, ficou claro que os pneus traseiros estavam se superaquecendo e saindo da janela de temperatura de funcionamento.

Isso seria obtido por quem conseguisse minimizar as saídas de frente, especialmente na primeira sequência de esses. Mas Vettel acabou tendo menos elementos para entener como fazer isso na Ferrari, uma vez que não completou sua simulação de corrida com a suspeita de uma rachadura no chassi. A equipe, então, trocou o chassi para o sábado e o alemão teve de passar o dia refazendo o acerto.

Essa falta de refinamento no setup ficou clara nas poucas voltas em que ficou na frente de Hamilton na corrida, tendo de forçar o ritmo e por várias vezes perdendo a traseira do carro. E desgastando seus pneus.

Com a corrida já comprometida, a Ferrari arriscou por duas vezes na estratégia para tentar complicar a vida de Hamilton, mas não foi suficiente: primeiro, antecipou a parada de Vettel para obrigar o rival a também parar cedo e, no final da prova, fez uma segunda parada que imediatamente fez o líder ter de se comprometer a ficar na pista com pneus gastos, uma vez que o undercut estava garantido se a Mercedes decidisse também fazer uma segunda parada.

Mas Hamilton tinha se prevenido, fez uma alteração na asa dianteira, já no grid, que melhorou a adaptação do carro à pista lavada pela chuva e mais fria em relação aos treinos livres, e não teve maiores problemas para se segurar com os macios usados e receber a bandeira em primeiro.

Mas o GP dos Estados Unidos teve ainda vários ingredientes além da luta pela vitória. Destaque para a estreia perfeita de Carlos Sainz com a Renault, sem erros por todo o final de semana mesmo tendo de se acostumar com um carro e uma equipe totalmente novos para ele. O embate direto com Hulkenberg, contudo, não aconteceu: o alemão recebeu o novo motor Renault, ao contrário do companheiro – assim como aconteceu na Red Bull com Max Verstappen e na Toro Rosso com Brendon Hartley – e isso significou uma punição para Hulk na classificação, fazendo com que o alemão sequer marcasse tempo no Q2. E, na corrida, uma perda de pressão de óleo adiou mais uma vez o embate.

Drops do GP dos EUA e o show

Havia muita expectativa em cima das atrações que a Liberty Media e os organizadores do Circuito das Américas trariam para a primeira corrida em solo norte-americano após a mudança no comando da F-1. E eles não decepcionaram. Deem o testemunho de como tudo ficou na TV, mas de dentro do grid toda a apresentação da corrida e o clima que havia eram incríveis.

 

Entre as atividades extra-pista, fui fazer minha estreia no Topgolf, e posso dizer que o balanço foi positivo: não fiquei em último, apesar de ter ganhado um belo roxo no braço. Que tipo de pessoa se machuca jogando golfe?

 

Do golfe fomos à corrida cor-de-rosa, aberta a todos no paddock como uma das iniciativas para ajudar na conscientização à prevenção do câncer de mama. Não chegamos para a largada, que foi dada por Charlie Whiting, mas conseguimos alcançar o pelotão que fazia a caminhada – isso mesmo com meu mp3 ficando sem bateria na curva 11 – e posso dizer que ultrapassei Alain Prost. Além de um Ross Brawn que parecia prestes a ter um infarto nos 5,5km de pista.

 

No paddock, estava instalado um touro mecânico. “Já estou até imaginando o que estão preparando para a gente”, disse Massa na quinta, mas a disputa foi entre os membros das equipes mesmo. E teve regras: na sexta-feira, 5 membros de cada equipe tiveram 2 chances cada para treinar – e vi gente buscando vídeo no Youtube de “como montar um touro mecânico”, porque qualquer competição na F-1 vira coisa séria! A final foi no sábado e não deixou de ser irônico que a Renault, e não a Red Bull ou a Toro Rosso, tenham ganhado. Isso graças ao engenheiro Joe Sturdy, que ficou 41s no touro!

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Em um churrasco texano não longe dali, Daniel Ricciardo fazia uma participação em evento da Mobil, que fornece combustíveis e lubrificantes para a Red Bull. Sabendo que seu microfone estava ligado, mas ainda longe do palco, o australiano resolveu testar o som. “Tes-tí-cu-los”.

