Os números chegam a ser bizarros – foram 861 posições perdidas no grid na última temporada, computando trocas de motor, câmbio e outras infrações, sendo que 83,6% delas vêm de substituições de elementos da UP. Mas eles só são números. Mesmo a dupla da McLaren, que usou mais de 10 motores cada e respondeu por 378 destas punições, pagou menos de 50 delas.
O sistema de punições é complicado, até porque a unidade de potência também é. E as manchetes espalhafatosas também não ajudam: por que fazer barulho com uma punição de 60 posições no grid para o piloto X se, na realidade, ele não pode pagar mais do que 20?
Foi pensando nisso que a FIA alterou a regra: a partir de agora, quem levar 15 ou mais posições simplesmente vai para o fundo do grid. E se houver mais de um piloto nesta situação? Quem somar mais posições fica em último.
Mas é uma medida paliativa apenas. Continuamos com um sistema bastante difícil até de explicar para iniciados, quiçá para quem sequer sabe que o motor da F-1 na verdade não é bem um motor…
Sim, parte do problema é a própria natureza da unidade de potência. A princípio, faz todo o sentido limitar com punições no grid o uso de motores, como acontece com sucesso no caso dos câmbios. Mas quando não é sempre que se troca o “motor” inteiro, a coisa começa a complicar.
Para quem não sabe, a unidade de potência tem seis elementos. Em 2018, serão permitidas três unidades de MGU-H, turbocompressor e motor de combustão. E apenas duas de MGU-K, bateria e central eletrônica. Quando o piloto usa, por exemplo, o quarto turbocompressor, recebe 10 posições de punição. Se ele ultrapassa o limite em um segundo elemento, são 5 posições.
O problema é que, enquanto a F-1 continuar com essa geração de unidades de potência, ou seja, pelo menos até 2021, é difícil imaginar solução melhor:
E se tirar pontos dos construtores?
Há quem alegue que o sistema atual pune o piloto e não a equipe, o que não é verdade. Mas a ideia de somente tirar pontos de construtores provocaria justamente o que os dirigentes estão querendo evitar ao máximo: ainda mais desequilíbrio. Imagine que estourar o limite de motores corresponda à perda de 10 pontos. Para a Mercedes, que terminou 2017 com 146 pontos de vantagem para a rival mais próxima, isso não é nada. Para a Renault, representaria a perda de duas posições no campeonato.
E se as multas fossem em dinheiro?
Novamente, as equipes menores sairiam prejudicadas. Estima-se que o orçamento de Mercedes e Ferrari chegue perto de 500 milhões de euros, enquanto da Sauber não passa de 90. Se a pena fosse financeira, os grandes assumiriam o gasto em troca de um motor mais potente, e o abismo entre os times aumentaria.
E se voltar aos quatro motores por temporada?
Isso foi pedido pela Red Bull na reunião do Conselho em janeiro, mas o relaxamento da regra não foi aprovado. A explicação de Jean Todt faz sentido: a definição da diminuição do número de unidades de potência disponíveis aconteceu em conjunto com a fixação de um teto de preço cobrado pelas fabricantes. Portanto, se as clientes se dispuserem a pagar mais…
E se acabarem as limitações?
Isso escalonaria os gastos e aumentaria o abismo entre montadoras e clientes. Isso porque, sem limitações de resistência, é possível ter um motor mais potente ou sempre trabalhando em seu regime mais forte e os times mais ricos usarão deste expediente. Com os clientes já atuando no limite de seus gastos, é difícil imaginar que eles acompanhariam o investimento.
Voltando aos números de 2017, um dado curioso é que o piloto que mais posições efetivamente perdeu no grid foi Daniel Ricciardo. Mesmo tendo quebrado muito mais, os pilotos da McLaren já estariam largando em posições intermediárias e, por isso, acabaram perdendo menos posições mesmo quebrando mais, em uma das poucas regras que pune mais duramente quem anda lá na frente.