 

Falando nos bulls, os pilotos da Toro Rosso têm mudado tanto que Lewis Hamilton já não está conseguindo acompanhar. Na coletiva de quinta-feira, ele foi dar as boas vindas a Brendon Hartley e passou reto por Carlos Sainz, que tinha novo uniforme e novo corte de cabelo. Depois voltou, sem graça. “Nossa, cara, não te reconheci!”

 

Esbanjando confiança por todo o final de semana, Hamilton ainda causou certo espanto na imprensa inglesa ao dar entrevista depois da corrida fumando um charuto cubano. Mas vocês não verão fotos disso. “Se alguém tirar foto eu chamo o segurança”, ameaçou o inglês.

http://www.youtube.com/watch?v=qKMpDwRWItw

Algumas horas antes, o piloto tinha dado duas voltas em um esportivo da Mercedes com Usain Bolt. E o homem mais rápido do mundo ficou sem palavras. “Foi estressante! Confesso que dei uns berros e espero que não divulguem esse vídeo”, foi o máximo que conseguiu articular ao sair do carro. Realmente, não me lembro de ter visto alguém ter corrido tantos riscos com um convidado antes. “Pensei que ia bater várias vezes”, disse Hamilton, com um sorriso no rosto. E uma mão e meia na taça.

Entre o nerd e o cool

De um lado, um esforço enorme para trazer nomes como Usain Bolt, Bill Clinton e Michael Buffer e fazer do grid um grande espetáculo, com direito a mudanças no regulamento especialmente para acomodar o evento. De outro, um piloto sendo tirado da antessala do pódio por uma manobra que levantou a arquibancada. A F-1 vive uma crise entre querer ser muito cool mas ter em sua raiz muita nerdice, e isso ficou claro justamente no GP onde a Liberty Media tentou dar um passo decisivo em direção ao entretenimento.

Entretenimento esse que foi garantido na pista por Max Verstappen – que não foi o único, é verdade: a agressividade foi a marca do GP dos Estados Unidos, algo que talvez seja motivado pela ótima pista desenhada por Tilke, que o diga Ricciardo, Bottas, Sainz e Vettel. Era esperado que o holandês escalasse o pelotão pela diferença de rendimento de seu carro, mas a maneira como ele fez isso, rapidamente chegando ao sexto lugar e forçando até o final fez da corrida em Austin mais uma performance que deixou o mundo da F-1 curioso para o que vem por aí nos próximos 10 ou 15 anos.

Max só vai lamentar a saída de pista com as quatro rodas na ultrapassagem em cima de Kimi Raikkonen na penúltima curva, até porque o finlandês estava tendo de tirar o pé por falta de combustível e seria presa fácil na reaceleração após a curva 20. O piloto da Red Bull não sabia disso, claro, e não foi o único a usar desse expediente. Foi o único, contudo, a ser punido.

E foi assim que o lado nerd venceu mais ou menos 1h30 depois do lado cool ter invadido o grid: a regra é clara e Verstappen a infringiu, mas a aplicação de tal regra tem sido inconsistente, gerando a necessidade de repensar o texto e examinar a consciência de quem fez um acordo para deixar os pilotos mais livres para correr. E levantarem a galera.

Levantarem como Hamilton fez com mais uma performance impecável, e se aproveitando ainda de uma Ferrari ainda aos trancos e barrancos, com Vettel pilotando um carro que mal conhecia, com atualizações importantes no assoalho – e não fazendo um grande trabalho com ele, forçando demais na parte inicial e saindo da pista em um momento crucial no “hammer time” logo após sua primeira parada. Não é a toa que não estava nem um pouco contente consigo mesmo depois da prova.

E essa tem sido a história desta temporada: na primeira vez em que tivemos um embate direto entre Hamilton e Vettel, o inglês ficou perto da perfeição com uma consistência assombrosa, e o alemão, mesmo também pilotando em alto nível, pecou nos detalhes.

Hamilton, também, teve a melhor equipe por trás: no primeiro ano em que foi verdadeiramente desafiada desde que começou a dominar a categoria em 2014, a Mercedes respondeu subindo de nível, e conquistou o mais importante de seus quatro títulos. O carro de 2017 não é dos mais fáceis de ser compreendido e por várias vezes gerou muita dor de cabeça para os engenheiros, mas a maneira como a equipe gerenciou isso, ainda mais passando o ano com poucos problemas técnicos, mostra que ninguém ganha quatro títulos consecutivos por acaso.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP dos Estados Unidos

Hamilton 12 a 5 Bottas
Ricciardo 6 a 11 Verstappen
Massa 14 a 2 Stroll
Raikkonen 4 a 13 Vettel
Alonso 12 a 4 Vandoorne
Perez 11 a 5 Ocon
Kvyat 0 a 0 Hartley
Hulkenberg 0 a 1 Sainz
Wehrlein 10 a 5 Ericsson
Grosjean 11 a 6 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s460

Ricciardo x Verstappen: 0s081

Massa x Stroll: 1s265

Vettel x Raikkonen: 0s230

Alonso x Vandoorne: 0s595

Ocon x Perez: 0s501

Kvyat x Hartley: 0s814

Hulkenberg x Sainz: Sem tempo

Grosjean x Magnussen: 0s559

Ericsson x Wehrlein: 0s337

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F1 e mantendo Austin estranha

Atire a primeira pedra quem não torceu o nariz quando Bernie Ecclestone anunciou que a Fórmula 1 voltaria aos Estados Unidos em um circuito que seria construído do zero em Austin, no Texas, terra conhecida pelos cowboys e conservadorismo.

Mal sabíamos que o “Keep Austin Weird” (“mantenha Austin estranha”) era mais do que uma frase para estampar camisetas e souvenirs: Austin é mesmo uma estranha no ninho dentro do Texas, e um palco excelente para essa excentricidade que é a F-1 em território norte-americano. De um jeito, digamos, estranho, a categoria rapidamente se encontrou no oásis republicano na terra do faroeste. E dos latinos, mercado mais aberto à F-1, especialmente via Sergio Perez. Como aconteceu em várias oportunidades, Bernie matou dois coelhos com uma cajadada só.

Certamente vocês conhecem os Estados Unidos muito melhor do que eu, e não vou me meter a falar sobre o país, que é imenso e plural. Austin é festeira e relaxada, combinação típica de cidade universitária que, dizem, tem o maior número de bares por habitante nos EUA. É uma das maiores cidades do Texas, mas conserva um quê de progresso e um clima de interior.

Isso não quer dizer, contudo, que é uma cidade barata. Como a Fórmula 1 geralmente divide espaço com os enormemente populares campeonatos universitários de futebol americano e a estrutura hoteleira não é das mais amplas, os preços de acomodação para o GP são exorbitantes. Tanto, que no meu “campeonato” neste ano, Austin só fica atrás de Suzuka e ganha de Mônaco – e olha que fiquei, de fato, em Mônaco, e não nas cidades vizinhas, como muitos optam para economizar.

Os ingressos também não são dos mais baratos, mas o investimento vale a pena. A vista que se consegue com um general admission, à direita do final da reta dos boxes, é considerada uma das melhores da temporada (assim como Interlagos, diga-se de passagem) e o preço é de pouco menos de 700 reais. E a aposta dos organizadores tem sido chamar nomes de peso para tocar após a classificação: ano passado, foram batidos recordes de venda de ingressos devido a um dos únicos shows de Taylor Swift no ano – e, sim, muita gente comprou ingresso para a corrida só para ver o show e não deu a mínima para o que acontecia na pista. E neste ano a atração principal é Justin Timberlake.

Não é a sua praia? Sim, tem ação na pista, cujo traçado é bastante desafiador e interessante. E, de quebra, o melhor bar do mundo, o Pete’s Piano Bar, onde uma banda fica tocando as músicas pedidas pelos fregueses e cobrando mais ou menos dependendo da dificuldade da canção – ou de quantas vezes pediram para repeti-la. Pena que, neste ano, não vai ter Nico Rosberg para dar uma de Jon Bon Jovi e cantar Living On a Prayer com um copo de cerveja na mão derrubando o líquido para tudo quanto é lado.

 

RAIO-X

Preços: As passagens não são tão caras, especialmente se a opção for voar para Houston e pegar as 3h de estrada para Austin. Mas a acomodação durante os dias de GP beira o absurdo, já vou avisando. E os ingressos também não estão entre os mais baratos – especialmente se o pop americano não for sua praia.

 

Melhor época: A pista em si recebe categorias por todo o ano, como MotoGP e WEC e a cidade é conhecida pelos vários festivais de música ao longo do ano. Em termos de clima, os invernos são relativamente frios e verões bem quentes, então as melhores épocas são a primavera e o outono.

 

Por que vale a pena? A vista é boa, a pista é boa e a diversão – sem a afetação de outros destinos da F-1 – está garantida.

A nova queda da Williams

 

Felipe Massa se surpreendeu quando foi lembrado por um jornalista que nunca passara por uma temporada sem pelo menos um quinto lugar. E neste ano seu melhor resultado foi um sexto posto, logo na corrida de abertura da temporada, na Austrália.

Por diversos motivos, Massa teve chance de obter resultados melhores, especialmente no início do ano, quando a Williams tinha um carro mais competitivo. O pneu furado na Rússia ou a quebra no Azerbaijão – quando poderia até ter vencido e, no mínimo, chegaria no pódio – foram algumas delas, mas o fato é que o conjunto Williams-Massa não foi competitivo o suficiente neste ano.

E o futuro a curto e médio prazos não parece muito promissor.

A Williams não vence um campeonato desde 1997, mas chegou a voltar a ganhar corridas no início da década de 2000, ajudada por uma promissora parceria com a BMW. Frank Williams, porém, preferiu proteger sua independência e acabou perdendo os alemães, iniciando um duro período em que o time acabou recorrendo ao dinheiro de pilotos como Nakajima e Maldonado para manter uma certa relevância.

O cenário parecia ter mudado quando a Williams arriscou uma mudança tardia da Renault para a Mercedes em 2014, passando a ter a vantagem de um motor que era muito superior à concorrência. Porém, com o passar dos anos e a evolução dos outros fornecedores, ficou claro que o fato do time de Grove ter passado a disputar pódios pouco tinha a ver com seu próprio carro e muito menos com qualquer inteligência operacional.

Agora, a diferença do motor Mercedes dos clientes aparece em pistas com mais tempo de aceleração plena, muito em função da menor taxa de de-rate. E basicamente fica nisso, o que é pouco para quem não tem um carro veloz. E os pódios viraram top 5, e o top 5 se tornou o “vamos fazer o que dá para pontuar” de 2017.

Sim, a equipe contratou Paddy Lowe no início do ano e o projeto de 2018 é o primeiro em que o ex-diretor técnico da Mercedes vai trabalhar diretamente, mas a falta de desenvolvimento neste ano mesmo com os novos processos trazidos pelo engenheiro gera dúvidas a respeito de sua influência.

O cenário poderia ser diferente caso a Williams tivesse aproveitado a oportunidade de se tornar equipe de fábrica da Honda, que injetaria dinheiro no time e tem uma chance bem mais real de fazer um bom motor em 2021, uma vez que não vai chegar atrasada para a festa como aconteceu na mudança de regulamento de 2014. É o mesmo bonde perdido com a BMW.

Para piorar, os rivais estão em franca evolução: a Renault arrumou a casa deixada aos frangalhos pela Genii e vem crescendo bastante ao longo deste ano. Já a McLaren comprovou que tem um chassi forte nas corridas em que teve a oportunidade de fazê-lo e, se Fernando Alonso chegou colado em Felipe Massa em uma pista como Suzuka e Stoffel Vandoorne terminou na frente das duas Williams em Sepang com um motor Honda, é fácil apostar que a briga do time inglês com o motor Renault ano que vem será mais na frente no pelotão.

Não é difícil entender, então, por que o time vem tendo tanta dificuldade em achar um possível substituto para Massa. E por que o brasileiro diz querer ficar, mas não tem uma postura de quem está lutando arduamente por isso.

Estratégia do GP do Japão e os detalhes que derrotaram a Ferrari

Por várias vezes nos posts de estratégia desta temporada, discutimos como detalhes têm feito uma grande diferença na apertada disputa deste ano. E mesmo que haja quem possa querer simplificar e jogar na mão da sorte ou do acaso o que estamos vendo nas últimas provas, o fato é que a Ferrari muito provavelmente vai perder esse campeonato por negligenciar justamente os detalhes.

Deve ter sido doloroso para a equipe ver a lista de peças trocadas pela Mercedes no carro de Hamilton depois da classificação: lá estava ela, a vela de ignição, que não foi trocada no carro de Vettel, mas estava desgastada, causando um abandono que, na prática, tornou a difícil missão do pentacampeonato praticamente impossível.

Isso, porque o desgaste nesta peça especificamente não é coincidência, pois ela é forçada pelo uso de óleos lubrificantes no processo de combustão, algo que vem causando polêmica e várias ramificações desde os testes de pré-temporada.

Um deles foi o fato da Mercedes ter optado por estrear sua última atualização do motor do ano na corrida anterior à qual a FIA limitou a quantidade de lubrificante permitida. A Ferrari optou por não aproveitar a brecha, acreditando que o tempo ganho para sua atualização permitiria um ganho maior. Mas arriscou tanto que a unidade de potência de Vettel acabou quebrando antes de ser atualizada.

 

Red Bull arrisca tudo

Estrategicamente, tinha tudo para ser uma prova muito interessante na ponta, uma vez que, como era necessário andar um pouco mais lento para garantir que se faria apenas uma parada – já que isso não era confortável nem com a temperatura amena do sábado, portanto muito menos confortável com os 17 graus a mais do domingo – o undercut seria muito efetivo. E poderia ter mudado a história da corrida caso Vettel não tivesse ficado pelo caminho, ainda mais com a grande largada que teve mesmo com cerca de 150 cavalos de potência a menos pelo problema no motor que acabou tirando-o da prova.

Prova disso é que a Red Bull, que tinha um ritmo inferior à Ferrari neste final de semana, até tentou se aproveitar do undercut, e obrigou Hamilton a parar antes do programado e se expor na parte final da prova, fazendo 31 voltas com os pneus macios.

A defesa da Mercedes incluiu, ainda, a ajuda de Valtteri Bottas, que deixou Hamilton passar e segurou Verstappen, o que deu cerca de 3s de respiro para o companheiro, mas também significou que o finlandês não teria tempo suficiente para pressionar Ricciardo por um pódio que, àquela altura, parecia certo.

A conquista do inglês também teve outra complicação: os três acionamentos do SC – dois deles virtuais – porque a Red Bull estava aquecendo seus pneus com mais facilidade. Há quem possa se perguntar como o VSC pode afetar a disputa, e vale comentar um detalhe técnico que muitas vezes passa batido: quando a corrida está com SC virtual, o piloto recebe em seu volante um delta de tempo que precisa seguir. Isso segue um algoritmo que se baseia em distância, ou seja, o piloto pode escolher, na prática, fazer as retas indo de um lado ao outro para buscar aquecimento nos pneus, ou em linha reta, e Verstappen fez a segunda opção por saber da dificuldade do rival, e por isso colou nas oportunidades que teve.

Uma delas foi na parte final, momento em que Verstappen chegou mais próximo de Hamilton na corrida, também entrou em jogo outro fator: a Mercedes costuma perder muito rendimento quando pega tráfego, ainda mais em pistas de curvas de alta velocidade, como é o caso de Suzuka. Porém, assim que se livrou o trânsito, o inglês retomou o controle das ações e colocou uma mão no caneco.

Drops do GP do Japão e o sumiço de Vettel

O final de semana do Japão começou com uma notícia que deu o que falar no paddock: a mudança dos direitos de transmissão da NBC para a ESPN nos Estados Unidos. Em primeira análise, é um retrocesso: nos últimos 5 anos, desde que tomou os direitos do Speed Channel, a NBC dobrou o número de espectadores, investiu apenas em 2017 5 milhões de dólares na cobertura e divulgação, com cerca de 300 horas de F-1 na programação, e tinha programado para o ano passado colocar a categoria em outros programas de sua rede, como talk shows.

 

A ESPN terá 125 horas de transmissão, ou seja, vai mostrar só as corridas, da largada ao pódio, e simplesmente reproduzindo o sinal da Sky britânica, sem equipe in loco. O valor do contrato também seria inferior ao atual. O motivo para a mudança? A ex-empresa do chefe da Liberty Sean Bratches concordou em desenvolver as plataformas digitais que serão usadas pela FOM no futuro. Resta saber como estará a visibilidade da F-1 nos EUA quando isso acontecer.

 

No Japão, ao contrário de alguns outros países, como Estados Unidos, Rússia e China, os jornalistas não precisam de visto especial para entrar. Mas as equipes, sim: eles entram como provedores de entretenimento, pois na visão japonesa a F-1 se apresenta em seu território.

 

Isso está longe de ser a única diferença do Japão com todo o resto do mundo, como quem acompanhou o turistando desse GP pôde ver. Nesta corrida, temos a opção de comer na sala de imprensa – até aí, não há muita novidade: mas só em Suzuka ninguém consegue identificar nem 70% do que está nessas simpáticas caixinhas que nos são oferecidas. Mas tudo bem, a gente come sem saber o que é, mas gosta mesmo assim!

 

A notícia de que Palmer faria sua última corrida pela Renault em Suzuka veio surgiu quando a grande maioria já tinha saído do circuito. E tudo indica que a decisão também foi tardia: quando foi entrevistado logo após a classificação, cerca de 3h antes, Pierre Gasly não sabia que teria de renunciar à possibilidade real de título na Super Fórmula.

 

E houve quem chegou a imaginar que a Toro Rosso escreveria que “devido à falta de opções, teremos Kvyat de volta ao cockpit”, tamanha a má vontade do time com o russo. Agora é torcer para ele se comportar em Austin e não arrumar os dois pontinhos que faltam para levar uma suspensão no México..

 

Em relação ao mercado, Nico Rosberg apareceu no paddock tentando de tudo para arrumar apoio para Kubica, até porque o polonês seria sua salvação, já que ele vem cobrando muito caro para fazer aparições pela Mercedes, e tem sido deixado de lado por conta disso. Mas o problema de Nico é que os chefes do Liberty Media não parecem ser da mesma escola do jogo de influências de Ecclestone.

 

Sim, Kubica fará os testes com a Williams, mas qualquer decisão em Grove não será tomada apenas levando em consideração critérios técnicos. O time perdeu dois patrocinadores para o ano que vem e a imagem de que os Stroll colocarão o quanto for possível no time é errada. A Williams precisa de um bom pacote, e esse é um problema grande para Massa, que não traz dinheiro ao time. E a situação de Kubica não é muito diferente.

 

Falando em Nico, ele sentiu um pouco de seu próprio veneno participando da programação da Sky Britânica. Ted Kravitz nem sempre dá bolas dentro, mas deem uma olhada neste vídeo e apenas sintam todo o sarcasmo. “É difícil quando você faz uma pergunta e o cara não te dá nada em troca, né?” Priceless. E depois ao fundo enquanto ele fala sobre a pole do Hamilton e mostra ele dando entrevistas vocês podem ver o que eu fico fazendo no cercadinho: batendo papo 😉

http://www.youtube.com/watch?v=1l28bkGNZ1w

Por fim, sinto que ficaram algumas dúvidas sobre a bronca da imprensa com Sebastian Vettel após o alemão ter dado algumas entrevistas na garagem da Ferrari e depois ter ido embora. Assim como existe um procedimento de grid, de pódio, também há o procedimento da FIA que determina que os pilotos deem entrevistas após o fim da corrida. E, desde o incêndio no box da Williams em 2012, há o acordo de que isso seja feito no cercadinho, uma área designada para tal, e não atrás das garagens. Vettel não apareceu por lá, foram feitas várias reclamações formais à FIA e à FOM, e provavelmente haverá consequências (não esportivas, claro).

Vettel não cumpriu o procedimento (que, inclusive, está em processo de se tornar regra em breve), mas também alguns jornalistas não cumpriram o combinado, que seria esperá-lo no cercadinho. Foram até a garagem, Vettel falou com alguns deles lá e foi embora. Sim, o piloto estava frustrado e com razão, mas faz parte do trabalho da assessoria de imprensa conduzi-lo até o cercadinho.

Acontece que chefe de imprensa da Ferrari, Alberto Antonini, é conhecido por sua total inoperância. Até mesmo seu antecessor, Luca Colajanni, que hoje é chefe de imprensa da FOM, estava revoltado, lembrando que, em seus dias de Ferrari, chegou a multar pesadamente Schumacher por ter feito o mesmo que Vettel.

Acabou sobrando para a assistente pessoal de Vettel, Britta, que foi tentar se explicar com os jornalistas no cercadinho e ouviu muita coisa. Eles foram duros, mas não desrespeitosos, e ela acabou aos prantos muito em função do estresse da situação, não por qualquer ataque em si. Britta é muito próxima de Sebastian, existe uma simbiose na maneira como eles trabalham juntos desde os tempos de Red Bull e, assim como ele, a alemã sentiu o golpe.

Teimosia

Foi engraçado quando perguntei a Lewis Hamilton como ele vinha conseguindo fazer tantas poles positions incríveis, destruindo o resto do pelotão, mesmo tendo em mãos um carro que foi apelidado no paddock de “diva” por seu comportamento temperamental. “Ela não é uma diva, ela só é um pouco teimosa. Nós temos coisas em comum, e por isso nos damos bem.”

Sim, quando olharmos para a história desta temporada, saltará aos olhos o momento atual, em que Hamilton fez 68 pontos em três provas contra 12 de Vettel, sendo que, em pelo menos duas delas (Cingapura e Malásia, porque em Suzuka não pudemos ver se o alemão aproveitaria a largada melhor que efetivamente teve para vencer) era a Ferrari quem tinha clara vantagem. Mas, em última análise, as performances de Hamilton e do carro da Mercedes aos sábados será a grande explicação quando o tetra, agora mais uma questão de “quando” do que de “se”, salvo algum desastre histórico, se concretizar.

Isso é uma questão de projeto: a Mercedes foca em ter um carro especialmente forte em classificação, até para poder se aproveitar ao máximo do único fator que ainda faz com que seu motor seja o melhor da F-1, o potente modo de classificação, que misteriosamente parece que só o time de fábrica consegue aproveitar. Mas também é a grande especialidade de seu piloto, que não é o único da história a ter quebrado a barreira de 70 poles positions de graça. E que nesta temporada tem teimado em fazer voltas de classificação quase sobrenaturais, como no Canadá, na Inglaterra e no último sábado no Japão.

Não que Vettel também não esteja sendo brilhante nesta temporada, minimizando os erros para aproveitar as oportunidades em um carro que, no geral, é um pouco inferior, mas principalmente pela maneira como vem lidando com todas as derrotas e problemas, desde a Bélgica.

O alemão não pode, mesmo, deixar a massa desandar na Ferrari. Talvez o campeonato deste ano tenha ficado difícil demais, mas há muita gente no paddock acreditando que o time italiano tem mais chances de começar o ano que vem, com o nível de desenvolvimento e a base construída em 2017, mesmo com as mudanças que tiveram ser feitas ao longo do ano para atender às demandas da FIA, até na frente da Mercedes.

Isso tem a ver com a tal diva que Hamilton diz compreender, mas que deu muita dor de cabeça para os engenheiros ao longo da temporada. É um projeto que terá de ser revisto, o que talvez leve a Mercedes por caminhos desconhecidos.

Tudo isso não significa que teremos corridas monótonas daqui em diante, até porque a Ferrari segue forte, a Red Bull realmente chegou e a diva continuará com sua lista de demandas especiais, algo que devemos ver especialmente nas três etapas finais.

Mas, depois de mais um 25 a 0 no Japão, tudo indica que, pelo menos neste ano, a teimosia venceu a paciência.

Confira o placar entre companheiros e as diferenças na classificação do GP do Japão

Hamilton 11 a 5 Bottas
Ricciardo 5 a 11 Verstappen
Massa 13 a 2 Stroll
Raikkonen 4 a 12 Vettel
Alonso 12 a 3 Vandoorne
Perez 11 a 5 Ocon
Gasly 0 a 2 Sainz
Hulkenberg 16 a 0 Palmer
Wehrlein 10 a 4 Ericsson
Grosjean 10 a 6 Magnussen

Diferenças de hoje:

Hamilton x Bottas: 0s332

Ricciardo x Verstappen: 0s026

Massa x Stroll: 1s057

Vettel x Raikkonen: 0s707

Alonso x Vandoorne: 0s029

Ocon x Perez: 0s149

Sainz x Gasly: 0s075

Hulkenberg x Palmer: 0s143

Magnussen x Grosjean: 0s752

Ericsson x Wehrlein: 0s288

As diferenças são calculadas nas sessões em que o companheiro com classificação pior é eliminado e os placares contabilizam o resultado do treino, e não a posição de largada, que pode ser alterada devido a punições.

Turistando na F1 e no melhor país do mundo: Japão

Começou de maneira meio insólita, diante da privada do banheiro do aeroporto, cheia de botões, incluindo um com uma nota musical, que tive de apertar: era a simulação de uma descarga. Foi então que percebi que ganharia muito ao ativar todos os meus sentidos para conseguir captar as nuances de uma cultura tão rica quanto distante. Turistando na F1, era a primeira vez que eu pisava no Japão.

Dali em diante, começou uma sequência interminável de “como eu não pensei nisso antes?” e uma estranha sensação de estar entendendo tudo mesmo sem conseguir ler nada. É o tal user experience, algo que está deixando muita gente rica por aí ultimamente e que significa basicamente organizar as informações de forma a tornar nossas ações frente a elas intuitiva, algo que os japoneses parecem terem descoberto faz tempo. Por exemplo: para que um menu se você pode exibir os pratos na vitrine e organizá-los por números? Isso, menos no metrô de Tóquio: esse, sim, é para iniciados, mas assim que você entende a lógica… “por que não pensei nisso antes?”

Sempre que me perguntam sobre como é alguma coisa na Europa, eu começo dizendo que a Europa é grande. E isso é experiência de quem já passou noite em trem na Romênia. Aquele primeiro mundo idealizada por muitos brasileiros, em que tudo funciona, eu só vi na Escandinávia. E no Japão. A diferença é que nenhum país do norte europeu sonha em ter uma capital tão gigante como Tóquio e são ao mesmo tempo as discrepâncias culturais e tudo o que temos a aprender com eles que a torna uma das cidades mais interessantes do mundo.

O circuito é longe de tudo, e perto ao mesmo tempo

Mas ir ao GP do Japão não necessariamente passa pela capital – a não ser que você desembolse uma boa grana pelo shinkansen (um trecho de Tóquio a Nagoya não sai por menos de 350 reais). Os aeroportos internacionais mais próximos a Suzuka são Nagoya e Osaka, e você ainda terá de pegar o trem ou o combo navio + taxi + trem para chegar nas proximidades do circuito.

Até para nós, que reservamos hoteis muitas vezes com mais de um ano de antecedência, é impossível encontrar vagas perto do Suzuka. No nosso caso, temos a ajuda da organização do GP, que reserva praticamente um hotel inteiro para os jornalistas em Shiroko, e de lá organiza um transfer para a pista. Para quem vai assistir à prova, ficar em Nagoya é uma opção viável porque a conexão via trem é fácil. E em alguns lugares nessa região é possível ver placas em português, tamanha a comunidade brasileira especificamente baseada nesta parte do Japão.

Andar em meio aos torcedores japoneses é uma das melhores experiências do ano. Eles capricham nas fantasias e ficam felizes em parar para mostrá-las, mesmo sem falar uma palavra em inglês. São os sorrisos, os sentidos, que se comunicam. E falando em sentidos, a comida na fanzone é divina!

E tem a pista.. Suzuka é, pelo menos para mim, a mais sensacional do campeonato. Elevações que criam curvas cegas, a sequência inicial de esses que neste ano deve ser mais mais especial, e tudo com muito pouco espaço para erro. Tanto, que nem foi possível instalar as áreas de escape asfaltadas como em Spa. Em Suzuka, errou, vai para o muro.

A pista nem precisava ser tão boa. Mas Japão é Japão.

RAIO-X

Preços: Gostaria de dizer que só a passagem é cara, mas infelizmente não para por aí. O GP do Japão é o mais caro do ano, comparável apenas com Austin, ainda que o ingresso não seja tão salgado: na curva Spoon, uma das que costumam concentrar mais ação no final de semana, dá para ficar por menos de 300 reais.

Melhor época: A pista em si recebe categorias por todo o ano e é uma atração mesmo fora de época de GP. Em termos de clima, os invernos e verões são bastante rigorosos, então as melhores épocas são a primavera e o outuno. Mesmo assim, e quem acompanha o GP do Japão há anos já percebeu, pode-se esperar um pouco de tudo. E ficar de olho nos radares para ver se não há nenhum tufão a caminho.

Por que vale a pena? Há todos aqueles motivos que já sabemos de antemão, do circuito espetacular e ao qual nós brasileiros nos sentimos muito próximos apesar da distância. E há todos os motivos que você só vai descobrir quando estiver lá.